sábado, 6 de janeiro de 2018

Dorival Matos da Silva

Matos – O contabilista craque de futebol nos times do sul

Sempre estou conversando com o Matos, até porque somos vascaínos de verdade e toda vez que sentamos, ele começa a contar sobre sua vida como jogador de futebol. No feriado do dia 1º, a conversa se prolongou mais e então, resolvi marcar a entrevista. Apesar de ser Contador formado. “Naquele tempo não tinha faculdade e me formei técnico. Meu registro é de Contador, por isso posso assinar balanços etc.”. Matos gosta mesmo, é de contar suas histórias como craque de futebol em times como Vasco de Itapecerica da Serra (SP), Pato Branco e 14 de Julho (RS) e até Joinville e Chapecoense de Santa Catarina. “Não me tornei profissional do futebol porque meu objetivo era estudar, me formar”. Para encurtar esse preâmbulo, vamos conhecer a história do “Paulista” de Porto Velho/RO.

ENTREVISTA

Zk – Vamos começar pela sua origem?

Matos – Nasci em Porto Velho no dia 19 de fevereiro de 1941. Vivi minha infância morando no bairro Caiari, primeiro na Vila Operária ou Vila Erse que ficava onde hoje é a Casa da Cultura, depois fomos morar numa casa na esquina da Duque de Caxias com a Santos Dumont ao lado da praça Aluizio Ferreira. Meus pais Firmino Vieira da Silva e Maria Matos. Éramos 13 irmãos, hoje apenas nove estão vivos. Estudei no Grupo Escolar Duque de Caxias e no Colégio Dom Bosco.

Zk – Sobre o jogador de futebol?
Matos – Aos 13 anos comecei a jogar futebol no Moto Clube. Na realidade, nossa turma jogava pelada no campo de aviação (aeroporto Caiari). Um dia, assim que terminou a pelada fui convidado a treinar no segundo time (aspirante) do Moto Clube. No mesmo domingo daquela semana estreei no Segundo Quadro e no domingo subseqüente, já fui escalado para atuar no Primeiro Time e nunca mais saí. Jogava de lateral esquerdo.

Zk – Depois?
Matos – Fui para o Ypiranga Esporte Clube e depois para Ferroviário já como titular, naquele tempo se praticava o amadorismo no futebol local. Eu era muito jovem, basta lembrar que antes de completar 18 anos eu já era titular do Ferroviário, na realidade se você prestar atenção, comecei minha carreira como jogador de futebol em times considerados grandes à época Moto, Ypirang e Ferroviário. Cheguei a ser convocado e jogar pela seleção de Rondônia na realidade ainda Território Federal do Guaporé duas vezes, em Manaus e em Riberalta Bolívia. Depois fui servir o exercito e quando dei baixa, fui embora pro sul.

Zk – Foi ser jogador?
Matos – Não fui jogar futebol, fui pra São Paulo com a iminência de ingressar numa faculdade, na época, aqui em Porto Velho não existia o chamado Segundo Grau, então quem quisesse se formar em alguma profissão tinha que ir estudar fora e assim aconteceu comigo. Quando dei baixa do exército, fui para São Paulo estudar. Em São Paulo fiquei morando com minha irmã Doralice (falecida) e logo comecei a jogar num time de várzea e os caras me pagavam 100 Cruzeiros. Acontece que meus familiares que moravam la em Itapecerica da Serra quando souberam que eu iria pra lá, fizeram a maior propaganda a respeito do meu futebol. Cheguei numa quarta feira e na quinta já estava treinando pelo Vasco de Itapecerica, na minha estréia fiz três gols, desde o Ferroviário daqui de Porto Velho que passei a jogar como centro avante, camisa nove.

Zk – Já foi contratado como profissional?
Matos – Não, la era que nem aqui, o contrato era informal, por debaixo dos panos, porém, devido meu sucesso como goleador do time do Vasco e até porque já tinha algum estudo, eles me arranjaram emprego no Banco de Trabalho Ítalo Brasileiro. A fama de goleador se espalhou pela região, aí veio à direção da Portuguesinha da Vila das Belezas e me contratou pra jogar no time nas tardes de sábado e chegou também à direção do "Embuense" de Embu das Artes. Aí passei a jogar sábado à tarde, domingo de manhã e domingo à tarde, faturava 300 Cruzeiros. Acontece que os campos de futebol da região eram em dimensões pequenas, passei a ser o goleador dos três times, segunda feira ia pro Banco cansado. Depois fui trabalhar na COSIPA Companhia Siderúrgica Paulista e ficava difícil participar dos treinos. Depois arranjei emprego na Indel e voltei a morar em Itapecerica da Serra até que apareceu um Gaucho o Rafael e perguntou se gostaria de ir jogar futebol no Sul num time bom. “Quem sabe você pega um profissional?”. Aceitei o convite e fui embora para Passo Fundo, só que era final de ano e o campeonato estava parado e não deu certo minha ida pra lá.

Zk – E então?
Matos – Então voltei para Itapecerica passei mais alguns meses e voltei pro Rio Grande do Sul e fui jogar no Pato Branco, na época era Palmeiras de Pato Branco que era da segunda divisão do campeonato Gaucho.

