sábado, 5 de maio de 2018

ENTREVISTA - Antão Gomes de Oliveira


O telegrafista da FAB no tempo do aeroporto Caiari

Antão começa a conversa, lembrando do seu sogro Deroche Pequeno Franco. “A turma fazia muita brincadeira com ele. Acontece que de vez em quando ele atuava como fotografo e certa vez, foi contratado para cobrir o velório de uma pessoa da alta sociedade e na hora de fotografar o defunto, a turma contava que ele enquadrou a câmera, olhou para o defunto e falou: Não se mexa”.

Sargento Antão foi muito envolvido com as coisas que aconteciam no aeroporto Caiari inclusive, por muito tempo, atuou como secretário do Aeroclube de Porto Velho, Telegrafista da FAB junto com a equipe dava suporte as Companhias Aéreas particulares como Panair do Brasil, Cruzeiro do Sul e Paraense. Casado há mais de 50 anos com dona Maria filha do seu Deroche, Antão curte a aposentaria na tranquilidade de sua residência nas proximidades do Palácio Rio Madeira - CPA.

Vamos às histórias do sargento Antão!



ENTREVISTA

Zk – Vamos falar sobre sua origem?

Antão – Meu nome é Antão Gomes de Oliveira, nasci numa cidade do interior do Rio Grande do Norte – Parelhas, no dia 17 de janeiro, hoje estou com 80 anos de idade. Quando chegou à idade de servir as Forças Armadas me alistei na Aeronáutica e fui servir em Natal, isso em janeiro de 1957, no mês de abril abriu o curso de Cabo e eu fui fazer em Recife e quando terminei, voltei pra Natal, foi quando fui fazer o curso de Sargento no Rio de Janeiro, o inicio do curso foi mais ou menos em julho, foram formados 100 sargentos e os primeiros colocados, tinham direito de escolher o local aonde gostariam de servir. Eu queria servir em Natal ou outra cidade do Nordeste, porém, não tinha vaga. Surgiram três vagas para a região Norte a primeira foi para Porto Velho na época capital do Território Federal de Rondônia e eu me inscrevi para essa vaga.


Zk – E a reação da tropa?

Antão – Você tá ficando doido, vai pro meio dos índios, lá as feras andam no meio da cidade. Não importa, vou pra la assim mesmo, respondia. O oficial que estava fazendo a seleção, ainda perguntou, você quer mesmo ir pra Porto Velho? Quero sim! Vim pra ficar apenas seis meses substituindo o Aristodemo e estou aqui até hoje.

Zk – O cargo era de telegrafista?

Antão – Era, porém, como aqui não tinha Torre de Controle à gente atuava também como Controlador de Vôo. Nossa Base vamos dizer, ficava numa Casa onde hoje é a EMATER na Farquar, o aeroporto era onde hoje fica o Palácio Rio Madeira – CPA. Na realidade a pista do Campo de Aviação (tinha 1200 metros) começava onde hoje é o Ginásio Claudio Coutinho e terminava aqui no CPA. A sede ou estação de passageiros, era mais ou menos em frente ao portão do estádio Aluizio Ferreira da avenida Farquar.

Zk – É verdade que naquele tempo, para se chegar ao Rio de Janeiro levava dois dias?

Antão – É verdade! Tinha o vôo Acre-1 que fazia a seguinte rota: Porto Velho, Guajará Mirim, Forte Príncipe da Beira, Vila Bela, Cárcere e pernoitava em Cuiabá no dia seguinte, saia para Campo Grande, Três Lagoas, São Paulo e Rio de Janeiro

Zk – Lembro que a FAB fazia uma lista com nomes de pessoas da cidade para irem de graça nesses vôos. Como funcionava essa seleção?

Antão – Existia inclusive, um convênio com o governo do Território: O governo hospedava a tripulação no Porto Velho Hotel e como contra partida a FAB destinava uma cota de seis passageiros por vôo. Por algum tempo essa seleção ou o embarque dos que solicitavam passagem ficou sob minha responsabilidade. Além do vôo Acre-1 tinha o vôo Acre-2 que fazia a seguinte rota: Rio de Janeiro, Belo Horizonte e pernoitava em Cuiabá no dia seguinte: Cuiabá, Vilhena, Vila de Rondônia (Ji Paraná) e Porto Velho. Esses vôos eram muito concorridos, primeiro porque a região era muito carente de médicos e como já disse, na tripulação vinha um médico para atender a população.

