HISTÓRIAS DE PORTO VELHO

Percival Farquar o criador de Porto Velho

Silvio M. Santos
Da redação

O engenheiro civil norte-americano Percival Farquar foi o verdadeiro fundador ou criador de Porto Velho, já que foi ele quem autorizou a empresa May, Jeckyll & Randolph a transferir suas instalações da localidade de Santo Antônio no estado do Mato Grosso para sete quilometro abaixo, um porto em terras pertencentes ao estado do Amazonas.
A May, Jeckyll & Randolph instalou-se no local conhecido como Porto Velho no dia 19 de abril de 1907 e em junho do mesmo ano deu inicio a construção da ferrovia.
Para viabilizar a implantação do cais, das oficinas, da estação inicial da ferrovia e das casas para técnicos e operários, Farquar contratou em Belém do Pará mais de duas centenas de homens que procederam ao desmatamento da área que pertencia a três grandes seringais, o Santa Marta, o Crespo e o Candelária. Francisco Matias no livro "Pioneiros" registra: "Naquele dia, uma sexta feira, começava a surgir o núcleo habitacional de Porto Velho, o mais importante fato político gerado pela Madeira Mamoré".
No dia 4 de julho de 1907 em solenidade que aconteceu no pátio onde estavam instaladas as oficinas da Empresa Madeira Mamoré, A cidade de Porto Velho foi oficialmente criada e reconhecida como sede da empresa construtora da Ferrovia. Na solenidade foram hasteadas apenas as bandeiras dos Estados Unidos e da Bolívia.
Em 1908, Farquar mais uma vez, interfere na construção da cidade ao autorizar que fossem traçadas ruas e avenidas, visando ao ordenamento da cidade que, mesmo sem conhecer o local imaginava surgir, estimulada pela construção da ferrovia Madeira Mamoré.
A estrutura montada pela empresa construtora da Madeira Mamoré fez com que aquele núcleo que mais tarde viria a ser transformado em Município passasse a receber a cada dia mais moradores. Porto Velho passou a abrigar a partir de então, comerciantes, exportadores de borracha, operários e ferroviários oriundos de diversos estados e países, fazendo com que a cidade crescesse do dia para a noite.
O crescimento do povoado e a ausência de autoridades brasileiras, mais o ostensivo controle exercido pela The Madeira Mamoré Railway Company sobre a população, fez com que o governador do Amazonas Jonathas de Freitas Pedroza expedisse o decreto lei nº 741, de 30 de outubro de 1913 que elevou Porto Velho à categoria de Vila subordinada a Comarca de Humaitá. Atendendo a comunidade que se sentia prejudicada pelo excesso de autoritarismo dos responsáveis pela Madeira Mamoré, Jonathas Pedroza no dia 2 de outubro de 1914 sancionou a lei 757 que criou o município de Porto Velho e nomeou seu primeiro superintendente (prefeito) Fernando Guapindaia de Souza Brejense que ao assumir, se desentende com a direção da Madeira Mamoré e a cidade é dividida: Da linha Divisória (hoje Avenida Presidente Dutra) para cima (sentido bairros) a administração é do município e para baixo (sentido Rio Madeira) é da Estrada de Ferro.

O alambrado da rua divisória

Silvio M. Santos
Da redação

As pendengas entre o superintendente Guapindaia e a administração da Madeira Mamoré fizeram com que a Câmara Municipal aprovasse uma lei autorizando Guapindaia a dar nome às ruas. Entre as denominações uma passou se chamar Avenida Divisória (hoje é a Presidente Dutra). Para deixar bem claro que os territórios obedeciam às leis impostas por seus administradores, os ferroviários construíram um alambrado dividindo as terras da Madeira Mamoré das do Município. As outras ruas, segundo escreve Amizael em "No Rastro dos Pioneiros", foram a Sete de Setembro, Barão do Rio Branco, Floriano Peixoto e Pedro II.
Acontece que muito antes, a população de Porto Velho concentrava-se no espaço que hoje fica entre o Cine Teatro Resk e a Rua Prudente de Moraes, local que ficou conhecido como a Rua da Palha (hoje Natanael de Albuquerque).
Dona Labibe Bartolo que veio de Manaus para Porto Velho com apenas três anos de idade em 1912 conta o seguinte: "A primeira rua que foi feita aqui, foi à Rua da Palha que era onde hoje é a Natanael de Albuquerque. Minha mãe tinha comercio lá". Dona Labibe lembra que foi aluna da dona Develinda filha do Superintendente Guapindaia e que a Rua da Palha era repleta de comerciantes "principalmente vendedores de bugigangas".
Já o capitão Esron Penha de Menezes lembra que a Rua da Palha abrigava tudo quanto era tipo de comercio, inclusive as casas de mulheres (prostitutas) de vida fácil. Esron também cita que a Barão do Rio Branco era conhecida como "Rua dos Portugueses". "Ali na esquina da Presidente Dutra com a Sete de Setembro pelo lado do Cine Brasil funcionou primeiro comercio de um espanhol conhecido como Maeta depois foi que foi o Café Central do João Barril local que se transformou no ponto de encontro da cidade. Na outra esquina onde fica a loja Cedelândia também funcionou um Café era o Café Pilão que também funcionava o "Cinema do Pilão", depois foi a Padaria do Raposo, funerária Raposo e a primeira Caderneta de Poupança com agência em Porto Velho a Continental".
Na Rua da Palha também tinha o cine-teatro "Fênix" construído todo de madeira e coberto de zinco, com palco para encenação de peças teatrais e para a orquestra, piano que acompanhava a cenas dos filmes mudos, um bar e um salão de jogo de bacará. Era o único centro de diversão do povo e o paraíso dos malandros e desocupados.
A primeira casa de Adobe (tijolo cru) foi construída onde mais tarde funcionou a Padaria do Resk e hoje é a "D Calçados" na Sete de Setembro.
A rua Sete de Setembro nasceu com o nome de rua do Comércio.
Esron lembra que por ali (Rua do Comercio) concentravam-se os Círios e os Libaneses que todo mundo costumava chamar de "Os Turcos". Tudo isso ficava no lado pertencente à municipalidade. "Pra baixo da Linha Divisória ficavam as casas administradas pela Madeira Mamoré".


No tempo do Vaticano

Silvio M. Santos
Da redação

Segundo Esron de Menezes onde hoje, é a sede dos Correios na Presidente Dutra com a Sete de Setembro existia um casarão. "Não sei por que chamavam de VATICANO, ali funcionava um posto fiscal de Mato Grosso". Talvez, prossegue o historiador, por ter sido a sede dos Salesianos a população passou a chamar de "Vaticano".
Os casarões construídos para abrigar os operários da Madeira Mamoré ficavam entre a Rua Divisória (Presidente Dutra) e a Farquar. Na hoje Sete Setembro começando no meio da Rua Rogério Weber até a sede do Sated era a Casa Três, onde é o Sated a pensão Guaporé, Onde está à sede do Ferroviário o Clube Internacional, no local onde hoje fica a Capitania dos Portos era a fomosa Casa Seis. Na Rogério Weber sentido Caiari bem atrás da Academia Win era o Hotel Brasil; Entre o mercado Central e o prédio do relógio com frente para Farquar existia um casarão onde funcionou a sede da prefeitura no tempo de Guapindaia. Já na década de sessenta serviu como alojamento dos jogadores do time do Ferroviário e abrigo dos "Arigós" (nordestinos que chegavam em Porto Velho).


A Casa do Bispo

Silvio M. Santos
Da redação

Atrás do Palácio Presidente Vargas existe uma casa que segundo nosso entrevistado Esron Menezes foi construída pelo comerciante Albino Henrique. "O governo comprou a casa do Albino Henrique e tranformou-la em residencia do Secretário Geral do Governo (uma espécie de vice-governador)". Lá morou o doutor Hosana Bularmarques, doutor Pamplona e o Moacir de Miranda o mais conhecido entre os Secretários. Por que dizem que ali era a casa do Bispo? – "Porque ali foi realmente o Bispado, o governo deu a casa para o Bispo e depois tomou. Naquele tempo, não lembro se foi o governador Araújo Lima ou se foi outro quem deu a casa para o Bispo Dom João Batista Costa morar e usar como bispado, depois, já no tempo da revolução de 64 veio o Cunha Menezes e tomou a casa do Bispo".
A Catedral – A primeira catedral de Porto Velho foi construída onde é o palácio do governo. Acontece, conta Esron, que quando a construção já estava bem avançada, inclusive com a "nave" praticamente toda pronta, deu um temporal e derrubou tudo. Daí resolveu construir a catedral no local onde ela está hoje, ou seja, em frente à sede da Prefeitura Municipal.


