O professor pedagogo que se transformou
em turismólogo
Por
sugestão do turismólogo Saulo Giordani, batemos um papo muito descontraído com
seu Chaguinha. Acontece que Chaguinha é bom conversador e ótimo contador de
histórias e quando o assunto é turismo, a conversa vira aula.
Muito
antes de começarmos a entrevista, ligamos nosso gravador, pra não perder nenhum
detalhe da conversa. Conversa que começou com Chaguinha alertando: “É
preciso se fazer alguma coisa, para que as pessoas voltem a ter orgulho de ter
sido madeireiro, por quê”? Porque foi uma economia interessante no passado.
Daqui uns dias a pecuária vai ser substituída pela soja. Aí você vai chegar e
perguntar, você foi pecuarista? É rapaz! Esse negócio que dizem que estragou o
meio ambiente, nunca fui isso não, gosto mesmo é de soja! Não precisávamos
estar enterrando nossos ciclos econômicos”.
Daí
pra frente a entrevista fluiu muito bacana. Acompanhe.
ENTREVISTA
Zk –
Então vamos falar sobre os ciclos econômicos em Rondônia?
Chaguinha
– Os ciclos econômicos que considero da maior importância são: Ciclo do
Diamante e o 1º Ciclo da Borracha que trouxeram os nordestinos com dinheiro
para investir na região. Num segundo momento, foi uma ação de guerra aí trouxeram
os nordestinos dizendo que seriam Os Soldados da Borracha e o que fizeram, foi
escravizar esses trabalhadores. Depois tivemos o Ciclo do Ouro que se repete
por várias vezes. Depois vem novamente o da borracha, embora acharmos que tenha
sido marginal, ele gera economia! Depois vivemos uma temporada do Ouro e da
Cassiterita e aí se instala o ciclo da Madeira que foi muito rápido, pois nós
não soubemos pereniza-lo, por sermos imediatistas, derrubamos a floresta e
esquecemos de reflorestar. Não podemos esquecer a Cassiterita que é uma
economia muito importante do Vale do Jamari. Agora estamos vivendo ainda, o Ciclo
da Pecuária que está migrando para o grão soja, arroz etc.
Zk –
Quem é o Chaguinha?
Chaguinha
- Francisco das Chagas Souza, professor, pedagogo e turismólogo. Vim pra
Rondônia em 1983, na época do governo reformador do Coronel Jorge Teixeira.
Costumo dizer que sou dos poucos homens, que veio atrás de outro homem, pois,
vim pela figura do Coronel. Minha família é a esposa, duas filhas, duas irmãs e
os sobrinhos. Todo mundo enfronhado na cultura de Rondônia. Na época trabalhei
uma temporada em Costa Marques como professor, depois mergulhei na área de
turismo por acidente.
Zk –
Que acidente?
Chaguinha
– Passei a atuar como assessor na área do turismo nas prefeituras de Costa
Marques e quando o Acir Gurgacz foi prefeito de Ji Paraná assumi a pasta de
turismo, por causa disso, me especializei em turismo e acabei descobrindo que
essa era a minha vocação. Hoje trabalho numa assessoria na Assembleia
Legislativa de Rondônia no gabinete do deputado Ismael Crispim.
Zk –
Por falar nisso. Qual o potencial turístico de Rondônia?
Chaguinha
– Na época do governo Raupp se criou um programa chamado Proecotur do qual eu
fiz parte, elaboramos um trabalho que resultou em cinco Polos que receberiam
recursos do governo federal. Essa coisa não virou porque um governo vem e outro
vai e via de regra, não dão sequencia ao trabalho iniciado pelo antecessor. As
florestas não viraram produto. Fizemos os zoneamentos, foram criados os Parques
de Conservação etc. Definimos bem as Resex, em seguida foi feito um trabalho de
plano de manejo de fauna e flora dessas unidades e isso foi andando devagar
quer dizer, como produto não vingou ainda. Os governos até hoje não entenderam a
importância disso como negócio. O primeiro governo que entender isso como
negócio, transforma Rondônia numa Costa Rica.
Zk –
Por que Costa Rica?
Chaguinha
– Costa Rica é um país vizinho, dez vezes menor que nós, mais é a Meca do
turismo de floresta e vive disso, a renda percapita é muito alta. Aqui podemos
trabalhar três negócios o Turismo Rural que pra mim é o filé. No turismo é bom
que primeiro se trabalhe com os de casa, que é pra ele poder respeitar o que
tem, para aprender a vender e é bom que você trabalhe com o vizinho. Antes de
você pensar em vender pros Estados Unidos venda aqui pro Mato Grosso, para o
Acre. No ambiente Rural temos uma potencialidade que numa escala de um a dez eu
chamo de DEZ. Somado a isso temos uma diversidade cultural muito rica, o estado
é feito de gente de vários estados e isso tem um valor enorme.
