quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Lenha na Fogueira - 22.01.15



Era setembro de 1973 se não me engano um sábado, quando cheguei ao bar do Casimiro e encontrei meu amigo Bainha muito triste com uma folha de papel na mão.

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- O que houve Bainha? Ele me entregou aquele papel que continha uma carta, que comunicava a direção da Escola de Samba Os Diplomatas sua renuncia do cargo de Presidente da Escola que ele ajudou a fundar.

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O motivo era que o Leônidas não estava acatando as determinações da Presidência e ainda conseguiu induzir a maioria dos diretores a ser contra a gestão do Bainha. É como dizem: “Briguinha de ego”.

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Diante das explicações do sambista, fiz a seguinte proposta: Se você aceitar, te apresento para Dona Marise dizendo que você tem interesse em assumir como Mestre Bateria da escola e que vai ser meu parceiro na composição do samba de enredo para o carnaval de 1974. Aceita?

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Bainha pensou um pouco e aceitou a minha proposta, de imediato pegamos um Taxi e fomos até a residência da Professora Marise no bairro Caiari e lá apresentei o Bainha e falei sobre meu convite, e que estávamos ali para saber se “A senhora aceita o Bainha em nossa escola e como Mestre Bateria e parceiro na composição do samba enredo”. Ela concordou e daí pra frente a história foi outra.

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Eu já estava com as histórias do folclore baiano toda armazenada faltava apenas chegar a dita inspiração melódica.

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Certo dia do mês de outubro, estávamos eu, Bainha, Neguinho Menezes e o Haroldão um batuqueiro da Diplomatas, tomando umas no “Bar do Gaucho” que ficava na Sete de Setembro esquina com a Joaquim Nabuco (hoje é um escritório de compra de ouro) e eu já com quase toda letra e melodia do samba pronta e no bolso.



De repente falei pro Bainha: Vamos terminar de fazer o samba da Caiari, a letra e parte da melodia eu já tenho, falta concluir. Menezes pega o cavaquinho pra ver qual é a nota.

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O Neguinho tomou mais uma talagada de “3 Fazendas”, pegou o cavaquinho e falou: “Canta Aí” e eu comecei a cantar: Odoiá Bahia, nossa primeira capital que a Caiari apresenta neste carnaval...

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Sol Maior, disse Menezes e então começamos eu e o Bainha a montar o resto do samba; Bainha foi até sua casa que ficava ali pertinho, colada ao Muro do Colégio Murilo Braga e trouxe duas letras dizendo; “Estavam na geladeira esperando uma oportunidade”. Na geladeira é um termo que a gente usava quando criava uma letra e melodia para esperar o momento certo para ser usada.

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O primeiro refrão dizia: Tem Mamelê, Tem Malê Luá, Tem samba de roda pra você dançar...

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O segundo: Tem dendê no caruru, no vatapá. Tem moqueca de xaréu e o gostoso abará. Escolhi o segundo e então o samba foi concluído.

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O pitoresco era que a cada estrofe terminada e harmonizada, a gente pegava um taxi e ia até a Escola Normal Carmela Dutra cantar para Dona Marise que era a diretora do colégio.

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A cada estrofe cantada, ela nos dava o dinheiro do Táxi e mais algum pra pagar a cachaça. Foram quatro idas e vindas à Escola Normal e o samba estava totalmente pronto e ficou assim:

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Odoiá Bahia! Nossa primeira capital, que a Caiari apresenta, neste carnaval. Pra festa da Conceição todos vão de pé, na lavagem do Bonfim, entre danças e canções, mostram sua fé. Tem dendê, no caruru, no vatapá. Tem moqueca de xaréu e o gostoso abará.

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Dia 2 de fevereiro, os Saveiros vão pro mar, Vão prestar sua homenagem a Rainha Yemanjá. Tem macule lê, tem capoeira, tem candomblé, camarado! Lá na Ribeira.

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Tem muita história sobre esse samba. Aguardem o restante até amanhã! 

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