Cabeleira
– Os bastidores da escola de samba Os Diplomatas
Amanhã dia 10, o “Magnífico
Mestre Sala Cabeleira” completa 79 anos de idade. Batizado como Antônio Chagas
Campo, Cabeleira alcunha pela qual é conhecido, vive pelo carnaval de escola de
samba, é um dos fundadores da escola Os Diplomatas da qual foi o Mestre Sala
por muitos carnavais, foi presidente da Associação das Escolas de Samba – AESB
e criou a Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas de Rondônia
– FESEC e brevemente, voltará a ser presidente da Escola de Samba Acadêmicos do
Armário Grande.
Seu sonho atual, é colocar
em funcionamento a Liga das Escolas de Samba. “Atualizei toda a documentação da
Liga, não sei por que a turma não concorda com sua reativação. Com ela em
funcionamento estaremos aptos a firmar convênio com órgãos
governamentais”.
Neste domingo 09, Cabeleira
e sua companheira Sílvia recebem amigos e familiares para festejar os 79 anos
de idade. “Vencemos alguns problemas de saúde e por isso, é preciso festejar
cada minuto da vida”. Na entrevista que segue, Cabeleira fala principalmente,
dos bastidores da escola Os Diplomatas do Samba que no dia 4 de novembro,
completará 60 anos de fundação. Vamos à conversa com o Magnífico Mestre Sala
Cabeleira:
ENTREVISTA
Zk – Quantos anos de vida?
Cabeleira – Nasci no dia 10
de setembro de 1939, portanto estou completando 79 anos de vida.
Zk – Sabemos que você é um
dos fundadores da escola de samba Os Diplomatas, antes disso, você brincava
carnaval em qual agremiação?
Cabeleira – Quando vim do
Rio de Janeiro – eu já dava umas pernadas lá – isso em 1956/57 o Bainha me
chamou pra gente fundar uma escola de samba porque só tinha o Bloco do Valério
da Dona Jóia aí nos juntamos com Valério, Ricardo, Dona Jóia, Alex, Leônidas e
criamos o que chamamos de escola de samba.
Zk – Por que você diz:
“Chamamos de escola de samba”?
Cabeleira – Porque realmente
não era uma escola de samba, era uma bateria com 31 integrantes tudo homem, até
eu estava la fazendo zuada balançando um Ganzá. Nesse mesmo estilo existia a
escola de samba Deixa Falar do Bola Sete que também era só uma bateria e a
escola de samba “O Triângulo Não Morreu” que tinha o Gia, Cardoso, Miguel e
Paulo Machado. O Triângulo tinha mulher e até instrumento de sopro. Todos desfilavam
dentro do Cordão de Isolamento. Cardoso e Gia puxavam Cuíca, o Guarda Miguel
era o responsável por esticar ou montar os couros dos instrumentos. Naquele
tempo os tambores eram de couro de cobra, veado, e outros bichos do mato como
porquinho, tudo comprado na “Casa José Oceano Alves” que ficava no Mercado
Municipal (hoje Mercado Cultural). O Bainha era pra ser um dos melhores
cuiqueiros do Brasil na época, pois o Zé Ferino da Mangueira assim profetizou:
“Esse menino vai longe”. Você perguntou onde eu brincava, era nas escolinhas de
samba do Rio de Janeiro depois conheci o Mestre Sala Delegado fui pra Mangueira
beber por lá, naquele tempo a cachaça da moda era Parati, depois fomos conhecer
o Salgueiro quando a Beija Flor era do Grupo de Acesso os desfiles eram na
avenida Getulio Vargas.
Zk – Sobre a rivalidade
Diplomatas X Caiari?
Cabeleira – A Caiari surge
em 1964 e só vem vencer da Diplomatas no carnaval de 1970, quando o desfile foi
na Pinheiro Machado. Naquele ano desfilei com uma fantasia preparada pela dona
Juraci Mateus que era o luxo dos luxos. Era dona Florípedes na Caiari e dona
Juraci na Diplomatas. Nosso enredo era sobre a Assinatura da Lei Áurea e a moça
que desfilou representando a Princesa Izabel que vinha num carro alegórico, em
frente ao Palanque dos jurados, fez a representação da assinatura da Lei que
abolia a escravidão no Brasil, só que deram pra ela uma CANETA BIC coisa que na
época da assinatura da Lei não existia, isso tirou um bocado de pontos da
escola. Ainda por cima o Samba era plágio do samba do Salgueiro e os jurados
por isso também tiraram pontos da Diplomatas e a Caiari com um samba de sua
autoria e enredo da Dona Marize Castiel “Sinhá Moça e a Abolição” ganhou ‘molim’
da gente.
Zk – E o bloco protagonizado
pelo teu pai Inácio Campos?
