segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Jorge Antonio Carlos


Jorginho do Império - Os bastidores do samba carioca


Jorginho do Império veio a Porto Velho prestigiar a festa de 50 anos de rádio do João Dalmo, essa festa aconteceu quinta feira dia 6, no clube Ferroviário. Sábado Jorginho participou da feijoada da Chácara do Cabeça e lá, nos conhecemos melhor e então marquei essa entrevista que aconteceu na manhã de domingo. Jorginho que não é apenas do Império pois foi diretor de harmonia da União da Ilha do Governador, fez parte da seleção do samba enredo ano passado da Beija Flor e colabora com a escola de samba do Grupo de Acesso Cubango. Nossa conversa da qual fez parte o João Dalmo, que classifico como uma aula sobre os bastidores de uma escola de samba, durou mais de um hora. Ficamos sabendo como acontece ou aconteceu algumas escolhas de samba de enredos das escolas do Rio de Janeiro e porque Jorginho deixou de frequentar a escola que seu pai ajudou a criar Império Serrano. Bom mesmo vai ser você acompanhar o que o Jorginho nos conta na entrevista que segue:

ENTREVISTA



Zk – Qual o teu nome?
Jorginho do Império – Meu nome é Jorge Antônio Carlos e o do meu pai Décio Antônio Carlos – Mano Décio da Viola e eu passei a ser o Jorginho do Império.

Zk – Teu pai foi o fundador do Império Serrano?
Jorginho do Império – Um dos! O Império Serrano foi uma escola de samba criada no Cais do Porto, na Resistência, o Velho Elói que era o grande comandante do Império, era também o presidente da Resistência e com isso, todo mundo do mundo do carnaval, pessoal da Portela, do Império, do Salgueiro tinha o seu Elói como grande comandante, porque era ele que arrumava emprego pra todo mundo no Cais do Porto. Até hoje o filho dessas pessoas continuam no Cais do Porto. A quadra do Império Serrano é em homenagem ao seu Elói Império Dias esse era o homem forte, tanto do carnaval como da Resistência do Cais do Porto.

Zk – Teu pai foi dos primeiros compositores de samba de enredo no Brasil?

Jorginho do Império – O primeiro samba que eles fizeram, papai o Silas de Oliveira e se não me engano o Mestre Fuleiro, foi no carnaval de 1945 que era um samba que falava sobre a Argentina: Estabeleceu a paz universal após a guerra mundial/A união entre as Américas do Sul, Norte e Central/Nunca existiu outra igual/Na vida internacional/Nosso Brasil sempre teve a interferência/Das grandes Conferencia da paz universal/És o gigante da América Latina/Uruguai e Paraguai, Bolívia, Chile e Argentina... Antes disso, o que se fazia era um Refrão sobre o enredo da escola e os compositores iam versando, cada um fazia o seu improviso sobre o enredo da escola.

Zk – Apesar do samba estar dentro da tua casa. Quando foi que você adotou o samba como parte da sua vida?
Jorginho do Império – Já nasci num domingo de carnaval, em 13 de fevereiro de 1944 e a minha mãe, saia na Ala das Baianas que era a ala da Cidade Alta do Império Serrano e meu pai saia na Ala dos Compositores, então a mamadeira já era o samba. Meu nascimento se confunde com o nascimento do Império sou apenas três anos mais velho que o Império e fui criado e vivi la dentro até bem pouco tempo, porque hoje prefiro não passar nem pela porta, por questão administrativa, no resto vai tudo bem.

Zk – Vamos explicar melhor essa sua posição?
Jorginho do Império – Hoje o Império Serrano está na situação que esta, por questões políticas, eu discordo. O Império é grande por que existiam grandes políticos que eram seus dirigentes, A política deles era uma política saudável, discutiam e quase chegavam às vias de fato, mas, quando terminava a reunião, todos iam pro bar beber cerveja e as desavenças ficavam ali, por isso que o Império é forte. Quando me dizem que a escola está nessa situação por questões políticas eu discordo, a escola esta na situação que estar por vaidade das pessoas. É importante pra eles me manter fora do Império.

