Por
Marco Antonio Domingues Teixeira (*)
Rebeldia, disciplina, pena e castigo nos Terreiros em Porto Velho.
Em
fevereiro de 2016 iniciamos nossas pesquisas sobre o Terreiro Ilê
Axé Oxum Aladê. Juntamente com o professor Alécio Vallois, Ogan
Jeje e o engenheiro Jesus Coutinho, Babalorixá de Xangô Ayrá,
iniciamos as primeiras investigações sobre a casa de santo
arruinada. Ao adentrarmos em suas dependências, nos chamou a atenção
a permanência de um único objeto de culto e ritual, integralmente
preservado e mantido em seu lugar de origem: a Pedra de Nanã,
ou como a chamava a Mãe de Santo, Eunice da Oxum, a “Pedra
da Vovó”. As preocupações acerca daquela relíquia foram
grandes, afinal os edifícios que integram o Terreiro estavam em
risco de demolição.
As discussões sobre a “pedra”, sua permanência e funções ao longo das décadas de vida da casa de santo suscitaram as mais variadas discussões. Do que fazer a como preservá-la, pensamos nas mais variadas situações. Nos salões e quartos de santo em total decadência e ruinas, onde mobiliários, assentamentos, utensílios e outros objetos sacros ou profanos já se haviam perdido, somente a “pedra de Nanã” continuava em seu local de origem. Mesmo o altar sob o qual ela se abrigava já havia desaparecido por completo. Plantas, cipós, ervas variadas haviam tomado o chão, o teto e as paredes do terreiro. Mas ao redor da “pedra” nem o capim chegara a crescer. Todo o espaço em seu entorno estava limpo.
As discussões sobre a “pedra”, sua permanência e funções ao longo das décadas de vida da casa de santo suscitaram as mais variadas discussões. Do que fazer a como preservá-la, pensamos nas mais variadas situações. Nos salões e quartos de santo em total decadência e ruinas, onde mobiliários, assentamentos, utensílios e outros objetos sacros ou profanos já se haviam perdido, somente a “pedra de Nanã” continuava em seu local de origem. Mesmo o altar sob o qual ela se abrigava já havia desaparecido por completo. Plantas, cipós, ervas variadas haviam tomado o chão, o teto e as paredes do terreiro. Mas ao redor da “pedra” nem o capim chegara a crescer. Todo o espaço em seu entorno estava limpo.
Tomados
pela curiosidade resolvemos investigar um pouco mais sobre essa peça
sagrada, base de rituais de disciplina e autoflagelação. Assim,
surgiu a ideia de pesquisarmos um pouco sobre a pedra de Nanã e seu
uso em rituais afro-religiosos, notadamente nas casas de Umbanda e
Mina em Porto Velho/RO. A primeira grande descoberta foi a ausência
de referência a esse artefato sagrado nos textos da Internet.
Pode-se varrer o Google e chegar-se à conclusão de que não se
escreveu ou não se publicou nada sobre ela, de modo específico.
Dessa forma, tomados pela necessidade de avançarmos no debate e nos
conhecimentos acerca do Terreiro e de suas tradições, tomamos a
tarefa de preparar um artigo sobre a “Pedra de Nanã” e suas
funções litúrgicas em rituais religiosos de comunidades de
Terreiros.
Neste ponto, aproveitamos o início das pesquisas para publicarmos na Fan Page do Projeto Mãe Eunice da Oxum, este breve texto preliminar sobre o tema. Nossas pesquisas avançaram muito e deverão avançar ainda mais, a partir de conversas com Pais e Mães de Santo, Ogans, Ekedes e Filhos de Santo em geral. A esta altura é necessário ressaltar a colaboração de Mãe Wilma Inês de Araújo, Ialorixá do Candomblé Ketu em Porto Velho, que nos auxiliou muito com seu conhecimento e segura orientação acerca do ritual da “Pedra de Nanã”. Grande parte dos conhecimentos e desejo de escrever sobre o tema, devem-se às conversas com ela.
Coube ainda ao Ogan Alécio Vallois e ao Babalorixá Jesus Coutinho a transferência de conhecimentos e informações necessárias ao propósito deste texto. A partir desses informantes chegamos a alguns dados preliminares que deverão nortear o futuro artigo.
A “Pedra de Nanã” é um artefato religioso presente em grande parte dos Terreiros Mina, Nagô e de Umbanda em todo o Brasil. Trata-se de uma pedra ritualmente utilizada para o flagelo e o castigo de médiuns rebeledes e desobedientes. É um dos caminhos utilizados por “Caboclos” para resgatar, pela “peia” o filho rebelde contumaz. O mais expressivo ritual de utilização da “Pedra de Nanã” ocorre nos Sábados de Aleluia, mas seu uso como forma de disciplinar, punir e castigar os filhos rebeldes pode ocorrer em diversas circunstâncias. Os procedimentos rituais descritos abaixo são inerentes às Casas de Cultos de Porto Velho e têm como principal narrador Pai Jesus de Xangô.
