sábado, 6 de abril de 2019

A história da comunidade antilhana em Porto Velho - Os Barbadianos



Fotos Roni Catvalho


OLHO


Na dissertação a gente também fala sobre a questão do abrasileiramento. Algumas famílias como os Squaios, a família, salvo engano, Box, ao longo do tempo abrasileiraram os nomes. Squires virou Siqueira (Geraldo Siqueira que na memória ficou conhecido como seu Alumínio porque era muito negro e brilhava que nem alumínio)’




Estou no segundo ano de doutorado em educação pela UNESP - Universidade Paulista e baseei meu doutorado nas MULHERES BARBADIANAS. A única coisa que encontramos sobre a participação das mulheres na formação de Porto Velho, é uma foto do Danna Merril com várias mulheres trabalhando na lavanderia’


A história da comunidade antilhana em Porto Velho - Os Barbadianos

No dia 26 de março passado, a comunidade descendente de antilhanos, mais conhecida como “Os Barbadianos”, que vieram para Porto Velho trabalhar na construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, se reuniu e prestou homenagem a embaixadora de Barbados no Brasil senhora Tonika Sealy – Thompson que atendeu convite da doutoranda Cledenice Blackman também conhecida como Cleide.
A festa foi regada a muita música caribenha e algumas iguarias da culinária antilhana. Um dos momentos de grande relevância no encontro, foi quando as famílias presentes, passaram a relatar a história de seus antepassados. O cantor Ernesto Melo – Poeta da Cidade participou, acompanhado pelo seu irmão Ênio Melo (violão) e Sílvio Santos (percussão), contando parte da história de Porto Velho através das letras de suas canções.
No final do evento, conversei com a Cleide sobre a possibilidade, de ela nos relatar, sobre seu trabalho de mestrado e doutorado, com a história dos Barbadianos em Porto Velho.
Cleide nos recebeu acompanha da senhora sua mãe dona Lió em sua residência, no bairro Aponiã  e nos concedeu a seguinte:


