Na manhã da última sexta
feira dia 9, durante a Mesa de debate “É de poesia que o mundo precisa”, que
aconteceu dentro da programação da 10ª edição do Festcineamazônia no Teatro
Banzeiros em Porto Velho, conhecemos o poeta, músico, compositor e cantor cabo-verdiano
Carlos Alberto Sousa Mendes, artisticamente conhecido como Princezito. “Porque
os príncipes são muito abastados, têm muito gado, carros, casas e eu não tenho
nada. Então sou príncipe do nada!”. A facilidade e a simplicidade na
comunicação conquistaram o público que lotou o teatro naquela manhã e nos
deixou curioso em saber sobre o povo cabo-verdiano em especial sobre a obra de
Princezito. Fomos informados pela produção que naquela noite Princezito e
Eliakin Rufino estariam ensaiando na escola de música Jorge Andrade e foi no
clima de ensaio que conversamos com o cantor que veio pela primeira vez ao Brasil
e escolheu como porta de entrada Porto Velho - Rondônia, graças ao produtor do
Festcineamazônia Jurandir Costa que ao ver uma apresentação do Princezito na
cidade de Praia capital de Cabo Verde o convidou para vir participar da 10ª
edição do Festival de Cinema e Vídeo Ambiental em Porto Velho.
A
conversa que começou sexta feira na escola de música Jorge Andrade só terminou
na roda de samba do Asfaltão na madrugada de sábado. Com vocês o cabo-verdiano
Princezito.
ENTREVISTA
Zk - Princezito direto de
Cabo Verde para Porto Velho Rondônia, E o nome de batismo como é?
Princezito - Meu nome de
“deputado federal” (sorrindo) é Carlos Alberto Sousa Mendes.
Zk - Por que Princezito?
Princezito - Porque sou
filho de um rei, Deus daí sou um príncipe. Todos nós somos, só que eu assumo. E
porque os príncipes são muito abastados, têm muito gado, carros, casas e eu não
tenho nada. Então sou príncipe do nada!
Zk - Mas, é o príncipe da
canção de Cabo Verde?
Princezito - Aí sim! Tenho
centenas de palavras arrumadas, canções, pensamentos, reflexões, contos, sou um
homem muito rico de palavras. Tenho na gaveta, tenho no computador atualmente,
tenho nos ouvidos e nos corações das pessoas.
Zk - Durante a mesa, É de
Poesia que o Mundo Precisa que aconteceu no Festcineamazônia na manhã de sexta
feira você falou que chuva no seu país é coisa rara. Quanto chove em Cabo Verde?
Princezito - Em Cabo Verde
praticamente não chove. Cabo Verde e a Amazônia estão em extremos completamente
opostos. Cabo Verde na verdade, não é verde, é muito seco. Chove uma vez por
ano durante três meses, quer dizer, deveria chover durante três meses, mas,
raramente chove de forma regular.
Zk - E o que vocês fazem
para cultivar a lavoura?
Princezito - Fazemos
sementeira, cultivamos praticamente o milho naquela altura, às vezes da às
vezes não da, dependendo do tempo, da chuva. Chove muito pouco.
Zk - É verdade que a maioria
dos cabo-verdianos são imigrante?
Princezito - A maior parte
dos cabo-verdianos, quase Hum Milhão está fora do país. Em Cabo Verde só há 500
Mil pessoas.
Zk - Vamos falar sobre o
artista. Como foi que você se descobriu poeta, músico, compositor e cantor?
Princezito - Por acaso foi desde
muito menino, desde criancinha, porque tenho um irmão que é músico muito
conceituado, poeta com prêmios e que atualmente é Ministro de Cultura de Cabo
Verde e é amigo de Gilberto Gil, Paulinho da Viola e tantos outros artistas
brasileiros. Como irmão mais novo, fui influenciado pelos meus irmãos e também
pelas minhas tias que são cantadeiras profissionais, pelos tios que tocam
violão. Logo na escola comecei a escrever poesias, a professora gostou, disse
que eu era um menino muito bom e aquilo me deu muita alegria e de lá pra cá não
parei de escrever.
Zk - Tem livro?
Princezito - Tenho livro por
editar, mas, as minhas obras são muito conhecidas, porque nos meus shows eu
declamo, também tem na Internet. Uma pesquisa que faço sobre uma vertente da
poesia que se chama Finason que é cantada normalmente pelos anciões e que aprendi
muito jovem. É uma espécie de poesia verso cantado, é como se fosse o repente
do nordeste brasileiro, ou a poesia de cordel. Muita coisa que existe no Brasil
hoje em dia, veio de Cabo Verde ou passou por lá.
Zk - Musicalmente falando.
Qual é o ritmo de Cabo Verde?
Princezito - Nossos ritmos
são o Batuku, Cunaná, temos samba também. Aliás, temos estilos, exemplo: tem o
Cunaná sambado (e batuca na mesa um ritmo semelhante ao samba brasileiro). Temos
A Morna que é o ritmo mais conhecido, Cesaria Evora divulgou
pro mundo afora. Temos vários outros ritmos como mazurca, contra-dança ritmos
europeus que entraram lá na época do colonialismo. Temos uma coisa parecida com
o chorinho.
Zk - Como é realmente a
questão da água doce pra vocês?
Princezito - Bom! Temos a
sorte de termos um país com muitos vales. Cabo Verde quase não chove, mas,
quando chove, chove muito, o problema é não temos barragem, na realidade só
temos uma barragem (existem quatro barragens em construção) com isso a água da
chuva corre praticamente toda pro mar porque não temos onde depositá-la. Então
chove e depois de um mês já está tudo seco, porém, temos um lençol freático que
acumula as águas no tempo de chuva e então cava-se poço, mas, há Ilhas que tem
sérias dificuldades, Ilhas mais planas, com mais influencia do deserto.
