domingo, 20 de dezembro de 2015

Maria Antonia Oliveira Chaquiam

A artesã e um pouco da história da família Chaquiam


Na ultima quinta feira 17, logo após a solenidade de entrega das carteiras de artesão e trabalhador manual que aconteceu no auditório do palácio Presidente Vargas – Museu da Memória, conversamos com a artesã Maria Antonia Chaquiam e solicitamos que ela nos contasse sobre a convivência com a Família de Miguel Chaquiam já que foi casada (é viúva) com o filho mais novo do pioneiro Elias.Seu Miguel foi um dos fundadores do Clube Ypiranga e até comprava as camisas do time de futebol do clube”. Dona Antônia para ajudar nas despesas de casa, assumiu a profissão de artesã. “Comecei pintando camisas e pano de prato”. Numa das salas do antigo palácio do governo de Rondônia, ouvimos a história da artesã que a partir daquela quinta feira 17, foi reconhecida como profissional artesã. “Essa carteira é o nosso grito de liberdade”.

ENTREVISTA


Zk – A senhora é de onde?
Maria Antônia – Nasci no Maranhão numa ilha que faz parte do Delta do Parnaíba. Vim para Porto Velho quando tinha Oito anos de Idade, isso no ano da revolução 1964. Vivi minha infância e juventude no bairro Triângulo, só sai de lá quando casei.
Zk – Casou com quem?
Maria Antônia – Estudava no Colégio Estudo e Trabalho a noite e uma amiga me apresentou o Elias Chaquiam o mais novo da família Chaquiam e desde então começamos a namorar, após dois anos nos casamos. Foram 37 anos de casados, até ele morrer. Tivemos três filhos Elias Chaquiam Filho (Promotor de Justiça), Erik Oliveira Chaquiam (advogado no TRE) e a Erika Oliveira Chaquiam (psicóloga).
Zk – A família Chaquiam é considerada pioneira de Porto Velho. Como foi a sua convivência com eles?
Maria Antônia – Quando começamos a namorar fui apresentada à família, seu Miguel Chaquiam que era meu sogro ainda era vivo, ele faleceu em 1972. Ele tinha uma loja ali na rua José de Alencar que vendia praticamente de tudo. No inicio era apenas secos e molhados, depois passou a vender ‘fazenda’ (tecido), porcelana, enfim, era um comercio bastante diversificado com vários tipos de mercadorias.
Zk – A senhora chegou a morar naquela casa da José de Alencar?
Maria Antônia – Depois que casamos, passamos dois anos morando fora e quando nasceu nosso primeiro filho, passamos a morar naquela casa. Na época ainda funcionava a loja. De um lado tinha a loja do seu Abdon e do outro era a agencia da Cruzeiro do Sul (hoje INSS). A luta deles aqui foi muito grande, principalmente na época da ditadura militar. Eles foram muito perseguidos, porque meu cunhado Thomas Miguel Chaquiam era político, foi inclusive prefeito de Porto Velho no tempo do Dr. Renato Medeiros. Minha sogra hospedou os japoneses que chegavam para trabalhar como hortifrutigranjeiros na Colônia dos Japoneses. Acontece que a casa era bastante grande e ela a transformou num tipo de pousada.
Zk – Qual a origem dos Chaquians?
Maria Antônia – Meu sogro era Armênio e minha sogra era Síria. Meu sogro veio pra cá e depois mandou buscar a mulher e aqui tiveram que casar novamente, porque o casamento deles não foi reconhecido no Brasil. Eles se casaram de novo aqui em Porto Velho.
Zk – Voltando a perseguição na época da ditadura?
Maria Antônia – Meu cunhado Thomas foi preso porque naquele tempo, você não podia ter idéias consideradas avançadas que era considerado comunista e o Thomas Chaquiam foi considerado pelos militares como comunista. Meu marido Elias foi gerente durante alguns anos da Companhia Minérios de Rondônia que era de uns portugueses.

