sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Lenha na Fogueira - 17.01.15

Estamos de volta com as histórias dos sambas enredos composto por nós. Felizmente muita gente está acompanhando a nossa trajetória como compositor de samba enredo das escolas de Porto Velho e de outras cidades e estados.
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O certo é que os comentários positivos me fazem prosseguir escrevendo sobre os sambas enredos que compus.

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Sinhá Moça (Sandra Castiel) e seu par Dilson Machado

Sinhá Moça e a Abolição – O primeiro samba enredo de uma escola de samba de Porto Velho. Acompanhe como nasceu:
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A professora Marise Castiel assumiu a direção de carnaval da escola de samba Pobres do Caiari dias depois do desfile de 1969.

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E quando começaram as reuniões para se discutir o desfile da escola no carnaval de 1970, ela apresentou o Tema Enredo: “Sinhá Moça e a Abolição” baseado no romance escrito por Maria Dezonne Pacheco Fernandes publicado em 1950.

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Aprovada a sugestão, dona Marise mandou me chamar em sua residência a rua Santos Dumont no bairro Caiari e me entregou o Livro dizendo: “Menino leia esse livro e me faça um samba enredo...”

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Para ser sincero, eu nunca havia composto um samba enredo, nem eu e nem ninguém de Porto Velho. O que eu havia composto era uma samba no ano de 1966 em parceria com o Zé Carlos Lobo (ainda vou contar a história desse samba) e foi justamente o Zé Carlos que disse pra dona Marise que eu sabia fazer samba enredo.

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Com o livro debaixo do braço, fui pro Bar do Canto beber a famosa “Batida” e fingir que lia na realidade, de vez em quando dava uma olhada num parágrafo.

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Isso era o mês de outubro de 1969, os ensaios da escola estavam acontecendo no quintal da casa do Zeca Melo colado à Garagem do Governo ali onde hoje está a “Arte Flor”.

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Lembro que li realmente a história da Sinhá Moça umas dez vezes. Estava com a história impregnada no cérebro, acontece que nada da inspiração melódica/poética “baixar”.
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O Neguinho Menezes recém chegado do Rio de Janeiro, havia feito um samba exaltando a escola e era o que se cantava nos ensaios:  “Ornamentei nossa escola de samba, e transformei nossa gente, em uma roda de bomba. A batucada é inovação, nossas cabrochas, chamam a atenção. Todos que vem aplaudir, Os Pobres Caiari, têm satisfação...
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Em meados do mês de janeiro de 1970, a diretoria da escola me botou na roda durante o ensaio, querendo saber do Samba Enredo. Silvio canta pra gente o samba enredo, o carnaval ta chegando e você não passou o samba para o Mestre Flávio, você fez ou não fez o samba?

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“E eu sem ter escrito uma linha sequer, falei: O Samba ta pronto, só precisa ser ‘lapidado”.
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- “Então canta pelo menos o refrão pra gente. - Vamos lá pra dentro da casa do Zeca que eu canto.

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A mesa ficou repleta de diretores, entre eles o Zeca Melo, Dimas Queiroz, Zé Carlos Lobo, Lucivaldo Melo, João Ramiro e outro que não recordo.

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Juro por Deus! Sentei e comecei a batucar na mesa e cantei o samba todinho, sem ter escrito uma linha sequer. A turma toda aplaudiu.

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E todos junto comigo, que também não cabia de tanta felicidade fomos para a garagem aonde estava acontecendo o ensaio e lá eu cantei:
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Na literatura nacional, eu fui buscar o tema do meu carnaval, e nas buscas que fiz, encontrei uma escritora genial. Das suas obras famosas, escolhi Sinhá Moça e a Abolição, hoje saio a avenida cantando, essa linda canção: Abolição, abolição! Sinhá Moça e a Abolição...!

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O desfile foi na avenida Pinheiro Machado recém asfaltada e a Escola de Samba Pobres do Caiari foi pela primeira vez, campeã do carnaval de rua de Porto Velho!

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