Matos
– O contabilista craque de futebol nos times do sul
Sempre estou conversando com
o Matos, até porque somos vascaínos de verdade e toda vez que sentamos, ele
começa a contar sobre sua vida como jogador de futebol. No feriado do dia 1º, a
conversa se prolongou mais e então, resolvi marcar a entrevista. Apesar de ser
Contador formado. “Naquele tempo não tinha faculdade e me formei técnico. Meu
registro é de Contador, por isso posso assinar balanços etc.”. Matos gosta
mesmo, é de contar suas histórias como craque de futebol em times como Vasco de
Itapecerica da Serra (SP), Pato Branco e 14 de Julho (RS) e até Joinville e
Chapecoense de Santa Catarina. “Não me tornei profissional do futebol porque
meu objetivo era estudar, me formar”. Para encurtar esse preâmbulo, vamos
conhecer a história do “Paulista” de Porto Velho/RO.
ENTREVISTA
Zk – Vamos começar pela sua
origem?
Matos – Nasci em Porto Velho
no dia 19 de fevereiro de 1941. Vivi minha infância morando no bairro Caiari,
primeiro na Vila Operária ou Vila Erse que ficava onde hoje é a Casa da
Cultura, depois fomos morar numa casa na esquina da Duque de Caxias com a
Santos Dumont ao lado da praça Aluizio Ferreira. Meus pais Firmino Vieira da
Silva e Maria Matos. Éramos 13 irmãos, hoje apenas nove estão vivos. Estudei no
Grupo Escolar Duque de Caxias e no Colégio Dom Bosco.
Zk – Sobre o jogador de futebol?
Matos – Aos 13 anos comecei
a jogar futebol no Moto Clube. Na realidade, nossa turma jogava pelada no campo
de aviação (aeroporto Caiari). Um dia, assim que terminou a pelada fui
convidado a treinar no segundo time (aspirante) do Moto Clube. No mesmo domingo
daquela semana estreei no Segundo Quadro e no domingo subseqüente, já fui escalado
para atuar no Primeiro Time e nunca mais saí. Jogava de lateral esquerdo.
Zk – Depois?
Matos – Fui para o Ypiranga
Esporte Clube e depois para Ferroviário já como titular, naquele tempo se
praticava o amadorismo no futebol local. Eu era muito jovem, basta lembrar que
antes de completar 18 anos eu já era titular do Ferroviário, na realidade se
você prestar atenção, comecei minha carreira como jogador de futebol em times
considerados grandes à época Moto, Ypirang e Ferroviário. Cheguei a ser
convocado e jogar pela seleção de Rondônia na realidade ainda Território
Federal do Guaporé duas vezes, em Manaus e em Riberalta Bolívia. Depois fui
servir o exercito e quando dei baixa, fui embora pro sul.
Zk – Foi ser jogador?
Matos – Não fui jogar futebol,
fui pra São Paulo com a iminência de ingressar numa faculdade, na época, aqui
em Porto Velho não existia o chamado Segundo Grau, então quem quisesse se
formar em alguma profissão tinha que ir estudar fora e assim aconteceu comigo. Quando
dei baixa do exército, fui para São Paulo estudar. Em São Paulo fiquei morando
com minha irmã Doralice (falecida) e logo comecei a jogar num time de várzea e
os caras me pagavam 100 Cruzeiros. Acontece que meus familiares que moravam la
em Itapecerica da Serra quando souberam que eu iria pra lá, fizeram a maior propaganda
a respeito do meu futebol. Cheguei numa quarta feira e na quinta já estava
treinando pelo Vasco de Itapecerica, na minha estréia fiz três gols, desde o Ferroviário
daqui de Porto Velho que passei a jogar como centro avante, camisa nove.
Zk – Já foi contratado como
profissional?
Matos – Não, la era que nem
aqui, o contrato era informal, por debaixo dos panos, porém, devido meu sucesso
como goleador do time do Vasco e até porque já tinha algum estudo, eles me
arranjaram emprego no Banco de Trabalho Ítalo Brasileiro. A fama de goleador se
espalhou pela região, aí veio à direção da Portuguesinha da Vila das Belezas e
me contratou pra jogar no time nas tardes de sábado e chegou também à direção
do "Embuense" de Embu das Artes. Aí passei a jogar sábado à tarde,
domingo de manhã e domingo à tarde, faturava 300 Cruzeiros. Acontece que os
campos de futebol da região eram em dimensões pequenas, passei a ser o goleador
dos três times, segunda feira ia pro Banco cansado. Depois fui trabalhar na
COSIPA Companhia Siderúrgica Paulista e ficava difícil participar dos treinos.
Depois arranjei emprego na Indel e voltei a morar em Itapecerica da Serra até
que apareceu um Gaucho o Rafael e perguntou se gostaria de ir jogar futebol no
Sul num time bom. “Quem sabe você pega um profissional?”. Aceitei o convite e
fui embora para Passo Fundo, só que era final de ano e o campeonato estava parado
e não deu certo minha ida pra lá.
Zk – E então?
Matos – Então voltei para
Itapecerica passei mais alguns meses e voltei pro Rio Grande do Sul e fui jogar
no Pato Branco, na época era Palmeiras de Pato Branco que era da segunda
divisão do campeonato Gaucho.
