Faleceu na madrugada deste
domingo 06, a senhora Maria do Carmo Kag Tourinho, esposa do jornalista e
diretor do jornel Alto Madeira Euro Tourinho. O corpo de dona Maria esta sendo
velado na Funerária Dom Bosco de onde sairá para o cemitério de Santo Antônio
as 15 horas.
Dona Maria iria completar 90
anos no próximo mês de junho.
Em dezembro de 2013
publicamos entrevista com a senhora Maria Tourinho, entrevista que passamos a
reproduzir.
À família Tourinho nossas
condolência
Participaram
da entrevista que foi gravada na manhã da última sexta feira dia 27, o
jornalista editor de cultura deste Diário Analton Alves e a fotografa Ana Célia
Santos. Foram minutos de aula de simplicidade, história e de como se deve
proceder para chegar às Bodas de Vinho muito bacana, como diz dona Maria.
Conheçam a história da matriarca do clã Kang Tourinho!
ENTREVISTA
Maria
Tourinho – Meu pai que era chinês, veio com os ingleses em busca de ouro numa
localidade do estado do amazonas que ficava onde hoje é Boa Vista – Roraima.
Passado algum tempo casou com uma brasileira que era de lá, dona Benedita
Rodrigues. Depois de muito tempo, ele deixou os ingleses e foi morar em Manaus
cidade onde nasci no dia 22 de junho de 1927 no bairro da Cachoeirinha que
ainda existe e está muito bonito. Depois fui estudar no colégio Santa Dorotéia,
me formei com 15 anos de idade.
Zk –
Se formou em qual especialidade?
Maria
Tourinho – Naquele tempo não se chamava contador era Guarda Livro. Do bairro
Cachoeirinha, fomos morar na cidade, perto do Porto de Manaus e aí conheci o
Euro. Ele foi estudar em Manaus e como não tinha mais internato no colégio Dom
Bosco foi morar numa casa com outros estudantes. Acontece que teve que servir o
exército e os colegas indicaram o restaurante do meu pai onde passou a fazer
suas refeições diárias. Fomos nos conhecendo, ele era um rapaz muito bacana.
Quando me formei ele achou que devíamos casar, meu pai concordou e estamos
juntos até hoje.
Zk –
Qual o motivo da mudança para Porto Velho?
Maria
Tourinho – O pai dele faleceu e nós viemos pra cá, isso foi em dezembro de
1944. O pai dele era seringalista dono do seringal Minas Nova.
Zk -
Quer dizer que seu Euro Tourinho foi seringalista?
Maria
Tourinho – Seringalista, seringalista não pode ser considerado, porque ele não
entendia do assunto, tanto que ficamos no seringal aproximadamente uns seis
meses. No pouco tempo que fiquei lá fiz muito coisa, por exemplo, ensinei os
seringueiros a fazer farinha de macaxeira, com isso eles não compravam mais a
farinha que vinha de Belém naqueles paneiros o que significava boa economia.
Zk –
Fixaram residência em Porto Velho?
Maria
Tourinho – Sim! Quando fiz 20 anos de idade já existia o governo do Território
Federal do Guaporé e tinha um vizinho muito bom o Glauco que era funcionário da
Estrada de Ferro Madeira Mamoré, certa vez ele questionou, por que eu não
arranjava um emprego no governo, respondi: porque não conheço ninguém pra
chegar lá e pedir um emprego. Então ele disse, vou arranjar emprego pra senhora
e arranjou. O governador era o Araújo Lima. Foi muito rápido, fui ao palácio e
me disseram, você vai traz seus documentos, no outro dia já estava trabalhando
no governo do território.
Zk –
Em qual repartição?