Zk - Qual a fonte de
economia de Cabo Verde?
Princezito - O turismo é uma
das principais vertentes da nossa economia e curiosamente, uma das maiores
receitas que entra também no país, é a dos imigrantes. Os imigrante sustentaram
o país durante todo esse tempo, pois esses imigrantes mandam dinheiro para seus
familiares que moram em Cabo Verde.
Zk - E você é imigrante?
Princezito - Hoje sou
residente. Já Imigrei, fui pra Cuba onde vivi por oito anos estudando,
regressei a casa e to lá. Cabo Verde é um país maravilhoso, tem um excelente
clima, se não fosse a falta de chuva seria um clima perfeito porque nunca faz
muito calor e nunca faz muito frio.
Zk - Qual é teu grande
sucesso musical, aquela música que não pode faltar nos shows?
Princezito - Lua! Lua já foi
gravada por uma artista cabo-verdiana que já estar a andar o mundo que é Mayra
Andrade que já esteve várias vezes no Brasil; Lua é uma das minhas primeiras
composições, foi feita num momento muito complicado da minha vida, não tinha
muita razão para sorrir e então chorei através dessa canção.
Zk - Tô observando que o seu
português se assemelha muito ao português falado no Brasil?
Princezito - Sabe o que acontece,
é uma coisa incrível, se os cabo-verdianos me escutarem agora vão dizer, o
Princezito está louco. Acontece que estou fazendo um esforço para me comunicar
bem. Como brasileiro pra nós é uma coisa corriqueira, cotidiana em Cabo Verde.
Ouvimos todos os dias na televisão, então to falando um português
abrasileirado. Nem tinha dado conta, como você falou, estou tentando imitar o
português do Brasil.
Zk - Você é casado ou
namorador?
Princezito - Gostaria de ser
um eterno namorador, para isso estou bastante treinado. Tenho mulheres e
filhos.
Zk - Quer dizer que em Cabo
Verde se pratica a bigamia?
Princezito - Não, não é por
isso, é porque mulher é uma coisa muito boa.
Zk - O que você estudou em
Cuba?
Princezito - Fiz curso de
malandragem e cursei também laboratório clínico.
Zk - A tua influencia
musical tem a ver com Cuba?
Princezito - Tem. Tem aquela
parte de improviso que é famosa em Cuba, certa interação com o público que é
muito típica dos músicos populares, até algumas palavras e ritmos ficaram
incrustados em mim. Tem influencia de músicos muitos bons que ouvi durante anos
e que me inspiram. Pablo Milanês grande trovador, Cândido Fabre e outros mais
antigos os da Buena Vista Social Clube.
Zk - E o Brasil é a primeira
vez ou você já conhecia?
Princezito - É primeira vez
que venho ao Brasil. Mas o cabo-verdiano conhece muito bem o Brasil. Já assisti
mais de vinte novelas brasileiras. As novelas são lançadas aqui e logo vão pra
Portugal e Cabo Verde.
Zk - Como foi o contato com
o Festcineamazônia, com o Jurandir e a Fernanda?
Princezito - Eu estava no
Festival de Jazz na cidade Praia que é a capital de Cabo Verde. Como tenho a
vertente que é a poesia na minha música o Jurandir ouviu uma palavra que eu
disse e ele entendeu, quando desci do palco ele foi me parabenizar e disse: “Tu
disseste uma palavra que a gente fala no Brasil”, então começamos um papo e ele
disse: “Estou aqui para um festival de cinema”, na realidade não era um
festival de cinema, ele foi mostrar filmes animados ou de animação sobre o meio
ambiente. Trocamos contato, no ano seguinte ele foi pra lá com o festival, fiz
parte da equipe e ele me convidou para vir a Porto Velho e aqui estou.
Zk - E Porto Velho?
Princezito - É uma
maravilha, já disse que Cabo Verde não tem rio, ontem passeei no rio Madeira
comi tambaqui, vi botos. Tudo isso pra mim foi como se estivesse voado de
pára-quedas. Foi muito gostoso e gratificante.
Zk - Em Cabo Verde você vive
de música?
Princezito - Vivo de
cultura. Faço música, rádio, produções de eventos culturais.
Zk - Tem CD?
Princezito - Tenho um CD
gravado, chama-se “Espiga”. Um CD que fez muito sucesso, abriu-me muitas portas
e cofres. Meu povo gosta muito de mim isso faz-me sentir alegre. Não sou
conhecido fora de Cabo Verde, mas lá gostam de mim, todo mundo me conhece. Em
Portugal já me apresentei bastante e agora estou ficando conhecido em Porto
Velho Rondônia Brasil graças ao Festcineamazônia.
Zk - E o Eliakin como foi o
encontro de vocês?
Princezito - Nos conhecemos
em Cabo Verde. Passamos noites e noites ele declamando poesias, o levei a
conhecer a zona onde nasci, trocamos muitas idéias e hoje estamos aqui em Porto
Velho juntos de novo.
Zk - Pra encerrar:
Princezito por Princezito?
Princezito - Me considero
uma pessoa muito mansa e sempre fui assim desde criança, sou extremamente
pacífico, detesto violência verbal ou física ou até espiritual. Sou muito
crente, tenho muita fé em Deus apesar de não ter religião, mas rezo pela
humanidade. Quer saber mais sobre minha pessoa e minha obra é só escrever
Princezito no Face, no youtube vão encontrar meus shows e as coisas que digo
e que escrevo. Tudo sobre mim que acontece fora das quatro paredes. Não permito
filmagem nem gravação quando estou entre quatro paredes (sorrindo muito).
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