Zk – Formou-se em que?
Matos – Meu sonho era ser
Contador esse foi o motivo da minha ida pra São Paulo só que em virtude do
futebol e emprego, passei três anos sem estudar. Quando fui jogar no sul
consegui me formar. Fiz o curso técnico de Contador no Paraná. Hoje quem faz o
curso técnico, só pode exercer a função de auxiliar de Contador no meu caso
não, como ainda não existia faculdade específica, fui registrado e tenho meu
diploma de Contador, posso assinar balanço e outros documentos referentes à
profissão.
Zk – Quais outros clubes
você jogou no sul?
Matos – Passei algum tempo
jogando no Joinville, tive uma passagem na Chapecoense. Na Chapecoense na
realidade não consegui ser titular, foi pouco tempo e então fui realmente para
Passo Fundo.
Zk – Em qual time?
Matos – Fui contratado pelo
14 de Julho. Fiquei jogando no 14 de Julho até meus 32 anos. Depois montei um
escritório de contabilidade, tava bem de vida e em 1986, resolvi voltar pra
Porto Velho, passei 30 anos sem vir a Porto Velho.
Zk – Você era boêmio?
Matos – Rapaz, depois de 31
anos de idade, já fumava e passei a beber, saía do escritório e ia direto pro
boteco, o certo foi que depois de três anos nessa rotina, fiquei, vamos dizer,
viciado na bebida. Eu gostava de carro antigo e cheguei a ter um Citroen àquele
que o cambio era no volante, tive um Ford 29. Minha intenção era criar um Museu
de carros antigos.
Zk – Você ficou conhecido
como Paulista. Como surgiu esse apelido?
Matos – Isso foi em
Itapecerica da Serra foi o Miguel um gaúcho, que passou a me chamar de
Paulista. Fui convidado por ele pra jogar no time da família em Passo Fundo o
nome do time era Grêmio depois foi que fui pro Pato Branco. Tinha uns médicos, dentistas
e o prefeito de Marau era tudo da família e eles só me chamavam de paulista e
pegou.
Zk – Pelo que estamos vendo
você era considerado craque da bola. Por que não conseguiu joga num time grande
mesmo?
Matos – Acontece que o
futebol não era o meu objetivo, na realidade minha intenção era apenas estudar
me formar, o futebol era apenas o lazer, por isso optei por ficar jogando em
times da segunda divisão, pois me sobrava tempo para estudar. Os dirigentes
pagavam meus estudos, morei em hotel até meus 28 anos. Passei 16 anos jogando
bola, tanto que perdi 16 anos de aposentadoria por não ter me tornado jogador
profissional, vamos dizer, vivia informalmente por conta do futebol. Hoje sofro
por não ter contribuído para a previdência naquele tempo. Em suma, não fui uma
expressão no futebol porque meu foco era outro, até hoje quando chego no
Paraná, Santa Catarina no Rio Grande do Sul nas regiões onde atuei como jogador
de futebol ainda sou reconhecido. “Esse Paulista foi bom de bola” recordam os
torcedores das localidades onde atuei. Outro dia, aqui em Porto Velho subindo a
Sete de Setembro, escutei: Paulista virei e um cidadão fez um bocado de
perguntas sempre me chamando de Paulista, um colega que estava ao meu lado o retrucou
dizendo, que Paulista nada, esse é o Matos! O cidadão fez uma série de
perguntas até saber se eu havia morado no Rio Grande do Sul então e ele
respondeu. “Não estou errado nada tchê, esse é o Paulista goleador do 14 de
Julho”. Essas coisas nos gratificam.
Zk – É verdade que você foi
reserva do Garrincha?
Matos – Isso foi numa
promoção que fizeram no 14 de Julho e levaram o Garrincha como atração e eu fui
escalado como reserva dele. O Reolon que era o técnico me convenceu a ser o
reserva dele. Ele jogou uns 30 minutos então o substitui. Não joguei ao lado
dele, mas, me orgulho de ter sido seu reserva.
Zk – Para começar a encerrar.
Voltou para Porto Velho quando e voltou a jogar aqui?
Matos – Voltei em 1986 e já
estava entregue a bebida, já estava com 45 anos e mesmo assim passei a
freqüentar e jogar pelo Cosmos. A gente se reunia no campo do Km 8 e depois dos
jogos a cerveja corria solta. Comprei um Fusca que a turma dizia que ele andava
sozinho.
Zk – E o torcedor do Vasco
da Gama?
Matos – Em Itapecerica da
Serra o time tinha o nome de Vasco de Itapecerica, depois no Rio Grande do Sul
um jogador aposentado me chamou e me presenteou com a camisa que ele usava no
Vasco de Itapecerica e desde então me apaixonei pelo Vasco da Gama. Na
realidade pra mim, o melhor time brasileiro é o Vasco da Gama do Rio de
Janeiro.
Zk – E a bebida?
Matos – Parei de beber em
2001 graças a Deus. Hoje vivo com a Nazaré já faz tempo e vamos vivendo a vida
fazendo a contabilidade de várias empresas e contabilizando amigos. Obrigado
pela oportunidade de poder falar sobre minha vida.
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