quarta-feira, 18 de março de 2020

DISCURSO DE BOAS VINDAS Proferido pelo Dr. Dimis da Costa Braga, na posse dos novos membros da ARL


Assumíamos oficialmente, os membros fundadores da Academia Rondoniense de Letras Ciências e Artes - ARL, em posse solene neste mesmo teatro e numa noite como esta, de 08 de abril de 2016, nossas funções no Sagrado Silogeu, em que titularizei a cadeira 16, amealhando a honra de ter como patrono o mestre de todos os amazônidas, meu saudoso professor Samuel Benchimol.
Naquela ocasião, num discurso brilhante, nosso primeiro presidente, Júlio Olivar, simbolicamente, observava que a ARL era nossa utopia e que as utopias são, para as pessoas, o que as asas são para os pássaros.
Já o então presidente emérito e sonhador-mor, atual presidente William Haverly Martins asseverou, em alto e bom tom, que ao expulsar, das profundezas das masmorras cerebrais, o sonho de constituição da ARL, estava a contrariar o poeta gaúcho Mário Quintana, quando este dizia: “sonhar é acordar-se para dentro”.
Vejam, minhas senhoras, meus senhores, minhas encantadoras confreiras e meus caros confrades, familiares, amigos: os nossos irmãos presidentes e co-fundadores estavam afinados no discurso, para que a ARL ganhasse forma, navegando pelos sonhos nas asas da utopia, em busca de um porto, onde utopia e sonho enfim se encontrariam na sede própria e definitiva de nossa acalentada Academia.
Beirando os 04 anos daquela posse oficial, eis que seguimos a perscrutar incansavelmente por inenarráveis caminhos, às vezes tortuosos, em busca desse porto, ainda sem o encontrar, mas não descartamos nem o sonho maior do presidente, nem a utopia do ex-presidente, muito menos a simbologia das utópicas asas, mas não as de Ícaro. Nossas asas, ah!... Elas não derretem: o material de que são feitas foi testado nas provetas das Ciências, que comprovou as leis da natureza, da Literatura, que canta a Lira e imita a vida, e da História, que decanta o passado para júbilo do presente. A força e resiliência com que essas asas encontram razão e emoção para sobrepairar no céu da certeza da conquista do tão acalentado sonho, advém do próprio ideário artístico que promana da natureza humana e vai das diversas matizes da estética – música, artes plásticas, fotografia – à que provoca a explosão de sensibilidade e espontaneidade típicas do riso fácil no rosto de uma criança.
Ah, a ARL agora tem o palhaço da cidade, tem a música e vieram mais poetas, mais romancistas, contistas, cronistas, juristas. A ARL agora, entre minhas irmãs e irmãos, tem pianista, compositor, amo de boi, o mestre da convivência, a ARL agora tem mais cientistas, e mulheres, em toda a sua arte, luz e cor de ser mulher: mulheres de todas as luzes e de todas as cores.
A ARL já não é apenas o belo passarinho utópico, buscando encontrar seu formato, voando no sonho que emergiu das masmorras mentais de seu idealizador.
São vinte novos acadêmicos, em várias especialidades da ciência, da arte e da cultura rondoniense. Temos gente competente para todos os gostos! E, como bom amazonense, não posso me furtar à metáfora de que nossa Academia hoje, acrescida dos empossandos, mulateiros de boa cepa, é ave e é planta, que se misturam no emblemático imaginário amazônico: uma gigantesca ave que ao pousar sobre uma sapucaia, impôs-lhe novo formato, absorveu-lhe a substância das castanhas, e aprendeu a conviver, com base no interior dos ouriços.
Temos o ouriço das Ciências Jurídicas, que já era forte, com os desembargadores Isaías Fonseca e Alexandre Miguel, o procurador da república Reginaldo Trindade e o Procurador e escritor Ricardo Leitte (embaixador da ARL em São Paulo), além da participação deste humilde orador, mas que recebeu novas e substanciosas castanhas, gente do naipe da Dra. Zênia Cernov, reconhecida advogada e escritora, do Prof. Dr. Diego de Paiva de Vasconcelos, prestes a defender sua tese de doutoramento na Universidade Federal do Rio de Janeiro e do juiz e ex-secretário Marco Antônio Faria, de tantos serviços prestados ao Estado de Rondônia.
Gigante é o ouriço da Ciência da História, antes comandado por Anísio Gorayeb, Francisco Matias, Júlio Olivar e o próprio presidente, agora recebendo o vigor e a juventude dos conhecimentos de Aleks Palitot, Célio Leandro, Cleide Blackman e Celeste Sousa.
Robusto é o ouriço pesado da literatura, comandado por William Haverly Martins, José Dettoni, Viriato Moura e Ricardo Leitte, que de certa forma se subdividiu em novos ouriços: o dos contistas e o dos cronistas, formado por João Correia, Délcio Pereira e Nestor Mendes, supervisionados por Walter Barianni, Abel Sidney e Heinz Roland Jakobi, que como poucos domina a Ciência da Medicina do Trabalho, na qual é Doutor, tal qual Paraguassu, mestre de tantas gerações.
Temos alguns ouriços novos: o dos folguedos folclóricos, comandados por Silvio Santos, o da música erudita, comandado por Andréa Figueiredo e o dos compositores, comandado por Ernesto Melo.
O rico ouriço da Geografia, das Ciências Sociais e o da Saúde pública, antes comandado por Carlos Paraguassu, Lucileyde Feitosa e Lucineide Monteiro, agora conta com o adjutório de duas vistosas castanhas de sapucaia, Berenice Tourinho e Rosângela Hilário.
O ouriço das artes plásticas e visuais, sob o comando das artistas Maria Miranda, Angella Shilling e Viriato Moura, e que na arte da fotografia já tinha Luiz Brito, recebe o apoio de Rosinaldo Machado, o fotógrafo particular do imortal patrono da sua cadeira, coronel Jorge Teixeira de Oliveira.
O movimento das mulheres negras nunca esteve tão bem representado, há para elas, na ARL, um ouriço especial, a ser comandado por Rosângela Hilário e Cleide Blackman.
Vale registro também do importante ouriço dos jornalistas, antes solitariamente ocupado por Robson Oliveira, agora recebendo adjutórios de peso, profissionais como José Gadelha, Marco Anconi, Silvio Santos e Antônio Serpa do Amaral, que se destaca na produção e divulgação da cultura e da arte popular.
O mais pesado dos ouriços é o da poesia, todo acadêmico, confrade ou confreira, antes de mais nada é poeta, ou já foi, ou pretende ser.
O mais leve, mas não menos importante dos ouriços, é o das artes cênicas, onde Chicão Santos dispõe, com o reforço de Serpa do Amaral, de um grande salão – nesse espaço, só há essas castanhas. Mas Chicão não chega triste, pois antes de ser o grande ator, produtor e diretor de teatro, ele é palhaço, o diamante que burila e cuja imagem explode no olhar e no sorriso iluminado das crianças, agora com a nova missão de ajudar a ARL a brilhar, no palco das intenções governamentais.
Perguntar-me-iam os presentes à assembléia: porque a metáfora da sapucaia em vez da castanheira, rainha do meu Amazonas e da Amazônia. Simples. Porque Rondônia foi muito além da Amazônia! Além de constituir-se em uma região um tanto diferente do restante da planície amazônica, Rondônia traz em seu seio, nestas paragens de belas paisagens do poente, como nenhum outro estado do Brasil, a síntese do povo brasileiro, reunindo gente de toda parte, gente boa, hospitaleira, produtiva, de capacidades mil, guerreira, que nasceu em outras paragens, mas aqui fez nascerem seus filhos, neste chão.
Como a sapucaia, que não é só da Amazônia, mas de todo o Brasil, hoje uma espécie rara e em risco de extinção, os membros dessa Academia que hoje enriquece em número e em espécies, não são apenas sombra e alimento para o corpo e para a alma, mas remédio para a cura da ignorância e da incultura, indústria para reprodução do saber, da ciência e das letras, e fragrância para perfumar a vida, com literatura, arte e cultura em prol de todos os rondonienses.
Que nossos gestores públicos, enfim, descubram a importância da reunião de um grupo seleto como esse, e nos outorguem, não como concessão, mas como conquista de algo valoroso para os seus concidadãos, a tão sonhada sede própria – um escritório onde possamos arquivar nossos documentos fundadores e oficiais, como esse discurso, em prol do patrimônio histórico dessa terra, e um auditório –, que nos permitam atuar e expor a nossa produção científica e artística, como guardiães e divulgadores das letras, da história, da cultura, das ciências e das artes de Rondônia, para levá-las aos ambientes educacionais e culturais onde são tão necessárias.
Bem vindos, nobres confrades e confreiras, de braços abertos nós os recebemos com as mãos cheias de terra adubada e os pés fincados nas raízes da circunferência existencial de nossa sapucaia, com a certeza de que as castanhas, no tempo certo, cairão dos ouriços, evoluirão de broto à majestosa árvore frondosa e frutífera, e dela renascerá e planará sobranceira a ave majestosa da Academia, no ir e vir da troca infinita entre o ser, o fruto e a semente.
E vocês desabrocharão na maior e mais bela flor branco-arroxeada da nossa simbólica e imortal sapucaia, à espera de ter seus velhos ouriços novamente preenchidos por castanhas tão especiais quanto, corporificando –, à espera do pouso e revoar da majestosa ave –, o reencontro entre os velhos e os novos imortais, na eterna cabala da vida.
Muito Obrigado!

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