sexta-feira, 6 de maio de 2016

Lenha na Fogueira - 07.05.16


Hoje o samba vai “comer no centro” no Bar do Calixto. È que escola de samba Asfaltão (sempre ela), realiza a 14ª edição do Projeto Samba Autoral. Nosso amigo Altair dos Santos Lopes – Tatá escreve o seguinte sobre o Projeto.

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Ancorados na máxima do grande Noel Rosa, de que “batuque é um privilégio e samba não se aprende no colégio”, tecemos que, ele, o samba, poliu-se na humilde relação de sua rotina suburbana e cotidiana e de lá, dos becos e guetos, emergiu em ciência e essência, se fez vida e artéria cultural do brasileiro, longe dos badulaques e excessivos paramentos, pra se dizer, fazer e acontecer. Basta que o sentimento e o espírito reinante lhes sejam minimamente propícios, “tranqüilos e favoráveis”, já é motivo, já é samba!
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Ao curso de mês a mês, lá se vão religiosas catorze edições do Projeto Samba Autoral que acena para a criação local chamando letristas, músicos e cantores da cidade para exibirem suas obras na livre e aberta trincheira musical na calçada do Bar do Calixto, a escancarada e acolhedora catedral do samba santo de todo dia, erigida ao som e sabor de surdo cavaco, pandeiro e vozes, na confluência da Rua Jaci Paraná com a Brasília, no Bairro Santa Bárbara.
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Sob o olhar protetor e vigilante da Santa Padroeira do lugar, os brancos e os negros do samba daqui, aliados e irmanados aos sararás e galegos e aos matizes todos do DNA e consangüinidade sambista, promovem o interativo e arrebatador celebrasamba, um misto de oração, devoção, fé e amor à vida, às pessoas e a cultura popular, em torno do samba, fazendo a cada edição mensal, o debulhar dum rosário musical em rito de confirmação do batismo dessa sagrada herança cultural e seu enraizamento no solo e coração local.
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Quis o vento da atitude musical, divino semeador de acordes, colher por aí e fazer soprar e germinar sementes ritmadas nessa que podemos chamar de “esquina do samba de porto”, cuja adjacência é doce e demograficamente invadida pelas presenças habitantes e transeuntes dos que se curvam em reverência e deferência afirmativa ao samba.
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Na região, aos punhados, o samba mora nas prateleiras, varandas e cozinhas dos Pinheiros, dos knightz, dos Tavernards, dos Motas, dos Cardosos, dos Melos, dos Santos, dos Silvas e dos Ferreiras, mas também se esparrama garboso, bonito, firme e forte na força doutros muitos que se achegam em canoras revoadas e tomam justo e merecido assento na sagrada e pulsante roda de samba de cada mês.
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De tão samba e tão sagrado, lá naquele lugar exala o místico aroma do velho e mesmo paticumbum do “sempre samba”, remoçado, histórico, patrimonial, ultra cultural e infalivelmente arrebatador, capaz de levar todos aos requebros faceiros e laiá laiás ligeiros, basilares da sinfônica e popular ópera samba.
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Urge quem ali passar, atentar aos mágicos e vitais sinais grafados nas placas de aviso e orientação da consciência e sentimento humano, que recomendam: “Atenção, devagar, aqui tem samba!” Olhem essa: “Pare, se achegue, sambe sem moderação!” E mais uma: “Aqui mora o samba, que tal visitá-lo?”
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E assim, em dia de Samba Autoral, desde o começo da tarde, o samba come no centro até que lá pelas tantas, esses nossos corpos suados, ardentes e apaixonados (como diria Gonzaguinha), zarpam noutras direções.
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Do professor, poeta e compositor Binho, sensível como raros, emprestamos: “cuidado que naquela esquina tem a nossa história!” Neste caso, dizemos da esquina e da história do samba local que, rebatizado, se agrupa e aviva pela providência e ânimo dos nossos bambas

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