domingo, 3 de julho de 2011

FALCÃO - COREOGRAFO DO CAPICHOSO

Coreografo do Boi Caprichoso



No barracão do Arraial Flor do Maracujá em Porto Velho, onde os artistas Ednart e Dayna estavam trabalhando a decoração da festa que está complentando 30 anos, fomos apresentado ao Marcos Luca Falcão de Souza. “Zekatraca, esse é o principal coreógrafo das tribos do boi Caprichoso de Parintins”, disse a artesã Dayna acrescentando, é o famoso Falcão do Caprichoso. O jovem de 33 anos, que apesar de ser destaque como coreografo do boi azul, é simples e muito atencioso. Após alguns minutos de conversa, inclusive com gozações por parte da Dayna que torce pelo boi Garantido, marcamos a entrevista para o dia seguinte, ou seja, sábado passado. Ao chegarmos no Flor do Maracujá na tarde de sábado, fomos junto com Falcão para o camarote pra ficar mais a vontade, pois ainda não tinha movimento no Arraial. Ali ficamos sabendo que ele começou como coreógrafo em 1994, como integrante da equipe do famoso Pajé Waldir Santana. “Com o tempo a direção do boi viu que meu trabalho se destacava e então em 1996, assinei contrato como profissional”. Na realidade, Falcão pode ser considerado pioneiro, pois, foi o 1º profissional coreografo contrato pelo boi Caprichoso. “Na época tive que optar, ou ficava na Fundação Cultural Caprichoso a famosa Escolinha de Arte ou ficaria como coreografo do Boi, optei por ficar no Boi”. Quem acompanha os bois de Parintins e em especial o boi Caprichoso, sabe da importância do trabalho do Falcão. Quando a imprensa soube de sua presença na equipe do Ednart com a Dayna que vai trabalhar no Flor do Campo de Guajará Mirim e que está trabalhando na decoração do Flor do Maracujá em Porto Velho, o jovem coreografo não teve mais sossego, pois, passou a ser disputado pelas televisões que estão transmitindo o Arraial para entrevistas, inclusive para nossa equipe. Conheça um pouco da histórias do boi Caprichoso de Parintins lendo a entrevista do Falcão.

ENTREVISTA

Zk – Há quanto tempo você está envolvido com a brincadeira de boi bumbá?
Falcão – Profissionalmente comecei em 1996, mas, como todo parintinense, comecei brincando ali no curral do Zeca Xibelão que ainda era de terra, corria atrás do carro volante do seu José Maria Pinheiro, teve várias situações que eu me pendurava na porta do carro, escapava de sofrer acidente, era aquela coisa de fanatismo mesmo.
Zk - Por que o boi Caprichoso?
Falcão - Minha família toda é boi Caprichoso, meus avós, meus pais. irmãos, tios, primos quer dizer, já nasci Caprichoso, pra completar, teve um curral do boi perto da nossa casa.

Zk – Você chegou a acompanhar ou brincar no boi de rua?
Falcão – Vi e acompanhei muitos bois de rua sensacionais, até chega a emocionar, porque a gente lembra principalmente quando esta longe da nossa terra. Quando chegava a temporada de boi de rua eu ajudava meus pais a fazer fogueira na rua aonde o boi ia passar. Minha paixão é tão grande por esse estilo de brincar boi, que quando viajo levo um CD com toadas que são cantadas no boi de rua.

Zk – Quando foi que você passou a brincar no Caprichoso?
Falcão – Muita gente me pergunta isso. Nem eu sei explicar exatamente o ano que começou. Quando me entendi como gente já torcia pelo Caprichoso, via meus pais, meus avós fazendo bandeirolas para enfeitar a rua e nossos quintais e desde lá comecei, não tem o ano certo como torcedor, mas, profissionalmente com contrato assinado, comecei em 1996. Só que nesse meio tempo teve o Projeto Social do Caprichoso que é conhecido como Escolinha de Arte do Caprichoso.

Zk – Aliás, como é que funciona a escolinha de arte?
Falcão – O objetivo do Projeto Social do Caprichoso é resgatar as crianças das ruas. Segundo Dona Graças Assayague que foi quem começou junto com o Simão Assayague, existem crianças de rua e crianças na rua, tem uma diferença aí. O Caprichoso veio através de esse Projeto Social resgatar essas crianças através da dança, música, artesanato principalmente na formação de escultores, costureiras. bordadeiras, decoradores de alegorias e coreógrafos.

