Assumíamos
oficialmente, os membros fundadores da Academia Rondoniense de Letras Ciências
e Artes - ARL, em posse solene neste mesmo teatro e numa noite como esta, de 08
de abril de 2016, nossas funções no Sagrado Silogeu, em que titularizei a
cadeira 16, amealhando a honra de ter como patrono o mestre de todos os
amazônidas, meu saudoso professor Samuel Benchimol.
Naquela
ocasião, num discurso brilhante, nosso primeiro presidente, Júlio Olivar,
simbolicamente, observava que a ARL era nossa utopia e que as utopias são, para
as pessoas, o que as asas são para os pássaros.
Já o
então presidente emérito e sonhador-mor, atual presidente William Haverly
Martins asseverou, em alto e bom tom, que ao expulsar, das profundezas das
masmorras cerebrais, o sonho de constituição da ARL, estava a contrariar o
poeta gaúcho Mário Quintana, quando este dizia: “sonhar é acordar-se para
dentro”.
Vejam,
minhas senhoras, meus senhores, minhas encantadoras confreiras e meus caros confrades,
familiares, amigos: os nossos irmãos presidentes e co-fundadores estavam
afinados no discurso, para que a ARL ganhasse forma, navegando pelos sonhos nas
asas da utopia, em busca de um porto, onde utopia e sonho enfim se encontrariam
na sede própria e definitiva de nossa acalentada Academia.
Beirando
os 04 anos daquela posse oficial, eis que seguimos a perscrutar incansavelmente
por inenarráveis caminhos, às vezes tortuosos, em busca desse porto, ainda sem
o encontrar, mas não descartamos nem o sonho maior do presidente, nem a utopia
do ex-presidente, muito menos a simbologia das utópicas asas, mas não as de
Ícaro. Nossas asas, ah!... Elas não derretem: o material de que são feitas foi
testado nas provetas das Ciências, que comprovou as leis da natureza, da
Literatura, que canta a Lira e imita a vida, e da História, que decanta o
passado para júbilo do presente. A força e resiliência com que essas asas
encontram razão e emoção para sobrepairar no céu da certeza da conquista do tão
acalentado sonho, advém do próprio ideário artístico que promana da natureza
humana e vai das diversas matizes da estética – música, artes plásticas,
fotografia – à que provoca a explosão de sensibilidade e espontaneidade típicas
do riso fácil no rosto de uma criança.
Ah, a
ARL agora tem o palhaço da cidade, tem a música e vieram mais poetas, mais
romancistas, contistas, cronistas, juristas. A ARL agora, entre minhas irmãs e
irmãos, tem pianista, compositor, amo de boi, o mestre da convivência, a ARL
agora tem mais cientistas, e mulheres, em toda a sua arte, luz e cor de ser
mulher: mulheres de todas as luzes e de todas as cores.
A ARL
já não é apenas o belo passarinho utópico, buscando encontrar seu formato,
voando no sonho que emergiu das masmorras mentais de seu idealizador.
São
vinte novos acadêmicos, em várias especialidades da ciência, da arte e da
cultura rondoniense. Temos gente competente para todos os gostos! E, como bom
amazonense, não posso me furtar à metáfora de que nossa Academia hoje,
acrescida dos empossandos, mulateiros de boa cepa, é ave e é planta, que se
misturam no emblemático imaginário amazônico: uma gigantesca ave que ao pousar
sobre uma sapucaia, impôs-lhe novo formato, absorveu-lhe a substância das
castanhas, e aprendeu a conviver, com base no interior dos ouriços.
Temos
o ouriço das Ciências Jurídicas, que já era forte, com os desembargadores
Isaías Fonseca e Alexandre Miguel, o procurador da república Reginaldo Trindade
e o Procurador e escritor Ricardo Leitte (embaixador da ARL em São Paulo), além
da participação deste humilde orador, mas que recebeu novas e substanciosas
castanhas, gente do naipe da Dra. Zênia Cernov, reconhecida advogada e
escritora, do Prof. Dr. Diego de Paiva de Vasconcelos, prestes a defender sua
tese de doutoramento na Universidade Federal do Rio de Janeiro e do juiz e
ex-secretário Marco Antônio Faria, de tantos serviços prestados ao Estado de
Rondônia.
Gigante
é o ouriço da Ciência da História, antes comandado por Anísio Gorayeb,
Francisco Matias, Júlio Olivar e o próprio presidente, agora recebendo o vigor
e a juventude dos conhecimentos de Aleks Palitot, Célio Leandro, Cleide
Blackman e Celeste Sousa.
Robusto
é o ouriço pesado da literatura, comandado por William Haverly Martins, José
Dettoni, Viriato Moura e Ricardo Leitte, que de certa forma se subdividiu em
novos ouriços: o dos contistas e o dos cronistas, formado por João Correia,
Délcio Pereira e Nestor Mendes, supervisionados por Walter Barianni, Abel
Sidney e Heinz Roland Jakobi, que como poucos domina a Ciência da Medicina do
Trabalho, na qual é Doutor, tal qual Paraguassu, mestre de tantas gerações.
