sábado, 21 de fevereiro de 2015

ENTREVISTA - João Bosco Lima de Siqueira

Carnaval, indústria a ser explorada

Em plena quinta feira de carnaval 12 de fevereiro, encontramos o João Bosco Siqueira – Bosco presidente do bloco Us Dy Phora num momento de reflexão lá na sede da Banda do Vai Quem Quer e lembramos, que foi justamente ali, que em fevereiro do ano passado, ele quase convence o prefeito Mauro Nazif a desistir da idéia de cancelar os desfiles dos blocos em virtude da cheia histórica do rio Madeira.
Lembrando aquela reunião que dava como certo os desfiles, que mais tarde foram cancelados, solicitamos ao Bosco que nos contasse, por qual motivo, o prefeito mudou de idéia em menos de duas horas. Essa e outras histórias relativas à cheia do rio Madeira no ano passado, serão contadas a partir de agora pelo Bosco D'us Dy Phora.

ENTREVISTA


Zk – Quem é o Bosco do bloco Us Dy Phora?
Bosco - Sou auditor de carreira do Tribunal de Contas há mais de 21 anos. Foi na antiga Fundação Cultural onde desenvolvi meu gosto pela cultura, já sabia um pouco sobre o assunto graças ao meu pai Francisco Machado Siqueira ferroviário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré desde 1949, que nos levava ainda criança, para assistir na Sete de Setembro, Pinheiro Machado e na Farquar em seu cangote as escolas de samba Pobres do Caiari, Diplomatas do Samba e outros grandes, e ali ouvíamos as músicas dos grandes compositores da época.
Zk – Você é de onde?
Bosco – Sou de Porto Velho do bairro do Areal onde nasci em 1963. Meu pai abriu praticamente a rua onde moramos a 13 de Setembro. O areal era campo de treinamento do Exército da Terceira Companhia de Fronteira. Na verdade o Areal é um balneário, infelizmente por falta de projeto urbanístico muitos daqueles igarapés se perderam, mas, era um local onde os grandes da cidade iam lavar suas roupas e tomar banho nos finais de semana. O desenho do Areal na verdade é uma ilha.
Zk – É aí que queremos chegar! Ano passado (2014), você deu uma aula de conhecimento para as autoridades da Defesa Civil, Prefeito, Ministério Público e todos os envolvidos com a enchente do rio Madeira sobre a alagação da Baixa da União e outras áreas. Qual seu conhecimento a respeito desse assunto?
Bosco - A questão é que eles estão confundindo cheia com enchente. Cheia todo ano tem no rio Madeira é natural que enche em função de uma situação sazonal, desce lá do Peru como todo mundo sabe e ocupa aquilo que sempre ocupou nas suas várzeas. O que acontece é que, por falta de planejamento urbanístico, as áreas de várzeas são ocupadas de forma irregular pela população que não deveria estar lá. Segundo, os igarapés que deságuam no rio Madeira, no passado tinham uma dimensão e em função da falta de uma política adequada, essa dimensão diminuiu e eles foram assoreados, diminuiu a fundura e com isso toda e qualquer água que venha com a cheia transborda.
Zk – Você tem a solução para evitar esse transbordamento?
Bosco – Eles tinham que alargar, aprofundar e voltar às margens que os igarapés tinham. Se por ventura isso não for suficiente caberia ao poder público criar barreira de contensão junto ao rio Madeira para que no inverno pudesse protegê-lo. Como não houve investimento nessa área, que deveria ser a contra partida das usinas do Madeira. Eles simplesmente esqueceram e com isso, construíram o prédio do Tribunal Regional Eleitoral em cima de um igarapé e isso contribuiu com o aumento do volume da água. Toda rua Jacy Paraná é um córrego, as dimensões da rua é o igarapé. O que se tem que fazer hoje na Rogério Weber, 13 de Setembro, Campos Sales e na Tenreiro Aranha são pontes para que os igarapés voltem ao seu leito natural e assim não haveria mais cheia. A mesma coisa aconteceu na antiga Fábrica de Borracha com o famoso igarapé Grande que está totalmente assoreado. O igarapé Grande chega na BR 364. Ele tinha uma queda d’agua de sete metros na década de setenta.
Zk – Falando de carnaval! Ano passado você quase convence o Dr. Mauro a não cancelar o carnaval. O que aconteceu que ele resolveu pelo cancelamento da festa?
Bosco – Eu havia conversado com o Dr. Mauro as 12h00 daquele dia sobre a possibilidade, dos blocos grandes poderem desfilar, Bloco Us Dy Phora, Jatuarana Sul, Galo da Meia Noite e a Banda do Vai Quem Quer porque juntando eles todos, dá mais de 300 Mil pessoas e seria bom para ele prefeito politicamente e socialmente. Ele compreendeu e concordou.