O Mercado Municipal demorou décadas para ficar pronto


Graça a uma das brigas do Major Fernando Guapindaia com a administração da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, a população de Porto Velho ganhou o seu Mercado Municipal. A construção do logradouro, começou na administração Guapindaia e só foi totalmente concluída em 1950.
O historiador Antônio Cândido da Silva escreve: “Vários Superintendentes e Prefeitos deram a sua parcela de colaboração para que o Mercado Municipal fosse construído, entre eles Boemundo Álvares Afonso, Mario Monteiro, Carlos Costa e Dr. Celso Pinheiro, cujos esforços não conseguiram ir além da cobertura do prédio.
Somente na administração do Prefeito Ruy Brasil Cantanhede, iniciada em junho de 1948, as obras de construção do Mercado Municipal tomaram novo impulso e, quatro anos depois, em 12 de junho de 1950, o prédio foi finalmente inaugurado”.
Yedda Bozarcov na crônica "Porto Velho Que Vi Vivi" inserida no livro "Escritos de Rondônia" página 41, escreve o seguinte: “... Havia o Mercado Municipal, situado entre a Avenida Presidente Dutra e Rua José de Alencar, com seu alvoroço, com as suas banquinhas de mingau de banana, de tapioca e de milho; doces e cocadas. Vendedores de peixes, de frutas regionais, de ervas medicinais, de verduras. Os amigos se encontravam na banca do jornal. Só existia “O Alto Madeira”, conversavam, colocavam os assuntos em dia.
Hoje não existe mais o Mercado Municipal e a arquitetura da época acabou. Não existe mais aqueles encontros de amigos. Até as andorinhas que lá faziam em determinada época do ano seus ninhos, desapareceram. Um incêndio o destruiu. Olhei os escombros e cinzas. Vi o povo chorando, a beleza da cidade se distanciando… acabando...".
Em 1966 no mês de agosto, um incêndio destruiu totalmente a parte do Mercado Municipal que ficava no espaço onde hoje existe um prédio de quatro andares, com o nome de Edifício Rio Madeira.
Os proprietários desse empreendimento, à época, compraram as concessões de parte dos comerciantes cujas lojas ficavam para o lado do Palácio Presidente Vargas, na tentativa de construir o edifício “Rio Mamoré”, porém, o comerciante conhecido como Zizi Casal não aceitou a proposta oferecida pela sua Concessão e graças a esse ato, parte da arquitetura do prédio cuja construção começou no governo do Major Guapindaia pode ser preservada.
Na gestão do prefeito Roberto Sobrinho aconteceu a tentativa da revitalização do Mercado Municipal o que acabou por gerar a existência do hoje, do Mercado Cultural..
A FILA DA CARNE
Ainda criança, cansei de acompanhar minha mãe dona Inês Macêdo dos Santos ainda de madrugada, rumo à Fila da Carne. Era assim: Naquele tempo, nem todo dia se vendia carne (verde), nas bancas dos açougueiros do Mercado Municipal e então quem quisesse comprar pelo menos um quilo de carne, teria que ainda de madrugada, colocar a sexta na fila. (Deixava a sexta e ia pra casa dormir ou então dormia la mesmo). Aconteceu de muitas vezes, a pessoa ao chegar à beira do balcão e o açougueiro anunciar que “acabou a carne”. Muitos açougueiros recebiam propinas dos “CATEGAS” (pessoas que exerciam cargos importantes no governo do Território ou da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e Empresários), para guardar carne, cujas sextas seriam pegas depois. Quando alguém descobria essa “mutreta” a confusão estava formada e só parava com a chegada dos Guardas da Guarda Territorial.
Houve época que a carne consumida pelos porto-velhenses vinha da Bolívia no Loyde Aéreo Boliviano ou de Mato Grosso em aviões da Paraense.

Também se abatia boi aqui em Porto Velho. O matadouro (curre) por certo tempo, funcionou no Início da rua Pinheiro Machado onde depois foi construído o Barracão da Escola de Samba Pobres do Caiari. Depois funcionou no “Três e Meio”, local onde foi criado o bairro Areal da Floresta, até hoje existe a rua Três e Meio. Por último, foi para a Estrada do Belmonte. Comer carne em Porto Velho até meados da década de 1960, era coisa pra Catega!


As retretas da Praça Rondon

Silvio M. Santos
Da redação

Quando eu completei quatro anos de idade, minha mãe veio morar em Porto Velho logo após o sepultamento do meu pai em Guajará Mirim. Lembro que para nos sustentar ela resolveu colocar "banca" na feira onde vendia comida aos beradeiros.
A feira, quando aqui chegamos, funcionava em frente ao Mercado Municipal justamente onde hoje é a Praça Getúlio Vargas em frente ao palácio.
Em 1952 a feira foi transferida para a então Rua do Coqueiro (hoje Euclides da Cunha) entre a sede do Clube Internacional (hoje Ferroviário) e a Usina de Energia Elétrica do Salft (sede da Ceron hoje), onde ficou até 1.958 quando o governador Enio Pinheiro Inaugurou o barracão da Feira que hoje é conhecido como Mercado Central entre a Euclides da Cunha e a Farquar.
Deu pra notar, que minha infância e adolescência foi vivida entre a Beira do Madeira e a José de Alencar. Por muito tempo moramos na Rua Farquar justamente em frente ao Mercado Central que na época era a Feira. Dali assiste o fogo destruir a padaria do Raposo (onde é a Cedelândia), a destruição também pelo fogo dos Quiosques que existiam ao lado da estação da Madeira Mamoré e da Cooperativa da Estrada.
Os desfiles carnavalescos aconteciam na Presidente Dutra entre a D.Pedro II e a Sete de Setembro, bom! O que quero dizer, é que um dos pontos mais freqüentados por nós e a população de Porto Velho aos domingos, era a Praça Rondon. Na Rondon enquanto esperávamos o inicio da primeira sessão do Cine Reski ficávamos paquerando as meninas e curtindo a Retreta que era realizada pela "Furiosa" a nossa Banda de Música da Guarda Territorial. Todos os domingos, a Banda estava lá.
Quem não gostava de ficar rodando na praça, ficar nas mesas do Restaurante e Bar Plaza que era bem ao lado da praça (antes, a pista da esquerda da rua Presidente Dutra separava a praça, do hoje prédio do Baú). O burburinho de gente aumentava na Rondon tão logo terminava a matinê do cine Reski e do cine Brasil por volta das 18 horas e só terminava, quando começava a segunda sessão do cine Reski por volta das 21 horas.
O refrigerante da moda era o Grapete, a Coca Cola ainda não havia chegado a Porto Velho e após a matinê a gente ia tomar sorvete na sorveteria Elite que ficava na Rua José de Alencar com a Sete de Setembro em frente a loja dos Reski. "Quem bebe Grapete, repete" dizia o reclame. Seguindo pela Sete, onde hoje, é o Banco Real era o cine Avenida, da família Lacerda.
Tinha uma turma que preferia ficar no Clipper do João Barril que ficava no meio da Avenida Sete com a presidente Dutra, os mais conservadores preferiam o Café Central.
Quando o Café Santos passou a funcionar no prédio construído pelo Joaquim Pereira da Rocha na esquina da Prudente de Moraes com a Sete de Setembro, abalou um pouco o movimento da Rondon. Aliás, em frente ao Café Santos ficava a Pernambucana que depois foi para onde hoje é uma loja da Facilar.
Na Praça Jonathas Pedrosa que era cortada ao meio pela Rua José Bonifácio existia o Posto São Luiz e foi lá, o primeiro terminal de transporte coletivo em Porto Velho cujos carros eram Kombi.
A Sete de Setembro da Praça Jonathas Pedrosa até a Gonçalves Dias não existia, era um buraco só. É por isso que existe a Rua Barão do Rio Branco (era o desvio da Sete).
A Porto Velho da minha infância e adolescência não passava da Joaquim Nabuco, mas era muito gostosa de se viver.


