sábado, 28 de setembro de 2019

Entrevista - Joel Elias dos Santos


De Bubuia pelo Festejo da história do jornalista musicista de Macapá


Quer  mesmo saber sobre a obra musical do jornalista Joel Elias do Diário da Amazônia, acessão youtube e procura a pagina do cantor Amadeu Cavalcante e a música “De Bubuia”, ou então procura “Banda Negro de Nós e a música Festejo”. Aí você vai ver o potencial musical do nosso jornalista que ainda não foi descoberto pelo mundo musical de Porto Velho, mas, que no seu estado Amapá e em especial na sua cidade Macapá recentemente foi homenageado como um dos mais importantes compositores amapaenses.
Por alguns anos trabalhando ao lado do Joel na redação do Diário da Amazônia não havia notado sua aptidão para a composição musical, até que ano passado num determinado dia ele na sua calma começou a festejar, é que havia recebido o comunicado da prefeitura de Macapá que ele estava entre os quarenta músicos selecionados pela prefeitura para fazer parte do livro que registra a obra dos melhores musicistas da capital do Amapá.
Daí pra frente procurei saber mais sobre a veia musical do Joel e fui descobrindo que o cara é fera e que já teve musica fazendo sucesso na Europa e Japão com a “Banda Negro de Nós” mais a música que mais me encanta é a “De Bubuia” gravada pelo Amadeu Cavalcante.
Pesquisa essas músicas e depois me conta se o Joel é ou não é o jornalista mais musical dessa nossa região!

ENTREVISTA

Zk – Por favor, sua identificação?
Joel Elias – Meu nome é Joel Elias dos Santos, nasci em Macapá, à beira do rio Amazonas no mês de julho de 1963. Meu nome foi escolhido pelo meu irmão mais velho que era Botafoguense para homenagear um jogador do Botafogo Joel, só que a estratégia dele deu errada porque sou Vascaíno.


Zk – Fala sobre a infância e adolescência?
Joel Elias – Minha infância foi jogando bola com os colegas da minha idade na rua, correndo da polícia, e tinha o Cine Paroquial que era ligado à igreja católica do bairro do Trem.

Zk – Qual a origem do bairro do Trem?
Joel Elias – Conta a história, que o nome Trem, é que por lá passava a linha férrea que levava as pedras para a construção da Fortaleza de São José por isso o nome Bairro do Trem.

Zk – Tem um time de futebol com esse nome?
Joel Elias – Tem, é o Trem Desportivo Clube que inclusive perdeu o Copão da Amazônia de 1980, para o Ferroviário aqui de Porto Velho, jogando lá no Estádio Glicério de Souza Marques.

Zk – Como foi que você entrou para o jornalismo?
Joel Elias – Meu irmão trabalhava no rádio e quem produzia o programa dele era eu escrevendo os textos, selecionando as músicas. Devido à dinâmica do programa o pessoal da TV Amapá o contratou como repórter e por meio dele, entrei para o jornalismo trabalhando no jornal (impresso) Nova Fronteira como repórter policial depois veio o Diário do Amapá e eu fiz parte da equipe da sua criação. Como a equipe era pequena eu fazia quase de tudo polícia, cidade, esporte e até coluna social. Quando o jornal se estruturou, fui pra editoria de cidade, passei pra editoria de política e cheguei à editoria geral do jornal onde fiquei por aproximadamente oito anos. Saí do jornal para assumir uma assessoria institucional, no caso, no governo do Amapá. Do governo fui pra Câmara Municipal de Macapá, Assembleia Legislativa e então vim para Porto Velho.

Zk – Por que Porto Velho?
Joel Elias – Na realidade meu destino foi Candeias do Jamari. Era apenas para passar as Festas de Natal e fim de Ano, isso foi em 2009. Acontece que os pais da minha ex-esposa moravam aqui, a mãe dela é daqui.


Zk – Vamos dar um tempo na chegada a Porto Velho e voltar a Macapá. Como era ou é a vida noturna por lá. Você era boêmio?
Joel Elias – Desde criança convivi com os boêmios de Macapá, minha casa era frequentada pelo pessoal da música, poesia, artes plásticas etc. Final de semana lá em casa era movimentado, graças ao meu irmão que hoje mora em Brasília o José Edson que é poeta e o outro Júlio Edmilson que me ensinou os primeiros acordes no violão que era músico. Por ser muito movimentada aos finais de semana a casa era muito visada também.

Zk – Visada por quem?
Joel Elias – Praticamente todo final de semana a polícia estava lá na frente. Como era tempo do Regime Militar, eles diziam que lá em casa acontecia reunião de comunistas Inclusive, certa vez, eles invadiram a casa e destruíram nossa biblioteca, queimaram os livros, fizeram o maior escarcéu. Na época, a Polícia que era Territorial tava querendo mudar para Policia Militar e para justificar a mudança, o governo criou uma espécie de terrorismo inventou um tal de “Engasga-engasga” que segundo eles, era um homem que passava nas ruas “engasgando” as mulheres. Até hoje não teve inquérito nenhum, não apareceu um engasgador e em consequência, nenhuma vítima.

