Nesse recorte final, serão exibidas 28 apresentações contempladas em Arte como respiro: múltiplos editais de emergência, representando as cinco regiões do país em oito estados: do Norte, participam projetos do Amazonas, Rondônia e Tocantins; do Nordeste, eles vêm do Ceará e de Pernambuco; do Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo, e do Sul, Santa Catarina, além do Distrito Federal pelo Centro-Oeste. Com linguagens e temáticas variadas, as apresentações entram no ar sempre às 20h e ficam disponíveis por 24 horas para serem assistidos virtualmente (segue anexado todo o serviço da programação).
Na quarta-feira, dia 16, o festival tem início com
a continuação de QUAREN.TINA: o isolamento perfeito de Tina,
projeto das atrizes Isabela Mariotto e Júlia Burnier, de São Paulo, no formato
de uma série, que reunirá nesta edição quatro vídeos curtos de humor
retratando o cotidiano da personagem durante a quarentena. No episódio Brincando
com Palavras, Tina conclama seus seguidores a escreverem poemas,
contos ou romances durante o isolamento.
O período atual também inspira Quarentena Poética,
da paulistana Tarcila Tanhã, com 10 curtas-poéticos que têm como ponto de
partida o isolamento social e os sentimentos causados por essa condição, como
medo, solidão e fé. Outro é Solitude: Poesia em Movimento, da
bailarina Bárbara Campos, do Distrito Federal, que traz, em três
vídeos, os sentimentos aflorados durante o momento de reclusão, e a necessidade
de se redescobrir-se. Exibido em série ao longo da programação, neste dia o
tema é Inquietação.
A região Norte está representada neste primeiro dia
do festival com dois projetos. Do Amazonas, o quadro de dança Pato,
da bailarina e pesquisadora Gabriela Lima Morhyia, mergulha no universo da
pessoa com autismo, que durante a pandemia foi tirada de sua rotina, tendo que
viver de perto as crises que vêm e vão. A performance O Quarto, do
artista rondoniense Rafael Barros, por sua vez, aborda as sensações,
histórias e silêncios resultantes de pesquisa cênica feita na Colônia Juliano
Moreira e no Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro.
A noite fecha com o registro do espetáculo
carioca Euforia, do ator e diretor Michel Blois. Dividida em
um solo com um idoso e outro com uma cadeirante, a peça aborda o desejo desses
personagens, que são socialmente olhados como invisíveis aos olhos do prazer
comum.
Isolamento
Dança e teatro alternam-se na programação que o
festival apresenta na quinta-feira, dia 17. Quem Dança seus Males
Espanta é o episódio do dia da série QUAREN.TINA: o isolamento
perfeito de Tina, no qual a protagonista, enquanto profissional das artes
da cena, lança o desafio da "Lagarta Autônoma" aos seus seguidores.
Já a série Solitude: Poesia em Movimento, usa a música Rêverie,
de Claude Debussy, para abordar a ausência como mais um dos sentimentos que
vieram à tona durante esse período de reclusão.
Também refletindo sobre o isolamento em decorrência
da pandemia, é exibido o projeto Quarenteno, do Tocantins.
Conduzido pelo pedagogo e pesquisador de danças urbanas, dança
contemporânea e performance Fernando Faleiro, ele fala sobre o estado de
quarentena, sobre a casa, o tempo e as amizades em períodos de distanciamento.
A noite conta com dois projetos do Ceará. Em Bocas,
a atriz Nathália Fiuza reúne as performances Palavra, Amarração e Da
Mesma Carne para simbolizar a boca vermelha como meio para o
transbordamento de sentimentos de um corpo inteiro, um corpo feminino e um
corpo que se relaciona com a boca. O outro é Ensaio para Ouvir Vozes
Além de Quatro Paredes, cena teatral na qual a atriz Joaquina Carlos vive
uma personagem fictícia que se diz remanescente do Caldeirão da Santa Cruz do
Deserto, um dos movimentos religiosos que surgiu nas terras do Crato, e
compartilha memórias, lembranças e experiências da comunidade fundada pelo
líder beato José Lourenço.
O carioca Zabeidas, Trolas, Pimoras, Gripas,
por sua vez, traz a narração oral cênica de um conto da tradição mística
sufi, protagonizada por contadores de histórias de diferentes cidades. A ação é
o primeiro fruto do projeto Cada Um no Seu Quadrado, inaugurado no
dia 18 de março de 2020, e que experimenta um processo criativo à distância,
relacionando contos de tradição oral e as possibilidades criativas dos
aplicativos de videoconferência.
Já o espetáculo O Jardim, também do Rio
de Janeiro, encerra o dia reunindo três contos do dramaturgo
irlandês Oscar Wilde com referência ao individualismo, à vaidade, às
manipulações e à exploração do homem pelo homem. Em
cena, o ator e diretor teatral Márcio Gonçalves interpreta os contos
através de uma figura ancestral, presente no imaginário de inúmeras gerações ao
longo da história: o contador de histórias.
Escritas
Na sexta-feira, dia 18, o recorte das artes cênicas
no Festival Arte como Respiro exibe Cartas para o Novo Mundo,
projeto paulista no qual a bailarina Hellen Audrey
apresenta cinco cartas-vídeos com pequenas videodanças, inspiradas em
cartografias corporais como possíveis diálogos acerca de um mundo em momento de
transições.
