sábado, 18 de outubro de 2014

Gaspar Knyppel - O Parente grafiteiro de Porto Velho e sua arte


O sobrenome é alemão, porém seu dono é um rondoniense de Ji Paraná e criado em Porto Velho nas barrancas do Rio Madeira e por isso como muitos beradeiros, agregou o prenome “Parente”, termo utilizado pelos ribeirinhos dos rios das Amazônia. Parente Gaspar hoje atuando como técnico em desenvolvimento de projetos culturais na Gerencia de Cultura da Secel, desde pequeninho desenvolveu a arte de desenhar, “Minha vida era comprando revistas em quadrinhos nas bancas de revista da cidade”. Ao conhecer o movimento Hip Hop passou a se dedicar a grafitagem. “Primeiro saí pichando muros e prédios abandonados pela cidade”.

Considerados por muitos como o melhor na arte da grafitagem em Porto Velho, recentemente Parente Gaspar foi contratado e grafitou o muro do recém inaugurado Colégio Murilo Braga no bairro Nossa Senhora das Graças, o primeiro colégio público de Rondônia totalmente informatizado. Quem passa pelo lado do Murilo Braga que fica para a rua Brasília pode apreciar a bela obra do Parente Gaspar em grafite. “É uma batelão onde um menino está operando um computador mostrando que o ribeirinho também já está informatizado e um Peixe Rubi cuja cor vermelha contrasta com o Rio Poluído”.
A partir do movimento contracultural de maio de 1968, quando os muros de Paris foram suporte para inscrições de caráter poético-político, a prática do grafite generalizou-se pelo mundo, em diferentes contextos, tipos e estilos, que vão do simples rabisco ou de tags repetidas ad nauseam, como uma espécie de demarcação de território, até grandes murais executados em espaços especialmente designados para tal, ganhando status de verdadeiras obras de arte. Os grafites podem também estar associados a diferentes movimentos e tribos urbanas, como o hip-hop, e a variados graus de transgressão.
Terça feira passada encontramos o Gaspar grafitando o muro do Murilo Braga e batemos o papo que segue:

Entrevista



Zk – Você nasceu aonde?
Gaspar – Nasci em Ji Paraná, mas, como minha mãe morreu durante meu parto, minha avó me pegou pra criar e então vim pra cá pra Porto Velho com apenas três meses de idade.

Zk – E quando surge o grafiteiro em você?
Gaspar – Desde pequeno gosto de desenhar e com o contato com as revistas em quadrinhos, comecei a desenvolver o estilo grafiteiro. Minha vida era e é em banca comprando revistas e daí fui aperfeiçoando meus desenhos. O grafite conheci através de uma dessas revistas. Isso foi em 2003.

Zk – Você chegou a ser pichador?
Gaspar – Sim, pegava meu spray e saia pichando prédios abandonados, jamais pichei prédios que estavam servindo a alguma entidade, sempre praticava nos espaços abandonados, acho que por isso nunca tive problemas de retaliação por parte das autoridades quanto à pichação

Zk – Quem foi sua grande influencia na arte da grafitagem
Gaspar – Os grafiteiros brasileiros, que se viravam em geral com pouco dinheiro. Como os materiais são caros eles usavam o látex e o rolinho. Atualmente o Cobra me inspira muito, tem os Gêmeos e na Europa tem o Banks. O Cobra inclusive tem uma equipe de sete a oito grafiteiros que o ajudam a desenvolver as grandes obras os murais que ele pinta pelo mundo.

Zk – Para desenvolver o trabalho, o grafiteiro se baseia em que? Tem um gabarito a ser seguido?
Gaspar – Tem o Black Book o Livro Negro onde o grafiteiro faz o esboço preparativo, agora quando é mural de grande dimensão, por exemplo, o Cobra utiliza aqueles ladrilhos quadradinhos para poder colocar o desenho na metragem que ele pede. Tem grafiteiro que vai forçando, no olhar já faz a medida e tudo.  Com a minha experiência, já calculo certinho, risco direto sem medir.

