O
compositor e cantor carioca Moacyr Luz participou sexta feira dia 30, da
homenagem ao Ernesto Melo – O Poeta da Cidade, realizada no Calçadão Manelão
pela escola de samba Acadêmicos da Zona Leste dentro do Projeto “Biografando o
Samba”, que contou com a participação da Fulcultural de Porto Velho, com o
Programa “Tributo ao Menestrel”.
Moacyr
desembarcou no Aeroporto Governador Jorge Teixeira em Porto Velho, quinta feira
dia 29 e foi direto para a Vila Candelária onde participou do almoço
patrocinado pela diretoria da Verde e Rosa local e logo após o almoço, que
contou com a presença do Ernesto Melo e sua esposa Erenir, Anne Mamede
presidente da escola, Hudson Mamedes, Antônio Neto, fotógrafa Ana Célia e da
produtora do sambista Jaqueline Martins e é claro, desse amigo de vocês, que
não perdeu a oportunidade para saber sobre a história desse artista, que
encanta os sambistas do mundo, com suas maravilhosas obras.
ENTREVISTA
Zk –
Vamos direto ao que interessa! Como surgiu o Projeto Samba do Trabalhador?
Moacyr
Luz – Eu tinha feito uma temporada pelo Projeto Pixinguinha e fiquei vinte e
poucos dias fora do Rio. Aí eu brinquei com os amigos: Basta ei viajar que
vocês fazem churrasco, promovem festa e eu trabalhando que nem um condenado.
Vou fazer minha festa. A brincadeira foi essa.
Zk –
Em qual ambiente o Samba do Trabalhador começou?
Moacyr
Luz – Na época eu frequentava o Clube Renascença, fazia umas comidas lá durante
a semana com o presidente – eu gosto dessas coisas, de reunir o pessoal. Na
realidade, eu não sabia nem que o nome era Samba do Trabalhador o Toninho
Gerais diz que foi ele que colocou esse nome, só que a gente começou a fazer o
Samba às segundas feiras às duas horas da tarde (14 horas). A ideia era reunir
os amigos, só que na primeira segunda eu senti que tinha uma coisa diferente
acontecendo ali. Compareceram os sambistas Trambique, Paulinho da Aba, Bandeira
Brasil, meu querido Tantinho da Mangueira. Na primeira segunda feira, deu mais
de 200 pessoas, com um mês, deu Mil, chegou a dar 3 Mil pessoas, era de graças.
Um dia convidei um parceiro pra cantar lá e quando ele chegou disse: “Como
é que vou cantar aqui com essa multidão, sem microfone sem nada”?
Passamos a colocar som, o outro falou de lá: “Tem que ter Segurança, com isso
aqui cheio de garrafa, pode dar uma briga e vai sobrar pra você”. Para
poder pagar essas despesas, passamos a cobrar DOIS REAIS pelo ingresso, só
pagava homem, mulher era no 0800.
Zk –
Outras providencias?
Moacyr
Luz – Eu gravava pruma gravadora chamada Lua de São Paulo e eu tinha dado sorte
porque fiz alguns discos pra eles que deram certo, um disco do Guilherme de
Brito, um disco do Casquinha da Portela e um
outro e como estava com uma certa moral, pedi pra gravar o “Samba
do Trabalhador” e aí a coisa começou a se espalhar – com toda modéstia,
pelo mundo. Fui fazer um show na França num lugar lindo e eles me fizeram uma
surpresa, fizeram uma exposição de fotos do Samba do Trabalhador, fotos
gigantes com todos os artistas envolvidos ou que participam do Projeto. Segunda
feira (dia 26) agora, aconteceu uma coisa muito interessante, um âncora americano
o Andersom Cooper o cara que fez “60 Minutos”, fez “Guerra da Bósnia”, mediou
todos os debates do Clinton; ele queria conhecer o Samba do Trabalhador e foi
lá. Foi de Metrô, ele estava hospedado no Hotel Fasano um hotel só de
milionário.
Zk –
Você praticamente já morou em várias regiões do Rio de Janeiro. Em qual bairro
nasceu o Moacyr Luz?
Moacyr
Luz – Nasci em Jacarepaguá na Zona Oeste, onde tem a Renascer de Jacarepaguá a
minha escola de samba querida. Há oito anos faço o samba enredo dela, no dia 5
de abril de 1958.
Zk –
Aliás, você é o único compositor a colocar na avenida no mesmo ano, três sambas
de enredo em escolas distintas. Por sinal, vale a pena participar do concurso
de samba enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro?
Moacyr
Luz – Pois é, consegui esse feito. Grande Rio, Tuiuti e Renascer isso foi este
ano de 2019. Você perguntou sobre participar de concurso de samba enredo. É muita
despesa. Cheguei a pedir para ter meu samba desclassificado num concurso da
Mangueira em 1997, porque não aguentava mais, não tinha mais tempo pra nada,
cheguei a pedi ao presidente para deixar o meu samba CAIR. A gente fazia rifa
para patrocinar a torcida, foram quatro meses.