Zk – Você primeiro foi músico ou poeta (letrista)?
Joel Elias – Acho que não sou nenhum dos dois. Na realidade, sou mais pro lado da música. Gosto de musicar letras dos outros. Com o passar do tempo fui me enturmando com o pessoal e comecei a participar de Festivais, ganhei alguns. Sempre trabalhava com o parceiro ao meu lado, ele fazendo a letra e eu a melodia ao mesmo tempo, depois ganhei experiência e passei a musicar as letras. Musicar uma letra já existente é mais difícil, porque você tem que respeitar a estrutura do poema. Participamos da criação do Movimento Costa Norte que tinha como objetivo fortalecer a música amapaense ou macapaense. Agente ia pros bares fortalecer a nossa música, foi uma batalha muito difícil. Hoje em dia o artista amapaense quando faz show é casa cheia, graças ao trabalho que fizemos lá atrás.

Zk – Tirando o Marabaixo, existe a música cujo ritmo pode ser considerado do Amapá?
Joel Elias – Nesse Movimento Costa Norte o que, que nós fizemos: usamos essa questão do Marabaixo pra criar nossa identidade dentro da música regional. E de que forma fizemos isso, usando a percussão que antes não se tinha; o pessoal usava bateria e a partir do Movimento Costa Norte passou-se a usar Caixa de Marabaixo. Até hoje a maioria das músicas de Macapá tem a marcação da Caixa de Marabaixo.

Zk – Recentemente você foi homenageado pela sua produção musical em Macapá. Fala sobre essa homenagem?
Joel Elias – É muito gratificante quando você tem o reconhecimento e a prefeitura de Macapá esta resgatando e valorizando os artistas locais. Começou com Nonato Leal um dos nossos principais músicos, violonista que tem como fã nada-mais nada menos, que o Sebastião Tapajós.

Zk – No seu caso?
Joel Elias - Em seguida a prefeitura lançou um livro com a história de 40 autores amapaenses e eu tive a felicidade de estar inserido entre esses 40. Uma música que fiz com o Rambolde Campo em 1986 e foi a primeira Marabaixo estilizado, o nome é FESTEJO que conta como era o Marabaixo dançado na casa da Tia Venina onde acontecia o Marabaixo no bairro do Laguinho. Tem a pegada da Murta que é a plantinha que você ornamenta o mastro. A prefeitura reconheceu esse trabalho como algo relevante pra cultura de Macapá. O livro foi lançado no dia 23 de agosto passado.

Zk – Tem até gravação na Alemanha?
Joel Elias – Pois é. Essa música Festejo foi gravada por vários artistas lá de Macapá entre eles a “Banda Negro de Nós” que teve o primeiro trabalho fonográfico editado pela gravadora alemã Ganzer & Hanke. Esse contrato fez com que o CD denominado “Festejo” (remake do 1º CD da banda) fosse distribuído por todo continente europeu, no Japão e nos Estados Unidos.

Zk – Como é o teu relacionamento com o Zé Miguel?
Joel Elias – Antes de ele ser cantor/compositor a gente já se conhecia, depois passamos a nos cruzar nos festivais. Ele tocava numa banda que ensaiava perto de casa “Os Setentrionais” nossa amizade vem de 30 anos. Agora passamos a trabalhar juntos, eu daqui de Porto Velho faço a melodia coloco na partitura e mando pra ele e ele coloca letra, já temos duas músicas nessa parceria.

Zk – Como você é conhecido no meio cultural de Macapá?
Joel Elias – Lá eles me chamam de “De Bubuia” em referencia a uma música minha para um poema do poeta amazonense já falecido Anízio Melo. Com essa música ganhamos tudo quanto foi festival, aí a galera passou a me chamar como gozação “De Bubuia”. O Anízio trabalhou a letra com intensão de desmistificar a lenda do Boto. Essa história do Boto namorador na letra ele diz: “Boto molhado não conquista ninguém”

Zk – Fala mais sobre essa música “De Bubuia”?
Joel Elias - Tenho um carinho muito especial por essa música. “De Bubuia” foi gravada pelo Amadeu Cavalcante no Rio de Janeiro com produção de Nilson Chaves. Ela tem no arranjo, um solo de Violoncelo na introdução (O arranjo eu fiz de boca, pois na época eu ainda não escrevia partitura), tocado pelo Jaques Morelenbaum que era músico da banda do Tom Jobim e era o maestro do Caetano Veloso, também participa da gravação o Fernando Merlino (tecladista) e o Leandro Braga ambos da banda da Gal Costa (violão).

Zk – Voltando história da sua vinda para Porto Velho ou Candeias?
Joel Elias – Como disse, vim pra passar o final de ano, aí minha ex esposa como a família dela é daqui, achou de querer ficar, então fizemos um pacto: É o seguinte, se conseguir emprego a gente fica! Depois da virada do ano em 2009, no primeiro dia que sai atrás de emprego deixei currículo no Estadão, no Diário da Amazônia e fui à prefeitura. Na prefeitura a coordenadora era a jornalista Nara Vargas que ao ver meu currículo disse: Tem vaga pra ti, quer? Ora, é claro que fiquei, trabalhei na comunicação municipal do governo de Roberto Sobrinho até o inicio do prefeito atual.

Zk – Para encerrar?
Joel Elias – Faz algum tempo que faço parte do quadro de jornalistas do Diário da Amazônia. Sou muito grato a Porto Velho por ter me recebido muito bem. Obrigado!

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