Para que a Pedra possa ser instalada diante dos Pegis das Casas de Culto Afro, são necessários rituais específicos que implicam no preparo individual e coletivo daqueles que a irão colher e transportar. A Pedra poderá ser colhida em uma pedreira, sob a licença do Orixá Xangô ou em uma cachoeira, sob a licença da Orixá Oxum. No caso da Pedra do Terreiro de Dona Eunice da Oxum, conseguimos identificar que ela foi colhida na antiga cachoeira do Teotônio, no rio Madeira, hoje inundada pelo lago da Hidrelétrica de Santo Antônio.
O procedimento da escolha e colheita da Pedra cabe ao Pai ou Mãe de Santo ou ao seu Caboclo. Ao iniciar-se o ritual de escolha e colheita da Pedra os membros da Comunidade do Terreiro, iniciados no culto, tomam banhos rituais e se purificam para a tarefa. Um filho de Xangô e/ou Oxum deverá passar por um ebó do Exu do Orixá que será tirado na Casa de Culto e levado ao local de colheita da Pedra. O grupo de iniciados envolvido nessa tarefa deixará preparado os banhos de Denguê, Omin Eró e Dejabó, além de um preparado a partir do acaçá dissolvido em água. Por fim é preparado um banho contendo as 16 ervas sagradas.
Neste ponto, aproveitamos o início das pesquisas para publicarmos na Fan Page do Projeto Mãe Eunice da Oxum, este breve texto preliminar sobre o tema. Nossas pesquisas avançaram muito e deverão avançar ainda mais, a partir de conversas com Pais e Mães de Santo, Ogans, Ekedes e Filhos de Santo em geral. A esta altura é necessário ressaltar a colaboração de Mãe Wilma Inês de Araújo, Ialorixá do Candomblé Ketu em Porto Velho, que nos auxiliou muito com seu conhecimento e segura orientação acerca do ritual da “Pedra de Nanã”. Grande parte dos conhecimentos e desejo de escrever sobre o tema, devem-se às conversas com ela.
Coube ainda ao Ogan Alécio Vallois e ao Babalorixá Jesus Coutinho a transferência de conhecimentos e informações necessárias ao propósito deste texto. A partir desses informantes chegamos a alguns dados preliminares que deverão nortear o futuro artigo.
A “Pedra de Nanã” é um artefato religioso presente em grande parte dos Terreiros Mina, Nagô e de Umbanda em todo o Brasil. Trata-se de uma pedra ritualmente utilizada para o flagelo e o castigo de médiuns rebeledes e desobedientes. É um dos caminhos utilizados por “Caboclos” para resgatar, pela “peia” o filho rebelde contumaz. O mais expressivo ritual de utilização da “Pedra de Nanã” ocorre nos Sábados de Aleluia, mas seu uso como forma de disciplinar, punir e castigar os filhos rebeldes pode ocorrer em diversas circunstâncias. Os procedimentos rituais descritos abaixo são inerentes às Casas de Cultos de Porto Velho e têm como principal narrador Pai Jesus de Xangô.
Para que a Pedra possa ser instalada diante dos Pegis das Casas de Culto Afro, são necessários rituais específicos que implicam no preparo individual e coletivo daqueles que a irão colher e transportar. A Pedra poderá ser colhida em uma pedreira, sob a licença do Orixá Xangô ou em uma cachoeira, sob a licença da Orixá Oxum. No caso da Pedra do Terreiro de Dona Eunice da Oxum, conseguimos identificar que ela foi colhida na antiga cachoeira do Teotônio, no rio Madeira, hoje inundada pelo lago da Hidrelétrica de Santo Antônio.
O procedimento da escolha e colheita da Pedra cabe ao Pai ou Mãe de Santo ou ao seu Caboclo. Ao iniciar-se o ritual de escolha e colheita da Pedra os membros da Comunidade do Terreiro, iniciados no culto, tomam banhos rituais e se purificam para a tarefa. Um filho de Xangô e/ou Oxum deverá passar por um ebó do Exu do Orixá que será tirado na Casa de Culto e levado ao local de colheita da Pedra. O grupo de iniciados envolvido nessa tarefa deixará preparado os banhos de Denguê, Omin Eró e Dejabó, além de um preparado a partir do acaçá dissolvido em água. Por fim é preparado um banho contendo as 16 ervas sagradas.
A
esta altura o grupo de religiosos se dirige para a cachoei ou
pedreira oferecendo comidas secas ao Orixá que responde pelo local.
No caso de Xangô/pedreiras , um amalá e no caso Oxum/cachoeiras um
Ipeté. A pedra é envolvida num pano branco e sob uma esteira
esticada no veículo é transportada até o Terreiro,,,
(*) O autor é
pesquisador e integrante do Gepiaa/UNIR
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