Por Luciana Oliveira (*)
A previsão apocalíptica do Prefeito
Mauro Nazif e dos seis promotores que ajuizaram a Ação Civil Pública que
impediu os desfiles de blocos carnavalescos por conta da enchente no período
momesco, felizmente não se confirmou. Nem haveria de se confirmar, afinal,
nenhum órgão com autoridade para emitir previsão meteorológica que autorizasse
toque de recolher por ameaça de dilúvio se manifestou. O terrorismo foi
plantado em notas oficiais insinuando aos que pulassem carnaval que não
estariam solidários aos desabrigados. Uma hipocrisia sem precedentes, uma vez
que foi o governo quem fez um carnaval com cestas básicas superfaturadas para
atender os desabrigados. Pra esse carnaval o Ministério Público fez acordo.
Agora, o que as aves de mau agouro
não previram é que haveria resistência na mais autêntica forma de expressão
popular.
Sem poder ocupar o mais sagrado palco
da cultura popular, a rua, não restou outra alternativa senão a de resgatar a
tradição dos antigos carnavais. Muitos blocos de sujo que já haviam se adequado
ao formato mais moderno de folia com trios e venda de abadás, resgataram a
verdadeira essência do carnaval. Nas calçadas, com uma banda pequena e em coro
comunitário com marchinhas tradicionais, promoveram o carnaval democrático,
familiar e seguro. Foi assim no Calixto & Companhia, no Pernambuco e no
encontro do Kagalho com o Pirarucu do Madeira. Quem não apostava mais em baile
tradicional se surpreendeu com o público na II Batalha de Confetes, o Carnaval
na Tenda do Tigre e o Carnaval Máscaras e Amores. A Banda do Vai Quem Quer
desfilou sim! As marchinhas animaram todos os cantos em que ousaram fazer
folia. Está mais viva do que nunca!
Na terça gorda os blocos Kagalho e
Pirarucu, em um ato de desobediência civil, desfilaram no quarteirão do
circuito Caiari arrastando famílias com um irônico barbante como corda de
isolamento. Um desfile histórico que fez os moradores abrirem as janelas de
casa pra espiar e os carros buzinarem como um aplauso.
Espero que desse episódio lamentável,
duro golpe contra a cultura popular, fique a mensagem de que os momentos de
alegria fortalecem e estimulam na hora da crise. Não devem ser evitados com o
discurso do terror, com maus presságios, por motivações religiosas reacionárias
e interesses políticos.
O carnaval é patrimônio do nosso país
e ao estado cabe garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais como
ampara nossa Constituição Federal. Só deve se sacrificar um direito fundamental
quando outro de maior relevância estiver realmente ameaçado, o que não ocorreu.
Finalizo com Albert Camus: “Se o
homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo”.
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