Zk –
Outro Polo?
Chaguinha
– O turismo de eventos. Todo o estado fica de olho nesse filão, só que não são
todas as cidades, são as cidades colocadas centralmente. JI Paraná é a nota dez
a nota onze é a capital então fica Porto Velho primeiro, Ji Paraná segunda, Vilhena
e Cacoal terceira. Outra que ninguém tá dando a menor importância, é Guajará
Mirim, Poderíamos estar desenvolvendo eventos importantes durante todo o ano em
Guajará Mirim porque tem uma característica cultural diferenciada das demais
cidades. A capital já tem capengando, uns três eventos culturais
importantíssimos.
Zk –
Quais são?
Chaguinha
– O Arraial Flor do Maracujá, o Homem de Nazaré e sem percebermos, na capital
acontecem eventos institucionais durante o ano todo que não estamos percebendo
como negócio. O carnaval de Porto Velho precisa ser vendido como produto
turístico, por enquanto ele é apenas lazer e lazer não gera dinheiro,
precisamos formatar os eventos. Os gaúchos de Vilhena não conhecem o carnaval
de Porto Velho. Precisamos fazer o povo do estado viajar dentro do estado.
Zk –
O terceiro?
Chaguinha
– O Turismo Cultural. Nesse, estamos capengando, Não sabemos vender o Soldado
da Borracha, não sabemos vender a história da Estrada de Ferro Madeira Mamoré;
estamos querendo recupera-la pro povo fazer lazer. Isso custou muito dinheiro. Poderíamos
estar vendendo isso aí a peso de ouro. Isso tem que fazer parte de um grande
projeto de turismo cultural. Não sabemos vender um negócio que é do tamanho do
mundo, que é a população do Baixo Madeira. Temos uma história no Baixo Madeira
que é milenar, que é anterior a história da Estrada de Ferro.
Zk –
Não sei se através de decreto ou apenas pesquisa, transformaram Porto Velho na
Capital Nacional da Pesca Esportiva, porém, o que se ver, são os turistas
pescadores desembarcando no Vale do Guaporé. Qual a explicação para isso?
Chaguinha
– No caso, a propaganda está sendo feita no lugar errado. Isso é da matéria do marketing,
você vende o destino aonde você quer. O que tem sido vendido até no boca a boca
intencional, é o Vale do Guaporé. O interessante é que o turista de pescador não
está deixando dinheiro no Vale do Guaporé, ele leva ou trás da sua cidade
estado, até o carvão para assar o peixe na beira do rio. Tudo por falta de
estrutura das cidades do Vale. O turismo tem que ser bom pra comunidade. Ao
praticar a pesca no Vale do Guaporé você não está apenas pagando o peixe, você
está usufruindo do ar, da cor da água, a história do Vale do Guaporé está
inserida naquele Surubim que você pegou. O Vale do Guaporé não tem preço.
Zk –
Por falar em Vale do Guaporé. Qual sua opinião sobre a Festa do Divino Espírito
Santo?
Chaguinha
– Que bom que você lembrou, pois, tinha me esquecido de inserir a Festa do
Divino como um dos maiores negócios da Amazônia. Estamos deixando um evento daquela
magnitude continuar sendo um evento de interesse e lazer do povo da região.
Faça uma viagem pelas figuras do Batelão do Divino que você vai conseguir
rememorar uma história de muitos mil anos, que remonta lá atrás, a vida dos
Reis que ainda pensavam em colonizar as Américas.
Zk –
E a Madeira Mamoré?
Chaguinha
– Num momento pra trás, ela era infraestrutura, foi construída para transportar
borracha da Bolívia para beira do rio Madeira em Porto Velho. Passou o ciclo da
borracha ela ficou ociosa, porque não criamos outro ciclo nessa região da
Estrada aí, o investimento se deteriorou, enferrujou e está largado, infelizmente
virou sucata. Quando um empreendimento vira patrimônio histórico, a finalidade
dele é o turismo não é lazer. Hoje não estamos fazendo nenhuma coisa nem outra.
A iniciativa de colocar a Litorina é louvável, mas, é apenas lazer. O que
precisamos criar é a Rota Mad Maria aí ela entra no negócio. Enquanto não tiver
uma política pública de incentivo ao turismo usando a Estrada de Ferro, não se
justifica recuperar o trem.
Zk –
Encerando?
Chaguinha
– É uma honra estar sendo entrevistado por você, pois, sou leitor assíduo da
sua coluna. Obrigado!
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