Zk – Você surge como compositor do Império Serrano fazendo samba de quadra ou samba enredo?
Jorginho do Império – Em 1975 tinha uma roda de samba no Império da Tijuca, lá na Muda e aí o Moacir Rodrigues que tinha sido presidente do Império Serrano era aquele cara que incentivava a gente e falou: Você tem que fazer um samba pra ala de compositores. O Jorginho do Império não pode ficar fora da ala dos compositores. Essa roda de samba era muito legal, dava prazer sair de Madureira para a roda de samba da Tijuca. Então comecei a fazer um samba pra poder entrar pra ala dos compositores do Império Serrano;

Zk – Tem a letra aí?
Jorginho do Império – Eu vou cantar o meu samba agora/porque já chegou a hora e o samba não pode parar/O samba la na serra é pra frente/Eu vou mostrar pra essa gente/por que é que eu sou de lá/Não se interrompeu a madrugada/Minha voz misturou-se com meus prantos/Quando eu choro meu amor/Choro em verde e branco... Aí entrei pra ala dos compositores, logo a seguir, veio aquele ano do carnaval chamado Mãe Baiana. Eu o Bicalho um compositor do Império que morava em São Paulo, o falecido Carlinhos e o falecido José Jorge nos reunimos la em casa pra fazer um samba enredo, para concorrer e o samba ficou muito legal, todo mundo falava que a gente ia ganhar inclusive a parceria do Beto Sem Braço já tinha retirado o samba. Acontece que o presidente da escola tinha problema comigo e convenceu a parceria do Beto continuar com o samba na disputa e aí, perdi pro samba que já tinha sido derrotado. A gente esta acostumado com essas aberrações, já vimos o Silas de Oliveira perder um samba no Império de 7 X 0 e o samba dele era o melhor, foi uma comoção nacional, apesar de o Império ter sido campeão com o samba vencedor que falava de Carmen Miranda era o ano de 1972.

Zk – Vamos falar da sua fase cantor de sucesso?
Jorginho do Império – Pois é, conheci o Martinho da Vila em 1971 e fui convidado pra trabalhar com ele e, trabalhando com ele, aprendi muita coisa. Falo pras pessoas que nos shows que faço, canto 90% de Martinho da Vila e 10% do Jorginho do Império porque sei o quanto ele é importante pra mim e sei o quanto adoram ouvir as músicas do Martinho da Vila, Em 1976 fui contratado pela Phillips/Polidor e gravei o LP chamado "Viagem Encantada" e desse Disco estouraram 8 músicas nacionalmente falando. Depois gravei outro LP que tinha a música “Meu Pandeiro”. Com meu pandeiro vou até Itaparica/Se meu samba tem dendê/O meu samba tem cuíca... A que estou mesmo foi: Mano Décio, desce o dedo na Viola, que teu samba me consola/A Serrinha sente a falta do teu canto/Vê se volta pro teu povo/E faz o teu povo cantar/Você que tira o chapéu na humildade/Dê licença, vou tirar, o meu por vaidade... Até hoje as pessoas pedem pra eu cantar essa música em todos os lugares que me apresento,

Zk – Essa música em homenagem ao seu pai foi você que fez?
Jorginho do Império – Não fui eu não. Ela é do Paulo Debétio e do Paulinho Resende o nome é “O Imperador”. Tem uma coisa muito legal. Eu já estava no estúdio gravando meu segundo LP e aí o papai chegou em casa com uma fita cassete: "Queria te mostrar um negócio, mais você já escolheu o repertório, já esta gravando, queria que você desse uma ouvida nessa música que o Paulo Debétio e o Paulinho Rodrigues fizeram pra você”. Ô pai vou escutar sim, se for boa a gente tira uma que está gravada e coloca ela. Botei a fita no aparelho, rapaz, quando começou a tocar, veio a família toda pra ouvir, meu pai começou a chorar emocionadíssimo e eu também. Na mesma hora peguei o telefone e liguei pro Carlinhos que estava produzindo o LP e de lá ele gritou: Porrada, porrada, vamos engolir eles com essa música. Vou ligar pro Zé Roberto: Zé Roberto a gente tem estúdio as dez horas, mas, chega a oito, que é pra gente fazer o arranjo e ver que música vamos tirar. Essa música tem mais de 40 anos, é o Hino da nossa família e onde me apresento tenho que cantá-la.

Zk – Vamos encerar. E essas vindas a Porto Velho! É verdade que você vai se mudar pra cá?
Jorginho do Império – O Dalmo ta vendo aí uma mulher e um apartamento pra mim (rindo muito). Não sou casado, tenho umas namoradas. Tenho muitos sobrinhos, sobrinhos netos, filhos não tenho não. Perdemos agora em 25 de agosto, o tio que me criou o último tio irmão do meu pai tio Ninico, Tem uma geração que vem aí que vai dar muito trabalho. Sou bastante agradecido aos amigos de Porto Velho, cidade que aprendi a amar, graças a amizade do João Dalmo. Somos tão amigos que escuto todo dia o programa dele via internet e as vezes entro no ar imitando repórter esportivo: Alô Dalmo aqui sou eu Jorginho do Império! Dalmo o “Maçarico” (Botafogo), aqui no Rio não tá de brincadeira. Abraços a todos dessa cidade maravilhosa que é Porto Velho.

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