A indústria da informação está
sendo impactada, neste momento, pela disrupção oriunda das modernas
tecnologias, que vêm resignificando o modus
operandi jornalístico.
Até aí, novidade alguma.
O dado curioso, porém, é que os
dois jornais mais influentes dos Estados Unidos, The New York Times e
The Washington Post, entraram de vez na era da automação das
notícias. “Ambos têm em sua operação cotidiana softwares que
produzem notícias nas áreas de esporte, economia, moda, saúde e
outras mais, substituindo a mão de obra humana com maior rapidez e
eficiência,” conta Pyr Marcondes, jornalista, autor e consultor.O tema foi discutido em dois painéis que aconteceram na edição recente do badalado South by Southwest (SXSW), que ocorreu neste ano entre 10 e 19 de março, em Austin, no Texas. “Resumindo o que ambos os debates mostraram: nas redações de mais de 400 publicações hoje ao redor do mundo os softwares disputam lado a lado a posição de jornalistas com os próprios jornalistas. Isso dito por editores de grandes jornais a respeito de suas próprias redações”, explica Marcondes.
O jornalista ficou impressionado com o que viu e ouviu: “o que nos inquieta bastante diante de uma realidade como essa não é só qual será o futuro dos jornalistas, mas qual será o futuro do jornalismo, quando mais e mais máquinas estiverem produzindo as notícias que todos lemos mundo afora”, completa.
Particularmente, não fiquei apreensivo quando li a notícia sobre o “Uber” do jornalismo. Por um motivo: cedo ou tarde, esta realidade, inevitavelmente, iria se impor. Aconteceu em outros segmentos profissionais (como no mercado de transportes); por que não iria, também, ocorrer no nosso? A produção de notícias está sofrendo, sim, abalos significativos. E daí? Notícia é commodity – sempre foi. E commodity não requer especialidade.
No entanto – e felizmente, jornalismo não se limita à produção de notícias. Jornalismo é: reportagem, editorial, entrevista, artigo de opinião. É, inclusive, literatura. O que seria de gerações de focas (e profissionais) sem a referência de obras monumentais como as de Gay Talese, Tom Wolfe, Truman Capote e Eliane Brum?
Jornalismo transpõe o lead, as seis perguntas clássicas. Jornalismo é ir além das versões oficiais, verdades aparentes e dos discursos ensaiados. É interpelar autoridades, “otoridades” e não se intimidar diante de ameaças e retaliações. Jornalismo é filtrar press-releases e ler, o tempo todo, nas entrelinhas.
Jornalismo é curiosidade, ceticismo e pensamento crítico; é conhecimento especializado, entendimento generalizado, sede por informação, fome de contradição, e vontade, muita vontade, de contar uma boa história. Jornalismo é gostar de pessoas. Saber escutá-las (não somente ouvi-las) e se importar, verdadeiramente, com os seus dramas.
E tudo isso, até onde sei, os softwares de automação ainda não conseguiram automatizar.
No entanto, sou um árduo defensor da constante adaptação dos profissionais. Jornalismo não deve, necessariamente, ser exercido apenas em jornal (radiofônico, televisivo, e, claro, impresso). O termo espanhol equivalente, periodismo, na minha avaliação, soa muito mais adequado.
No passado longínquo e recente, a informação circulou em paredes de cavernas, peles de animais, papiros, pergaminhos e páginas impressas de papel. Hoje, está disponível em telas de notebooks, smartphones, painéis de led e uma infinidade de outras incríveis. “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente; é o que melhor se adapta às mudanças”, afirmou certa vez, dizem, um brilhante cientista.
(Fonte - Higor Gonçalves - Jornalista, pós-graduado em Comunicação Mercadológica e Marketing do Consumo, especializado em Assessoria de Comunicação e com MBA em Gestão Estratégica de Marketing. Atua há mais de uma década nos segmentos de marketing e comunicação e lidera a área de Assessoria de Comunicação da Agência 242.
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