Vila Confusão

Silvio M. Santos
Da redação


Como já dissemos a Avenida Sete de Setembro só existia entre a Farquar e a Praça Jonathas Pedrosa e da Gonçalves Dias até a Joaquim Nabuco. E mais, por muito tempo, a Sete foi considerada parte da BR-29, por isso, é que o Mercado do bairro Nossa Senhora das Graças é conhecido como Mercado do KM-1. Um pouco acima da Gonçalves Dias até a Campos Sales existiu uma favela que ficou conhecida como "Vila Confusão", meu amigo Bainha (o compositor), nos revelou que naquela nesga de terra entra a Sete e o Igarapé que beirava o terreno da Pensão do Tiburcio ou Hotel Iracema os "Arigós" (hoje seria por trás do Cine Lacerda) que chegaram recrutados no tempo da segunda guerra mundial como soldado da borracha e desertavam ao chegar em Porto Velho, começaram a construir seus barracos naquele local. O interessante relata Bainha era que na Vila Confusão só morava solteiro daí a origem do nome. Acontece que as reuniões de bebedeiras terminavam em briga e assim sendo, o povo começou a se referir ao local como Vila Confusão. O Rei da Vila era o violonista conhecido como Capote e seu parceiro Antônio do Violão, Bola Sete que na Vila era conhecido como Cuiu-Cuiu, apesar de morar no Mocambo gostava de freqüentar o local, assim como o Bainha e seu irmão Alípio porque os "malandros boêmios todos moravam lá", basta lembrar que o Capote foi considerado o melhor violonista de Porto Velho. "Eu ia pra lá tocar pandeiro", declara Bainha. As brigas na Vila aconteciam geralmente quando seus moradores voltavam das festas que aconteciam no Mocambo reduto das "raparigas" (prostitutas). A Vila ficou naquele local da década de quarenta até meados dos anos cinqüenta.
Em frente à Vila Confusão onde hoje é a Discolândia era o Areal da cidade e depois foi a residencia e a sede da Mineração do seu Flodoaldo Pontes Pinto. Onde existe o centro comercial Buriti era a residencia do Dr. Oswaldo Piana (pai). Onde foi a Vila Confusão existe hoje a galeria e o Cine Lacerda.

Os comerciantes do centro

Silvio M. Santos
Da redação

O comercio de Porto Velho se concentrava nas ruas Sete de Setembro, Presidente Dutra, José de Alencar, Barão do Rio Branco e Floriano Peixoto.
Na Sete a gente encontrava a loja do Reski (ao lado do Cine Brasil) e do outro lado com a José de Alencar a Casa Saudade de T.T. Dias (hoje é o Ponto 7), ao lado, o prédio da Associação dos Seringalistas e mais pra frente à Pernambucana. Isso pelo lado esquerdo no sentido bairro.
Pelo lado direito, o Edifício Sonia Maria (Hoje Baú); Livraria Violeta e do outro lado da José de Alencar com a Sete a Drogaria Nossa Senhora da Conceição do seu Boanerges Lima conhecido como o médico dos pobres; Sapataria Moderna do Manoel Português; Cine Avenida ou Lacerda (hoje Banco Real), Banacre e Café Santos.
Pela José de Alencar o edifício Feitosa (onde fica a lanchonete Delta) a Casa de comercio do seu Abdon, e o comercio da família Chaquiam, na parte de baixo do prédio da Caixa dos Aposentados (hoje prédio do INSS) funcionava a agência da empresa aérea Cruzeiro do Sul cujo agente era o seu Bichara, depois foi para o outro lado da rua onde funciona um restaurante hoje. Na Floriano Peixoto tinha a casa comercial de Mourão & Irmãos e do seu Miguel Arcanjo, além da sede do jornal O Guaporé.
Pela Barão do Rio Branco existia a Casa Dragão de César Zoghbi, Jornal Alto Madeira, Jornal do Inácio Mendes (teve vários nomes), loja São Sebastião do seu Lucine Pinheiro, Rondomarsa (a primeira concessionária de veículos de Porto Velho) dos irmãos Aurélio e Jessey pai do Manelão; Pensão do Mister Davis na esquina da Ladeira da Prefeitura (hoje é o camelódromo), comercio do João Reis, Buraco da Dada (fonte de água mineral) e do seu Chico do Buraco (onde é a Facilar hoje).
Na Presidente Dutra: Associação Comercial, Banco da Borracha (BASA) e Banco do Brasil (hoje Sesc) e os Correios. Do outro lado Padaria do Raposo e Bar Central.
Na José do Patrocínio tinha o Tufy Matny o comercio que vendia fiado para os funcionários do Território do Guaporé. Voltando a José de Alencar pelo lado esquerdo de quem sobe rumo a Carlos Gomes tinha a ótica Cabeça Branca que agora está do outro lado, Mundo Elegante, Bar do Raul e uma loja dos Reski. O Banco Bamerindus quando veio pra cá, se instalou ao lado do Almanara na esquina da Natanael de Albuquerque onde ao lado, morava a família do saudoso colunista Sergio Valente. Aliás, na Natanael também foi a agencia da Caixa Econômica Federal.
O Porto Velho Hotel (Unir centro) na Presidente Dutra era ponto de encontro da sociedade aos domingos, quando o conjunto Bossa Nova tocavas na famosa Varanda Tropical.
Assim era o centro da Porto Velho até os anos sessenta.


Mocambo – O bairro boêmio


Levando-se em consideração que o bairro Caiari só foi criado depois que a Madeira Mamoré passou a ser administrada por brasileiros e ainda que os bairros do Triângulo e Alto do Bode ficavam nas terras da empresa Madeira Mamoré Railway Cº e, que a área onde ficava a famosa Rua da Palha jamais foi considerado bairro. O Mocambo pelo menos na análise desse escriba foi o primeiro aglomerado de casas e pessoas que podemos considerar como bairro na Porto Velho brasileira, que nasceu durante a administração do Major Guapindaia (1915 – 1917).
Talvez por ter sido formado por pessoas consideradas de baixo poder aquisitivo, pouco se encontra a respeito de sua formação em publicações da época.
O mais completo documento que encontramos sobre a formação do bairro, faz parte da monografia de bacharelado para o curso de História da escritora Nilza Menezes publicada no livro "Mocambo – Com Feitiço e com Fetiche".
Desde quando surgiu, o Mocambo é considerado o bairro boêmio de Porto Velho, por abrigar por muito tempo as casas das chamadas "mulher de vida fácil" - Prostitutas, naquele tempo os abrigos dessas mulheres eram conhecidos como "Pensão", Cabaré ou Prostituição. Ali também foi instalado o primeiro "Batuque" (terreiro de Macumba) de Porto Velho que ficou conhecido como "Batuque de Santa Bárbara" cuja Mãe de Santo era dona Esperança Rita.
Em conseqüência da existência das várias "Pensões" e do Terreiro da Mãe Esperança os homens solteiros que moravam na Casa Seis e outras edificações da Madeira Mamoré, por ser único local onde poderiam encontrar diversão, e, os próprios moradores da Porto Velho brasileira (em especial os da Vila Confusão) freqüentavam o local, que ninguém sabe explicar com precisão como surgiu.
Nilza Menezes em sua monografia escreve: "...Com a vinda de Dona Esperança Rita, negra maranhense, que fundou o terreiro de Santa Bárbara, localizado atrás do cemitério dos Inocentes e próximo ao córrego que hoje divide o Mocambo do Areal, iniciou-se o povoamento daquele espaço, cujo ano de ocupação é motivo de discussão". Segundo Antônio Cantanhede em Achegas para História de Porto Velho, "Por iniciativa de D. Esperança Rita, maranhense, natural da cidade de Codó, foi organizada, a 24 de junho de 1914, a Irmandade Beneficente de Santa Bárbara". Ainda segundo Nilza, para o Dr. Ary Pinheiro a tenda de umbanda teria sido fundada em 1917. Moradores antigos e freqüentadores do bairro e dos cultos afros na cidade de Porto Velho também confirmam o inicio das práticas religiosas por Mãe Esperança Rita a partir de 1916 como o foco do povoamento do Mocambo. Pelo que conseguimos colher, o Mocambo começou quando Guapindaia autorizou a demarcação da área do Cemitério dos Inocentes.


A Capela dos Inocentes


Fernando Guapindaia de Souza Brejense primeiro prefeito de Porto Velho e cujo governo foi marcado por uma série de atritos com a administração da Madeira Mamoré após construir o cemitério dos Inocentes viu que ficou faltando uma capela onde as pessoas pudessem encomendar seus entes queridos falecidos, fato que fez com que uma professora tomasse a iniciativa de sair recolhendo donativos para a construção de uma capela, é claro que com a devida concordância do prefeito. A professora em sua mendicância foi mal recebida por ferroviários, portugueses que se achavam prejudicados em seus interesses pelo Major Guapindaia. Um deles teria sido preso e metido a ferros anteriormente, provocando o maior rancor dos lusos contra o superintendente. Quando a professora foi descartada pelos ferroviários, o chefe de polícia mandou prender outros quatro e também os teria espancado e chicoteado a "umbigo de boi".
Foi o suficiente para dar-se início a um levante armado com entrincheiramento na "casa seis", galpão que ficava onde hoje é a Capitania dos Portos. O delegado ao invés de tomar as devidas providências, fugiu da cidade, restando ao major Guapindaia, entricheirar-se em sua casa, que ficava onde se construiu a praça Rondon.
Os revoltosos, entrementes, conseguiram aprisionar o contínuo do superintendente e a única saída de Guapindaia foi negociar a troca do servidor pelos portugueses.

O Batuque da Mãe Esperança Rita

O professor Marco Antonio Domingos Teixeira cita em "A Macumba em Porto Velho": "Na Amazônia, em geral, a partir de Belém do Pará, os cultos afro-brasileiros são, usualmente, conhecidos por Batuques, sobretudo aqueles que assimilam mais intensamente as influências caboclas da pajelança e do curandeirismo. Os cultos de tradição nagô, mais especificamente os candomblés, te a sua entrada neste cenário em um momento mais avançado do processo de expansão das religiões afro-brasileiras. Em primeiro lugar observa-se a pajelança, o curandeirismo e as mesinhas. Mais tarde, encontramos a penetração de ritos afros que se mesclam aos rituais de pajelança, dando "conotações amazônicas" ao conjunto dos rituais mina trazidos primeiramente do Maranhão para Belém do Pará e desta para Manaus, ramificando-se pelas demais regiões Amazônicas...
Em Porto Velho, a "macumba", compreendido o termo em sua acepção popular, surgiu com a criação da cidade, que, por sua vez, surgiu com a criação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Conforme nos falam Amizael Silva e Ary Tupinambá, o primeiro terreiro de macumba surgiu em Porto Velho entre 1916-1917, portanto há apenas dois ou três anos após a criação do município.
Podemos dizer que a macumba surgiu com o aparecimento da própria cidade. A fundadora D. Esperança era uma maranhense de Codó. O Terreiro de Santa Bárbara (Iansã no sincretismo afro-católico) foi construído junto ao cemitério dos Inocentes. Observamos que a Iansã de Balé é cultuada nos cemitérios e é ela a dona dos eguns.
Segundo Ary Tupinambá foi o Bispo D. Pedro Massa quem inaugurou a capela de Santa Bárbara pertencente à irmandade da linha de Xangô que tinha Iemanjá como guia.


No balanço da Mad Maria

Silvio M. Santos
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da redação

Aproveitando o sucesso da minissérie Mad Maria resolvemos Lembrar algumas histórias sobre a Madeira Mamoré. Consultando o arquivo da nossa memória, já que vivemos a infância brincando no pátio da estação da Madeira Mamoré em Porto Velho, pois moramos até 1966 na Avenida Farquar em frente ao Mercado Central. Lembramos de alguns fatos que marcaram nossa vida, como, amocegar trem, "roubar" castanha e outros produtos dos vagões estacionados no pátio de manobra da Ferrovia, assim como carregar produtos dos agricultores que chegavam no Trem da Feira vindo do Teotônio. Dormíamos e acordávamos com o badalar dos sinos das locomotivas e de seus apitos. O burburinho no chamado Plano Inclinado era intenso. Embarcava-se borracha, castanha, ipecacoanha, farinha e tantos outros produtos nos navios que de inicio eram "Chatas" como a "Cuiabá" e depois navios de alto calado como Augusto Monte Negro, Lauro Sodré e Lobo D`almada. A usina pertencente primeiramente a Madeira Mamoré e depois ao governo do Território do Guaporé, acordava a cidade apitando as seis e meia, seis e quarenta e cinco e sete horas da manhã; dizia que os operários tinham que deixar o serviço para o almoço através do apito das onze horas e os colocava de volta às 13 horas e apitava avisando que era hora de ir para casa jantar às 17 horas.
A Serraria Santo Antonio ficou conhecida como Serraria do Território e funcionava num galpão onde hoje é a feira do Cai N`água na beira do Rio Madeira, ainda hoje a caldeira está lá. São essas histórias que vamos reviver a partir de agora. "Como era gostoso o balanço do trem/quando eu viajava junto com o meu bem/Comendo tapioca/crocrete e beiju/cafezinho quente/Almoçando angu. Letra da música de minha autoria "Balanço do Trem". Vamos viajar no tempo embalados pelas loucuras da Maria.

No tempo dos ingleses

Os moradores mais antigos de Porto Velho e Guajará Mirim costumam se referir à Madeira Mamoré com a frase "NO TEMPO DOS INGLESES" para definir quem realmente administrava a Estrada de Ferro. Na realidade, Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi totalmente construída com dinheiro brasileiro atendendo o acordo constante no artigo 7º do Tratado de Petrópolis. A construção que começou em 1.907 e terminou em 1912 teve como empresa administradora a Madeira Mamoré Railway Company.
Acontece que muito antes de sua inauguração, a Ferrovia foi arrendada para a Empresa Madeira Mamoré por 60 anos a contar do dia 1º de janeiro de 1912 (Decreto 7.344 de 25 de fevereiro de 1909). A arrendatária, ao contrário das Companhias congêneres Amazon River, Port of Pará, Manaos Harbour, Pará Eletric, Manaos Tramways e outras, não era uma Companhia concessionária, quer dizer que, enquanto aquelas construíam com seu próprio capital para depois ressarcirem-se com a exploração dos seus serviços ao público em prazos determinados, a Madeira Mamoré ocupou a Estrada de Ferro já construída e paga pelo governo brasileiro, em vista disso, a Companhia não tinha "The" em sua nomenclatura inicial e nem o "Limited" final.
E a expressão: "No tempo dos ingleses" como surgiu como definição de administração da Madeira Mamoré?
Acontece que até 15 de novembro de 1914 a Companhia fazia parte do Sindicato Farquar e a sua administração era Americana. De 16 de novembro de 1914 em diante, foi transferida para um consórcio de Banqueiros Ingleses e a administração passou a ser INGLESA até 30 de junho de 1931. Daí a expressão "NO TEMPO DOS INGLESES" ser usada até hoje, quando alguém se refere à administração da Madeira Mamoré.

A Primeira Estação da Madeira Mamoré

Já contamos neste espaço, que a Estrada de Ferro Madeira Mamoré começou a ser construída oficialmente no dia 4 de julho de 1907 e que foi pregado como marco do seu inicio, um PREGO DE PRATA no primeiro dormente assentado, e que esse ato, aconteceu nas imediações do hoje prédio que abriga a ENARO que também foi conhecida como Serviço de Navegação do Madeira (S.N.M). Bom! Pois justamente no prédio de madeira onde hoje está funcionando uma sorveteria em frente ao Museu e onde também funcionou a administração do famoso Plano Inclinado, funcionou a PRIMEIRA ESTAÇÃO de embarque e desembarque da Madeira Mamoré. Naquele tempo, os trilhos beiravam o Rio Madeira, passando em frente a Fábrica de Gelo e a garagem das Litorinas, pegando realmente o rumo de Santo Antônio após passar pela Serraria que também tinha o nome de "Serraria Santo Antonio" e que ficava justamente onde hoje é o Mercado do Peixe no Cai N’ água. (O leitor pode conferir naquele logradouro até hoje, o que restou da caldeira da Serraria). No inicio, o trem atravessava uma ponte construída no encontro do Igarapé que ficou conhecido como "Igarapé do Burrinho" com o Rio Madeira, depois colocaram bueiro e o igarapé naquele trecho passou a ser chamado de "Bueiro" (hoje está onde estão construindo o complexo Beira Rio). Naquelas proximidades, foi construído um desvio, que dava acesso ao trecho da Madeira Mamoré conhecido como "Ramal São Domingos", porque transportava a Borracha Bruta que chegava dos seringais, para serem beneficiadas na Usina São Domingos.