Zk – Qual sua participação na Escolinha de Arte?
Falcão – Na realidade, tem duas fases. Eu estava lá ensinando a gurizada a dançar e quando foi em 1996 tive que optar, ou o Boi ou a Fundação Cultural Caprichoso. Naquele ano optei por ficar com o Boi Bumbá Caprichoso porque pra mim, naquele momento, era uma coisa maior, aonde eu poderia deslanchar e fazer um bom trabalho.

Zk – Hoje você me disse que continua na Fundação e no Boi como é conciliar as duas coisas?
Falcão – Exato! Em 1999 por convite e principalmente pela insistência de dois amigos: “vamos voltar pra escola, você foi um dos que começou com aquilo ali”. Então conseguir voltar e ao mesmo tempo, continuar coreografando as tribos do Caprichoso.

Zk – Você aprendeu com quem a técnica de dançar toada de boi?
Falcão – Falo pra todo mundo, acho que estudei dança na faculdade de Deus porque ninguém me ensinou. Quando dei por mim já estava sendo contratado por dançar bem, por ensinar alguns colegas meus bem, quer dizer, é um dom como todo parintinense tem.

Zk – E agora?
Falcão – A geração atual tem a oportunidade de ter alguém para ensiná-la e eu sou uma dessas pessoas que ensina meninas, meninos a dançar. Também tem instrutores nas oficinas de música, escultura em madeira, isopor, pintura em tela. Inclusive, alguns alunos já ganharam o concurso de cartaz do festival de Parintins e isso para a Fundação Cultural Caprichoso é uma vitória muito grande.

Zk – Você é responsável pela coreografia de quais tribos?
Falcão - Em 1996 eu era responsável por tudo, tanto pelo tribão como pela tribo especial. Deixa voltar no tempo.

Zk – Por quê?
Falcão – Pra dizer que em 1994 eu ainda não tinha contrato assinado, mas, já trabalhava com o Pajé Waldir Santana, foi daí que viram o meu talento.

Zk – Se é assim, qual foi a primeira coreografia que você criou?
Falcão – A primeira coreografia foi para a toada “Fibras de Arumã” do Ronaldo Barbosa. Na época a mulher do então presidente Carmona a Suzana participou, inclusive a atual vice presidente também fazia parte da tribo que era mista. Quando chegou 1996 fui contratado oficialmente pelo Boi.

Zk – E continua coreografando todas as tribos?
Falcão – Em 1999 a direção do boi viu que estava grande demais só para mim comandar, então chamaram dois colegas meus para me ajudar a organizar o tribão e a tribo especial. Depois disso começamos a dividir tarefas.

Zk – Por que tribão?
Falcão – Tribão são aquelas tribos que concorrem ao item “Tribos Indígenas” e a coreografia da tribo especial concorre ao item “Apresentação Tribal”.

Zk – Qual a técnica que você utiliza para criar as coreografias?
Falcão – Particularmente eu trabalho em cima da letra da toada, é claro que um bom arranjo ajuda a criatividade deslanchar, aflorar um bom movimento.

Zk – Você já sentiu dificuldade em criar uma coreografia para determinada toada?
Falcão – Tem situação que o artista diz, não gostei dessa toada, mas, como bom profissional coloco na minha cabeça que vou fazer um bom trabalho independente de ser uma boa ou mal toada. Muitas vezes, não é que a letra da toada seja ruim, é que o arranjo que fizeram pra ela não ajuda, não faz ela crescer. Por isso muitos chegam comigo e dizem: “Pô, tu tens a capacidade de pegar um arranjo ruim e fazer a toada crescer”. Esse é meu estilo e dever, fazer a toada crescer através da minha coreografia.

Zk – Sabemos que os bois de Parintins ensaiam também em Manaus, no seu caso, você também participa dos ensaios em Manaus?
Falcão – É assim, ou o pessoal de Manaus vai a Parintins ou pessoal de Parintins vai a Manaus ensinar, mas, as coreografias todas, são criadas em Parintins. Em Manaus tem a “Raça”, tem a Tribo Caprichoso que é o grupo oficial, tem também o GDM. Sempre tem uma pessoa ou outra para passar as coreografias nos ensaios, eu não posso sair de Parintins porque tem a Escola de Arte da Fundação Boi Bumbá Caprichoso que funciona o ano todo. O único mês que tenho para sair de Parintins é o mês de julho logo após o festival, porque todo mundo entra de férias.

Zk – Você está em Porto Velho de passagem para Guajará Mirim. Quem foi o responsável pela sua vinda para o Flor do Campo de Guajará?
Falcão – Pelo segundo ano consecutivo vou trabalhar as coreografias do boi Flor do Campo de Guajará Mirim, devo muito e agradeço ao casal Ednat e Dayna que acreditaram no meu trabalho e me trouxeram pra cá. E também ganhei aqui.

Zk – Pelo boi vermelho. E aí como é que fica o coração azul?
Falcão - Pro boi vermelho, infelizmente, falei pra Dayna, não tem o coração na testa, então pra mim esse vermelho está valendo.

Zk – Se por um acaso teu contrato não for renovado pelo Caprichoso. Você vai para o Garantido?
Falcão – Pode ser o maior contrato, mas, não iria pro Garantido de jeito nenhum.
Zk – Qual a média de integrante por cada tribo no Caprichoso?
Falcão – Pro tribão tem o limite, o mínimo são10 integrantes e o máximo 22 por tribo. É claro que não vamos locar uma tribo com 10 brincantes que não vai dar o efeito visual bacana. A tribo especial se eu não estou enganado são no mínimo 30 e o máximo é quanto o grupo tiver condições de colocar.

Zk – Quantos brincantes os bois de Parintins em especial o Caprichoso coloca na arena durante o festival independente da Marujada?
Falcão – A Marujada chega a uma faixa de 300 batuqueiros, o tribão tem umas 250 aí tem a tribo coreografada que juntando com a Marujada e o tribão chega a bater nos 600 brincantes. No máximo se apresentam umas 700 a 750 pessoas por boi.

Zk – Nas três noites entram as mesmas tribos?
Falcão – Sim, a tribo especial e o tribão entra nas três noites e em cada noite, é uma roupa diferente e uma coreografia.
Zk – Você faz as coreografias para as três noites?
Falcão – Não, cada noite é de um coreografo. Esse ano a minha noite foi a segunda noite quando apresentamos o “Ritual pro Sol” uma composição do Ademar Azevedo e do Mauricio e foi fantástico. Apresentei uma inovação utilizando balões a gás, claro que com uma roupagem diferente, não foi só os balões.

Zk – O coreografo da palpite na criação dos figurinos?
Falcão – Eu particularmente sempre converso. O Conselho de Arte bate nessa tecla também. Sou verdadeiro cricri, mas, o Neto Machado que é o artista que há algum tempo vem fazendo as fantasias das minhas tribos, sempre diz: “Olha Falcão eu gosto, porque tu vem aqui e a gente defini a roupa, pra não atrapalhar a tua coreografia e não deixar minha roupa simples demais”, essa parceria vem dando certo.
Zk – Para encerrar. Como é que você analisa o resultado desse ano?
Falcão – Até mesmo o contrário tava dando como certa a nossa vitória, disseram após a divulgação do resultado: “Na primeira noite vocês foram mais ou nos, mas, na segunda e na terceira noite foi um show” e quando divulgaram as notas ficamos com o segundo lugar. Isso não deixou nossos brincantes tristes, porque todos tínhamos convicção de que fomos melhor que o contrário. Nos consideramos Bi Campões. Teve jurado lá que foi uma vergonha. Um jurado que se diz gabaritado e formado para aquilo, não ler o Regulamento e coloca as Notas em Centésimos quando o correto seria em Décimos e no final das contas, as notas desse jurado eram anuladas e se dava 10 para os dois grupos, isso prejudicou e muito o nosso boi.

Zk – E em Guajará Mirim?
Falcão – Talvez eu alcance idéias novas, ou seja, vou utilizar a coreografia do Flor do Campo como laboratório, se der certo, para o ano aplico no boi Caprichoso. Independente de experiência nova, a galera do Flor do Campo pode confiar que se depender do nosso trabalho, o Flor do Campo vai ser mais uma vez campeão!

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