Zk – Era no tempo que o melhor hospital era embarcar num avião rumo aos grandes centros?

Antão – Eu mesmo tive um filho que quebrou a clavícula e como aqui não tinha ortopedista o embarquei para o Rio de Janeiro para que ele fosse submetido à cirurgia. Em outra ocasião minha filha teve um problema na vista e como aqui não existia oftalmologista o Dr. Macedo na realidade Capitão Macedo, recomendou que a levássemos para um local com esse atendimento.

Zk – Na lista de passageiros da FAB sempre constava o nome de pessoas que tinham posse e mesmo assim, queriam viajar de graça, eram os “categas” do bairro Caiari. Como vocês faziam para atender essas pessoas? 


Antão – Quando eu estava respondendo pelo Correio Aéreo Nacional – CAN e quando o avião saia de Rio Branco pra cá, eu solicitava do telegrafista de lá que informasse quantas vagas estavam disponíveis para o Rio de Janeiro, tantas pra Cuiabá e assim sucessivamente. Nesse intervalo eu fazia a relação e sempre tinha mais inscritos que o número de vagas e então, procurava dar prioridade às pessoas carentes. Eu saia da sala do CAN dava a volta la pros trás e ficava observando as pessoas na fila e aquela que eu via que realmente era carente, de possa da lista chamava: você pode embarcar. Assim conseguia selecionar os que realmente precisavam.

Zk – Fala sobre o trabalho dos telegrafistas da FAB?

Antão – A gente ajudava muito as pessoas da cidade, a comunicação aqui era precária e a maioria dos funcionários e mesmo pessoas comuns que moravam aqui, tinham suas famílias em outros estados e precisavam mandar e receber notícias e então, muitas vezes essas pessoas nos procuravam para enviar telegramas aos seus familiares.

Zk – Qual era a equipe no teu tempo?

Antão – Era eu, sargento Oliveira, Joel que casou com a Neire Azevedo carnavalesca da escola de samba Diplomatas e o Flávio Daniel que também foi da escola de samba Caiari. A gente fazia parte da equipe do Serviço de Proteção ao Vôo e inclusive dava suporte para as Companhias privadas como Panair, Cruzeiro e Paraense.



Zk – Aconteceu algum problema de queda de avião no seu tempo de telegrafista da FAB?

Antão – Teve! Um dia eu estava em contato com um avião da FAB que estava voando de Forte Príncipe para Guajará Mirim e eles mandaram uma mensagem solicitando reserva de hotel porque iriam pernoitar em Porto Velho. Daqui a pouco recebo outra mensagem com eles pedindo socorro, pois um dos motores da aeronave havia parado e iam fazer um pouso de emergência. O telegrafista avisou que iria se proteger porque estavam caiando na mata, isso era cinco e meia da tarde (17h30), de imediato acionei o Serviço de Busca e Salvamento que seguiu para Guajará Mirim. Nesse acidente morreram quatro pessoas, dois militares e dois civis e tiveram muitos feridos que foram levados para os hospitais de Guajará.

Zk – É verdade que às vezes a pista do aeroporto do Caiari era balizada pelos faróis dos carros?

Antão – Isso aconteceu várias vezes. Um vôo atrasava e chegava à noite e como a pista não tinha balizamento (iluminação específica), a gente solicitava via Rádio Caiari que os proprietários de veículos se dirigissem a pista do aeroporto para fazer baliza para aquela avião que estava sobrevoando a cidade pudesse pousar. Praticamente todo mundo que tinha carro ia pra lá.

Zk – Hoje você é da reserva?

Antão – Trabalhei durante 35 anos como telegrafista da Força Aérea Brasileira como sargento, fui pra reserva no posto de suboficial.

Zk – Como foi que você conheceu dona Maria sua esposa até hoje?

Antão – A gente morava no Porto Velho Hotel e lá sempre tinha as festinhas na famosa Varanda Tropical e certo dia, vi aquela morena bonita que estava com outras jovens, pensei, ela deve ser filha de algum “catega” do Caiari fui tirá-la pra dançar, assim começou nosso namoro que terminou em casamento. Já fizemos bodas de ouro. Temos quatro filhos dois homens e duas mulheres.

Zk – Para encerrar. Brincou muito carnaval?
Antão – Cheguei aqui numa terça feira de carnaval e a noite, fui brincar carnaval no Bancrévea. Frequentei muito o Ypiranga e o Ferroviário. Naquele tempo o carnaval em Porto Velho era muito bom.

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