sexta-feira, 6 de junho de 2014

Festa do Divino: Devoção completa 120 anos no Vale do Guaporé

A chegada da coroa do Divino Espírito Santo, no encontro das águas dos rios Mequéns e Guaporé, é momento de grande emoção

O batelão começa a viagem de 30 minutos até o local da festividade
O batelão começa a viagem de 30 minutos até o local da festividade
A comunidade do distrito de Rolim de Moura do Guaporé, em Alta Floresta – no encontro dos rios Mequéns e Guaporé e a aproximadamente 700 km de Porto Velho – recebeu na tarde de quarta feira (4), a coroa do Divino Espírito Santo. A tradição ocorre há 120 anos no Vale do Guaporé e tem na coordenação a Irmandade do Divino. Para se chegar à localidade, é preciso percorrer 30 minutos de barco a partir do posto da Polícia Ambiental.
6 - festaCentenas de devotos se deslocaram de suas cidades até Rolim de Moura do Guaporé. Apenas de Guajará-Mirim foram dois ônibus lotados. Eles enfrentam essa maratona para agradecer as graças alcançadas com a invocação do Divino. “Muitos, ao verem a proximidade do batelão com seus doze remadores, entram no rio o que causa apreensão por parte da equipe de segurança. O batelão estava com dez meninos cantores, mestre violeiro Sá Nobre, o caixeiro Elton Gomes, mais o responsável pela ronqueira, Luciano Dantas, e os demais integrantes, como o responsável pela coroa e o capitão da embarcação.
6 - devotos 1
Com a chegada do batelão, devotos esquecem a própria segurança e invadem as águas
Com a chegada do batelão, devotos esquecem a própria segurança e invadem as águas
O barranco fica repleto de fies, uns chorando copiosamente e outros com as mãos levantadas, agradecendo ao Divino Espírito Santo. O canto do coral ecoa pelo Vale dando boas vindas e louvando a coroa. “É um momento emocionante,” traduz uma devota. O ritual segue por terra. Sobe a rampa com o imperador José Maria conduzindo a coroa de prata e coberta por fitas coloridas. Ao lado, a imperatriz Miriam leva o bastão também enfeitado com fitas multicores.
Antes de chegar à igreja, o cortejo para e o bastão e a coroa do Divino são repassados para a nova imperatriz, Barbarita Celestina, e o novo imperador, Francisco Gomes, que conduzem os símbolos. Já dentro do templo, os devotos, de joelhos, um a um, beijam a coroa e recebem as bênçãos dos anfitriões, o imperador e a imperatriz. Barbarita não esconde a satisfação. “Sinto-me bastante feliz por estar assumindo como imperatriz do Divino na cidade onde nasci e me criei, mas sei que a missão será árdua. Às vezes estressante, mas muito gratificante.”
6 - festeiros
Cura atribuída ao Divino
O padre Edmilson destaca a importância da festa para a comunidade do Vale do Guaporé. Para ele, em primeiro lugar, está a manutenção da tradição. “Como diretor espiritual da Basílica Menor de Costa Marques, tenho como missão acompanhar ao longo do ano essa festividade. Percebo que essas localidades se organizam para fazer o melhor e servir as pessoas, lembrando os atos dos apóstolos que compartilhavam em comum a fração do pão. Depois, se reúnem em torno da tradição que é a chegada da coroa, seguindo o ritual que veio de Portugal. O terceiro passo é o encontro das comunidades.”
Dinorá Pereira
Dinorá Pereira
A boliviana Alerpa, que não revela ou nem recorda quantos anos tem, bastante emocionada após reverenciar a coroa de joelhos, conta que recebeu uma graça quando passou por problemas de saúde na localidade da Cafetal, em seu país. “Por isso, onde a coroa vai, eu vou atrás.” Na rampa, à beira do rio Mequéns, local do desembarque da coroa do Divino, dona Dinorá Pereira dos Santos não conseguia controlar o choro. “Há sete anos, justamente no dia da festa, perdi meu marido. Por isso, ao ver o batelão chegar com a coroa, me lembro daquele dia e choro.”
Devotos de outros estados
Jordina de Oliveira veio de Goiás conhecer a festa
Jordina de Oliveira veio de Goiás conhecer a festa
A festa em Rolim de Moura do Guaporé também contou com a presença de devotos de outros estados. Dona Jordina de Oliveira veio de Trindade (GO), onde a festa também é tradicional. “Sou devota desde criança lá em Trindade,” disse emocionada. A festa que começou quarta feira só termina no domingo, dia 8. Uma das tradições da festa é que a pessoa, ao chegar, passa a ser convidada da irmandade e, assim, não paga as refeições: café, almoço e janta. E comida é farta. Este ano foram doados vinte bois para a festa.
A embarcação com a coroa leva também os meninos cantores, o violeiro e outros integrantes
A embarcação com a coroa leva também os meninos cantores, o violeiro e outros integrantes
Desde quinta feira na localidade, além da festa religiosa, tem shows com bandas e cantores da região da Zona da Mata e do Vale do Guaporé. O governo de Rondônia coopera com as festividades. Entre outras coisas, disponibilizou o Grupamento de Polícia Ambiental, comandado pelo Sargento PM Lucas, que fez a escolta do batelão do Divino na entrada nas águas em Rolim de Moura do Guaporé. Os policiais fazem ainda a segurança durante os dias do festejo. A comunidade de Rolim de Moura do Guaporé também aguarda a presença do governador.


Fonte
Texto: Silvio M. Santos
Fotos: Robson Paiva
Decom - Governo de Rondônia

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