sexta-feira, 30 de agosto de 2019

MOACYR LUZ - A história do Samba do Trabalhador contada pelo seu criador

O compositor e cantor carioca Moacyr Luz participou sexta feira dia 30, da homenagem ao Ernesto Melo – O Poeta da Cidade, realizada no Calçadão Manelão pela escola de samba Acadêmicos da Zona Leste dentro do Projeto “Biografando o Samba”, que contou com a participação da Fulcultural de Porto Velho, com o Programa “Tributo ao Menestrel”.
Moacyr desembarcou no Aeroporto Governador Jorge Teixeira em Porto Velho, quinta feira dia 29 e foi direto para a Vila Candelária onde participou do almoço patrocinado pela diretoria da Verde e Rosa local e logo após o almoço, que contou com a presença do Ernesto Melo e sua esposa Erenir, Anne Mamede presidente da escola, Hudson Mamedes, Antônio Neto, fotógrafa Ana Célia e da produtora do sambista Jaqueline Martins e é claro, desse amigo de vocês, que não perdeu a oportunidade para saber sobre a história desse artista, que encanta os sambistas do mundo, com suas maravilhosas obras.

ENTREVISTA

Zk – Vamos direto ao que interessa! Como surgiu o Projeto Samba do Trabalhador?
Moacyr Luz – Eu tinha feito uma temporada pelo Projeto Pixinguinha e fiquei vinte e poucos dias fora do Rio. Aí eu brinquei com os amigos: Basta ei viajar que vocês fazem churrasco, promovem festa e eu trabalhando que nem um condenado. Vou fazer minha festa. A brincadeira foi essa.


Zk – Em qual ambiente o Samba do Trabalhador começou?
Moacyr Luz – Na época eu frequentava o Clube Renascença, fazia umas comidas lá durante a semana com o presidente – eu gosto dessas coisas, de reunir o pessoal. Na realidade, eu não sabia nem que o nome era Samba do Trabalhador o Toninho Gerais diz que foi ele que colocou esse nome, só que a gente começou a fazer o Samba às segundas feiras às duas horas da tarde (14 horas). A ideia era reunir os amigos, só que na primeira segunda eu senti que tinha uma coisa diferente acontecendo ali. Compareceram os sambistas Trambique, Paulinho da Aba, Bandeira Brasil, meu querido Tantinho da Mangueira. Na primeira segunda feira, deu mais de 200 pessoas, com um mês, deu Mil, chegou a dar 3 Mil pessoas, era de graças. Um dia convidei um parceiro pra cantar lá e quando ele chegou disse: “Como é que vou cantar aqui com essa multidão, sem microfone sem nada”? Passamos a colocar som, o outro falou de lá: “Tem que ter Segurança, com isso aqui cheio de garrafa, pode dar uma briga e vai sobrar pra você”. Para poder pagar essas despesas, passamos a cobrar DOIS REAIS pelo ingresso, só pagava homem, mulher era no 0800.

Zk – Outras providencias?
Moacyr Luz – Eu gravava pruma gravadora chamada Lua de São Paulo e eu tinha dado sorte porque fiz alguns discos pra eles que deram certo, um disco do Guilherme de Brito, um disco do Casquinha da Portela e um  outro e como estava com uma certa moral, pedi pra gravar o “Samba do Trabalhador” e aí a coisa começou a se espalhar – com toda modéstia, pelo mundo. Fui fazer um show na França num lugar lindo e eles me fizeram uma surpresa, fizeram uma exposição de fotos do Samba do Trabalhador, fotos gigantes com todos os artistas envolvidos ou que participam do Projeto. Segunda feira (dia 26) agora, aconteceu uma coisa muito interessante, um âncora americano o Andersom Cooper o cara que fez “60 Minutos”, fez “Guerra da Bósnia”, mediou todos os debates do Clinton; ele queria conhecer o Samba do Trabalhador e foi lá. Foi de Metrô, ele estava hospedado no Hotel Fasano um hotel só de milionário.

Zk – Você praticamente já morou em várias regiões do Rio de Janeiro. Em qual bairro nasceu o Moacyr Luz?
Moacyr Luz – Nasci em Jacarepaguá na Zona Oeste, onde tem a Renascer de Jacarepaguá a minha escola de samba querida. Há oito anos faço o samba enredo dela, no dia 5 de abril de 1958.

Zk – Aliás, você é o único compositor a colocar na avenida no mesmo ano, três sambas de enredo em escolas distintas. Por sinal, vale a pena participar do concurso de samba enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro?
Moacyr Luz – Pois é, consegui esse feito. Grande Rio, Tuiuti e Renascer isso foi este ano de 2019. Você perguntou sobre participar de concurso de samba enredo. É muita despesa. Cheguei a pedir para ter meu samba desclassificado num concurso da Mangueira em 1997, porque não aguentava mais, não tinha mais tempo pra nada, cheguei a pedi ao presidente para deixar o meu samba CAIR. A gente fazia rifa para patrocinar a torcida, foram quatro meses.

Zk – Como é fazer samba enredo de encomenda?
Moacyr Luz – É uma grande responsabilidade, você tem que tomar banho de sal grosso todo dia, porque a inveja é muito grande “O filho da puta vai lá com samba escolhido”. Então, você tem que fazer uma música muito boa.

Zk – Fala mais sobre o Samba do Trabalhador?
Moacyr Luz – Essa coisa do Renascença mudou minha vida. Em 2005 eu já tinha gravado uns seis discos, já tinha umas cento e poucas músicas gravadas, já tinha feito “Saudade da Guanabara”, tinha parceria com Martinho da Vila, já tinha feito muito coisa. Em 2005 quando o Samba do Trabalhador começa a minha música foi se adaptando ao público que me assisti, ficou mais popular, conheço o Sereno (do Fundo de Quintal) e com ele fiz umas quarenta músicas. Agora gravei um disco com o Nego Álvaro lá do Grupo “Álvaro canta Sereno e Moa”. Na próxima semana se Deus quiser, termino o Disco que estou gravando e tem duas parcerias com o Sereno. Essa música “Toda Hora” que o Zeca Pagodinho gravou parceria com Toninho Gerais nasceu ali na mesa do Samba do Trabalhador e terminou no Zap. Agora fiz uma música com o Zeca que era o sonho da minha vida.


Zk – O que o Zeca representa pra você?
Moacyr Luz – Ele é de uma simplicidade fora de série. Tenho aprendido com ele todo dia. Outro dia ele levou as crianças de ônibus pro colégio. Fiz uma música com ele agora “Sonho Estranho” que está bem badalada na Internet.  música que cantei no “Quintal do Zeca” tem mais um Milhão de visualizações. Em comemoração aos meus 60 anos de idade completados ano passado, gravei o disco “Natureza e Fé”. Estava programado a gravação de um DVD, mais a gravadora está dando preferencia a Produção de Clipe.
Zk – Como está o ECAD em termo de pagamento dos direitos autorais.
Moacyr Luz – Ganho um pouco pelo volume da obra, tenho mais de 300 músicas gravadas e isso me dar Um Real aqui outro centavo ali e vai dando pra viver. Minha mulher é quem diz quando quero comer um negócio mais sofisticado: “Filho come esse negócio, você trabalhou tanto, por isso tem direito de comer o que quer”.

Zk – Você começou a compor em Jacarepaguá?
Moacyr Luz – Não, comecei a compor quando morava no Meier. Meu pai morreu e minha mãe se mudou, na época a gente morava em Bangu e fomos morar no Meier, foi quando conheci o violão e decidi que minha vida ia ser a música. Fiz faculdade sem entrar em sala de aula, ficava tocando violão e bebendo no boteco. Cheguei e fazer três anos de Literatura.

Zk – Por falar em literatura, você está com um livro na praça. Fala sobre sua obra literária?
Moacyr Luz – Trabalhei dois anos escrevendo crônicas para o Jornal O Dia, falando do Rio de Janeiro, coisas de botequim, ai meu amigo selecionou algumas por assunto e lançou o “Livro do Moa”.

Zk - Pensei que fosse sobre as namoradas?
Moacyr Luz – Sou um sujeito caseiro, casei duas vezes só e já é muito. Eu tinha um amigo que ficou namorando uma menina durante 15 anos, falei pra ele: Bicho 15 anos namorando essa menina! E ele falou assim: “E nunca entrei no banheiro pra não dar confiança”.

Zk – Para encerrar esse papo qual o seu relacionamento com a Amazônia, com o Norte brasileiro?
Moacyr Luz – Musicalmente tenho muita afinidade com o Maranhão, Belém do Para, to vindo a Porto Velho pela primeira vez e espero voltar. Manaus fui várias vezes, inclusive neste sábado participo da festa do meu amigo Paulo Onça. Fiquei impressionado na primeira vez que saltei no aeroporto e tinha um cara vendendo umas frutas, fui no Mercado Velho que tinha lá em Manaus e vi aqueles peixes e falei: não é possível que o Brasil tenha pessoas passando fome e que haja tanta discriminação social. Um rio como esse de vocês, o Madeira era pra ser cheio de risote, restaurante, pousada pra receber os turistas. Recentemente estive em Portugal e vi numa província um riozinho chamado Tâmega que não chega nem a metade desse rio Madeira e é todo cercado de castelos, bistrôs, centros culturais, galerias de arte etc.

Zk – Para encerrar. Como você está vendo o entrevero entre o prefeito do Rio e a Liesa?
Moacyr Luz –A cidade e ele têm divergências muito grande. Carnaval é uma delas, Centro Espírita também. O Rio de Janeiro tem muita macumba. Isso tem que ser respeitado! 

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