Hoje o samba vai
“comer no centro” no Bar do Calixto. È que escola de samba
Asfaltão (sempre ela), realiza a 14ª edição do Projeto Samba
Autoral. Nosso amigo Altair dos Santos Lopes – Tatá escreve o
seguinte sobre o Projeto.
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Ancorados
na máxima do grande Noel Rosa, de que “batuque é um privilégio e
samba não se aprende no colégio”, tecemos que, ele, o samba,
poliu-se na humilde relação de sua rotina suburbana e cotidiana e
de lá, dos becos e guetos, emergiu em ciência e essência, se fez
vida e artéria cultural do brasileiro, longe dos badulaques e
excessivos paramentos, pra se dizer, fazer e acontecer. Basta que o
sentimento e o espírito reinante lhes sejam minimamente propícios,
“tranqüilos e favoráveis”, já é motivo, já é samba!
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Ao
curso de mês a mês, lá se vão religiosas catorze edições do
Projeto Samba Autoral que acena para a criação local chamando
letristas, músicos e cantores da cidade para exibirem suas obras na
livre e aberta trincheira musical na calçada do Bar do Calixto, a
escancarada e acolhedora catedral do samba santo de todo dia, erigida
ao som e sabor de surdo cavaco, pandeiro e vozes, na confluência da
Rua Jaci Paraná com a Brasília, no Bairro Santa Bárbara.
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Sob
o olhar protetor e vigilante da Santa Padroeira do lugar, os brancos
e os negros do samba daqui, aliados e irmanados aos sararás e
galegos e aos matizes todos do DNA e consangüinidade sambista,
promovem o interativo e arrebatador celebrasamba, um misto de oração,
devoção, fé e amor à vida, às pessoas e a cultura popular, em
torno do samba, fazendo a cada edição mensal, o debulhar dum
rosário musical em rito de confirmação do batismo dessa sagrada
herança cultural e seu enraizamento no solo e coração local.
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Quis
o vento da atitude musical, divino semeador de acordes, colher por aí
e fazer soprar e germinar sementes ritmadas nessa que podemos chamar
de “esquina do samba de porto”, cuja adjacência é doce e
demograficamente invadida pelas presenças habitantes e transeuntes
dos que se curvam em reverência e deferência afirmativa ao samba.
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Na
região, aos punhados, o samba mora nas prateleiras, varandas e
cozinhas dos Pinheiros, dos knightz, dos Tavernards, dos Motas, dos
Cardosos, dos Melos, dos Santos, dos Silvas e dos Ferreiras, mas
também se esparrama garboso, bonito, firme e forte na força doutros
muitos que se achegam em canoras revoadas e tomam justo e merecido
assento na sagrada e pulsante roda de samba de cada mês.
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De
tão samba e tão sagrado, lá naquele lugar exala o místico aroma
do velho e mesmo paticumbum do “sempre samba”, remoçado,
histórico, patrimonial, ultra cultural e infalivelmente arrebatador,
capaz de levar todos aos requebros faceiros e laiá laiás ligeiros,
basilares da sinfônica e popular ópera samba.
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Urge
quem ali passar, atentar aos mágicos e vitais sinais grafados nas
placas de aviso e orientação da consciência e sentimento humano,
que recomendam: “Atenção, devagar, aqui tem samba!” Olhem essa:
“Pare, se achegue, sambe sem moderação!” E mais uma: “Aqui
mora o samba, que tal visitá-lo?”
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E
assim, em dia de Samba Autoral, desde o começo da tarde, o samba
come no centro até que lá pelas tantas, esses nossos corpos suados,
ardentes e apaixonados (como diria Gonzaguinha), zarpam noutras
direções.
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Do
professor, poeta e compositor Binho, sensível como raros,
emprestamos: “cuidado que naquela esquina tem a nossa história!”
Neste caso, dizemos da esquina e da história do samba local que,
rebatizado, se agrupa e aviva pela providência e ânimo dos nossos
bambas
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