segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Luiz Caitano de Andrade

Do Núcleo Boa Vista a Monte Negro


Ele chegou à recepção do Diário da Amazônia com a intenção de conseguir espaço, para publicar um texto “histórias que o povo conta” com a história de um cidadão muito rico. A recepcionista então resolveu me chamar: “A história dele é interessante”. Ao se apresentar seu Luiz Caitano foi dizendo “É Caitano com i mesmo, o tabelião errou na hora de me registrar e em vez do “e” colocou o i”. Conversa vai, conversa vem, descobri que a história do seu Caitano tem a ver com a criação do município de Monte Negro. Aliás, a felicidade dele era porque naquele dia, ficou sabendo que a ação movida por ele contra a prefeitura de Monte Negro, estava em andamento. Após nossa conversa já na sala do diretor Marcelinho Freire seu Luiz Caitano saiu esbanjando felicidade. “Venho aqui para pedir a divulgação de um texto e vocês resolvem contar minha história. É muita felicidade num dia só pra quem estar com 83 anos 2 meses e 17 dias”.
ENTREVISTA
Zk – Fale sobre o senhor?
Luiz Caitano – Nasci em São Caetano da Raposa no estado de Pernambuco, no dia 17 de agosto de 1933. Minha infância e adolescência foi trabalhando na roça pra onde levava minha comida e a dos meus irmãos e pais dentro de uma bacia. Quando voltava pra casa minha obrigação era cortar os galhos de uma árvore por nome de Joá para alimentar as cabras e assim foi indo, já em 1951 fiz uma plantinha de milho, aí veio o sol matou tudinho, nesse dia muito triste voltei pra casa e falei pro meu pai: Pai eu não posso ficar aqui, vou pra São Paulo... (emocionadíssimo).
Zk – E Rondônia?
Luiz Caitano – Depois de alguns anos vim pra Rondônia onde parei numa localidade que ficava a cinquentaquilômetros de Ariquemes. Hoje é o município de Monte Negro, comprei duas chácaras e passei a cultivar mamão que vendia em Porto Velho. Na época trazia 200 caixas, porém, o dinheiro apurado não dava pra pagar os empregados e nem o frete. Fui obrigado a cortar o mamão.
Zk – Passou a viver de que?
Luiz Caitano – Plantei pasto e aluguei a terra por sessenta contos e passei a viver morando num barraquinho. Eram duas chácaras, uma delas, 300 metros era de frente para uma rua e então reparti em terrenos de até 10 X 30 e fui vendendo.
Zk – Isso quer dizer que o senhor chegou à região antes da criação do município de Monte Negro?
Luiz Caitano – Exatamente! Quando fui pra lá o nome era “Núcleo Boa Vista” que tinha sido a fazenda do José Fernando de Moura que doou parte para a criação do núcleo Boa Vista. Não existia prefeito tinha um administrador. Depois de algum tempo realizaram o plebiscito e foi criado município de Monte Negro.
Zk – Quem foi o primeiro prefeito de Monte Negro?
Luiz Caitano – Foi o Paulo Amâncio Mariano. Nessa época eu já tinha as duas chacrinhas. Acontece que o José Fernandes de Moura tinha loteado seis chacrinhas eu comprei a 2 e a 3. Quando terminou o mandato do Paulo foi eleito o Jair Mioto que antes de se eleger deputado estadual foi prefeito de Monte Negro. Justamente durante o mandato do Jair Mioto mandaram invadir a chácara nº 3.
Zk – O prefeito mandou invadir uma de suas chácaras?
Luiz Caitano – Isso mesmo. Nesse tempo eu já tinha formado pasto para 250 novilhas. Quando eu plantava cacau o técnico da Seplac disse, se formar uma fazendinha pra colocar 250 novilhas enxertadas, em três anos, você está com a fazenda formada. Com aquele dinheirinho apurado com a vendas da repartição da chácara nº 2 comprei três lotes de 21 alqueire e formei pasto. Quando o pasto já estava formado para colocar as novilhas o que aconteceu...
Zk – Sim?
Luiz Caitano – Foi quando invadiram a chácara nº 3. De onde eu iria tirar o dinheiro pra comprar novilha. O Jair Mioto prefeito tomou conta da minha chácara e até agora nada de indenização. No próximo dia 23 vai completar 20 anos que invadiram minha chácara.
Zk – O nome Monte Negro foi colocado em homenagem a que?
Luiz Caitano – Quando o núcleo Boa Vista passou a município fui procurar saber o porquê que haviam colocado o nome de Monte Negro e a explicação que me deram foi que ali perto, existia um córrego com o nome de Monte Negro e por causa desse córrego batizaram o município.
Zk – E suas terras?
Luiz Caitano – Estou com 83 anos 2 meses e 17 dias hoje (dia 04.11), há 19 anos estou brigando para receber a indenização daquela chacrinha que hoje era para estar com no mínimo 10 mil cabeças de boi.
Zk – No tempo que invadiram a chácara o senhor passou a viver de que?
Luiz Caitano – Fiquei passando fome. Passava sempre num terreno baldio onde existia um pé de mamão tirava aquele mamão, chegava em casa, um barraquinho alugado, repartia o mamão no meio colocava farinha de mandioca e mandava pros peitos.
Zk – Quando o senhor chegou à região onde hoje é Monte Negro o que existia?
Luiz Caitano – Existia um bocado de casinhas que formava o Núcleo Boa Vista. Eu tinha umas casas construídas em Porto Velho, casa de qualidade com 160 metros quadrados e acabamento finíssimo. Já estava no terceiro degrau em se falando de posição financeira, quer dizer, estava bem mesmo, aí foi na época que veio o Sarney e acabou com tudo. Depois disso, minha ideiaera vender madeira e um cidadão me disse que numa localidade por nome Buritis o ramo de madeireiro era ótimo, foi então que me aventurei e ao chegar ao Núcleo Boa Vista fiquei e deixei a idéia de ser madeireiro de lado.
Zk – O senhor veio direto de São Paulo pra cá?
Luiz Caitano – Vim pra Cuiabá justamente na época que deu uma enchente e os colégios estavam todos servindo de abrigo para as vítimas da alagação. Quando resolvi ir para Cuiabá procurei meu médico em São Paulo e ele disse que eu podia ir, mas, “se alimente bem, todo dia de manhã coma um dente de alho em jejum para evitar a malária”, isso foi no ano de 1970.
Zk – Em Cuiabá o senhor fazia o que?
Luiz Caitano – Fiquei pouco tempo lá, logo vim pra Rondônia precisamente para Ariquemes, onde por muitos anos vendia banana na feira. Acontece que quando eu tinha algum problema de saúde me internava no hospital do Dr. Confúcio. Quando da segunda campanha, ele caminhando com aquele montueiro de gente pela feira, falei com ele sobre o problema da indenização das minhas terras em Monte Negro e ele prometeu que quando acabasse a campanha, falaria com a Irmã dele pra ir comigo a Brasília resolver. “Você tem como pagar a sua passagem?” perguntou ele e eu respondi positivamente, só que depois da eleição acho que ele esqueceu.
Zk – Quando o senhor veio pra Rondônia já era desquitado?