Galáxias, da carioca Polifônica Cia., por sua vez, articula
escritos inéditos do diretor e dramaturgo Luiz Felipe Reis com textos do
escritor argentino J.P. Zooey, dando sequência a uma investigação focada no
tema do Antropoceno e nos impactos humanos na Terra. O foco maior é a
observação crítica do modo como a humanidade, ao longo dos tempos, reage às
condições da sua existência em meio às forças da Terra e do Cosmos.
A noite traz, ainda, o último episódio de Solitude:
Poesia em Movimento, da bailarina Bárbara Campos, que aborda o
sentimento do reencontro ao som de Gymnopédie n° 1, de Erik
Satie. QUAREN.TINA: o isolamento perfeito de Tina, também segue com
o capítulo Lavando a Alma, no qual Tina estimula seus seguidores a
lavarem louça, comparando essa atividade doméstica a uma sessão de terapia. Já
no episódio final da série, intitulado Você Não Está Só, que vai ao
ar no sábado, dia 19, a personagem revela qual é a melhor companhia durante a
quarentena.
Racial e sensorial
A programação de sábado em Arte como
Respiro recebe, de Pernambuco, o quadro de dança Nada Falta,
de Liana Gesteira e Nelson Brederode. Numa provocação artística ao
humano condicionado a um cotidiano exacerbado de funções e sensações, um corpo
coloca-se além de si e também coloca a natureza no limite de sua existência,
num convite ao cultivo de outros tempos internos e outras éticas externas.
Estado de Fazenda ou Poética do Despenhadeiro, poema
do compositor, educador, ator e dramaturgo Salloma Salomão, leva à
cena memórias do diário de Lima Barreto. Gravado em aparelhos celulares
durante a quarentena, Salloma, ao acionar amigos na rede, busca tocá-los com o
germe do pensamento do escritor Lima Barreto.
A temática racial também conduz Meus
Cabelos de Baobá, espetáculo do Rio de Janeiro, da atriz e coreógrafa Fernanda
Dias. Inspirado no caráter cíclico das mitologias africanas, a história se
desenvolve em torno de Dandaluanda. Ao se deparar com episódios nefrálgicos na
infância, a menina fantasia um diálogo com o Baobá e é correspondida. A magia
que emana da árvore de origem africana, invade a cena e faz com que a mulher
Dandaluanda, também alimentada pela sua ancestralidade, valorize sua identidade
negra e se torna rainha.
Atual
A edição cênica do Festival Arte como
Respiro chega ao último dia de exibições no domingo, 20 de dezembro,
com projetos que levam aos expectadores olhares e reflexões sobre a atualidade.
Os cearenses do Teatro Máquina estão em Nossos
Mortos: Arquivos Desarquivados, cena teatral nascida do exercício feito em
abril de 2020 por seis artistas de teatro, que, longe da sala de ensaio,
procuram por plataformas virtuais que permitam abrir janelas simultâneas. Cada
um, de sua casa, trabalham na proposta de um novo olhar sobre Nossos
Mortos, espetáculo estreado em abril de 2018 e que parte do massacre do
Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, na intenção de desenterrar uma das
histórias brasileiras silenciadas.
Já Carta Corpo, de São Paulo, foi
criado a partir do desejo de conectar ainda mais os artistas da dança e
criar novas perspectivas e futuros para enfrentar a pandemia da covid-19. Nele,
o bailarino e coreógrafo David Costa conecta bailarinos e bailarinas numa rede
de dança virtual, fazendo com que o movimento de um tenha continuidade no
movimento do outro. O também paulista Ateliê Fomenta participa com O
Espirro, A Epifania, que mistura de poesia, ilustração e dança. Esta,
criação de Luaa Gabanini, se dá a partir dos movimentos que cabem em um metro
cúbico, tendo como referência a janela e a mesa presentes no espaço cênico.
O carioca Coragem, do coletivo
Subtexto, é um experimento performático em videopoesia, voltado aos
artistas que estão longe de suas cidades, batalhando e construindo suas
carreiras. Patrick Sonata está na performance Desgoverno, que,
através de histórias pessoais, debruça-se sobre o tema para falar de corpo
negro em diáspora, controle, poder, violência, surto e silenciamento.
A performance paulista As Gaivotas que
Nascem dos Tremores da Terra, da atriz Camila Mota e da poeta
Cafira Zoé, é uma cena-poema-visual, que põe em diálogo Tchecov
(1860-1904), com A Gaivota, Euclides da Cunha (1866-1909),
com Os Sertões, e Notícias do Centro da Terra, e o
conto de ficção Kósmica, de Cafira Zoé. O fio dessas dramaturgias coloca em
cena a Terra, o planeta, organismo vivo, atentando à dimensão cosmopolítica das
existências. O grupo catarinense Cena 11 encerra o festival com Matéria
Escura, performance realizada no primeiro mês de isolamento em razão da
covid-19. É composto por recortes captados e compartilhados pelos integrantes
do Cena 11 em um trabalho via vídeo comunicação à distância, integrando-se a
ele textos e frames de vídeo criados para o espetáculo Matéria Escura,
com estreia prevista para 2021.
SERVIÇO:
Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas
De 16 a 20 de dezembro (quarta-feira a domingo)
No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br
Itaú Cultural
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