O artista plástico João
Zoghbi abriu exposição sobre seus 50 anos de artes visuais, na manhã da última
sexta feira 14, na Galeria Afondo Ligório da Casa da Cultura Ivan Marrocos.
Antes da abertura oficial da
exposição, foi servido “café da manhã” aos presentes, cujo cardápio contou com
iguarias regionais como cuscuz com leite de coco, bolo de milho, suco de frutas
regionais, tudo encomendado pelo artista que preza pela valorização das coisas
produzidas em Rondônia e em especial na capital Porto Velho. “Afinal de contas
sou beradeiro”.
A exposição que vai ficar na
Galeria Afonso Ligório até o próximo dia 28, é composta de trabalhos em artes
plásticas, charge, desenhos, esculturas, objetos e principalmente obras
inacabadas. “Tem delas que comecei há mais de 20 anos”.
Para explicar sobre seus 50
anos de artes visuais, conversamos com o artista João Zoghbi e essa conversa,
você pode Acompanhar a partir de agora:
ENTREVISTA
Zk – Fala sobre essa
exposição?
J. Zoghbi – É uma
retrospectiva da minha trajetória como artista. Comecei ajudando minha mãe
quando tinha apenas 8 anos de idade. Minha mãe Hilda de Freitas Zoghbi fazia
muitos trabalhos de desenho, pintura em tecido e o que mais ela gostava de
fazer, eram tapetes bordados a mão e aqueles arranjos que era pra colocar no
puxador da geladeira, na cristaleira, liquidificador etc.
Zk – Qual era sua missão
nessa produção de sua mãe?
J. Zoghbi – Ela me convocou
e meus irmãos, para ajudá-la. Acontece que as frutas tinham que ser esculpidas,
era morango, caju, laranja, carambola... Ela fazia uns arranjos lindos, flores,
folhas e um dia disse pra ela, deixe que essa parte eu faço. Nem sabia que
estava fazendo escultura. De inicio, o material usado era esponja e quando descobri
que era legal, passei a trabalhar com areia e argila. Na verdade, entrei mais
no desenho. Ela me falava pra fazer os desenhos dos tapetes. O freguês
encomendava um leão, uma águia, uma arara e eu desenhava, não tinha nem referencia
de revista eu fazia de memória. O interessante era dentro da sala de aula.
Zk – Interessante por quê?
J. Zoghbi – É que eu
desenhava mais que anotava as matérias. Meus cadernos eram verdadeiras obras de
artes, cheios de desenhos. O nome dessa exposição “Arte 10” tem tudo a ver com
aquela época.
Zk – Explica melhor?
J. Zoghbi – Eu ganhei uma
nota dez do professor Pedro Batalha. Foi o seguinte, durante a aula fiz uma
charge dele e pensei que seria punido por isso e para minha surpresa, ele
gostou e me deu Dez como nota da prova. Tinha uma professora de arte que também
me deu nota 10. Acontece que ela havia marcado prova para aquele dia e eu
cheguei atrasado e não lembrava que era dia de prova, então fiz uma escultura
na hora pra ela e ela me deu o 10 como nota da prova que eu não tinha feito.
Por isso, coloquei o nome de “Arte 10” nessa exposição, que é para homenagear
essas pessoas e pelo valor, quando você diz: “Esse cara é dez!”, o trabalho
dele é dez o que quer dizer que é bom.
Zk – Podemos dizer que nas
artes visuais você é um artista completo?
J. Zoghbi – Quando percebi
que realmente eu era artista plástico, exatamente quando conheci Rita Queiroz
que foi orientando a gente, naquele tempo eu, Geraldo Cruz, Pedro e outros,
freqüentávamos o ateliê dela. Descobrimos que estávamos fazendo arte, porque
ela havia chegado do Rio de Janeiro com uma imensa bagagem de conhecimento
sobre artes plásticas e falou pra gente, que estávamos também inseridos nesse
contexto. Na verdade, a gente fazia aquilo por achar bonito. Nunca me limitei à
técnicas, como não sou acadêmico, não tenho a escola das belas artes, sou
autodidata, pra mim, tudo era importante aprender a fazer. Fui buscando a
técnica sozinho, passei a fazer todas as técnicas pela necessidade de aprender.
