quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Histórias pitorescas do dia de finados

Cruzeiro no Cemitério dos  Inocentes

Muitas são as histórias que ouvimos sobre ‘causos’ que se passaram num dia de finados.
Nesta postagem, vamos lembrar alguns dessas histórias, que quando contadas num ambiente, - vamos classificar de tenebroso - as pessoas ficam arrepiadas.

Finados na rádio Caiari

Naquele dia de finados de 1961, eu e o José Ferreira da Silva - Piaba, fomos escalados pela direção da rádio Caiari para colocar a emissora no ar às 18 horas (Seis da Noite). Naquele tempo eu já me aventurava como locutor e naquele dia, o Piaba estava de plantão como operador de som ou sonoplasta.
Encontramos-nos no Cemitério dos Inocentes e juntos, subimos para a rádio cujo estúdio era no prédio da prelazia atrás da catedral (onde hoje é a residência de Dom Moacir Grechi), naquele tempo a entrada era pelo lado da catedral.
Para chegarmos ao estúdio, tínhamos que atravessar o corredor da escolinha Domingos Sávio que funcionava no mesmo prédio, tudo escuro. Piaba ligou o transmissor cuja chave ficava ao lado da mesa de som e eu entrei pra cabine de locução e passei a ler um texto próprio para o Dia de Finados era um negócio muito triste. Piaba colocou uma música fúnebre como fundo musical e eu dentro do estúdio todo arrepiado de medo. Quando terminei de ler o texto - parece até que tínhamos combinado – Piaba já havia desligado o transmissor e me esperava na porta da cabine. Um olhou pro outro e sem falar nada, saímos correndo no rumo da saída. Deixamos a rádio com as portas abertas. No outro dia pegamos um “puxão” de orelha do padre Vitor Hugo.

Baba e a Cruz dos Inocentes


Naquele dia de finados de 1977, saímos eu, Baba e Arnóbio a gente trabalhava na CERON por isso sempre aproveitávamos os feriados para tomar umas e outras.
Naquele dia escolhemos um Bar que ficava no Mocambo bem próximo ao Cemitério dos Inocentes. O movimento no campo santos era intenso, vale lembrar que ainda não existia muro daquele lado do Cemitério, era cerca de arame farpado. Chegamos ao Bar por volta de meio dia e haja cerveja e cachaça.
Já era noitinha quando o Babá desapareceu do bar que estava cheio de freguês. Arnóbio e eu estávamos disputando cerveja na porrinha com outros fregueses.
De repente a senhora proprietária do bar começa a gritar desesperada:
- moço, por favor, não entre com isso no meu bar. Ai meu Deus!
Quando olhei pra ver o que era, vi com esses olhos que a terra há de comer, o Baba segurando com as duas mãos uma CRUZ que havia tirado de uma sepultura do Cemitério dos Inocentes e totalmente transtornado (Babá era negro mais estava branquinho) ameaçava entrar no Bar com aquela Cruz, quem estava bêbado ficou bom e quem só estava de curioso saiu correndo no rumo do bar do Antônio do Violão tentando se esconder do Babá com a Cruz.

O velório do Daniel

Esse não foi no dia de Finados, porém, tem tudo a ver com esses ‘causos’.
Daniel Zelada era irmão do famoso Zelada cantando em verso e prosa pelos poetas da Baixa da União. Bom! Daniel trabalhava na Usina que a gente chamava de “Fábrica de Borracha” local onde eu também trabalhava, isso no final da década de 1960.
De repente Daniel morre de enfarto e eu com seu sobrinho Raimundo Serrati  fomos pro velório que foi na residência de Daniel a rua Alexandre Guimarães sub esquina com a Prudente de Moraes no Areal. A boca da noite o velório estava lotado, não tinha garrafa de café que aguentasse, porém, quando a luz foi embora por volta das onze horas da Noite, a casa foi esvaziando, resultado, a meia noite eu e o Serrati fomos pra frente da casa e sentamos num banco de madeira e ali ficamos, as velas que estavam ao redor do caixão, se apagaram todas e eu e o Serrati ficamos ali naquele banquinho, sem falar nada, sem se levantar pra beber água ou urinar. A noite passou e a madrugada chegou e nos dois lá sentados sem enxerga nada pois a noite estava muito escura,
Quando deu cinco horas da madrugada, vimos uma luzinha acender na esquina da Alexandre com a José de Alencar, sem falar nada, pulamos daquele banquinho e saímos correndo no rumo daquela luz, e ao chegar, demos graças a Deus, era a luz da lamparina que iluminava a Banca da dona Maria que vendia café com pão e salgados em geral. Foi uma alívio. O defunto passou a noite sem ter vela acesa ao redor do caixão, tudo pela falta de coragem do seu sobrinho e do seu colega de trabalho.
O enterro do Daniel Zelada foi bastante concorrido, porém, nem eu nem o Serrati o acompanhamos até sua última morada.
E tem a historio do Amo de Boi Bumba Augusto Queixada que ao passar em frente a Cemitério dos Inocentes, ouviu uns gemidos e então aproveitou a deixa e fez uma toada cuja letra começa assim: “Em altas horas, ouvi gemer, Fora de hora ouvi chorar...”. Ele jurava que era o gemido de uma alma penada.
Antigamente a gente marcava encontro no “Cruzeiro” do Cemitério e ali ficávamos contando histórias de velório e de cemitério.  Se você tem alguma dessas histórias entre em contato pelo email zekatracasantos@gmail.com

Um comentário:

Beto Ramos de Oliveira disse...

Muito bom! E eu lendo uma hora da manhã! Eu hem!