O Trem da Feira

A Estrada de Ferro Madeira Mamoré apesar dos ingleses a abandonarem em 1931, alegando que a mesma era deficitária, após passar a ser administrada pelo governo brasileiro passou a exercer realmente, o papel social motivo de sua construção, que era promover o escoamento dos produtos produzidos pelos bolivianos e dar assistência às várias vilas que se formaram ao longo de sua linha férrea, como Santo Antonio, Teotônio, Jacy Paraná, Mutum, Abunã, Vila Murtinho, Colônia do Iata e tantas outras. Porto Velho cidade que nasceu graças à construção da ferrovia, tão logo passou a categoria de município em 1914 foi agraciada com a construção do Mercado Municipal e também passou a contar com as famosas feiras livres. A primeira feira livre de Porto Velho foi montada justamente onde hoje é a Praça Getúlio Vargas em frente ao palácio do governo. Foi nessa feira que juntamente com minha mãe passamos a trabalhar no ramo de venda de comida (1951). Assim que o Palácio foi inaugurado a feira foi transferida para o local onde hoje fica a Rua Euclides da Cunha no espaço entre o Clube Ferroviário (na época era o Clube Internacional) e a Ceron (na época Usina do Salft). Em 1958 o governador Enio dos Santos Pinheiro inaugurou a Feira Livre com o nome de “Feira Modelo” num galpão construído onde hoje é o Mercado Central na Rua Farquar. Nossa casa ficava exatamente ali, onde existe uma parada de ônibus em frente ao Mercado Central. Por detrás do nosso quintal, toda quinta feira estacionava o TREM da FEIRA. O Trem da Feira trazia produtos dos agricultores que moravam do KM 25 - Teotônio até Porto Velho, os produtos eram Farinha, Feijão, Arroz, Banana, Carvão, frutas de um modo geral, Milho e muitos outros. O Trem da Feira era fonte de renda não só para os ferroviários, mas para uma gama considerável da sociedade como carroceiros, carregadores, atravessadores, vendedores ambulantes, além, é claro, de beneficiar o comércio, já que os agricultores com o apurado com a venda de seus produtos, compravam no comercio de Porto Velho. O Trem da Feira fazia a viagem de volta no sábado pela manhã. Com a desativação da Madeira Mamoré as colônias que existiam ao longo da ferrovia de Porto Velho a Teotônio deixaram de existir. Vale salientar que Teotônio era o maior produtor de farinha de Rondônia. Quem viveu aquele tempo, com certeza lembra da Farinha do “seu” Jorge Alagoas.

Máquina 12 - Coronel Church

Quem visita o museu da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em Porto Velho, tem a oportunidade de admirar a locomotiva de nº 12 conhecida como "Coronel Church". O interessante, é que em uma moldura colocada à frente da máquina, encontramos alguns dados referentes à locomotiva, como local e ano de sua construção, potência etc... Só não encontramos a história de quando e como ela chegou nessa região e porque é a única locomotiva da Madeira Mamoré que foi transformada em peça de museu.
A Máquina 12 ou Coronel Church foi a primeira locomotiva a entrar em funcionamento na região Norte do Brasil em especial na região Amazônica. Ela desembarcou em Santo Antonio no ano de 1877 trazida pela empresa Norte Americana P.&T. Collins contratantes da primeira tentativa de construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. A locomotiva 12 foi abandonada em Santo Antônio até então, ponto inicial da Ferrovia, em 1878 "depois de percorrer alguns quilômetros de linha que com sacrifício, conseguiram construir, rompendo a selva inóspita e virgem povoada de feras e silvícola agressivos e traiçoeiros" descreve Hugo Ferreira em seu livro "Reminiscência da Madmamrly..." A locomotiva já naquela ocasião, ostentava em sua lateral o nome "Coronel Jorge Earl Church".
Abandonada em Santo Antônio a máquina foi recuperada por ordem dos engenheiros da firma May, Jack & Randolph em 1911 então nas oficinas existentes em Porto Velho. Foram 33 anos abandonada ao relento até que no dia 4 de julho de 1912 voltou a trafegar pelos trilhos da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Acontece que quando a locomotiva foi reativada só foi pintado em sua lateral o nº 12. A denominação "Coronel Church" só voltou a fazer parte de sua pintura quando das comemorações dos 25 anos da administração Brasileira da Estrada de Ferro, justamente no dia 10 de julho de 1956.
A Máquina 12 "Coronel Church" existe em nossa região ha exatos 128 anos.
OBS: 128 anos (de 1877 a 2005)


Porto Velho Hotel


O Prédio do Porto Velho Hotel (hoje UNIR – Centro) foi projetado pelo arquiteto Leogrin de Vasconcelos Chaves, do Rio de Janeiro que o projetou com linhas sóbrias e graciosas em estilo neocolonial.
O inicio de sua construção data de 1.948, no governo de Joaquim Araújo Lima. Seu término aconteceu em 1.953 no governo de Jesus Bulamarque Hosana. A firma Belmiro Galloti foi quem assumiu a empreitada pela construção e na época o Diretor de Obras (hoje seria secretário) era o arquiteto Leonardo R. Carvalho que supervisionou a obra, auxiliado pelo engenheiro Carlos Sales.
O historiador Antonio Cantanhede escreve: “Trata-se de edifício de grande porte que terá 30 quartos e 20 apartamentos, além de salões e diversos serviços”. E acrescenta “a área coberta é de 1.780m2”.
O prédio foi inaugurado no dia 20 de janeiro de 1.953, ‘às 10 horas e 30 minutos, com a presença do governador do Acre, João Kubitschek, convidado especial do governador Hosana para descerrar a fita com as cores nacionais. ‘Às 22 horas, o salão abriu-se para uma noite de gala. “Foi um baile suntuoso, com smoking e longuinho” escreve Yedda Borzacov.
Com a construção do Porto Velho Hotel o governo do Território Federal do Guaporé preencheu uma grande deficiência existente na cidade; a ausência de hotéis. Naquela época só existia o Hotel Brasil, casarão de madeira construído pela administração da EFMM, em uma área que se localizaria hoje entre as ruas Henrique Dias e José do Patrocínio, em frente ao Memorial Jorge Teixeira e a residência do comandante do 5º BEC.
O governo do Território, proprietário do Porto Velho Hotel, para fazê-lo funcionar, arrendava-o a pessoas de sua escolha. Assim, foram arredantários: Senhor Henrique Valente, no período de 1953 a 1961; Senhor Abelardo Townes de Castro, no período de 1962 a 1963 e Senhora Nilce Guimarães, no período de 1964 a 1969.
Não se conhecia a figura do gerente, a não ser no governo do Major José Campedelli, em que foi nomeado Carlos Augusto Halói para administrar ou gerenciar o estabelecimento. Quando o hóspede era oficial o governo assumia a despesa com uma porcentagem de abatimento, conforme constava no contrato de arrendamento.
Quando se falava em Porto Velho Hotel, sentia-se o sabor de elite social. Hospedava-se ali a classe média, pessoas tais como; políticos, autoridades vindas de outras unidades da Federação, empresários, engenheiros construtores da BR-29 (hoje 364); visitantes turistas, viajantes, etc.
Era uma clientela distinta. Pode-se afirmar que era um hotel com certo luxo. Ali se reuniam as personalidades da cidade.
O Porto Velho Hotel também preencheu uma lacuna grande na vida social da cidade, consternada com a demolição do Clube Internacional, situado onde hoje é o clube Ferroviário, na Av. 7 de Setembro.
Nos seus salões realizaram-se muitos bailes elegantes. Funcionava o requintado bar “Abunã” e uma boate denominada “Urucumacuã”.
No governo do Cel. João Carlos Mader, em 1965, houve a elaboração de projeto que alterava a estrutura arquitetônica do prédio, acrescentando-lhe mais um pavimento. Ao ser informado do fato, o arquiteto José Otino de Freitas protestou veementemente. Felizmente foi atendido.
O Porto Velho Hotel foi desativado no segundo governo do Cel. Carlos Marques Henrique, em 1974, considerando que sua existência já não mais tinha razão de ser, pois surgiram o Hotel Vitória; o Selton Hotel e depois o Floresta Hotel.
Em 1975, durante o governo do Cel. Humberto da Silva Guedes, o prédio sofreu uma reforma para sediar o Palácio das Secretarias e, em 1979, no inicio do governo Jorge Teixeira, passou a sediar algumas secretarias. Foi denominado então de “Palácio das Secretarias”. Mais tarde acolheu a FUNDACENTRO, que se transformou na Fundação Universidade de Rondônia, implantada por Euro Tourinho Filho, seu 1º Reitor e Raymundo Nonato Castro, seu 1º Vice-Reitor.
E.T. Na década de sessenta funcionou a famosa “Varanda Tropical” do Porto Velho e foi justamente na Varanda Tropical que o conjunto Bossa Nova integrado pelo Ricardo (bateria), Bainha, Cabeleira e Leônidas (percussão); João Henrique - Manga Rosa (sax e flauta), Paulo Santos (violão) e Dinoel (guitarra), ficou conhecido pelo público de Porto Velho.


