sábado, 29 de agosto de 2015

Isabel Gonçalves – A independência do Artesão



Para orientar os artesãos de Rondônia na criação da Federação de Artesãos a presidente da Confederação Nacional dos Artesãos do Brasil – CNARTS Isabel Gonçalves se reuniu com a categoria na última sexta feira 28, na Casa da Cultura Ivan Marrocos. A artesã presidente, contou com o apoio logístico da Assembléia Legislativa de Rondônia através da senhora Mara Valverde já que um dos propósitos, é a Regulação da profissão de artesão luta que foi encabeçada pelo saudoso deputado federal por Rondônia Eduardo Valverde. “Ele apresentou na Câmara dos Deputados um PL instituindo o Estatuto do Artesão que contribui e muito para a estrutura que existe hoje que é a CNARTS”. Durante a reunião foram selecionados vinte artesãos de Rondônia que irão participar do 7° Congresso do Artesão que vai acontecer em outubro, no Rio Grande do Norte. “Uma das pautas questiona a existência do PAB - um sistema falido”.
Isabel Gonçalves visitou a redação do Diário onde falou sobre a regulação da profissão do artesão no Brasil. Leia:

ENTREVISTA

Zk – Quem é Isabel Gonçalves?
Isabel – Sou artesã nascida na cidade Lagoa do Carro conhecida como a terra do Tapete na Zona da Mata em Pernambuco. Em novembro de 2013 assumi a Confederação Nacional dos Artesãos com o grande viés de mobilizar todo segmento em nível nacional, como também a questão do gestor público em todas as esferas e todos os entes além de todos os segmentos que se voltam para o setor de artesanato.
Zk – Qual o motivo da sua vinda a Rondônia?
Isabel – Estou aqui para coordenar o primeiro Congresso dos Trabalhadores Artesãos de Rondônia tendo em vista, que este ano, de 19 a 21 de outubro estaremos realizando o 7° Congresso Nacional dos Trabalhadores Artesãos. Essa luta é interessante porque o grande lema há mais de 35 anos, é pela regulamentação da profissão do artesão.
Zk – Nessa luta Rondônia se destaca pela luta do deputado Eduardo Valverde não verdade?
Isabel – É verdade! O saudoso parlamentar Eduardo Valverde apresentou na Câmara dos Deputados um PL instituindo o Estatuto do Artesão que contribui e muito para a estrutura que existe hoje que é a Confederação.
Zk – Por quanto tempo os artesãos do Brasil ficaram sem se mobilizar em prol da categoria?
Isabel – Passamos por um grande túnel do tempo calados, em 1991 aconteceu o 1° Congresso no Rio Grande do Sul e em 1992 o 2° que foi em Pernambuco depois, só voltamos a nos reunir em 2004. Uma atividade que advêm da própria Bíblia, pois, sempre que Deus falava na construção das Tendas e da Arca Sagrada sempre citava os artesãos e hoje, em pleno século 21 a profissão aqui no Brasil ainda não é regulamentada e nem tem política pública para o trabalhador, é vergonhoso, por isso, a Confederação tem esse grande gancho: Organizar os artesãos nos seus estados, fortalecer e empoderá-los dos seus direitos e lutar em conjunto pela regulamentação que depois da Lei de Valverde tomou uma roupagem diferente mas, a luta da Confederação teve também outro apoiador que foi o Senador da Paraíba Roberto Teixeira que saiu com o PL 7775 de 2010 e essa Lei foi totalmente aprovada no Senado foi para a Câmara e hoje se encontra na CCJ. Isso implica em dizer que estamos a um passo do paraíso.
Zk – Qual a diferença do artesão para o artista plástico?
Isabel – A questão do artista plástico é muito fácil de distinguir, foi uma nomenclatura dada por status a uma profissão que nos seus primórdios, era artesã como eu disse, a própria bíblia versa sobre a atividade artesã, nunca versou sobre artista plástico. Com o passar do tempo, com as grandes obras, consideraram a nomenclatura artesão de certa forma como medíocre, isso aconteceu nas décadas de 1970/1980 quando os hippes avançaram pelas cidades e os artesãos foram caracterizados como hippes. O artista plástico não aceitou essa denominação. Na sua essência o artista plástico é artesão.
Zk – Existe diferença entre o trabalho artesão das artes plásticas?