Zk – E esse trabalho que você está desenvolvendo no muro do colégio Murilo Braga?
Gaspar – O secretário Emerson Castro da Seduc me convidou e a secretaria me contratou como artista plástico/grafiteiro para fazer um muro de 18,95 metros de extensão por 3 metros de altura.

Zk – Foi a secretaria quem sugeriu o tema?
Gaspar – Não. O tema eu criei. É um Batelão!  A idéia foi mostrar a história Beradeira com o contato com o mundo da informática, tanto, que tem um garotinho em uma determinada área do Batelão operando um computador. Até porque o Murilo Braga é um colégio todo informatizado e o peixe que representa o alimento base do ribeirinho. Só que por causa da cor, utilizei como modelo, um peixe do pantanal mato-grossense o Rubi. Gostei do tema o Peixe na cor vermelha faz o contraste com o fundo que é o Rio Poluído.

Zk – Quais outros locais que a gente pode apreciar a sua obra?
Gaspar – Tem um grafite ao lado do Ginásio Claudio Coutinho no Complexo Deroche Pequeno Franco que é um mural que fiz por conta própria. Existe grafite que já foram apagados pelo tempo, fiz grafite em festivais de música. Faço grafite por encomenda também nas casas das pessoas. Na rua to trabalhando pouco pela falta de tempo, estou muito ocupado agora.

Zk – Fale sobre o movimento grafiteiro em Porto Velho?

Gaspar – Na década de oitenta tinha o Dentinho do Movimento Hip Hop que foi quem me passou as primeiras técnicas. Hoje ele está trabalhando mais com a areografia. Tem o Albinho e outros que não lembro o nome o certo é que a cena é muito fraca aqui em Porto Velho. Eu me considero o mais atuante aqui.

Zk – Os grafiteiros ainda sofrem muita discriminação?
Gaspar – Rapaz, no começo era brabo, agora não! Nosso trabalho está muito mais valorizado, agora as pessoas pagam o valor que a gente cobra, isso é muito bom. No inicio não existia projeto aprovado pelo governo, agora tem. O Brasil é um precursor, apóia muito a arte da grafitagem. Agora existe em São Paulo o Museu Aberto de Arte Urbana – MAU. Onde mais de 20 grafiteiros fizeram mural patrocinado pela prefeitura de São Paulo, com curadoria de arte.


Zk – Você falou que faz trabalhos em residências de particulares. Quem quiser te contratar faz o que?
Gaspar – Liga pra (69) 9918- 0234 ou pode me achar na Gerencia de Cultura da Secel no CPA e tem o face que é gasparknypper me adiciona fala comigo que ta tranqüilo.
Zk – É muito caro?
Gaspar – A mão de obra artística não tem valor estipulado, então a gente cobra aquilo que é justo. A gente cobra por metragem o desenho que a pessoa quer e calcula o tempo que vai levar e a qualidade do tema. Daí faço a manutenção não é só grafitar. Hoje existem muitos grafiteiros que trabalham com a produção teatral criando ou desenvolvendo cenários para as peças.

Zk – Quer dizer que tem mercado?
Gaspar – O grafite agora se expandiu pra tudo, é roupa, capa de CD, tênis, meia, tudo que você pensar. Projetos arquitetônicos têm grafite. Em Porto Velho agora que está melhorando, creio que muito em breve, muito mais será investido na arte do grafite.
Zk – Futuro?
Gaspar – Quero abrir uma loja para ensinar a arte do grafite. Já dei aula, agora quero expandir mais os ensinamentos. Sinto-me muito sozinho no desenvolvimento dessa arte em Porto Velho. Quero mais gente grafitando por aí Parente! 

Um comentário:

joeser alvarez disse...

Só faltou acrescentar que o Gasper tem um prêmio internacional na carreira: o UNESCO Digital Arts Award 2007 - que ganhou junto com o Coletivo Madeirista - num projeto c/ graffiti & multimídia