De Bubuia pelo Festejo
da história do jornalista musicista de Macapá
Quer mesmo saber sobre
a obra musical do jornalista Joel Elias do Diário da Amazônia, acessão youtube
e procura a pagina do cantor Amadeu Cavalcante e a música “De Bubuia”, ou então
procura “Banda
Negro de Nós e a música Festejo”. Aí você vai ver o potencial musical do nosso
jornalista que ainda não foi descoberto pelo mundo musical de Porto Velho, mas,
que no seu estado Amapá e em especial na sua cidade Macapá recentemente foi
homenageado como um dos mais importantes compositores amapaenses.
Por
alguns anos trabalhando ao lado do Joel na redação do Diário da Amazônia não
havia notado sua aptidão para a composição musical, até que ano passado num
determinado dia ele na sua calma começou a festejar, é que havia recebido o
comunicado da prefeitura de Macapá que ele estava entre os quarenta músicos
selecionados pela prefeitura para fazer parte do livro que registra a obra dos
melhores musicistas da capital do Amapá.
Daí
pra frente procurei saber mais sobre a veia musical do Joel e fui descobrindo
que o cara é fera e que já teve musica fazendo sucesso na Europa e Japão com a
“Banda Negro de Nós” mais a música que mais me encanta é a “De Bubuia” gravada
pelo Amadeu Cavalcante.
Pesquisa
essas músicas e depois me conta se o Joel é ou não é o jornalista mais musical
dessa nossa região!
ENTREVISTA
Zk – Por favor, sua identificação?
Joel Elias – Meu nome é Joel Elias dos Santos, nasci em
Macapá, à beira do rio Amazonas no mês de julho de 1963. Meu nome foi escolhido
pelo meu irmão mais velho que era Botafoguense para homenagear um jogador do
Botafogo Joel, só que a estratégia dele deu errada porque sou Vascaíno.
Zk – Fala sobre a infância e adolescência?
Joel Elias – Minha infância foi jogando bola com os colegas
da minha idade na rua, correndo da polícia, e tinha o Cine Paroquial que era
ligado à igreja católica do bairro do Trem.
Zk – Qual a origem do bairro do Trem?
Joel Elias – Conta a história, que o nome Trem, é que por lá
passava a linha férrea que levava as pedras para a construção da Fortaleza de
São José por isso o nome Bairro do Trem.
Zk – Tem um time de futebol com esse nome?
Joel Elias – Tem, é o Trem Desportivo Clube que inclusive perdeu
o Copão da Amazônia de 1980, para o Ferroviário aqui de Porto Velho, jogando lá
no Estádio Glicério de Souza Marques.
Zk – Como foi que você entrou para o jornalismo?
Joel Elias – Meu irmão trabalhava no rádio e quem produzia o
programa dele era eu escrevendo os textos, selecionando as músicas. Devido à
dinâmica do programa o pessoal da TV Amapá o contratou como repórter e por meio
dele, entrei para o jornalismo trabalhando no jornal (impresso) Nova Fronteira
como repórter policial depois veio o Diário do Amapá e eu fiz parte da equipe
da sua criação. Como a equipe era pequena eu fazia quase de tudo polícia,
cidade, esporte e até coluna social. Quando o jornal se estruturou, fui pra
editoria de cidade, passei pra editoria de política e cheguei à editoria geral
do jornal onde fiquei por aproximadamente oito anos. Saí do jornal para assumir
uma assessoria institucional, no caso, no governo do Amapá. Do governo fui pra
Câmara Municipal de Macapá, Assembleia Legislativa e então vim para Porto
Velho.
Zk – Por que Porto Velho?
Joel Elias – Na realidade meu destino foi Candeias do Jamari.
Era apenas para passar as Festas de Natal e fim de Ano, isso foi em 2009.
Acontece que os pais da minha ex-esposa moravam aqui, a mãe dela é daqui.
Zk – Vamos dar um tempo na chegada a Porto Velho e voltar a
Macapá. Como era ou é a vida noturna por lá. Você era boêmio?
Joel Elias – Desde criança convivi com os boêmios de
Macapá, minha casa era frequentada pelo pessoal da música, poesia, artes
plásticas etc. Final de semana lá em casa era movimentado, graças ao meu irmão
que hoje mora em Brasília o José Edson que é poeta e o outro Júlio Edmilson que
me ensinou os primeiros acordes no violão que era músico. Por ser muito
movimentada aos finais de semana a casa era muito visada também.
Zk –
Visada por quem?
Joel Elias – Praticamente todo final de semana a polícia estava
lá na frente. Como era tempo do Regime Militar, eles diziam que lá em casa acontecia
reunião de comunistas Inclusive, certa vez, eles invadiram a casa e destruíram
nossa biblioteca, queimaram os livros, fizeram o maior escarcéu. Na época, a
Polícia que era Territorial tava querendo mudar para Policia Militar e para
justificar a mudança, o governo criou uma espécie de terrorismo inventou um tal
de “Engasga-engasga” que segundo eles, era um homem que passava nas ruas
“engasgando” as mulheres. Até hoje não teve inquérito nenhum, não apareceu um
engasgador e em consequência, nenhuma vítima.
Zk – Você primeiro foi músico ou poeta (letrista)?
Joel Elias – Acho que não sou nenhum dos dois. Na realidade,
sou mais pro lado da música. Gosto de musicar letras dos outros. Com o passar
do tempo fui me enturmando com o pessoal e comecei a participar de Festivais,
ganhei alguns. Sempre trabalhava com o parceiro ao meu lado, ele fazendo a
letra e eu a melodia ao mesmo tempo, depois ganhei experiência e passei a
musicar as letras. Musicar uma letra já existente é mais difícil, porque você
tem que respeitar a estrutura do poema. Participamos da criação do Movimento
Costa Norte que tinha como objetivo fortalecer a música amapaense ou
macapaense. Agente ia pros bares fortalecer a nossa música, foi uma batalha
muito difícil. Hoje em dia o artista amapaense quando faz show é casa cheia,
graças ao trabalho que fizemos lá atrás.
Zk – Tirando o Marabaixo, existe a música cujo ritmo pode ser
considerado do Amapá?
Joel Elias – Nesse Movimento Costa Norte o que, que nós
fizemos: usamos essa questão do Marabaixo pra criar nossa identidade dentro da
música regional. E de que forma fizemos isso, usando a percussão que antes não
se tinha; o pessoal usava bateria e a partir do Movimento Costa Norte passou-se
a usar Caixa de Marabaixo. Até hoje a maioria das músicas de Macapá tem a marcação
da Caixa de Marabaixo.
Zk – Recentemente você foi homenageado pela sua produção
musical em Macapá. Fala sobre essa homenagem?
Joel Elias – É muito gratificante quando você tem o
reconhecimento e a prefeitura de Macapá esta resgatando e valorizando os
artistas locais. Começou com Nonato Leal um dos nossos principais músicos,
violonista que tem como fã nada-mais nada menos, que o Sebastião Tapajós.
Zk – No seu caso?
Joel Elias - Em seguida a prefeitura lançou um livro com a
história de 40 autores amapaenses e eu tive a felicidade de estar inserido
entre esses 40. Uma música que fiz com o Rambolde Campo em 1986 e foi a
primeira Marabaixo estilizado, o nome é FESTEJO que conta como era o Marabaixo
dançado na casa da Tia Venina onde acontecia o Marabaixo no bairro do Laguinho.
Tem a pegada da Murta que é a plantinha que você ornamenta o mastro. A
prefeitura reconheceu esse trabalho como algo relevante pra cultura de Macapá.
O livro foi lançado no dia 23 de agosto passado.
Zk – Tem até gravação na Alemanha?
Joel Elias – Pois é. Essa música Festejo foi
gravada por vários artistas lá de Macapá entre eles a “Banda Negro de Nós” que
teve o primeiro trabalho
fonográfico editado pela gravadora alemã Ganzer & Hanke. Esse contrato fez
com que o CD denominado “Festejo” (remake do 1º CD da banda) fosse distribuído
por todo continente europeu, no Japão e nos Estados Unidos.
Zk – Como é o teu relacionamento com o Zé Miguel?
Joel Elias – Antes de ele ser cantor/compositor a gente já se
conhecia, depois passamos a nos cruzar nos festivais. Ele tocava numa banda que
ensaiava perto de casa “Os Setentrionais” nossa amizade vem de 30 anos. Agora
passamos a trabalhar juntos, eu daqui de Porto Velho faço a melodia coloco na
partitura e mando pra ele e ele coloca letra, já temos duas músicas nessa
parceria.
Zk – Como você é conhecido no meio cultural de Macapá?
Joel Elias – Lá eles me chamam de “De Bubuia” em referencia a
uma música minha para um poema do poeta amazonense já falecido Anízio Melo. Com
essa música ganhamos tudo quanto foi festival, aí a galera passou a me chamar
como gozação “De Bubuia”. O Anízio trabalhou a letra com intensão de
desmistificar a lenda do Boto. Essa história do Boto namorador na letra ele diz:
“Boto
molhado não conquista ninguém”
Zk –
Fala mais sobre essa música “De Bubuia”?
Joel
Elias - Tenho um carinho muito especial por essa música. “De Bubuia” foi
gravada pelo Amadeu Cavalcante no Rio de Janeiro com produção de Nilson Chaves.
Ela tem no arranjo, um solo de Violoncelo na introdução (O arranjo eu fiz de
boca, pois na época eu ainda não escrevia partitura), tocado pelo Jaques Morelenbaum que era músico da banda do Tom
Jobim e era o maestro do Caetano Veloso, também participa da gravação o
Fernando Merlino (tecladista) e o Leandro Braga ambos da banda da Gal Costa
(violão).
Zk – Voltando história da sua vinda para Porto Velho ou
Candeias?
Joel Elias – Como disse, vim pra passar o final de ano, aí
minha ex esposa como a família dela é daqui, achou de querer ficar, então
fizemos um pacto: É o seguinte, se conseguir emprego a gente fica! Depois da
virada do ano em 2009, no primeiro dia que sai atrás de emprego deixei
currículo no Estadão, no Diário da Amazônia e fui à prefeitura. Na prefeitura a
coordenadora era a jornalista Nara Vargas que ao ver meu currículo disse: Tem
vaga pra ti, quer? Ora, é claro que fiquei, trabalhei na comunicação municipal
do governo de Roberto Sobrinho até o inicio do prefeito atual.
Zk – Para encerrar?
Joel Elias – Faz algum tempo que faço parte do quadro de
jornalistas do Diário da Amazônia. Sou muito grato a Porto Velho por ter me
recebido muito bem. Obrigado!
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