ENTREVISTA


Zk – Vamos a sua identificação?
Cledenice Blackman – Sou conhecida como Cleide mais meu nome é Cledenice Blackman, sou descendente de barbadianos, dos negros e negras que vieram não somente para trabalhar na Estrada de Ferro Madeira Mamoré mais também, em outras frentes de trabalho como a extração da borracha. Nasci em Porto Velho na maternidade Darcy Vargas, bisneta de Preston Blackman e Constância e neta do Helton Blackman conhecido como Caetano que além de ser ferroviário era boêmio, tocava banjo.
Zk – Há algum tempo você vem estudando a história dos barbadianos em Porto Velho. Fala sobre essa pesquisa?
Cledenice Blackman – A gente começou esse trabalho desde 2004. Sou egressa da Universidade Federal de Rondônia - UNIR fiz história de 2003 a 2006 e la, comecei um trabalho de pesquisa sobre a questão dos barbadianos em Porto Velho e escrevi o texto: “OS BARBADIANOS E AS CONTRADIÇÕES DA HISTÓRIA REGIONAL” e elenquei vários trabalhos de memorialistas e historiadores. Do que eles diziam sobre barbadianos, assim também, como fontes documentais (jornais), que encontrei no Centro de Documentação do Estado; entrevistas dos próprios barbadianos que nasceram na primeira geração em Porto Velho e juntei todo esse material e comecei a analisá-los e vi os contrapontos entre eles, percebi que na verdade a nossa história era construída por pessoas, como diz José de Souza Martins que é um autor que fala sobre essa questão; que é construída pelo outro, pessoas que não vivenciam que não fazem parte da comunidade. Entendo que sou a primeira descendente da quarta geração, que vem escrevendo sobre os barbadianos, usando o termo afro antilhanos.
Zk – Outras fontes?
Cledenice Blackman – Na dissertação intitulada “Do Mar do Caribe a Beira do Madeira – As Contradições da Historiografia Regional” a gente fez um trabalho de reconhecimento, através de fontes documentais como Passa Porte, Ficha Funcionais, Entrevistas dos próprios pioneiros como Norman Jhonson e Raimundo Winter dentre outros, que conseguimos juntar no Centro de Documentação. Confrontamos novamente o discurso da história e o discurso do grupo e percebemos que os barbadianos, alguns, não se consideravam com a nacionalidade barbadiana: Eles diziam, “não, eu não sou barbadiano eu vim de Granada em 1929”, bomo Norman Jhonson. Foram essas pequenas nuances que a gente começou a juntar e fazer uma análise de contraponto e percebemos, que o grupo era formado por pessoas oriundas de várias ilhas. Na realidade, consegui descobrir a nacionalidade de 29 antilhanos e negra antilhanas que vieram de Barbados, Granada, Trinidad Tobago, Guiana Inglesa, Jamaica, São Vicente e outras ilhas e aqui viveram no Barbadian Town onde a historiografia trata de uma forma preconceituosa denominando-o como “Alto do Bode”
Zk – Existe algum documento sobre esse preconceito?
Cledenice Blackman – Temos alguns trabalhos publicados na Internet trazendo basicamente quatro explicação através do confronto dessa gana documental, que venho juntando desde 2003. Na historiografia, Hugo Ferreira diz que ficou Alto do Bode, porque os negros que ali moravam, tinham um cheiro forte. Alguns diziam que era por causa da criação de Bode. Existe a versão, de que o nome foi dado a partir do entendimento dos brasileiros, que diziam que os negros não falavam, bodejavam. Por conta disso, ficou na memória dos porto-velhenses esse nome pejorativo, eu como descendente, fui e apresentei quatro versões, mais, o que gostaríamos que ficasse quando os historiadores fossem falar sobre o primeiro bairro de Porto Velho. Que se referissem ao Babrbadian Town e não mais Alto do Bode.
Zk – Na dissertação você também se refere ao abrasileiramento dos nomes das famílias. Quer explicar?
Cledenice Blackman – Na dissertação a gente também fala sobre a questão do abrasileiramento. Algumas famílias como os Squaios, a família, salvo engano, Box, ao longo do tempo abrasileiraram os nomes. Squires virou Siqueira (Geraldo Siqueira que na memória ficou conhecido como seu Alumínio porque era muito negro e brilhava que nem alumínio), que é meu tio-avô, a esposa dele era minha tia-avó. Ele foi dono de um clube social conhecido como Imperial.
Zk – Sabemos que os negros e negras barbadianos/as que vieram para a Amazônia em especial para Porto Velho, eram pessoas técnicas em conhecimentos, quer dizer, não vieram como trabalhador braçal, mas, como técnicos. Vamos falar sobre isso?
Cledenice Blackman – Como Barbados era ponto estratégico, de onde saiam vários negros para trabalhar em outros países. Barbados era uma verdadeira Babel, acontece que os vapores que vinham da Inglaterra paravam la para fazer recarga de carvão e de pessoas, que não partiam tão somente para o Brasil, mas, para a América, em busca de emprego. No caso de Porto Velho a maioria dos que para cá vieram, eram contratados como técnicos especializados, para ajudar na construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, porém, alguns vieram para trabalhar na extração da borracha. Nosso trabalho de pesquisa, consegue desmistificar essas questões também, é claro que a maioria ficou na EFMM.
Zk – Sobre as mulheres barbadianas?
Cledenice Blackman - Estou no segundo ano de doutorado em educação pela UNESP - Universidade Paulista e baseei meu doutorado nas MULHERES BARBADIANAS. A única coisa que encontramos sobre a participação das mulheres na formação de Porto Velho, é uma foto do Danna Merril com várias mulheres trabalhando na lavanderia. Com isso a historiografia deixa de registrar a contribuição que as mulheres barbadianas negras prestaram a educação, na historiografia elas são tradas como domésticas, lavadeiras e até prostitutas termo que encontramos na biografia de Farquar: “As mulheres barbadianas vieram para Porto Velho para ser prostitutas ou lavadeiras”. E no sentido de desmistificar toda essa historiografia negativa, estou desenvolvendo meu trabalho de doutorado em cima da história de cinco (5) mulheres, que contribuíram na educação porto-velhense.
Zk – Quais são essas mulheres?
Cledenice Blackman – Aurélia Banfield, Judite Holder, Lídia e Berenice Jonshon e a professora Rosilda Shockness.

Zk – Essas mulheres professoras, todas trabalhavam contratadas pelo governo? Antes dessas você destacaria outros educadores barbadianos sem vínculo com o governo?
Cledenice Blackman – Até então e é o que se conhece, a primeira instituição (colégio) existente em Porto Velho, foi o Barão do Solimões porém, para mim, a primeira escola de educação, foi no Barbadian Town só que não tinha a chancela do estado, eles organizaram uma escola onde tinham dois professores que era o Fred Banfield pai da Aurélia Banfield e a professora Priscila que ensinava línguas.
Zk – Podemos dizer que a música chega a Porto Velho com os barbadianos?
Cledenice Blackman – O que podemos afirmar, é que aonde tem grupo caribenho não pode faltar música. No Centro de Documentação encontrei uma entrevista com meu avô e ele cita que havia orquestra no Barbadian Town com piano, pratos, bumbos e outros instrumentos. .
Zk – E seus pais?
Cledenice Blackman – Na verdade a minha família materna é que traz o nome Blackman. Meu pai não me registrou, só o conheci depois de adulta. Minha mãe Leonilce de Nazaré Blackman conhecida como Lió é filha de Elton Blackaman

Zk – Como ter acesso ao seu trabalho?
Cledenice Blackman – Tenho vários trabalhos publicados na Internet. Quanto ao material impresso (livro), já estamos providenciando e provavelmente dentro de nove meses publicaremos. Digita Cledenice Blackman ou Cleide Blackman que você encontra. Temos artigos em livros organizados pela Unicamp e outras editoras.

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