O prego de ouro da Madeira Mamoré
Segundo ouvimos de várias pessoas que conheceram operários que trabalharam na construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que foi realmente colocado um PREGO DE OURO quando do assentamento do último trilho em Guajará Mirim. Na realidade, o escritor e ex-ferroviário Hugo Ferreira cita, às páginas 23 e 24 do livro "Reminiscências da Madmamrly e Outras Mais", que no inicio da construção, ou seja, no dia 4 de julho de 1907 ali, onde hoje funciona a ENARO e que também foi conhecido como Serviço de Navegação do Madeira (SNM) em Porto Velho foi pregado um PREGO DE PRATA. Muitos escritores consideram esses acontecimentos como sendo mais uma das tantas lendas que contam sobre a Madeira Mamoré, porém, o Ferroviário Antonio Borges, Artífice - Mestre - Carpinteiro, a pedido de Hugo Ferreira fez o seguinte relato: "Satisfazendo o seu pedido referente ao prego de ouro colocado no último dormente da Madeira Mamoré, informo-lhe o seguinte: "Na manhã do dia 30 de abril de 1912, pelas 10 horas, encontrava-me com outros companheiros em serviço de assentamento do desvio do rio, no pátio de Guajará Mirim, quando chegaram vários auto-linhas que se dirigiram para a ponta dos trilhos, um pouco antes de onde hoje está a primeira agulha do Triângulo de reversão. Deles desembarcaram vários senhores e duas senhoras, esposa de Mr. Jekey e do Dr. Geraldo Rocha, o primeiro contratista da Construção e o segundo Eng. Fiscal do Governo. Fomos convidados para assistir naquele local à cerimônia que se ia realizar, que consistia no pregamento de um PREGO DE OURO no último dormente da Madeira-Mamoré. Formamos um círculo e Mr./ Jekey retirou de um estojo que trazia consigo, um PREGO DE OURO idêntico aos de linha e enfiou-o num buraco vago que existia no dormente. Em seguida entregou à sua esposa um martelo, para que o pregasse e depois passou o martelo à senhora do Dr. Geraldo Rocha, que fez o mesmo. A seguir Mr. Jekey retirou o PREGO DE OURO e colocou em seu lugar um prego comum de linha e, pedindo uma marreta ao Feitor, deu-lhe várias batidas, o mesmo fazendo o Dr. Geraldo Rocha e o Cônsul da Bolívia em Porto Velho, Dr. José G Gutierrez e outras pessoas da comitiva. Foi um delírio esse momento fulminante e entusiasmados prorrompem em vivas e hurras ao Brasil, à Norte-America e à Bolívia, devidamente representada ali pelas suas respectivas bandeiras. Após tomaram seus veículos e desembarcaram um pouco adiante, na barraca de um vigia e sob uma tosca mesa, num grande livro lavraram a ata do ocorrido, que foi depois de lida assinada pelas principais pessoas presentes. Em seguida dirigiram para o acampamento 46, Guajará-Assú e aí almoçaram, retornando depois a Porto Velho. "Lembro-me nitidamente desses fatos e ao relatá-los, faço-o com o pensamento saudoso dos meus vinte e três anos de idade que então os tinha e que não voltaram mais". Esse é o relato de Antonio Borges a Hugo Ferreira.
A Madeira Mamoré pode não ser a estrada dos trilhos de ouro, mas, teve um PREGO DE OURO fincado no ponto final da linha férrea.


Histórias do menino barrigudo (Saqueiro na Feira)


04/10/2010 - [06:30] - Política

Por Silvio Santos

Saqueieirooo! Saqueieirooo! Assim “Barrigudo” levava a vida na Feira Livre que existiu no local onde hoje funciona o Mercado Central, no quadrilátero formado pelas ruas Farquar, Euclides da Cunha, Henrique Dias e Travessa Renato Medeiros. O grito de saqueieirooo era praticado por todos os meninos que vendiam saco feito de folha de saco cimento na Feira Modelo, esse era o nome da Feira Livre inaugurada em Porto Velho em meado da década de 1950.

Barrigudo começou suas atividades como vendedor de saco, carregador de água para as banqueiras, vendedor de mingau e outras coisas, assim que sua mãe ficou viúva e para sustentar os filhos, colocou banca de venda de comida na Feira Livre que existia em frente ao Mercado Municipal (hoje Mercado Cultural) pelo lado do palácio do governo.
Quando o governo resolveu inaugurar oficialmente o palácio em 1954, a feira foi transferida para um galpão construído no espaço que ficava entre o Clube Internacional (Hoje Ferroviário) e o prédio da Usina que pertencia ao Serviço de Água, Luz e Força do Território Federal de Rondônia - SALFT (hoje é a sede da Ceron/Eletrobrás). A rua existente ali ficou conhecida como rua do Coqueiro hoje é a Euclides da Cunha.
A feira livre naquele local era provisória, pois a prefeitura estava construindo o local definitivo ao lado de uma dos casarões da Estrada de Ferro Madeira Mamoré que ficava nos fundos do recém inaugurado Prédio do Relógio.
Acontece que nesse ínterim, a mãe de Barrigudo, juntamente com outras pessoas, conseguiu licença junto à direção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e construiu uma casa bem em frente da Feira Modelo pela rua Farquar.
A Feira Modelo só funcionava de 5ª feira, ao meio dia de sábado. Quinta feira a tarde chegava o Trem da Feira que vinha com produtos dos agricultores que moravam ao longo da via férrea entre o KM 25 (Teotônio) até Porto Velho. Sexta feira era vez de chegar a Lancha do Beiradão que vinha com os produtos dos agricultores que moravam entre São Carlos e Porto Velho. “A gente pegava carreto para transportar cachos de banana, saco de carvão e outros produtos do trem ou da lancha para a Feira” conta Barrigudo, acontece que no percurso para feira, ele ia tirando banana da palma e deixando no chão, enquanto um comparsa previamente combinado, ia juntando. “Aquelas bananas a gente botava para amadurecer e vendia”. Muito “peralta” Barrigudo não deixava escapar nada. Sempre estava procurando confusão com os meninos que apareciam pela feira. Os comerciantes que tinha boxe sabendo que Barrigudo não enjeitava nenhuma parada, quando viam um menino estranho no pedaço, ofereciam Cinco Cruzeiros (Barão do Rio Branco) se o Barrigudo tivesse coragem de dar um tapa no intruso. Barrigudo não contava conversa, ia lá Pou! Voltava e recebia a grana.
Os quintais das casas daquela vila que ficava em frente à feira pela Farquar, quando era o tempo das praias, nos meses de agosto setembro, eram alugados aos “Condutores” da EFMM para servir de depósito de tartaruga e tracajá que vinha de Guajará Mirim para serem vendidos em Porto Velho. O condutor que alugava o quintal da casa do barrigudo era o Armando Holanda conhecido como “Periquito”. Barriguda durante a noite riscava um palito de fósforo perto do nariz da tartaruga que morria asfixiada. Na manhã seguinte, Periquito chegava e queria saber se alguma tartaruga havia morrido e Barrigudo ia direto naquela que ele havaí asfixiado na noite anterior e então Periquito ordenava que ele jogasse a “bicha” fora. No meio do mato Barrigudo abria o peito da tartaruga e retirava os ovos que eram vendidos na feira.
O menino cresceu, estudou se formou, aprendeu a arte da tipografia nas oficinas do jornal Alto Madeira foi trabalhar como radialista na Rádio Caiari, passou pelos jornais A Tribuna, onde se transformou em Zé Katraca, foi para O Guaporé, Estadão e há mais de vinte anos, é integrante da família Diário da Amazônia e continua Barrigudo!


O Dia 31 Março de 1964


Agora o Menino Barrigudo já é um rapaz formado, vivendo dias de sucesso como apresentador de três programas na Rádio Caiari, o primeiro entre as seis e as sete horas da manhã, “Avisos Para o Interior”, o segundo das onze ao meio dia, “Sua Música Preferida” e o de maior audiência “Telefone para 272 e Escolha Sua Música”, o primeiro programa de uma rádio de Porto Velho que atendia os ouvintes ao vivo pelo telefone, que ia ao ar entre as 14 e as 16h00. O garoto agora dava suas escapadas à noite pelas boates Anita, Maria Eunice, Tambaqui de Ouro, Mãe Preta e tantas outras casas que abrigavam as chamadas “Mulher Solteira”. Barrigudo já não era mais saqueiro na feira livre e nem dava uma de carregador de produtos, que chegavam na Lancha do Beiradão e no Trem da Feira. Continuava com o “bucho” quebrado, nada que a camisa não disfarçasse. Barrigudo havia participado da reunião que criou a escola de samba “Império do Samba Pobres do Caiari”, que aconteceu no dia 28 de fevereiro e sempre estava na butique “Viadinho de Ouro” do amigo José Carlos Lobo que ficava no Mercado Municipal (hoje Mercado Cultural) bem ao lado da lanchonete do seu Mário e de frente para a praça Getúlio Vargas. Aquele dia 31 de março transcorreu normal como qualquer outro dia, a não ser, pelas aprontações que estavam bolando para o dia da Mentira 1º de abril. Inclusive, a turma estava querendo fazer uma alvorada para o Dr. Dermeval considerado à época, como o maior mentiroso do pedaço. À noite, já com sua turma da feira, Menino Barrigudo foi assistir um filme no Cine Teatro Reski e de lá foi para o Clube Ferroviário que a época, funcionava num barracão de madeira existente ao lado da praça Mal. Rondon onde a juventude se reunia para dançar Yê Yê Yê ao som do Conjunto “The Clevers” de São Paulo, que passou uma temporada em Porto Velho vindo de Rio Branco Acre por não ter dinheiro para comprar a passagem de retorno. Era uma terça feira, os Clevers tocando Beatles, Roberto Carlos e os sucessos da época e o Menino Barrigudo na paquera. De repente, o Conjunto para a música e um oficial do Exército já no palco, comunica que todos tem uma hora para se recolher as suas casas. Isso era aproximadamente onze horas da noite, o salão ficou repleto de soldados, que com aquela “educação” de militar, com a coronha de seus fuzis, empurravam no rumo da única porta de saída (e de entrada), os jovens que estavam se divertindo. Assim, o Menino Barrigudo presenciou e foi vítima, da primeira ação da Revolução de 1964 em Porto Velho


O galinheiro do Colégio Dom Bosco


Corria o ano de 1961, a Rádio Caiari havia sido inaugurada oficialmente no 21 de fevereiro, então, o então Padre Vitor Hugo, convocou os técnicos Artur Marques, Fernando Barbosa e o sonoplasta faz tudo, Francisco Abemor para instalarem o equipamento para a transmissão da missa de Aleluia. Naquele tempo a missa começava a meia noite.
O Senai - Serviço de Aprendizagem Industrial também tinha sido inaugurado e além dos alunos de Porto Velho recebeu alunos oriundos da Bolívia, Guajará Mirim e do estado do Acre, todos ficaram internados no Colégio Dom Bosco.
No feriado da Semana Santa, o diretor do SENAI professor Chico Otero, decidiu liberar os alunos internos no colégio Dom Bosco para passarem o feriado fora do internato.
Antes, é preciso lembrar que os padres salesianos que residiam no Dom Bosco tinham uma criação de galinha. Eram galinha branca, acho que as primeiras que apareceram em Porto Velho criadas à base de ração e em conseqüência, poedeiras fora de série.
Os alunos do SENAI marcaram encontro no pátio da catedral antes da missa começar. Não sei de quem foi a “brilhante” idéia: “Vamos roubar as galinhas dos padres!”. Foi mesmo que jogar gasolina em brasa, todo mundo concordou de imediato. Fomos todos, mais de 100 jovens, estudantes dos cursos de carpintaria, mecânica de manutenção, eletricidade e construção civil no rumo do campo de futebol do colégio Dom Bosco.
Os galinheiros ficavam pelo lado da Carlos Gomes e para o leitor fazer idéia da quantidade de alunos que participaram da “empreitada”, fizemos uma “cobrinha” (fila) que ia da porta do galinheiro até o final do muro do colégio, pelo lado da D. Pedro II. As galinhas eram passadas de mão em mão até chegar ao último que a colocava num saco de sarrapilha de 60 quilos.
Tudo estava correndo bem, até o padre Vitor Hugo chegar correndo para buscar qualquer coisa que estava faltando para a transmissão da missa do Galo pela Rádio Caiari. Aí um dos nossos, pensando que o padre havia descoberto o “roubo”, largou a galinha no meio do campo de futebol do colégio e em vez de pular o muro pelo lado da Julio de Castilho, correu para a porta de entrada do colégio e foi visto pelo padre. Resultado, com o alarme a turma largou as galinhas e pulou o muro e se espalhou. Vitor Hugo escolheu um de nós para seguir e o pegou na Sete de Setembro em frente ao Cine Lacerda. Levou o jovem que era um estudante boliviano até a Central de Polícia que ficava na Farquar com a Carlos Gomes.
O Boliviano apesar da pressão, não entregou ninguém.
O diretor do Colégio Dom Bosco expulsou os internos que estudavam no SENAI, mas, o diretor do SENAI não puniu ninguém.
Epilogo – Só quem saiu perdendo foram os padres, que ficaram sem as galinhas.
NA – Não aconselhamos essa prática!



Zekatraca: criador e criatura


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Recentemente, as alunas Vânia Beatriz de Oliveira, Cristiane Lopes e Judite Félix do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, da Faculdade Interamericana de Porto Velho – Uniron, apresentaram em sala de aula, o trabalho “Zekatraca – Criador e Criatura no jornalismo cultural em Porto Velho”. O resultado e principalmente a repercussão da pesquisa, muito nos honra, não só, pelo fato, de estarmos sendo alvo de estudos de uma equipe de estudantes que pretendem entrar ou já estão no mercado de trabalho, exercendo a espinhosa profissão de jornalista, mas, pelas opiniões de várias pessoas sobre nosso trabalho. “Infelizmente essas opiniões que foram inseridas na “Lenha na Fogueira” que foi apresentada em sala de aula, num banner que reproduzia a página da nossa coluna, tal, qual, é publicada diariamente no Diário da Amazônia não nos foi enviada pelas acadêmicas”.

Como forma de agradecimento e acima de tudo, porque gostamos e aprovamos a pesquisa, solicitamos ao nosso editor, autorização para publicar o trabalho das jovens acadêmicas de jornalismo da Uniron. Vamos ao trabalho: 

Zekatraca: criador e criatura  - Gente de Opinião



Zekatraca: criador e criatura no Jornalismo cultural em Porto Velho

Resumo - Este trabalho constitui-se em um estudo de caso de caráter descritivo, enfocando o jornalismo cultural exercido por Sílvio de Macedo Santos (criador) na coluna do “Zé Katraca” (criatura) publicada no jornal “Diário da Amazônia”, em Porto Velho. Faz-se uma breve abordagem conceitual e histórica sobre o jornalismo cultural e uma análise quantitativa e qualitativa da forma e conteúdo das informações veiculadas na coluna, no ano de 2007. Obteve-se um perfil do titular da coluna e as técnicas empregadas na elaboração das notícias. Confirma-se o reconhecimento da importância da coluna para o fortalecimento da cultura local, identificam-se ressalvas ao estilo jornalístico do criador da coluna e uma demanda por um jornalismo cultural opinativo.

Palavras-chave: agenda cultural, jornalismo cultural, história do jornalismo, Porto Velho.

Introdução - O jornalismo cultural é considerado como uma especialização que nasce das necessidades da imprensa em atender a um público segmentado e de tratar de temas com maior profundidade.
É uma modalidade que abrange desde a divulgação de produtos artísticos à veiculação do entretenimento.

Em Porto Velho as atividades jornalísticas têm sua origem ligada à construção da ferrovia Madeira-Mamoré. Se considerarmos a publicação de poemas, como uma das características do jornalismo cultural, pode-se se dizer que o mesmo já se verificava desde os primeiros jornais de - 1 Artigo elaborado como parte das atividades avaliativas da disciplina Pesquisa e Realidade Regional em Comunicação, ministrada pelo professor Júlio Aires, no I semestre de 2008.