Zk –
Como é fazer samba enredo de encomenda?
Moacyr
Luz – É uma grande responsabilidade, você tem que tomar banho de sal grosso
todo dia, porque a inveja é muito grande “O filho da puta vai lá com samba
escolhido”. Então, você tem que fazer uma música muito boa.
Zk –
Fala mais sobre o Samba do Trabalhador?
Moacyr
Luz – Essa coisa do Renascença mudou minha vida. Em 2005 eu já tinha gravado
uns seis discos, já tinha umas cento e poucas músicas gravadas, já tinha feito “Saudade
da Guanabara”, tinha parceria com Martinho da Vila, já tinha feito
muito coisa. Em 2005 quando o Samba do Trabalhador começa a minha música foi se
adaptando ao público que me assisti, ficou mais popular, conheço o Sereno (do
Fundo de Quintal) e com ele fiz umas quarenta músicas. Agora gravei um disco
com o Nego Álvaro lá do Grupo “Álvaro canta Sereno e Moa”. Na
próxima semana se Deus quiser, termino o Disco que estou gravando e tem duas
parcerias com o Sereno. Essa música “Toda Hora” que o Zeca Pagodinho gravou
parceria com Toninho Gerais nasceu ali na mesa do Samba do Trabalhador e
terminou no Zap. Agora fiz uma música com o Zeca que era o sonho da minha vida.
Zk –
O que o Zeca representa pra você?
Moacyr
Luz – Ele é de uma simplicidade fora de série. Tenho aprendido com ele todo
dia. Outro dia ele levou as crianças de ônibus pro colégio. Fiz uma música com
ele agora “Sonho Estranho” que está bem badalada na Internet. música que cantei no “Quintal do Zeca” tem
mais um Milhão de visualizações. Em comemoração aos meus 60 anos de idade
completados ano passado, gravei o disco “Natureza e Fé”. Estava programado a
gravação de um DVD, mais a gravadora está dando preferencia a Produção de
Clipe.
Zk –
Como está o ECAD em termo de pagamento dos direitos autorais.
Moacyr
Luz – Ganho um pouco pelo volume da obra, tenho mais de 300 músicas gravadas e
isso me dar Um Real aqui outro centavo ali e vai dando pra viver. Minha mulher
é quem diz quando quero comer um negócio mais sofisticado: “Filho come esse negócio, você
trabalhou tanto, por isso tem direito de comer o que quer”.
Zk –
Você começou a compor em Jacarepaguá?
Moacyr
Luz – Não, comecei a compor quando morava no Meier. Meu pai morreu e minha mãe
se mudou, na época a gente morava em Bangu e fomos morar no Meier, foi quando
conheci o violão e decidi que minha vida ia ser a música. Fiz faculdade sem entrar
em sala de aula, ficava tocando violão e bebendo no boteco. Cheguei e fazer
três anos de Literatura.
Zk –
Por falar em literatura, você está com um livro na praça. Fala sobre sua obra
literária?
Moacyr
Luz – Trabalhei dois anos escrevendo crônicas para o Jornal O Dia, falando do
Rio de Janeiro, coisas de botequim, ai meu amigo selecionou algumas por assunto
e lançou o “Livro do Moa”.
Zk -
Pensei que fosse sobre as namoradas?
Moacyr
Luz – Sou um sujeito caseiro, casei duas vezes só e já é muito. Eu tinha um
amigo que ficou namorando uma menina durante 15 anos, falei pra ele: Bicho 15
anos namorando essa menina! E ele falou assim: “E nunca entrei no banheiro pra
não dar confiança”.
Zk –
Para encerrar esse papo qual o seu relacionamento com a Amazônia, com o Norte
brasileiro?
Moacyr
Luz – Musicalmente tenho muita afinidade com o Maranhão, Belém do Para, to
vindo a Porto Velho pela primeira vez e espero voltar. Manaus fui várias vezes,
inclusive neste sábado participo da festa do meu amigo Paulo Onça. Fiquei
impressionado na primeira vez que saltei no aeroporto e tinha um cara vendendo
umas frutas, fui no Mercado Velho que tinha lá em Manaus e vi aqueles peixes e
falei: não é possível que o Brasil tenha pessoas passando fome e que haja tanta
discriminação social. Um rio como esse de vocês, o Madeira era pra ser cheio de
risote, restaurante, pousada pra receber os turistas. Recentemente estive em
Portugal e vi numa província um riozinho chamado Tâmega que não chega nem a
metade desse rio Madeira e é todo cercado de castelos, bistrôs, centros
culturais, galerias de arte etc.
Zk –
Para encerrar. Como você está vendo o entrevero entre o prefeito do Rio e a Liesa?
Moacyr Luz –A cidade
e ele têm divergências muito grande. Carnaval é uma delas, Centro Espírita
também. O Rio de Janeiro tem muita macumba. Isso tem que ser respeitado!
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