Temos
alguns ouriços novos: o dos folguedos folclóricos, comandados por Silvio
Santos, o da música erudita, comandado por Andréa Figueiredo e o dos
compositores, comandado por Ernesto Melo.
O rico
ouriço da Geografia, das Ciências Sociais e o da Saúde pública, antes comandado
por Carlos Paraguassu, Lucileyde Feitosa e Lucineide Monteiro, agora conta com
o adjutório de duas vistosas castanhas de sapucaia, Berenice Tourinho e Rosângela
Hilário.
O
ouriço das artes plásticas e visuais, sob o comando das artistas Maria Miranda,
Angella Shilling e Viriato Moura, e que na arte da fotografia já tinha Luiz
Brito, recebe o apoio de Rosinaldo Machado, o fotógrafo particular do imortal patrono
da sua cadeira, coronel Jorge Teixeira de Oliveira.
O
movimento das mulheres negras nunca esteve tão bem representado, há para elas,
na ARL, um ouriço especial, a ser comandado por Rosângela Hilário e Cleide
Blackman.
Vale
registro também do importante ouriço dos jornalistas, antes solitariamente
ocupado por Robson Oliveira, agora recebendo adjutórios de peso, profissionais
como José Gadelha, Marco Anconi, Silvio Santos e Antônio Serpa do Amaral, que
se destaca na produção e divulgação da cultura e da arte popular.
O mais
pesado dos ouriços é o da poesia, todo acadêmico, confrade ou confreira, antes
de mais nada é poeta, ou já foi, ou pretende ser.
O mais
leve, mas não menos importante dos ouriços, é o das artes cênicas, onde Chicão
Santos dispõe, com o reforço de Serpa do Amaral, de um grande salão – nesse
espaço, só há essas castanhas. Mas Chicão não chega triste, pois antes de ser o
grande ator, produtor e diretor de teatro, ele é palhaço, o diamante que burila
e cuja imagem explode no olhar e no sorriso iluminado das crianças, agora com a
nova missão de ajudar a ARL a brilhar, no palco das intenções governamentais.
Perguntar-me-iam
os presentes à assembléia: porque a metáfora da sapucaia em vez da castanheira,
rainha do meu Amazonas e da Amazônia. Simples. Porque Rondônia foi muito além
da Amazônia! Além de constituir-se em uma região um tanto diferente do restante
da planície amazônica, Rondônia traz em seu seio, nestas paragens de belas
paisagens do poente, como nenhum outro estado do Brasil, a síntese do povo
brasileiro, reunindo gente de toda parte, gente boa, hospitaleira, produtiva,
de capacidades mil, guerreira, que nasceu em outras paragens, mas aqui fez
nascerem seus filhos, neste chão.
Como a
sapucaia, que não é só da Amazônia, mas de todo o Brasil, hoje uma espécie rara
e em risco de extinção, os membros dessa Academia que hoje enriquece em número
e em espécies, não são apenas sombra e alimento para o corpo e para a alma, mas
remédio para a cura da ignorância e da incultura, indústria para reprodução do
saber, da ciência e das letras, e fragrância para perfumar a vida, com
literatura, arte e cultura em prol de todos os rondonienses.
Que
nossos gestores públicos, enfim, descubram a importância da reunião de um grupo
seleto como esse, e nos outorguem, não como concessão, mas como conquista de
algo valoroso para os seus concidadãos, a tão sonhada sede própria – um
escritório onde possamos arquivar nossos documentos fundadores e oficiais, como
esse discurso, em prol do patrimônio histórico dessa terra, e um auditório –,
que nos permitam atuar e expor a nossa produção científica e artística, como
guardiães e divulgadores das letras, da história, da cultura, das ciências e
das artes de Rondônia, para levá-las aos ambientes educacionais e culturais onde
são tão necessárias.
Bem
vindos, nobres confrades e confreiras, de braços abertos nós os recebemos com
as mãos cheias de terra adubada e os pés fincados nas raízes da circunferência
existencial de nossa sapucaia, com a certeza de que as castanhas, no tempo
certo, cairão dos ouriços, evoluirão de broto à majestosa árvore frondosa e
frutífera, e dela renascerá e planará sobranceira a ave majestosa da Academia,
no ir e vir da troca infinita entre o ser, o fruto e a semente.
E
vocês desabrocharão na maior e mais bela flor branco-arroxeada da nossa
simbólica e imortal sapucaia, à espera de ter seus velhos ouriços novamente
preenchidos por castanhas tão especiais quanto, corporificando –, à espera do
pouso e revoar da majestosa ave –, o reencontro entre os velhos e os novos
imortais, na eterna cabala da vida.
Muito
Obrigado!
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