Uma
das marcas da produção literária de Florbela Espanca é o arrebatamento e a
linguagem telúrica, elementos com os quais construiu uma obra com forte teor
confessional: densa, amarga e triste. A expressão poética – via contos, poemas,
cartas e sonetos – é marcada por sentimentos como amor, saudade, sofrimento,
solidão e morte, mas sempre em busca da felicidade. São textos que convidam o
leitor, sobretudo as mulheres, a refletir sobre o amor, a devoção e o erotismo
de uma forma deslocada do tempo. Aliás, a produção literária dessa portuguesa
socialmente inovadora, nascida no século XIX, dialoga perfeitamente com as
defesas feministas contemporâneas.
Segundo
Larissa Caldin, publisher da
Primavera Editorial e autora do prefácio, Florbela sempre teve uma necessidade
de colocar para fora os próprios sentimentos, o que torna a sua obra tão
pessoal e biográfica. “Florbela nunca precisou levantar bandeiras, porque ela
em si já era a personificação da emancipação feminina em sua época. É
impossível passar incólume à sua obra, que cozinha amor, erotismo e devoção –
devoção esta, muitas vezes, submetidas ao amor de um homem, sim, mas sempre
consciente em ser uma escolha, não uma imposição”, analisa Larissa.
SOBRE
FLORBELA ESPANCA | Florbela Espanca é uma poetisa
que já tem poema no próprio nome. Embora ofuscada muitas vezes pela figura de
poetas como Fernando Pessoa, foi um dos grandes nomes da poesia portuguesa.
Nascida em 8 de dezembro de 1894, na região do Alentejo, Florbela Espanca –
cujo nome de batismo era Flor Bela Lobo – é fruto de uma relação extraconjugal
entre João Espanca e Antônia da Conceição Lobo, que a registrou como “filha de
um pai incógnito”. Com a morte prematura da mãe, passou a ser criada pelo
pai e a esposa, Mariana do Carmo Toscano. O reconhecimento como filha legítima
só veio após a morte da madrasta. Com 18 anos, Florbela iniciou o ensino
secundário, sendo uma das primeiras mulheres a estudar, o que configurava um
escândalo para a sociedade da época. Após se casar, a poeta decide voltar a
estudar e ingressa a Faculdade de Direito de Lisboa – era uma das 14
mulheres entre 347 estudantes homens.
Não
foram apenas os estudos que tornaram Florbela uma mulher à frente do seu tempo.
Em 1921, ela se apaixonou por António Guimarães e decide, então, pedir o
divórcio a Alberto, primeiro marido (ela se divorciaria, depois, de Antônio
também). Embora o ato tenha sido completamente condenado pela sociedade,
Florbela não se importou; não queria seguir os mesmos passos da mãe, pois
estava mais interessada em buscar a própria felicidade. Morreu aos 36 anos, de
uma overdose de barbitúricos, deixando uma obra da mais alta qualidade
literária.
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