Luiz Caitano – Já! Aliás, quando vim pra cá eu já tinha morrido há muito tempo, estava com 65 pontos negativos no sangue, gripe crônica, anemia e um bocado de complicação. Quando cheguei em Cuiabá dentro de seis meses comecei a sentir melhora, eu ia tomar banho no rio e quando colocava o pé dentro d’água era mesmo que tomar um choque. Fui fazer tratamento e foi um sacrifício, porque tinha que sair de casa seis horas da manhã sem lavar a boca, para ser atendido. Nove horas, era que ia tomar café, os procedimentos só terminavam às três horas da tarde. Passei seis anos nessa luta tomando os remédios de farmácia. Até que um dia resolvi partir para a medicina alternativa. A medicina do caboclo do homem do campo e passei a me tratar com SEMENTE de SUCUPIRA e MANACÁ misturado com pinga (cachaça), depois disso ia tomar banho no rio e não sentia mais aquele calafrio. Depois de dois anos voltei a clinica e o médico que era português ao ver os exames falou “ô raio tu já estás melhorando, tas tomando os remédios?”. Tô doutor” mentira eu tava tomando era sucupira com manacá na pinga na outra visita, ele admirado disse que eu estava curado. Até hoje ele pensa que foram os remédios que ele passou que me curou. Meu tesouro está la em cima, no céu!

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