João Zoghbi
Jornalista e Chargista
Águas que sobem, que carregam nuvens e caem
em chuvas nas matas, do desgelo dos Andes, que rolam pelo solo e despencam nos
afluentes e nos rios que deságuam no rio Madeira, que atravessam pelas usinas
formando lagos e banzeiros que destroem a vida ribeirinha. “Triangulo não
morreu”! Era o apelo dos moradores do bairro do Triangulo, primeiro bairro da
cidade de Porto Velho, quando chegava o carnaval, desfilava o bloco na avenida
sob a batuta de Armando Holanda o “Periquito”, mestre e pai da folia do
carnaval da cidade, era só alegria. Agora, diante essa grande cheia que
acontece no rio Madeira onde as águas sobem mais de 18. 84 metros acima do
nível da última maior cheia em 1992, em quanto a Defesa Civil alerta, que
poderá subir muito mais por causa da estação das chuvas que ainda não parou.
Previsão para final de abril começo de maio como se fala por aqui na região.
Há quem diga que esta cheia está sendo a
maior de todos os tempos e jamais vista em toda Amazônia. Nunca se viu tanto
volume de água em nossa cidade, as barrancas estão caindo e sendo diluída pelos
banzeiros. O barranco, já está próximo da linha de ferro e a linha de ferro
está inundada até a vila da Candelária, as águas sobem até Igarapé dos
Bate-estacas, Baixa da União, Mocambo, Areal e Igarapé Grande em torno da
cidade velha. Arigolândia é ameaçada pela enchente desbarrancando toda a
encosta do rio e levando toda a sua memória histórica. Na Estrada de Ferro
Madeira Mamoré as águas sobem e afundam seus galpões onde serviam de oficinas
estação e museus, abandonados, agora alagados e ameaçados pela correnteza do
rio que apaga sua história escrita pelas pegadas deixadas no chão sobre os
trilhos, pelos operários, índios, doutores e engenheiros. Um museólogo e
oficiais do exercito, sensibilizados, salvam o que restou das sobras do acervo,
pelos cupins. Entulhados no prédio do relógio juntamente com outros acervos
importantes, mesmo assim esperam ansiosos, pelo baixar das águas e ver o que sobrou
para novamente retomar o percurso da história, e quem sabe, com essa experiência
dolorida, ver quase tudo ser destruído e pelo qual pensaremos melhor, como
preservarmos e guardamos com mais carinho, com amor e tão somente pelo seu
valor histórico. Em 2012 a E.F.M.M.
completou 100 anos de história de sua inauguração, os seus governantes mal
fizeram uma “festinha” e um selo falso de comemoração sem grandes atributos
significativos para “marcar” aquela grande data.
Só que desta vez, a cidade banhada pelo rio
Madeira, faz também 100 anos em 2014, poderá ter algum festejo significativo?
Teria uma homenagem prometida pelas “Escolas de Samba” de Porto Velho que
infelizmente não foi possível. O carnaval foi cancelado em solidariedade as
vítimas da alagação. Mas com certeza, jamais iremos esquecer dos cem anos da
cidade de Porto Velho festejados por uma cheia que a natureza nos proporcionou,
revolta. Nada é por acaso, um marco cravados cem anos depois da construção
entre a E.F.M.M. e às UHE's de Jirau e Sto. Antônio.
Quem sabe, ela está nos ensinando mais uma
vez, pelo que estamos fazendo ou pelo que não fizemos: reter o seu curso
natural, por exemplo, a retirada de suas cachoeiras, “A revoada de Mutum
Paraná”, o fim das cachoeiras de Teotônio e Santo Antônio com a retirada de
pedras sobre pedras, além de sua beleza o volume de seu leito amansado em
centenas de anos. Não se sabe tecnicamente o que está acontecendo, os
“técnicos” falam que não
tem nada a ver com as UHE's e nem com a força
da água através dos banzeiros. O rio Madeira virou “mar”, assim de repente, é
um rio novo de no mínimo 150 milhões de anos? Ele sempre muda seu percurso, que
cheia que nada!
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