Maria
Tourinho – Primeiro fui secretária do Secretário Geral (que era como se fosse o
vice governador de hoje), depois assumi como chefe da seção do pessoal, onde
fiquei subordinada ao Anísio Gorayeb na seção de material. Depois me mandaram
pra Receita Federal que naquele tempo era chamada de Mesa de Renda Alfandegária
onde passei uns quatro anos e me chamaram de volta pro governo
Zk –
Como foi que a senhora foi parar no Serviço de Água, Luz e Força do Território
– SALFT?
Maria
Tourinho – Foi caso de política, meu marido era da UDN e então fizeram eu ficar
a disposição do SALFT. Foi passando o tempo até que criaram a Centrais
Elétricas de Rondônia – CERON. Separaram a energia da água criando também a
CAERD. Foram 46 anos de serviços prestados ao governo do Território Federal do
Guaporé/Rondônia.
Zk
– Como era a vida social em Porto Velho naquele tempo?
Maria
Tourinho – Tinha o Internacional que era um Clube muito chique, o Ypiranga,
depois veio o Ferroviário, Bancrévea. Eu e o Euro frequentávamos todos. Tinha
as avós Eulália e Bené que assumiram as crianças pra mim, tive nove filhos,
oito homens e uma mulher e elas ficavam com as crianças enquanto a gente ia
pras festas, era uma vida muito boa.
Zk –
Essa filharada toda estudou aonde?
Maria
Tourinho – Meus filhos estudaram no Barão do Solimões, Duque de Caxias depois
foram pro Dom Bosco. Naquela época não tinha Faculdade aqui e quem quisesse
continuar, tinha que ir pra fora estudar e assim a maioria dos meus filhos foi
estudar fora. Uns em Manaus, outros em Belém, só dois não fizeram faculdade o
Euromar (Mazinho) e o Eros que preferiram trabalhar com tipografia. Na família
existem cinco pessoas formadas em medicina, dois filhos e três netas. Advogado
são oito.
Zk –
Como era conviver com o melhor colunista social da cidade e seu caderninho
azul?
Maria
Tourinho – O interessante, é que ao contrário do que muitos pensam, ele não
levava o famoso caderninho azul para os eventos, gravava tudo na cabeça e
quando chegava em casa é que passava pro caderninho pra não esquecer,
Zk –
Vocês eram cutuba ou pele curta?
Maria
Tourinho – Eu não seguia nenhuma facção política e o Euro era da UDN. A
denominação Cutuba era usada com os correligionários de Aluízio Ferreira e Pele
Curta para os seguidores de Renato Medeiros. O Euro viajava muito pelo baixo
Madeira fazendo política udenista.
Zk –
Quando a senhora trabalhava na Ceron era muito popular. Nunca passou pela sua
cabeça se candidatar a qualquer cargo político?
Maria
Tourinho – Não! Eu não suportava, ia votar porque era obrigada. Até hoje voto,
mesmo já tendo passado da época.
Zk –
A senhora chegou a exercer algum cargo no Grupo Tourinho?
Maria
Tourinho – Não, só trabalhei no governo e em casa que era para suprir os
estudos dos meninos fora de Rondônia e você sabe que não é mole não. Nunca
passou pela minha cabeça essas coisas de ah eu vou ser isso, vou ser aquilo.
Deixa eu no meu lugar sossegada. Na família quem foi candidato foi meu cunhado
o Luiz Tourinho.
Zk –
Como foi que aconteceu o processo que culminou com a aquisição do jornal O Alto
Madeira?
Maria
Tourinho – A compra do Alto Madeira foi decidida entre o Luiz e o Euro. Naquele
tempo o jornal pertencia ao Assis Chateaubriand que era o dono Dos Diários
Associados. Quando ele morreu os sócios resolveram vender o patrimônio montado
por ele que era formado em sua maioria por empresas de comunicação, rádio,
jornal e televisão.
Zk –
É verdade que o diretor do jornal a época senhor Arnaldo conhecido também como
“Pombo Branco”, não queria que o seu Euro assumisse a direção?
Maria
Tourinho – É a pura verdade! Ele queria passar a direção pro outro lado
político, foi preciso o Euro ir ao Rio de Janeiro falar com o Chateaubriand.