Zk – Formou-se em que?
Matos – Meu sonho era ser Contador esse foi o motivo da minha ida pra São Paulo só que em virtude do futebol e emprego, passei três anos sem estudar. Quando fui jogar no sul consegui me formar. Fiz o curso técnico de Contador no Paraná. Hoje quem faz o curso técnico, só pode exercer a função de auxiliar de Contador no meu caso não, como ainda não existia faculdade específica, fui registrado e tenho meu diploma de Contador, posso assinar balanço e outros documentos referentes à profissão.

Zk – Quais outros clubes você jogou no sul?
Matos – Passei algum tempo jogando no Joinville, tive uma passagem na Chapecoense. Na Chapecoense na realidade não consegui ser titular, foi pouco tempo e então fui realmente para Passo Fundo.

Zk – Em qual time?
Matos – Fui contratado pelo 14 de Julho. Fiquei jogando no 14 de Julho até meus 32 anos. Depois montei um escritório de contabilidade, tava bem de vida e em 1986, resolvi voltar pra Porto Velho, passei 30 anos sem vir a Porto Velho.

Zk – Você era boêmio?
Matos – Rapaz, depois de 31 anos de idade, já fumava e passei a beber, saía do escritório e ia direto pro boteco, o certo foi que depois de três anos nessa rotina, fiquei, vamos dizer, viciado na bebida. Eu gostava de carro antigo e cheguei a ter um Citroen àquele que o cambio era no volante, tive um Ford 29. Minha intenção era criar um Museu de carros antigos.

Zk – Você ficou conhecido como Paulista. Como surgiu esse apelido?
Matos – Isso foi em Itapecerica da Serra foi o Miguel um gaúcho, que passou a me chamar de Paulista. Fui convidado por ele pra jogar no time da família em Passo Fundo o nome do time era Grêmio depois foi que fui pro Pato Branco. Tinha uns médicos, dentistas e o prefeito de Marau era tudo da família e eles só me chamavam de paulista e pegou.

Zk – Pelo que estamos vendo você era considerado craque da bola. Por que não conseguiu joga num time grande mesmo?
Matos – Acontece que o futebol não era o meu objetivo, na realidade minha intenção era apenas estudar me formar, o futebol era apenas o lazer, por isso optei por ficar jogando em times da segunda divisão, pois me sobrava tempo para estudar. Os dirigentes pagavam meus estudos, morei em hotel até meus 28 anos. Passei 16 anos jogando bola, tanto que perdi 16 anos de aposentadoria por não ter me tornado jogador profissional, vamos dizer, vivia informalmente por conta do futebol. Hoje sofro por não ter contribuído para a previdência naquele tempo. Em suma, não fui uma expressão no futebol porque meu foco era outro, até hoje quando chego no Paraná, Santa Catarina no Rio Grande do Sul nas regiões onde atuei como jogador de futebol ainda sou reconhecido. “Esse Paulista foi bom de bola” recordam os torcedores das localidades onde atuei. Outro dia, aqui em Porto Velho subindo a Sete de Setembro, escutei: Paulista virei e um cidadão fez um bocado de perguntas sempre me chamando de Paulista, um colega que estava ao meu lado o retrucou dizendo, que Paulista nada, esse é o Matos! O cidadão fez uma série de perguntas até saber se eu havia morado no Rio Grande do Sul então e ele respondeu. “Não estou errado nada tchê, esse é o Paulista goleador do 14 de Julho”. Essas coisas nos gratificam.

Zk – É verdade que você foi reserva do Garrincha?
Matos – Isso foi numa promoção que fizeram no 14 de Julho e levaram o Garrincha como atração e eu fui escalado como reserva dele. O Reolon que era o técnico me convenceu a ser o reserva dele. Ele jogou uns 30 minutos então o substitui. Não joguei ao lado dele, mas, me orgulho de ter sido seu reserva.

Zk – Para começar a encerrar. Voltou para Porto Velho quando e voltou a jogar aqui?
Matos – Voltei em 1986 e já estava entregue a bebida, já estava com 45 anos e mesmo assim passei a freqüentar e jogar pelo Cosmos. A gente se reunia no campo do Km 8 e depois dos jogos a cerveja corria solta. Comprei um Fusca que a turma dizia que ele andava sozinho.

Zk – E o torcedor do Vasco da Gama?
Matos – Em Itapecerica da Serra o time tinha o nome de Vasco de Itapecerica, depois no Rio Grande do Sul um jogador aposentado me chamou e me presenteou com a camisa que ele usava no Vasco de Itapecerica e desde então me apaixonei pelo Vasco da Gama. Na realidade pra mim, o melhor time brasileiro é o Vasco da Gama do Rio de Janeiro.

Zk – E a bebida?
Matos – Parei de beber em 2001 graças a Deus. Hoje vivo com a Nazaré já faz tempo e vamos vivendo a vida fazendo a contabilidade de várias empresas e contabilizando amigos. Obrigado pela oportunidade de poder falar sobre minha vida.

Nenhum comentário: