Se
procurarmos pelo seu Agripino no segmento folclórico dança de Boi Bumbá em
Porto Velho ninguém vai saber informar, porém, se falarmos o nome SARDINHA
todos respondem: É do Tira Teima. Semana passada fomos até a residência do
Sardinha no bairro Ulisses Guimarães, saber sobre de como seu grupo de Flor do
Campo passou a se chamar Tira Teima, depois de também ser chamado de Tira
Prosa. Sardinha é um dos mais antigos na brincadeira de boi bumbá em Porto
Velho. “Muito antes do Flor do Maracujá eu já brincava boi”. Casado
com a folclorista dona Edna Sarmento presidente o boi mirim Estrelinha, na casa
do Sardinha o que se respira durante o ano todo, é boi bumbá. “Nossas
indumentárias são todas confeccionadas pelos meus filhos e família aqui em
casa. É tudo nosso”.
Na
conversa, você vai ficar sabendo de muitos causos sobre a brincadeira de boi em
Porto Velho.
ENTREVISTA
Sardinha
– Meu nome mesmo é Agripino Dias Brasil nasci em Porto Velho no dia 23 de junho
– véspera de São João, no ano 1952, por isso, sempre batizava o meu Boi no dia
do meu aniversário. A Famosa Serraria Santo Antônio era do meu pai, quando meus
pais faleceram vendemos o terreno.
Zk –
Onde era a Serraria Santo Antônio?
Sardinha
– Ali onde hoje, é o Clube dos Vaqueiros no Trevo do Roque. Vendemos e fomos
morar no bairro Bela Vista no final da rua Campos Sales, lá comecei a brincar
no Flor do Campo cujo curral era atrás da Rodoviária. Na realidade, eu não
brincava, quem brincava era meu filho e o Edson meu cunhado. Quando criança
brinquei de vaqueiro no Boi Tira Cisma que era no Areal.
Zk –
E a história do Flor do Campo?
Sardinha
– Foi assim, o Edson brincava no Boi do finado Chagas o “Rei do Campo”, era ele
e meu filho e eu morava no garimpo, quando chegava à época da brincadeira de
Boi eu vinha pra cidade pra participar, eu fazia a fantasia do Edson, dona
Margarida cortava e eu enfeitava o Manto e o Chapéu ele brincava de 1º Rapaz.
Zk –
E como foi que o Ribamar que era dono do Parque de Diversão que era montado no
Flor do Maracujá se envolveu com o Flor do Campo?
Sardinha
– Foi através do Luiz Amaral o verdadeiro dono do boi Flor do Campo. Quando o
Edson e meu filho ainda brincavam no Rei do Campo fui convidado para uma festa
de batizado em Candeias do Jamari e o Padrinho foi o seu Euro Tourinho do
jornal Alto Madeira. Naquele tempo ainda não tinha a ponte a travessia era
através da balsa e tinha a praia muito bonita. Chegamos ainda de dia e quando
vimos, meu filho chegou correndo avisando que o Edson estava todo amarrado. Fui
lá desamarrei o Edson e disse pra ele arranjar outro Boi pra brincar e fomos
para o Flor do Campo.
Zk –
Já n o Flor do Campo?
Sardinha
– Mal eu tinha ingressado no Flor do Campo o Luiz Amaral me chamou e pediu pra eu
confeccionar um Boi que ia ter uma apresentação lá em Ariquemes e eu fiz. O
interessante é que eu nunca tinha feito um Boi e o Luiz foi me dando as dicas, e
fui montando o bicho. A cabeça era de boi mesmo que a gente pegava no curre (matadouro),
o corpo a gente ia enchendo de esponja de banco de carro, depois cobria de pano
e pronto. Já morando no Bela Vista resolvi inovar a confecção do Boi.
ZK –
Inovar o que?
Sardinha
– Naquele tempo, os Bois de Porto Velho, só mexiam a cabeça de um lado pro
outro. Na hora do Boi Beber água o Vaqueiro era quem colocava a bacia perto da
boca dele. Criei um mecanismo feito com liga de câmara de pneu de carro, que Boi
baixava a cabeça e bebia água num recipiente colocado no chão. Falei pro
Carlinhos que era o Amo: Na hora da apresentação do Boi tu anuncia que ele vai
baixar a cabeça pra beber água, o Carlinho ainda duvidou, eu garanti que iria
dar certo. Foi o maior sucesso na apresentação do Flor do Maracujá que ainda
era ao lado do Ginásio Claudio Coutinho lembrando que já era o Boi Tira Prosa.
Zk –
Por que o boi deixou de ser Flor do Campo e passou a se chamar Tira Prosa?
Sardinha
– O Luiz Amaral já não estava muito bem de saúde e por isso deixou o boi
comigo, por outro lado, apareceu uma conversa que o Luiz tinha perdido o Boi no
processo de separação (divórcio), pra mulher dele e então resolvemos mudar o
nome para Tira Prosa. Tem uma história muito interessante sobre as
apresentações do Tira Prosa no Flor do Maracujá!
Zk –
Que história é essa?