2 Acadêmicas do 5º. Período de Comunicação Social -Jornalismo – UNIRON.

O personagem Zekatraca tornou-se muito mais forte do que o colunista Silvio Macedo dos Santos. Trata-se de um dos muitos casos onde a criatura passou a ser mais conhecida do que o criador. Isso aconteceu porque durante anos, leitores e dirigentes culturais ficaram tentando descobrir quem é Zekatraca, um crítico ferrenho que usa seu espaço em veículos de comunicação para mostrar em que pé está parte da cultura de Rondônia. Neste momento Zekatraca deixa de ser o entrevistador e passa para o outro lado. Agora ele é a notícia.

Equipe de Pesquisa – Como surgiu o Zekatraca?

Zekatraca – Eu deveria escrever uma coluna de carnaval para o extinto jornal A Tribuna, para concorrer com o colunista Pierrot, que escrevia para o jornal O Estadão do Norte. Poucos sabiam que Pierrot era o nome adotado pelo jornalista Vinicius Danin. Então o Manelão (Manoel Mendonça, dirigente da Banda do Vai Quem Quer) deu a idéia de colocar o nome Zekatraca, para preservar o bloco carnavalesco Zé Atraca. A coluna estreou no jornal A Tribuna em 1987, falando do carnaval de 1988.

EP – Ninguém sabia que o Zekatraca era o Silvio Santos?

Zk – O mistério sobre quem é o Zekatraca durou de 1987 até 1994, quando eu fui entrevistado no jornal Diário da Amazônia. Só então a identidade foi revelada em uma reportagem publicada no dia 12 de maio de 1994. O título foi “Meu nome é Silvio Santos, mas pode me chamar de Zekatraca”.

EP – A coluna sempre foi do jeito que é hoje?

Zk – Houve modificações. A coluna começou no A Tribuna e depois foi publicada no também extinto O Guaporé, no O Estadão do Norte e no Diário da Amazônia. Inicialmente só falava de carnaval. Então a coluna só era veiculada do final do ano até o carnaval. Depois, no O Estadão, o jornalista Antônio Queiroz deu a idéia de criar o Zematraca, que falava de política. A coluna passou a ser publicada durante o ano inteiro. Tinha uma parte que se chamava “Esquentando os tamborins”, que falava somente de carnaval. No Diário da Amazônia o artista plástico João Zoghbi também deu uma idéia: mudar essa parte para “Lenha na Fogueira”. Aí foi possível falar de boi-bumbá e de outros assuntos. A coluna foi se tornando mais abrangente aos poucos.

EP – Edson Arantes do Nascimento costuma separar o Edson do Pelé. E você? Separa o Zekatraca do Silvio Santos?

Zk – Separo. Muitas vezes o Zekatraca critica amigos do Silvio Santos. Zekatraca abre espaço para pessoas que criticam o próprio Silvio Santos, que criticam o próprio Zekatraca. Eu separo, mas as pessoas fundem o Zekatraca no Silvio Santos. Mais do que isso, anulam o Silvio Santos e passam a me chamar de Zekatraca.

EP – De um exemplo disso.

Zk – Eu, Silvio Santos, sou funcionário público concursado. Eu era fiscal de bingo do interior da Lotora. Eu tinha que conferir os números dos bingos, na hora do sorteio. Muitas vezes eu era anunciado e depois pedia para o locutor dizer que na terça-feira a festa iria ser noticiada pelo Zekatraca no Diário da Amazônia. O locutor perguntava onde estava o Zekatraca. Eu dizia que era eu. A partir desse momento ninguém mais falava em Silvio Santos. O locutor começava a me chamar de Zekatraca e todos faziam a mesma coisa.

EP - O Zekatraca já colocou o Silvio Santos em alguma situação difícil?

Zk – Diversas vezes. Teve uma vez em que o Zekatraca criticou a Banda do Vai Quem Quer. Em seguida, eu, Silvio Santos, cheguei com o presidente da banda, o Manelão (Manoel Mendonça) em um bar e dois amigos meus estavam indignados. Diziam que iriam dar uma surra do Zakatraca. O Manelão sabia que eu sou o Zekatraca, mas não disse nada. Então eu disse o seguinte: “Eu sei quem é o Zekatraca, e ele está por aqui”. Então saímos os quatro procurando o Zekatraca. É claro que não o encontramos. Em uma outra ocasião o Zekatraca criticou a Escola de Samba Pobres do Caiari, dizendo que no bar serviam cerveja quente. Quando eu cheguei, o dono do bar me disse que iria pegar o Zekatraca e colocar goela abaixo uma grade de cerveja gelada, para ele aprender.

EP – Por que o Zekatraca critica tanto em sua coluna?

Zk – Criticar é um estilo da coluna. Também é uma forma de saber se a coluna está sendo lida, se ela tem peso. Muitas vezes critico um amigo meu só por criticar mesmo, para ver o que ele diz. Temos poucos jornalistas conhecidos, com colunas de peso. Paulo Queiroz e Carlos Sperança são críticos também. Batem pesado. É o que dá peso à coluna. Não é fácil escrever uma coluna. Muitos jornalistas querem, mas não têm espaço.

EP – Fale de alguma reação de amigos seus.

Zk – Existe o Bloco das Piranhas, formado por jornalistas. A noiva era o falecido colunista social Sérgio Valente. Quando ele morreu, foi escolhida uma nova noiva. Não vou dizer o nome dele. Ele não estava na reunião e foi escolhido por unanimidade. Todos os jornais noticiaram. O Zekatraca só divulgou uma semana depois. Ele foi no Diário da Amazônia me bater. Foi preciso que o então editor chefe do jornal, Waldir Costa, lhe chamasse a atenção. O jornalista escolhido como noiva só voltou a falar comigo cinco anos depois.

EP – Existe uma equipe que escreve a coluna?

Zk – Muita gente escreve. Recebo muitos e-mails. Muitas pessoas pedem para colocar alguma nota. Muitas vezes um artista escreve ela inteira. Há casos de eu estar com o Manelão no Chaveiro Gold e sair com a coluna escrita de lá, com a ajuda de colaboradores. A coluna está aberta a todos.

EP – Qual o relacionamento do Silvio Santos com os produtores culturais?

Zk – É bom enquanto o Zekatraca não estiver criticando. Isso porque se precisar criticar, o Zekatraca critica mesmo. Se precisar abrir espaço para alguém se defender, o Zekatraca também abre.

EP – Você envia para os sites o mesmo texto que é publicado no Diário da Amazônia. Você acha que seria preciso mudar a linguagem, porque são veículos diferentes?

Zk – Seria bom mudar, mas não tenho tempo para isso. Assim, autorizo os sites a divulgarem a coluna. Mas tem o seguinte: a coluna tem uma linguagem própria, e ela é mantida em todos os veículos.

EP – Com os sites que foram criados, o mercado de trabalho foi ampliado para jornalistas. Mas a cobertura do lado cultura ainda está fraca. Existe espaço para um outro Zekatraca?

Zk – Claro que sim. Espero que apareça outro Zekatraca. Hoje o mais parecido é o J. Vasquez. Ele escreve bem sobre cultura. Acontece que os jornalistas que estão entrando no mercado de trabalho não se interessam pela cultura, porque não dá dinheiro. Se interessam mais pela área de política, economicamente mais rentável. Eu digo o seguinte: cultura não dá dinheiro, mas dá muita alegria, dá muito prazer.

EP – Fale de alguma colaboração do Zekatraca com a cultura.

Zk – No último ano de sua administração, o ex-prefeito José Guedes decidiu que não iria dar dinheiro para as escolas fazerem o carnaval. Ele já havia anunciado a decisão. Falei com o então editor do Diário da Amazônia, Waldir Costa, e ele me autorizou a fazer uma página inteira de entrevista com José Guedes. Foi à prefeitura e depois de entrevistar o prefeito, desliguei o gravador e perguntei por que ele não iria fazer o carnaval. Ele disse que iria sim, que eu pedisse para o presidente da Liga das Escolas de Samba de Porto Velho ir até a prefeitura que ele iria liberar o dinheiro.

EP – Você começou a cursar Jornalismo em 2006, mas desistiu. O que você pensa do diploma de jornalista?

Zk – Parei por falta de dinheiro e também tive um problema de saúde. Mas considero o diploma muito importante. Também cursei história na Unir, e isso me ajudou muito. O Zekatraca passou a falar da história da cidade.

EP – E a criticar historiadores também, não é?
Zk – kkkkk.