Devo dizer que o Euro era muito querido pelo Assis e assim quando o Arnaldo
deixou o jornal para retornar a sua cidade natal que era o Rio de Janeiro, por
ordem de Assis Chateaubriand o Euro assumiu a direção do Jornal O Alto Madeira
de Porto Velho.
Zk –
Vamos voltar no tempo. Como foi a sua infância em Manaus a senhora lembra?
Maria
Tourinho – Lembro sim, minha mãe era muito bacana apesar de não ser formada,
meu pai que era cozinheiro muito afamado em Manaus. Meu pai era tão famoso como
cozinheiro, que quando o presidente Getúlio Vargas esteve lá o governador foi à
procura dele para ir fazer o almoço e o jantar para o Getúlio.
Zk –
E ele foi?
Maria
Tourinho – Ele respondeu ao governador que não ia lá, que poderia fazer no seu
restaurante. Resultado, quando Getúlio chegou em Manaus à equipe de segurança
destacou aquele guarda costa famoso Gregório para acompanhar os preparativos do
cardápio na cozinha do restaurante do meu pai, depois levaram as panelas com
tudo pronto para o local onde foi servido o almoço e o jantar.
Zk –
A senhora ajudava no restaurante, chegou a aprender a culinária chinesa?
Maria
Tourinho – Meu pai me ensinava, acontece que passava a maior parte do tempo
estudando e quando ia pro restaurante era na hora do almoço e ficava no Caixa
tinha muito freguês. Quanto à culinária chinesa não aprendi não, até porque meu
pai trabalhava mais a culinária brasileira. Quando era mais jovem gostava de
cozinhar e fazia de tudo, hoje com a idade que estou não faço mais nada, sou
uma cidadã que trata de cortar os temperos pra minha nora, minha filha e para
meus filhos que gostam de cozinhar todos eles.
Zk –
E o carnaval no tempo dos clubes sociais, Ypiranga, Internacional e outros?
Maria
Tourinho – O carnaval de clube era bom demais, apesar de nunca ter brincado em
nenhum bloco, gostava de frequentar os bailes carnavalescos, inclusive
fantasiada. Gostava também de assistir os desfiles na avenida Presidente Dutra
e depois na Sete de Setembro. Só não gostava quando jogavam lança perfume nos
meus olhos, tinha essa brincadeira que era muito chata.
Zk –
A senhora falou que ensinou os seringueiros do Seringal Minas Nova a fazer
farinha. E quem lhe ensinou?
Maria
Tourinho – Acontece que aprendi com uma senhora daqui, ela reunia o pessoal em
sua casa ralando macaxeira, tirando tucupi no tipiti, torrando, sempre eu ia
pra lá e fui aprendendo. Quando fui morar no seringal com o Euro notei que os
seringueiros tinham que comprar a farinha que vinha de Belém, Manaus a bordo
dos navios que naquele tempo eram bonitos, tinha o Lobo D’Almada, Leopoldo
Peres, Augusto Monte Negro, Chata Cuiabá e outros, ao chegar aqui desembarcavam
a farinha no Plano Inclinado e embarcavam no trem da Madeira Mamoré no nosso
caso, os paneiros eram desembarcados na estação de Jacy Paraná e de lá
embarcados no motor do seringal juntamente com charque, pirarucu, feijão e
outras mercadorias que eram levadas até o seringal. Ao ver aquele sacrifício,
além de descobrir, que os seringueiros plantavam muita macaxeira, resolvi
ensina-los a fazer farinha o que foi fácil daí então, eles passaram a
economizar, porque não precisavam comprar farinha no barracão do seringal.
Zk –
Qual a receita para se chegar aos 70 anos de casada, comemorar Bodas de Vinho?
Maria
Tourinho – Olha menino, tinha meus filhos e uma mãe e uma sogra que até hoje
rezo por elas. Nunca brigaram, nunca tiveram uma discussão, era aquela amizade.