Sardinha
– Quando trocamos o nome de Flor do Campo para Tira Prosa muitos saíram da
nossa brincadeira, então o Ribamar que era considerado Rico já que era dono do
Parque de Diversão e gostava realmente do nosso Boi desde os tempos do Flor do
Campo, fazia o seguinte: Quando chegava o Flor do Maracujá ele contratava os
melhores dos demais Bois para se apresentar também pelo Tira Prosa. Costumo
dizer que do nosso boi mesmo, era Você (Silvio Santos), Carlinhos do Boi que
era o 1º Amo e mais uns poucos. Porém, no Maracujá chegaram a se apresentar
pelo Tira Prosa o Galego, Suritiba, Ventania, Dartanhã, Nonato, Zé Comichão era
uma verdadeira seleção. A gente tinha barreira de Amo. O certo foi que o Tira
Prosa passou a ser o grande campeão do Flor do Maracujá.
Zk –
Você chegou a ver ou participar das “Brigas” de Boi no meio da rua. Por que
aconteciam as brigas?
Sardinha
– Acontece que os bois bumbás quando chegava o tempo de São João, eram
contratados para dançar na casa dos chamados ‘Categas’ e a gente ia a pé,
cantando pelo meio da rua, as vezes, um Boi se encontrava com outro e o PAU
comia. Era briga de verdade mesmo. Lembro que a Toada considerada Grito de
Guerra dizia assim: “Arreda recôa, lá vai bala pela proa”. Essas brigas ficaram tão
violentas que chegaram a fazer vítimas fatais como foi o caso daquele brincante
que morreu debaixo do boi, ali perto do Mercadinho do Km-1.
Zk –
Você, mesmo sempre atuando como dirigente do grupo, chegou a brincar como
personagem?
Sardinha
– Não teve Pai Francisco melhor que eu nesse Flor do Maracujá, só que poucos
sabiam. No dia da apresentação eu dizia que ia fazer uma viagem e a noite,
chegava já Mascarado como Pai Francisco (Nego Chico), naquele tempo, o Pai
Francisco dizia verso de improviso nas apresentações, com a voz modifica (a
gente fazia uma voz rouca).
Zk –
Como foi que o Boi passou a se chamar Tira Teima?
Sardinha
– Primeiro o Ribamar se desentendeu com o Luiz Amaral e devido esse racha eu
assumi o Boi de vez e ao me mudar para o Ulisses Guimarães troquei o nome para “Tira
Teima”. Se você prestar atenção, todo ano no Flor do Maracujá a gente anuncia o
Tira Teima como o Boi do Arraial das Três Gerações – Flor do Campo, Tira Prosa
e Tira Teima.
Zk –
Hoje você sente muita dificuldade para colocar o Boi no Flor do Maracujá?
Sardinha
– O meu bairro o Ulisses Guimarães de primeiro, era muito bom de brincante,
agora a juventude prefere praticar outras coisas que não são muito
aconselháveis. Por outro lado, nós não temos um local adequado para ensaiar,
apesar de ensaiarmos no nosso quintal que é grande, de vez em quando alguém
chama a Polícia e o ensaio tem que parar. É muito difícil. Tem uma área grande
nas imediações que estamos reivindicando pra ver se eles fazem uma quadra, que
vai servir também para a prática de esportes além de abrigar nossos ensaios.
Zk –
Como você conheceu a dona Edna?
Sardinha
– Dona Edna é minha querida esposa, nos conhecemos no tempo do garimpo, estamos
juntos há 45/46 anos, tivemos 7 filhos, desses, só estão vivos quatro.
Zk –
Como surgiu o Boi Estrelinha?
Sardinha
– Nasceu por intermédio da dona Margarida que era do Posto e inventou a
brincadeira de um boizinho e pedia pra gente ajudar. O ensaio do Boi adulto era
lá, ela pagava o caminhão e a gente vinha. Muito tempo depois foi que o boi foi
registrado e passou a se apresentar no Flor do Maracujá. Com o tempo, dona
Margarida achou de parar e dona Edna assumiu, porque tinha muita criança. Hoje
o Estrelinha é o maior campeão da categoria infantil do Flor do Maracujá e é
dirigido pela minha querida esposa Edna Sarmento.
Zk –
Para encerrar esse nosso papo. Quantos da sua família são envolvidos com a
brincadeira de boi?
Sardinha
– Todos, não escapa um. Agora como ITEM (Personagem) só a minha filha caçula
que é a Sinhazinha do Tira Teima e a minha neta que é a Sinhazinha do
Estrelinha, tem algumas que brincam nas Barreiras, os demais trabalham nos
bastidores, na confecção das fantasias e alegorias. Tudo que colocamos no Flor
do Maracujá é feito aqui em casa. É tudo nosso!
Zk –
Sobre os Bois no Flor do Maracujá deste ano?
Sardinha
– Se eu fosse da coordenação das apresentações e dos julgadores, tirava o Boi
que ficou em Terceiro Lugar o Az de Ouro não merecia. Tirava também, ponto do
Boi do Aluízio. Os jurados parece estavam cegos, não viram um Boi sem Orelha e
o outro colocando Mascarado com Cesto nas Costas. Pronto falei!
Nenhum comentário:
Postar um comentário