Aprender sozinho é isso, você vai imitando. Era Miguelangelo, Salvador Dali,
gosto da arte surrealista, gosto da arte impressionista, expressionista,
moderna, não tenho limite; É tanto que quando comei no desenho, comecei a fazer
charge e caricatura ao ponto de a “Revista Nossa” ficar interessada e eu passei
a fazer uma página só de charge. Isso foi a ponte pr'eu ir pro Diário da
Amazônia.
Zk – Por falar nisso, quanto
tempo você ficou trabalhando no Diário da Amazônia?
J. Zoghbi – Foram 24 anos e
oito meses, me mandaram embora faltando quatro meses pra eu completar 25 anos
como chargista lá. O Diário da Amazônia me deu a oportunidade de também mostrar
meu talento na parte do desenho, ilustração, sai da prancheta para o desenho
eletrônico, a imagem digitalizada. Hoje faço animação. Fui o primeiro ganhador
do prêmio de animação do Festcine Amazônia. Gosto também de filmar, ganhamos o
prêmio Guarnecer de cinema com o filme “Marcas da Amazônia” que é um dos mais
difíceis e acontece no Maranhão, junto com o Jurandir Costa, a produção contou
com o Geraldo Cruz, Joeser, Rita Queiroz e ganhamos prêmios fazendo
performance, instalações etc.
Zk – O que a arte representa
pra você?
J. Zoghbi – A arte é o meu
mundo, esse mundo maravilhoso que quis colocar nessa exposição. São 50 anos de
artes visuais.
Zk – Você tem seu estilo.
Fala sobre o estilo Zoghbi de fazer arte?
J. Zoghbi – Quando fui para
a publicidade, conheci o Edvaldo Viecelli e o Marco Aurélio que foram meus
diretores na área de publicidade, eles abriram meus olhos no sentido de você
fazer uma boa assinatura, criar uma marca, de simplificar, de estilizar e após
alguns trabalhos na publicidade, passei a olhar a obra de arte com mais estilo
e então, criei um traço que é o que passou a me identificar e inclusive já fez
escola. Ganhei o prêmio da Listel naquela época, depois ganhei vários outros
prêmios como da Aeronáutica, da Brigada, Marinha, 100 anos de Porto Velho e por
aí vai.
Zk – Qual obra sua, você
considera como a mais valiosa?
J. Zoghbi – Tenho a
escultura que fica em frente a Casa Ivan Marrocos “O cassaco” que foi uma das
obras mais bem pagas que já produzi. Isso foi na época que o secretario de
cultura era o Rui Motta e nos contratou eu, Geraldo, Rita e Joeser para
desenvolver essas obras, que estão instaladas no entorno da Ivan Marrocos.
Tenho uma tela que considero muito importante na qual retrato a história da
Madeira Mamoré e dos beradeiros na qual o Zekatraca colocou o nome de “Guernica
Beradeira”. Tem a estátua do Dom João Batista Costa em frente a Catedral que
não é assim uma perfeição, mas, é uma obra barroca e tem a obra “Santa Ceia” na
Jerusalém da Amazônia que tem mais de 3 metros de comprimento por 1,5 de altura
toda em concreto aparente. Tem uma escultura de São Francisco la na Jerusalém
também e a Nossa Senhora Aparecida. Tenho obra na Itália, tem no Presépio
Internacional da Associação São Tiago Maior que é a Família Sagrada, só, que
são “Seringueiros”. Gosto muito desse estilo sacro, que aprendi vendo o Afonso
Ligório na época que estudava na Escolinha Domingos Sávio. Ele estava fazendo o
retrato do próprio Domingos Sávio na parede da escola, e eu nem sabia que
aquele pintor era o Afonso LIgório. Tenho gratidão por esses grandes mestres
como o Roberto Cunha – Fracasso que me ensinou a fazer cenários.
Zk – Vamos encerrar se não a
gente amanhece o dia aqui conversando. A exposição “Arte 10” fica na Ivan
Marrocos até quando e quais os horários de visita?
J. Zoghbi – De acordo
com a programação a Exposição fica na Casa da Cultura até o próximo dia 28. A
Galeria Afonso Ligório fica aberta pra visita das 7h30 até às 19 horas
diariamente, com exceção de domingo. Obrigado pela oportunidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário