Quando
assumiu o comando da Secretaria da Cidadania e da Diversidade
Cultural (SCDC) do Ministério da Cultura (MinC), a socióloga Débora
Albuquerque encarou o desafio de organizar convênios e de conferir
uma nova dinâmica a uma das políticas mais importantes da Pasta, o
Cultura Viva, que valoriza iniciativas culturais de grupos e
comunidades de vários cantos do Brasil e amplia o acesso a bens
culturais por meio dos Pontos de Cultura.
A
primeira providência foi pedir uma auditoria nas contas dos cerca de
3,6 mil Pontos de Cultura em atividade no País. Foram detectados
problemas desde o descumprimento do plano de trabalho apresentado no
ato da formalização do convênio à utilização dos recursos para
outros fins. Com o avanço dos trabalhos de análise da situação
dos Pontos, a Secretaria está implementando modelos de repactuação
que possam sanar as irregularidades encontradas e dar agilidade e
maior dinamismo aos convênios.
Confira
a entrevista
O
MinC irá acabar com os Pontos de Cultura?
Entendo
que o maior objetivo da nossa secretaria é fomentar a cultura na
ponta, nas comunidades. Não há, por parte do Ministério da
Cultura, nenhuma intenção em acabar com os Pontos de Cultura, como
já disse reiteradamente. Nossos esforços têm sido exatamente no
sentido contrário. Estamos organizando a Casa para fortalecermos os
Pontos e termos a capacidade de ampliar e melhorar esta política.
Quando
a senhora assumiu a SCDC, uma das primeiras providências foi pedir
uma auditoria nos convênios relativos aos Pontos de Cultura. O que
foi feito exatamente?
Deleguei
à coordenação responsável que me apresentasse um diagnóstico da
situação dos convênios. Com isso, verificamos irregularidade na
execução de quase 100% dos projetos. Nesse ínterim, suspendemos
repasses aos convenentes que estavam em situação irregular e
assinei a reprovação de contas dos processos com indicativo da área
técnica.
Quais
foram os principais problemas encontrados?
O
problema começa na formalização do convênio, ou seja, os
convenentes propõem no plano de trabalho uma estimativa muito
superior à capacidade de conveniamento. Isso nos leva a crer que não
existe estudo prévio de quais entidades culturais coletivas e
periféricas serão conveniadas. Com essa falta de planejamento, a
execução do plano de trabalho e o cumprimento das metas ficam
absolutamente comprometidos, gerando excessivos pedidos de
prorrogação de vigência e aditivos e nos levando a convênios que
se arrastam há mais de uma década. Por fim e não menos importante,
temos um enorme passivo de prestação de contas em que foram
encontrados graves problemas na comprovação do uso do recurso
público.
O
que o Ministério da Cultura pode fazer para acabar com esse passivo?
Estamos
em plena operação de uma força-tarefa dentro da SCDC. Todas as
coordenações estão buscando destravar as prestações de contas e
análises de projetos que são de nossa responsabilidade. Verifiquei
que existia uma enorme cultura de improviso, por isso, elaboramos
procedimentos padrões para a formalização, acompanhamento e
prestação de contas dos convênios. O ministro (Roberto Freire)
também está muito empenhando em resolver o passivo das antigas
gestões para que possamos caminhar com mais tranquilidade, por isso
fechou parceria com o (Ministério do) Planejamento para nos fornecer
alguns servidores que ajudarão a destravar esse moroso processo.
Na
prática, como funcionava o processo de conveniamento?
Na
minha avaliação, os convênios eram tratados sem critério muito
bem definido, com particularidades e interesses próprios. Não
havia, por exemplo, uma preocupação em como seria executado o plano
de trabalho ou mesmo como seria feita a prestação de contas. Porém,
a administração de recursos públicos exige muita responsabilidade
para que haja uma aplicação correta. Os técnicos das áreas do
MinC são muito zelosos e responsáveis, certamente irão analisar
minuciosamente cada um dos convênios. Para se ter uma ideia, na
SCDC, temos atualmente 110 convênios em execução com várias redes
de Pontos de Cultura (estaduais e municipais). Outro problema se
refere aos editais que tiveram pouca aderência em seu lançamento.
Nesses casos, os convenentes pedem autorização para lançarem
outros editais como complementação da meta inicial do plano de
trabalho, o que gera enorme desorganização. Além disso, ainda
precisamos gerir os milhões de reais que temos parados nas contas de
quase todos os convênios em todo o País. E isso a sociedade precisa
saber.
Qual
é a orientação para os estados em relação aos Pontos de Cultura
regulares?
A
partir de agora, não iremos mais autorizar o uso dos rendimentos e
dos saldos de recursos transferidos que estão nas contas. Analisando
o relatório dos convênios, vemos que as contas não batem, os
comprovantes não existem e que houve desvio do objeto do projeto
pactuado. Para que o processo não fique comprometido, estou
sugerindo às redes de Pontos de Cultura uma repactuação dos
convênios e dos recursos que já foram liberados, para que possamos
oxigenar a política de Cultura Viva.
Após
essa reorganização dos convênios, o Ministério pretende
fortalecer a Política Nacional de Cultura Viva?
Sou
muito sensível à política dos Pontos de Cultura, especialmente no
que diz respeito à preservação do patrimônio cultural do povo.
Sabemos que boa parte da produção de cultura acontece na base, nas
comunidades e nas periferias. Com a adoção dessas novas medidas,
teremos condições de ampliar a Política Nacional de Cultura Viva e
criar novos programas que incentivem a cultura de base periférica.
Quais
são os planos da SCDC para outras áreas? Já existe o planejamento
para outras ações, como o lançamento de editais?
Não
quero deixar que as prestações de contas e as irregularidades
encontradas na maioria dos convênios dominem a agenda da Secretaria.
A SCDC tem a capacidade de ir muito além dessas questões e criar
uma pauta propositiva para a cultura. Por isso estamos com um
cronograma de ações para este ano. Vamos lançar, até abril, um
grande edital de cultura popular, bem abrangente, com premiação
para 500 entidades culturais.Em todos os nossos editais, iremos
colocar como regra a questão da acessibilidade cultural.
Como
a SCDC pretende alcançar esses produtores de cultura que ficam na
base?
A
SCDC está buscando meios de informações que não tenham um alto
custo e consigam comunicar em larga escala, como as redes sociais e
aplicativos. Iremos valorizar a atuação das Representações
Regionais do Ministério da Cultura, que serão nossa principal
ferramenta de interlocução com os estados e municípios. Vamos
premiar quem realmente está dedicando sua vida a preservar o
patrimônio cultural de sua região. Estamos na Esplanada, mas de
olhos bem atentos ao que acontece em cada canto do Brasil. O MinC tem
a sensibilidade de reconhecer a arte dos rincões do País.
Como
está a programação da Secretaria para a realização das Teias
Culturais?
Gostaríamos
muito de poder viabilizar tanto as Teias nos estados e municípios
quanto a Teia Nacional em 2017. No entanto, por uma questão
orçamentária, decidimos priorizar as áreas fim em vez das áreas
meio. Esperamos que a devolução dos recursos para o Fundo Nacional
da Cultura nos permita realizar os encontros estaduais e nacional
para discutirmos as pautas que realmente importam. (Assessoria
de Comunicação Ministério da Cultura).
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