Por: Altair Santos (Tatá)
Amigo
leitor: pense num clima de acirrada disputa é esse que envolve a escolha do
samba da Escola Asfaltão! Há dois meses o tempo fechou, embaçou de vez, após a
diretoria haver divulgado a sinopse do enredo aos seus muitos compositores.
Desde então o que se vê é uma frenética movimentação ornada por blá blá blá, ti
ti ti e disse me disse. É parceria pra cá e pra lá, é um tal de
falar baixinho e pisar macio, olhar de banda, ou seja, é uma crescente guerra
de nervos onde impera a investigação, a abelhudice, a espionagem, a xeretagem,
os xavecos, os desafios e blefes, de parte a parte. Uns a todo o custo, tentam
desestabilizar os concorrentes e, pelas vias do psicológico, se creditar de
vantagens iniciais, afinal é disputa e, como tal, faz parte do jogo. Ancorados
na experiência do amigo Zekatraca traçamos uma estratégia investigativa e
saímos em busca dos acalorados fatos que emolduram a já aquecida e nervosa
disputa. Na missão andamos lá pela região do Bairro Santa Bárbara e arrabaldes.
Partimos do Bar do Calixto garimpando poucas e boas sobre a dita contenda.
Passamos pela Tenda do Tigre, Varanda do Takanã, Bar do Antonio Chulé e
rondamos na frente de algumas residências nas ruas Bolívia e Jaci Paraná, sem
obter êxito nas investidas afinal, por ali, exceto nas sextas e sábados tudo
está em visível calmaria, um silêncio sepulcral neste pós feriado de 2 de
novembro. De certo a turma resolveu esconder o jogo. Sabe-se que muitos
levantaram acampamento, sumiram da área, indo trabalhar suas composições e
ensaios bem longe dos olhos e ouvidos dos curiosos e tagarelas que, por seu
turno, estão ávidos pra saber como a escola vai
pra avenida. Confessamos não ter sido fácil romper a cortina do silêncio e
persuadir tigres e tigresas pra que dissessem algo sobre suas composições. Após
semanas de muita busca e, quase vencidos pelo cansaço, veio uma luz. No último
domingo, fomos ao Bairro COHAB - na residência do amigo Zigo pra comemorar o
seu aniversário. Lá, num golpe de mestre, após um suculento rega bofe com muita
birita e samba, conseguimos que alguns segredos fossem cervejadamente
revelados. Dentre os presentes, representantes de quatro sambas concorrentes
estiveram lá. De cara um clima perfeito para sondagens e descobertas.
Inicialmente apenas as pastoras marcavam presença. Após a vasta comilança e
desenfreada bebericagem, já se via por lá o Trio de Ouro, leia-se Zé Baixinho,
Oscar Knightz e Bainha, além do Danilo e seus parceiros do Grupo Fina Batucada
e o Misteira, que neste ano fechou potencializada parceria com Mávilo Melo e
Fernando Chapéu pra entrar na briga. Na festa, todos se comediam em gestos,
economizavam palavras, se limitavam a pequenas e leves insinuações, em forma de
doces e suaves alfinetadas pra ver se alguém escorregava e entregava o jogo
cantando - ou falando que fosse - ao menos uma frase de seus sambas. Ocorre,
porém, amigo leitor, que a certa altura, nos acréscimos do jogo, quando ninguém
mais esperava veio a boa! Os ânimos se exaltaram, começaram os desafios em
todas as direções. E aí foi o maior trololó. Pastoras desafiavam o Trio de Ouro
e num ataque súbito, quase despem o mestre Oscar knigthz de suas vestes, numa
revista pra lá de detalhada pelos bolsos da calça do negão, em busca da letra
do samba.
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