Com arrebatamento e linguagem telúrica, a poetisa portuguesa
Florbela Espanca construiu uma obra com forte teor confessional: densa, amarga
e triste. A expressão poética – via contos, poemas, cartas e sonetos – é
marcada por sentimentos como amor, saudade, sofrimento, solidão e morte, mas
sempre em busca da felicidade. Com o intuito de disseminar a história e obra de
uma escritora excepcional, a Primavera Editorial decidiu lançar a coleção Bela Flor, uma homenagem à
poetisa. A partir de março, a editora lançara bimestralmente um e-book com a obra da
autora, iniciando com Poemas
Selecionados.
Florbela Espanca é uma poetisa que já tem poema no próprio nome.
Embora ofuscada muitas vezes pela figura de poetas como Fernando Pessoa, foi um
dos grandes nomes da poesia portuguesa. Segundo Larissa Caldin, publisher da
Primavera Editorial e autora do prefácio, um dos primeiros poemas de Florbela
foi escrito aos sete anos, e ela o intitulou de A vida e a morte. “Florbela
sempre teve uma necessidade de colocar para fora os seus sentimentos, o que
torna a obra dela tão pessoal e biográfica. Com essa história de vida, ela
nunca precisou levantar bandeiras, porque a própria existência em si já era a
personificação da emancipação feminina na época. É impossível passar incólume à
obra dela, que cozinha amor, erotismo e devoção – devoção esta muitas vezes
submetidas ao amor por um homem, sim, mas sempre consciente em ser uma escolha,
não uma imposição”, diz Larissa.
SOBRE FLORBELA ESPANCA - Nascida em 8 de dezembro de 1894, na região do Alentejo,
Florbela Espanca – cujo nome de batismo era Flor Bela Lobo – é fruto de uma
relação extraconjugal entre João Espanca e Antônia da Conceição Lobo, que a
registrou como “filha de um pai incógnito”. Com a morte prematura da mãe,
passou a ser criada pelo pai e a esposa, Mariana do Carmo Toscano. O
reconhecimento como filha legítima só veio após a morte da madrasta. Com 18
anos, Florbela iniciou o ensino secundário, sendo uma das primeiras mulheres a
estudar, o que configurava um escândalo para a sociedade da época. Após se
casar, a poeta decide voltar a estudar e ingressa a Faculdade de Direito de
Lisboa – era uma das 14 mulheres entre 347 estudantes homens. Não foram
apenas os estudos que tornaram Florbela uma mulher à frente do seu tempo. Em
1921, ela se apaixonou por António Guimarães e decide, então, pedir o divórcio
a Alberto, primeiro marido (ela se divorciaria, depois, de Antônio também).
Embora o ato tenha sido completamente condenado pela sociedade, Florbela não se
importou; não queria seguir os mesmos passos da mãe, pois estava mais
interessada em buscar a própria felicidade. Morreu aos 36 anos, de uma overdose
de barbitúricos, deixando uma obra da mais alta qualidade literária.
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