Zk – O que fez mudar de opinião?
Bosco – Na parte da tarde em outra reunião, alguns grupos carnavalescos (os pequenos) entendiam que tinham que sair todos os blocos e não apenas os maiores, eles não entenderam que o objetivo era preservar a tradição do nosso carnaval e passaram a tumultuar a discussão, levando com que o prefeito cancelasse a reunião. Em vista disso a Justiça cancelou os desfiles o que considero um grande erro.
Zk – O que está faltando para o nosso carnaval de rua passar a ser fomentador do turismo?
Bosco – Falta política pública. Não existe estruturada voltada para o nosso carnaval de rua, não se tem idéia do potencial econômico que o carnaval gera. O carnaval movimenta mais de 500 Mil pessoas; 3 Milhões de latas de cervejas foram consumidas; 2,5 toneladas de carne; são mais de R$ 12 Milhões sem contar com hotel, motel, taxista e outras atividades, é muita atividade gerando emprego e trabalho, só que o estado se questiona se pode ou não dar dinheiro pro carnaval. Para cada HUM Real que o estado está bancando a Liga dos Blocos devolve R$ 12, não entendemos porque desse questionamento, desse absurdo, quando sabemos que a própria economia nacional subsidia a indústria automobilística e por que a indústria da cultura não pode ser subsidiada.
Zk – Você não acha que o carnaval deveria ser da responsabilidade das secretarias de turismo e entidades afins?
Bosco – Nós temos um potencial turístico altíssimo. Um carioca chegou comigo agora, durante o carnaval e me disse, que fez um levantamento de Porto Velho a Vilhena e registrou mais de 5 Mil pontos turísticos e disse, que se nós divulgássemos esse potencial turístico no Brasil e no Mundo, daqui a um ou dois anos seríamos uma super potencia da indústria do turismo, então é necessário que a nossa Superintendência de Turismo – Setur que está sob o comando do Julio Olivar passe a se envolver com o carnaval. Ele (Julio) me disse que representantes do Ministério do Turismo estiveram aqui e perguntaram quais os Projetos que a Superintendência teria e ele citou: O Boi Bumbá de Guajará Mirim, a Festa do Divino no Vale do Guaporé e o carnaval de Porto Velho. Por um acaso nós da Liga dos Blocos apresentamos o Projeto “CarnaTurismo” ou “Carnaval do Turismo” que foi mostrado e os técnicos do Ministério disseram ao Julio: É esse Projeto que queremos e até explicaram como o governo estadual deveria proceder junto ao Ministério para conseguir recursos para financiar o projeto.
Zk – Você foi dirigente de escola de samba (Unidos do Areal), ajudou a criar o bloco Canto da Coruja e agora dirige o bloco Us Dy Phora, por isso tem cacife para falar sobre o que falta para os blocos de trio elétrico e o carnaval das escolas de samba decolar, em Porto Velho?
Bosco – O que ta faltando é gestão. O secretário de cultura ou o presidente da Funcultural precisa de uma coisa chamada vontade política. Apresentar um programa: Senhor prefeito, a partir de agora eu não quero a Sema a Semtran nem ninguém envolvido no carnaval, será emitido um título a cada bloco para que ele possa desfilar. A Semtran vai fazer seu papel que é fechar as ruas, o Corpo de Bombeiros vai fiscalizar se os trios estão em bom estado e a Polícia Militar mediante planejamento estará na rua. A única coisa que a prefeitura precisa saber é planejar, quais os blocos que irão sair, os horários, os dias e o que precisa e fazer oficio aos órgãos competentes para dar suporte aos desfiles. A prefeitura não é pra dar dinheiro a bloco, a prefeitura tem que apenas estruturar o carnaval colocando banheiro químico e grades de proteção e divulgar o evento na televisão. A prefeitura precisa saber que ela é promotora do carnaval e não os blocos e escolas de samba.
Zk – Para encerrar nossa conversa. Sexta feira dia 13 seu bloco Us Dy Phora saiu cantando uma marchinha de protesto. Qual foi o tema?
Bosco – Nosso tema “Da Construção das Usinas aos Desmandos da Corrupção”. Criamos o tema do nosso bloco e convidamos o compositor Silvio Santos para fazer a marchinha que por sinal ficou muito boa e foi cantada pelos foliões do nosso bloco Us Dy Phora. 

Nenhum comentário: