quarta-feira, 24 de abril de 2019

Livro - Porto, Velho Porto Histórias da cidade onde nasci e vivo - O Trem da Feira

 Autor: Sílvio M. Santos

Nesta edição damos continuidade às histórias que fazem parte do livro de minha autoria, que está prontinho para ser publicado, “PORTO, VELHO PORTO – HISTÓRIA DA CIDADE ONDE NASCI E VIVO”.
São histórias que pesquisei em publicações de vários autores que se preocuparam com a nossa história como Esron Menezes, Amizael Silva, Abnael Machado de Lima, Yedda Bozarcov, Manoel Rodrigues, Hugo Ferreira e em especial do meu amigo professor Francisco Matias, porém, a maioria das histórias relatam fatos vividos por mim, já que apesar de ter nascido no Distrito de São Carlos, vivi minha infância, adolescência e vivo até hoje, em Porto Velho. Muitas das histórias que os amigos tomarão conhecimento a partir de hoje, são exclusivas, pois foram vividas por mim, como é o caso do “Trem da Feira” e muitas outras. Infelizmente pelas normas acadêmicas, meu livro não pode ser considerado como de História, porém, as histórias nele contidas podemos garantir, (a maioria. foram vividas por mim) e as demais, são fruto de dias e dias de pesquisas.
Se você empresário editor, se interessar em produzir o meu Livro, entre em contato através do celular: (69) 9 9302-1960.


NO TEMPO DOS INGLESES 

Os moradores mais antigos de Porto Velho e Guajará Mirim costumam se referir à Madeira Mamoré com a frase "NO TEMPO DOS INGLESES" para definir quem realmente administrava a Estrada de Ferro. Na realidade, Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi totalmente construída com dinheiro brasileiro atendendo o acordo constante no artigo 7º do Tratado de Petrópolis. A construção que começou em 1.907 e terminou em 1912 teve como empresa administradora a Madeira Mamoré Railway Company.
Acontece que muito antes de sua inauguração, a Ferrovia foi arrendada para a Empresa Madeira Mamoré por 60 anos a contar do dia 1º de janeiro de 1912 (Decreto 7.344 de 25 de fevereiro de 1909). A arrendatária, ao contrário das Companhias congêneres Amazon River, Port of Pará, Manaos Harbour, Pará Eletric, Manaos Tramways e outras, não era uma Companhia concessionária, quer dizer que, enquanto aquelas construíam com seu próprio capital para depois ressarcirem-se com a exploração dos seus serviços ao público em prazos determinados, a Madeira Mamoré ocupou a Estrada de Ferro já construída e paga pelo governo brasileiro, em vista disso, a Companhia não tinha "The" em sua nomenclatura inicial e nem o "Limited" final. 
E a expressão: "No tempo dos ingleses" como surgiu como definição de administração da Madeira Mamoré?
Acontece que até 15 de novembro de 1914 a Companhia fazia parte do Sindicato Farquar e a sua administração era Americana. De 16 de novembro de 1914 em diante, foi transferida para um consórcio de Banqueiros Ingleses e a administração passou a ser INGLESA até 30 de junho de 1931. Daí a expressão "NO TEMPO DOS INGLESES" ser usada até hoje, quando alguém se refere à administração da Madeira Mamoré. 

A PRIMEIRA ESTAÇÃO DA MADEIRA MAMORÉ

Já contamos neste espaço, que a Estrada de Ferro Madeira Mamoré começou a ser construída oficialmente no dia 4 de julho de 1907 e que foi pregado como marco do seu inicio, um PREGO DE PRATA no primeiro dormente assentado, e que esse ato, aconteceu nas imediações do hoje prédio que abriga a ENARO que também foi conhecida como Serviço de Navegação do Madeira (S.N.M).
Bom! Pois justamente no prédio de madeira onde hoje está funcionando uma sorveteria em frente ao Museu e onde também funcionou a administração do famoso Plano Inclinado, funcionou a PRIMEIRA ESTAÇÃO de embarque e desembarque da Madeira Mamoré. Naquele tempo, os trilhos beiravam o Rio Madeira, passando em frente a Fábrica de Gelo e a garagem das Litorinas, pegando realmente o rumo de Santo Antônio após passar pela Serraria que também tinha o nome de "Serraria Santo Antônio" e que ficava justamente onde hoje é o Mercado do Peixe no Cai N’ água. (O leitor pode conferir naquele logradouro até hoje, o que restou da caldeira da Serraria).
No inicio, o trem atravessava uma ponte construída no encontro do Igarapé que ficou conhecido como "Igarapé do Burrinho" com o Rio Madeira, depois colocaram bueiro e o igarapé naquele trecho passou a ser chamado de "Bueiro".
Naquelas proximidades, foi construído um desvio, que dava acesso ao trecho da Madeira Mamoré conhecido como "Ramal São Domingos", porque transportava a Borracha Bruta que chegava dos seringais, para ser beneficiadas na Usina São Domingos que funcionava em frente a hoje entrada da 31ª Circunscrição Militar (5º BEC), entre a rua Prudente de Moraes e a Rogério Weber.

O TREM DA FEIRA 

A Estrada de Ferro Madeira Mamoré apesar dos ingleses a abandonarem em 1931, alegando que a mesma era deficitária, após passar a ser administrada pelo governo brasileiro passou a exercer realmente, o papel social motivo de sua construção, que era promover o escoamento dos produtos produzidos pelos bolivianos e dar assistência às várias vilas que se formaram ao longo de sua linha férrea, como Santo Antônio, Teotônio, Jacy Paraná, Mutum, Abunã, Vila Murtinho, Colônia do Iata e tantas outras.
Porto Velho cidade que nasceu graças à construção da ferrovia, tão logo passou a categoria de município em 1914, foi agraciada com a construção do Mercado Municipal e também passou a contar com as famosas feiras livres. A primeira feira livre de Porto Velho foi montada justamente onde hoje é a Praça Getúlio Vargas em frente ao palácio do governo. Foi nessa feira que juntamente com minha mãe passamos a trabalhar no ramo de venda de comida (1951). Assim que o Palácio foi inaugurado a feira foi transferida para o local onde hoje fica a Rua Euclides da Cunha no espaço entre o Clube Ferroviário (na época era o Clube Internacional) e a Ceron (na época Usina do Salft).
Em 1958 o governador Ênio dos Santos Pinheiro inaugurou a Feira Livre com o nome de “Feira Modelo” num galpão construído onde hoje é o Mercado Central na Rua Farquar. Nossa casa ficava exatamente ali, onde existe uma parada de ônibus em frente ao Mercado Central.
Por detrás do nosso quintal, toda quinta feira estacionava o TREM da FEIRA. O Trem da Feira trazia produtos dos agricultores que moravam do KM 25 – Teotônio, até Porto Velho, os produtos eram Farinha, Feijão, Arroz, Banana, Carvão, frutas de um modo geral, Milho e muitos outros. O Trem da Feira era fonte de renda não só para os ferroviários, mais, para uma gama considerável da sociedade como carroceiros, carregadores, atravessadores, vendedor ambulante, além, é claro, de beneficiar o comércio, já que os agricultores com o apurado da venda de seus produtos, compravam no comercio de Porto Velho.
O Trem da Feira fazia a viagem de volta no sábado pela manhã.
Com a desativação da Madeira Mamoré as colônias que existiam ao longo da ferrovia de Porto Velho a Teotônio deixaram de existir. Vale salientar que Teotônio era o maior produtor de farinha de mandioca de Rondônia. Quem viveu aquele tempo, com certeza lembra-se da Farinha do “seu” Jorge Alagoas.

MÁQUINA 12 - CORONEL CHURCH 

Quem visita o museu da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em Porto Velho, tem a oportunidade de admirar a locomotiva de nº 12 conhecida como "Coronel Church". O interessante, é que em uma moldura colocada à frente da máquina, encontramos alguns dados referentes à locomotiva, como local e ano de sua construção, potência etc... Só não encontramos a história de quando e como ela chegou nessa região e porque é a única locomotiva da Madeira Mamoré que foi transformada em peça de museu. 
A Máquina 12 ou Coronel Church foi a primeira locomotiva a entrar em funcionamento na região Norte do Brasil em especial na região Amazônica. Ela desembarcou em Santo Antônio no ano de 1877 trazida pela empresa Norte Americana P.&T. Collins contratantes da primeira tentativa de construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
A locomotiva 12 foi abandonada em Santo Antônio até então, ponto inicial da Ferrovia, em 1878 "depois de percorrer alguns quilômetros de linha que com sacrifício, conseguiram construir, rompendo a selva inóspita e virgem, povoada de feras e silvícola agressivos e traiçoeiros" descreve Hugo Ferreira em seu livro "Reminiscência da Madmamrly..."
A locomotiva já naquela ocasião ostentava em sua lateral o nome "Coronel Jorge Earl Church". 
Abandonada em Santo Antônio a máquina foi recuperada por ordem dos engenheiros da firma May, Jack & Randolph em 1911 então nas oficinas existentes em Porto Velho. Foram 33 anos abandonada ao relento até que no dia 4 de julho de 1912 voltou a trafegar pelos trilhos da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Acontece que quando a locomotiva foi reativada, só foi pintado em sua lateral o nº 12. A denominação "Coronel Church" só voltou a fazer parte de sua pintura quando das comemorações dos 25 anos da administração Brasileira da Estrada de Ferro, justamente no dia 10 de julho de 1956.
A Máquina 12 "Coronel Church" existe em nossa região ha exatos 142 anos. 

OBS: 142 anos (de 1877 a 2019) 

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