Quando havia qualquer desavença entre eu e o Euro que elas desconfiavam, a
gente tomava o maior cuidado para elas não notarem que a gente estava de banda,
então elas entravam em ação. Minha sogra falava com o ele e minha mãe falava
comigo. Minha mãe era sempre a favor dele e mãe dele a meu favor. É difícil até
hoje, a gente ver tanta amizade entre as sogras, os genros e as noras. Outra,
nós nunca tivemos briga de escandalizar de dizer um pro outro, você vai embora
daqui.
Zk –
Quem é mais ciumento?
Maria
Tourinho – Sou eu né! Não é ciúme, é falta de responsabilidade e educação.
Agora não tem mais nada disso não. De uns dez anos pra cá não existe mais
ciúme. Acontece que as meninas gostavam dele naquele tempo que tinha muito
dinheiro, mas de uns tempos pra cá o assédio parou. Mas, nunca aconteceu da
gente chegar ao ponto de falar em separação, acho que foi por isso que chegamos
aos 70 anos de casados e se Deus quiser vamos chegar mais longe. Ele vai fazer
92 anos agora em janeiro. O Euro é muito bacana!
Zk –
Nesses setenta anos de casados você viajaram muito?
Maria
Tourinho – Quando fizemos 50 anos de casados, ganhamos uma viagem pra Europa.
Certa vez fizemos um tour de carro por praticamente todo o Brasil. Éramos eu e
o Euro e a Ligia com o Luiz. Saímos daqui para Campo Grande e fomos até o Rio
de Janeiro, na volta a Campo Grande resolvemos continuar e então fomos no rumo
do Rio Grande do Sul passando por uma bocado de cidades e estados, Santa
Catarina, Paraná, Rio de Janeiro de novo, São Paulo, Goiás, foi uma verdadeira
aventura. Quando chegava a noite que deitava na cama do hotel e olhava: Oh meu
Deus do céu tomara que eu chegue em casa. A Lígia também dizia pra mim: Olha
Maria tá muito bom, muito bacana, mas, não aguento.
Analton
Alves – O que lhe da saudade da Porto Velho de antigamente?
Maria
Tourinho – (emocionada). Da nossa amizade com os nosso vizinhos, com a mãe José
Adelino, a outra vizinha que era judia e foi minha parteira dona Piedade ô
mulher bacana, seu Chico que tinha armazém que vendia as coisas pra gente, era
muito bom aqui. Tinha o Café Santos. Sempre o Euro ligava dizendo: Filha (ele sempre
me chamou de filha) vem pra cá, eu ia pro jornal e depois a gente ia pro Café
Santos, eles bebiam enquanto eu só comia uns pasteizinhos com guaraná Andrade.
Analton
Alves – O que a senhora não gosta hoje de Porto Velho?
Maria
Tourinho – Dessa política safada, que não paga os funcionários com um
vencimento digno. Só roubam, fazem tudo que não presta. Fico com uma raiva
danada quando voto num candidato e ele passa a fazer safadeza. Peço sempre a
Deus que meus filhos não se metam em política. Até agora Deus tem me ouvido.
Zk –
Para encerrar essa conversa. Gostaria que a senhora deixasse sua mensagem de
Ano Novo pode ser?
Maria
Tourinho – Que todos sejam amigos dos amigos. Se o seu marido é um homem de
caráter, homem bom siga-o que é muito legal. Eu pelo menos sou católica,
apostólica romana, não sou de lá sou do Brasil. Minha mãe era muito católica e
me instruiu muito juntamente com minha sogra. Se o seu marido for bom pra você
não seja apenas esposa, mas, também amiga.
Zk –
São quantos filhos, quantos netos e quantos bisnetos?
Maria
Tourinho – Filhos são nove, oito homem e uma mulher dos quais apenas seis estão
vivos. Netos 34. Bisnetos 26.
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