sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

HOJE É ELA - LÁ VEM A BANDA



E lá vem ela, a Diva e majestade do nosso imaterial cultural e popular, a nos levar - assim como leves plumas ao vento - no bailado e sonhado sonho da folia carnavalesca!”

Por: Altair Santos (Tatá)



Hoje cedinho sairemos de casa aos primeiros raios do sol ou pingos da chuva, animados ao toque do Clarim que acordará o povo a saltar da cama e despertar pra festiva realidade costumeira do sábado de carnaval. E nessa religiosidade, a cidade Porto, como em nenhum outro dia do ano, vê e sente o seu metabolismo alterado de um estado de ponto comum para uma urbe em ebulição, a ferver no mega-temperado caldeirão cultural afinal, hoje, lá vem a Banda, a Banda do Vai Quem Quer!
Passaremos pelo Mercado Central onde os magarefes e demais feirantes trabalham com indisfarçável pressa, taxistas no ponto ou no trânsito levando passageiros conversam sobre o tema do dia, no centro comercial foliões compram adereços e outros badulaques, pra se fazerem paramentados nas cores do grande cortejo. O motorista de ônibus, assim como vimos certa vez, de ponto em ponto, vai assoviando a melodia daquela marchinha que diz “chegou a banda, a banda, a banda, a banda do vai quem quer...”
Desde cedo, a partir dos bairros, centenas de pessoas rumam para o centro da cidade num serpenteado êxodo folião, todos atendendo o chamado que já reside no automático de suas vidas cujo botão de start é a Banda. Essas romarias ao se fundirem formam a grandiosa procissão. Nas ruas, o solo histórico e sagrado salão da capital, o carnaval come no centro e nossas vidas passam a ser embaladas pela mais organizada iniciativa civil, que traduz em cada um, o seu direito, a sua liberdade e, claro, o seu cuidado e respeito ao próximo!
Ambulantes e outros trabalhadores informais abastecidos com bebidas e um diversificado cardápio de iguarias formam o grande exército de atenção e atendimento ao público. Nesse grande teatro, Pierrôs e Colombinas, palhaços, super-heróis e outros mascarados num conjunto de imagens multifacetadas, exibem o desdobramento de um enredo tatuado no querer e no sentimento cultural e popular: o Carnaval.
Essas são demonstrações de que a banda, o grande cordão carnavalesco do norte brasileiro, há anos se injetou na veia e na alma da cidade, ela é a poesia, a melodia e dança do dia, por isso, inegavelmente, a Diva do nosso carnaval, a majestade do nosso cultural imaterial.
No sábado de carnaval a cidade é tão carnaval, é tão Banda que, até mesmo os que delam não gostam, não participam ou a reprovam, se exercem e se aviam, em torno do seu portentoso acontecimento. Os que gostam, vão, cantam, dançam e brincam. Os que não gostam, exercem seus direitos de não ir, retiram-se, viajam, ficam em casa. Os mais incomodados satanizam o bloco, jogam-lhe as pechas de ser a encapetada, semblante do capiroto, encarnação do espírito mau.
Alheia e isenta do puritanismo hipócrita e do moralismo de chapéu de vidro, a Banda segue o seu curso, festiva, alegre, irreverente e carnavalesca, porém, avessa à cegueira cultural do poder público, antagônica ao atrasado e maledicente fundamentalismo religioso e político, cerceador das liberdades.
Viva a Banda, viva o carnaval, viva a cultura popular! E neste sábado, livre, travessa e traquina, menina levada e faceira, temperada com pimenta, lá vai a Banda. Ela não é o diabo que pintam, mas é o cão chupando manga!
(*) tatadeportovelho@gmail.com

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