Cabeleira – Meu pai era um
folião que preparava umas alegorias da chegada do homem a lua, isso antes do
homem pisar na lua, era premonição dele. Desfilava concorrendo ao título de
bloco de originalidade com o bloco Rei da Selva do Valdemar Cachorro. Certa vez
meu pai saiu desfilando com o Chico Bolão (filho de família tradicional de
Porto Velho) amarrado pela cintura e o papai Inácio Campos dando-lhe uma surra.
A polícia vendo aquilo foi perguntar o que representava e ele disse “É o
Pele Curta batendo no Cutuba” então foi retirado da avenida e chegaram
correndo onde a Diplomatas estava concentrada pra desfilar, na Prudente de
Moraes dizendo que iam sair pela a escola.
Zk – É verdade que a
Diplomatas não nasceu com esse nome?
Cabeleira – A Diplomatas
nasceu na casa do Valério que era na Joaquim Nabuco sub esquina com a Almirante
Barroso bem em frente, naquele tampo, ao açougue do Casemiro depois foi que
virou bar, com o nome de “Prova de Fogo” a pedido do Tário de Almeida Café
nosso primeiro presidente, que queria homenagear um bloco que ele tinha em
Fortaleza Ceara. Desfilou com esse nome apena no carnaval de 1959 em 1960
adotou o nome “Universidade dos Diplomatas do Samba”, sugerido pelo Bizigudo. Em
meados dos anos de 1960, passou a ser apenas Os Diplomatas por sugestão do
Bainha. A primeira costureira da Diplomatas foi dona Marieta mãe do Bainha.
Depois o Abel Marques passou a nos fornecer camisetas da Martine e a gente
vestia os batuqueiros com aquele camisa.
Zk – Os desfiles eram aonde?
Cabeleira – A gente subia a
José de Alencar dobrava na Carlos Gomes e descia pela Presidente Dutra até o
Porto Velho Hotel, onde ficávamos esperando a ordem para iniciar o desfile
oficial que terminava na praça Rondon.
Zk – Como é que o Leônidas
entra para a história da Diplomatas?
Cabeleira – É uma história
delicada! Acontece que o Leônidas era uma espécie de Office Boy na casa da
Valério, mas, já andava com a gente na boemia e na minha concepção, ele estava presente
na reunião que criamos a Diplomatas sim, quem contesta, não sei por que, a
presença dele, é o Bainha, mas, pra gente ele é considerado fundador da escola
também.
Zk – A rivalidade entre você
e o Vitor Sadeck. Ele diz que você nunca ganhou dele como Mestre Sala é
verdade?
Cabeleira – Era engraçado! Naquele época quem tinha influencia política
como a Dona Marize, pesava, ninguém derrubava ela. Então o Vitor Sadeck que era
vestido pela Dona Florípedes uma das melhores modistas da época. Era puro
luxo as fantasias dele, porém ele nunca teve um mestre como professor como eu
tive o Delgado e o Canelinha os melhores do Brasil. Não é que o Vitinho
dançasse melhor, ele tinha a dona Marize por trás. Outro que morreu com raiva
de mim foi o Babá que surgiu na Diplomatas com passistas e depois foi pra
Caiari como Mestre Sala. Ficou com raiva de mim porque disse que ele não
dançava. Mestre Sala não segura à cintura da Porta Bandeira ele apenas
reverencia o pavilhão. Não sei não, até hoje não vejo nenhum Mestre Sala nas
escolas de Porto Velho que saiba dançar.
Zk – Você participou da
embaixada que foi trocar a bandeira nacional em Brasília?
Cabeleira – Aquilo foi o
maior espetáculo que já participei como Mestre Sala. Foi em 1975 e naquela
viagem, nasceu à escola de samba Mocidade Independente do KM-1 fundada entre
outros, por você e o Bainha. Em Brasília ainda se apresentou como Pobres do
Caiari porque desfilou de azul e branco. Quando nossa apresentação terminou, os
diretores da escola de Samba do Cruzeiro lá de Brasília vieram conversar comigo
e me convidaram para ficar la desfilando pela escola deles, me ofereceram
algumas vantagens, o Bainha que estava perto, ouvindo a conversa, se meteu no
meio da gente e foi dizendo “Ele não pode ficar aqui não e nem vai ficar ele é
nosso”. Os caras ficaram chateados com a maneira que o Bainha os tratou e mesmo
assim, ficaram insistindo e eu não fiquei, porque além de ser funcionário do
Território de Rondônia era casado e tinha um bocado de filho pra criar.
Zk – Pra encerrar! Como é
que está o Armário Grande Para 2019?
Cabeleira – Eu assumo a
presidência da escola no próximo dia 22. Não queria mais me envolver com
direção de escola de samba, o Júnior meu filho ponderou, não Pai, o senhor já
coloca a escola na avenida, agora tem que assumir como presidente e então
aceitei, Já distribuímos a sinopse do enredo para os compositores e a disputa
será em novembro.0
Zk – Nome do enredo?
Cabeleira –
“Quero e Não Quero – O Brasil que eu tenho e o Brasil que eu sonho em ter”.
É do professor Marco Antônio Domingues Teixeira.
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