Zk – Com certeza a senhora aprendeu a culinária síria. Tem alguma receita especial?
Maria Antônia – Como já disse, depois que meu filho mais velho nasceu fui morar com minha sogra e aprendi a preparar alguns pratos da culinária Árabe como Charuto, Kibe, Grão de Bico e muitas outras iguarias.
Zk – A senhora estava falando que o seu Miguel Chaquiam patrocinou o Clube Ypiranga. Eles eram metidos, como chamavam na época, catega?
Maria Antônia – Logo que eles chegaram aqui no começo de Porto Velho, participaram da fundação do Clube Ypiranga, seu Miguel além de fundador foi patrocinador. Comprava as camisas para o time de futebol. Se eles eram metido? Nada disso, eram até demais humildes, recebiam todos sem distinção alguma, nunca foram de ostentar, apesar da condição de comerciantes considerados.
Zk – Voltando aos dias de hoje. Como foi que a senhora passou a praticar o artesanato?
Maria Antônia – Passei a me dedicar mesmo ao artesanato, depois que a loja foi fechada e a gente começou a passar por alguma dificuldade, Os filhos precisavam estudar e para ajudar nas despesas de casa, passei a me dedicar mais ao artesanato. Saímos do centro e fomos morar no bairro Embratel onde até hoje resido. Comecei pintando camiseta, pano de prato e depois passei a trabalhar com semente, cipó, aprendi a lapidar, fiz vários cursos no SEBRAE e passei a trabalhar com a biojóia e com a ecojóia. A eco-jóia é trabalhada apenas com a semente e à biojóia se agrega a prata e o ouro,
Zk – O comentário que se ouve, é que o artesanato de Rondônia quando exposto em feiras nacionais é um dos que mais vende. A senhora já participou desse tipo de feira?
Maria Antônia – Já viajei muito. As primeiras feiras que participei foi A “Mãos de Minas”. O primeiro grupo do PAB formado em Rondônia estava Eu, seu Giovane, Bahia, Mirtes Rufino entre outros. Acontece que a Silvia Feliciano (artesã e artista plástica), ministrou uma oficina na Biblioteca José Pontes Pinto, na época, eu trabalhava com a dona Cristina lá na Estrada de Ferro e então a Silvia me viu confeccionando uma bolsa e perguntou o que eu estava fazendo e eu disse: uma bolsa de semente de açaí, (Fui eu que fez a primeira bolsa de semente de açaí aqui) e ela gostou tanto, que selecionou a bolsa para ir pra Brasília. Foi nessa feira que nós artesãos de Rondônia, ganhamos o primeiro caminhão para transportar nossas peças. Depois disso passei a participar das feiras nacionais. Aliás em Pernambuco eles dão muito valor à cultura, feira em Minas Gerais, Brasília e outros estados. Depois a Wéllida Sodré assumiu a coordenação do PAB em Rondônia. Nosso artesanato ou o artesanato de Rondônia é um dos mais valorizados nas feiras nacionais. A gente saia daqui com o caminhão do PAB lotado e volta vazio. A gente vende tudo, isso é muito bom pra gente e para o estado.
Zk – Agora vocês estão recebendo a Carteira de Artesão. O que essa Carteira significa?
Maria Antônia – É uma vitória conquistada por nós, agora nossa profissão é reconhecida, agora somos profissionais. Antes o artesão não tinha valor nenhum. Agora passaremos a ser reconhecido nacional e internacionalmente como profissional Artesão. Posso fazer propaganda da nossa cooperativa?
Zk – Pode!
Maria Antônia – Nossos trabalhos em biojóias e ecojóia são comercializados na Cooperativa de Trabalho dos Artesãos de Rondônia AÇAÍ localizada à rua Henrique Dias esquina com a Euclides da Cunha pertinho do Mercado Central em Porto Velho. Obrigado!

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