Isabel – A diferença entre os dois contextos é a seguinte: O artesão produz cultura, retrata a cultura de um povo através da sua obra é cultura popular pura. Você vai ali num patrimônio que existe em Porto Velho que fiquei muito chocada quando fui visitá-lo.
Zk – Qual é esse patrimônio?
Isabel – É a Madeira Mamoré. Assisti a mini série e achava fantástico e hoje quando fui ver in loco, me decepcionei com tanto descaso, com o abandono. Senhores dos poderes públicos de Rondônia pelo amor de Deus olhem para aquele patrimônio ele é de um valor imensurável. Um patrimônio que tem o histórico do povo de vocês e precisa ser resgatado, existe recursos para isso é só ir buscar e digo mais, aquele espaço que hoje é ocupado precariamente pelos artesãos, poderia sim ser referencia turística da cidade e do estado. Digo lá na minha cidade, no meu estado Pernambuco existe praias belíssimas, Olinda foi a primeira cidade patrimônio no mundo. Ninguém quando sai de Olinda, de Porto de Galinhas ou de qualquer praia leva um pedaço de areia e nem pedaço de igreja, ele vai levando um artesanato para se lembrar de Pernambuco o que deve acontecer aqui em Porto Velho com o produto dos artesãos que retratam a Madeira Mamoré e outros monumentos históricos da cidade.
Zk – Tem outro recado para as autoridades?
Isabel – Senhor governador, deputados, prefeito, vereadores Rondônia está perdendo um patrimônio: Material se chama Madeira Mamoré e imaterial, aqui dou um grande alerta, vocês têm igual a Tocantins, igual o Pará. O Pará tem a Balata que é a matéria prima que só tem lá. O Capim Dourado só tem em Tocantins e aqui em Rondônia vocês estão perdendo o imaterial que é a grande Mestra Mirtes Rufino ela precisa comparecer aos canais de comunicação dizer o que está passando, uma mulher que tem um viés social. Através do artesanato ela da condição aos presidiários a ter uma atividade, ela ajuda a juventude através do Ponto de Cultura Instituto Mirtes Rufino. Sabe o que aconteceu! Não somos contra o desenvolvimento, porém, com a implantação da hidrelétrica de Santo Antônio infelizmente, as madeiras, o resto de cedro que tinha no rio e que a gente que trabalha com artesanato sustentável como é o de Mirtes, dá muito ênfase a isso.
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 Zk – O que está acontecendo com a Mirtes Rufino?
Isabel – O resto de madeira do rio com o qual a Mirtes sempre desenvolveu o seu trabalho de artesã e que foi documentado pelo Sesc. Com a construção do desenvolvimento foi coberto por água. Os outros profissionais foram ressarcidos pelos impactos causados pelas usinas do Madeira a Mirtes ficou de fora. Isso mostra o quanto nossa categoria é desprestigiada. Tá lá a Mirtes como uma referencia nacional sem poder produzir como produzia antes, por falta de madeira que no caso, é tratada pelo próprio Rio Madeira. É lamentável!
Zk – E o PAB – Programa do Artesanato Brasileiro?
Isabel – O PAB é um sistema falido. Infelizmente é a única coisa que o governo federal tem. Sistema falido porque existe apenas uma esfera de PAB que é aquela faz uma carteirinha e realiza uma feira. Uma feira em Natal; um em Pernambuco e agora, este ano, ta comprando uma no Rio de Janeiro. Ora e a nossa dignidade, e o nosso profissionalismo, e as políticas públicas? Numa existência de mais de 30 anos o PAB nunca discutiu com a categoria esses viés e nem apresentou nenhuma proposta. Inclusive e isso é esquisito, o PAB é contrário a nossa organização.

Zk – Como funciona?
Isabel – O PAB tem um coordenador nacional e um coordenador estadual. De cima pra baixo só tem uma coisa que serve, é chuva. O PAB é um sistema falido, autoritário que a categoria hoje diz basta pro PAB.
Zk – Para encerrar onde quando vai acontecer o Congresso Nacional?
Isabel – Vai ser no Rio Grande do Norte de 19 a 21 de outubro. A programação completa está no site www.cnarts2.blogspot.com e-mail igbpe@hotmail.com.

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