sábado, 15 de fevereiro de 2014

ENTREVISTA - CORONEL WALNIR IR FERRO

Mito da Policia Militar de Rondônia


Quando falamos sobre a Policia Militar de Rondônia e seus Comandantes o nome do Coronel Walnir Ferro de Souza é sem sombra de dúvida, o primeiro que vem na lembrança. Pudera, ele foi o primeiro e único filho de Rondônia até hoje, a assumir o Comanda da Policia Militar. Respeitadíssimo entre os integrantes da PM inclusive por oficiais, Ferro tem muita história pra contar e até pode se dizer, que é um mito, quando se fala da PM. Certa vez assim que acabou de tomar posse como Secretário de Segurança, a solenidade ainda não havia realmente acabado, quando pediu licença ao governador e foi até ao complexo penitencia e acabou com uma rebelião que estava acontecendo. “Os presos me respeitavam porque eu os respeitava também”. Perguntado sobre o sistema penitenciário hoje, foi enfático: “Esse pessoal da segurança precisa deixar de comer sardinha e arrotar caviar. Os presos de Rondônia não sofrem essa influencia que eles dizem,que é do Comando Vermelho e PCC, é preciso colocar os pés no chão e acabar com essas invenções”.
Ferro quando entrou para a corporação ainda era Guarda Territorial e sobre esse assunto, ele conta o seguinte:

ENTREVISTA


Zk – No dia 11 de fevereiro passado a Guarda Territorial de Rondônia embrião da nossa Policia Militar completou 70 anos de criação. O senhor foi guarda territorial?
Cel. Ferro – Meu pai chegou ao Território Federal do Guaporé hoje estado de Rondônia em 1943,vindo de Fortaleza (CE), com vinte e poucos anos de idade e foi selecionado para ser guarda territorial onde atuou até o fim de sua vida.
Zk – E o senhor?

Cel. Ferro – Eu entrei como guarda territorial em fevereiro de 1969, depois fiz o concurso de seleção para Sargento e a comissão que coordenou, elaborou e aplicou o teste contava com os seguintes professores: Lourival Chagas, Abnael Machado de Lima e o professor Augusto da Câmara Leme. Aprovado juntamente com mais dez companheiros, fomos mandados para Goiânia onde ficamos um ano participando do curso e retornamos para Porto Velho ainda Guarda Territorial.
Zk – Como Sargento da guarda territorial o senhor especificamente passou a tirar serviço aonde?
Cel. Ferro – No palácio do governo, atuávamos na rua e tirávamos serviço no quartel da guarda na rua Major Amarante no bairro Arigolândia. A farda era caqui e o coturno era marrom. Depois apareceu a seleção para a Academia e me inscrevi com mais uns doze/quinze colegas de Porto Velho e Guajará Mirim aprovados, fomos fazer o curso em Goiânia. Só que tive um problema com um oficial lá em Goiânia e fui transferido para Florianópolis (SC) e sai Aspirante no dia 14 de dezembro de 1973,
Zk – Vamos voltar à guarda territorial. Com certeza seu pai falava sobre as condições de trabalho dos guardas no inicio do Território Federal inclusive segundo o Capitão Esron de Menezes os guardas tiravam lenha e faziam outros trabalhos pesados. O Senhor sabe sobre isso?
Cel. Ferro –Considero os guardas que serviram naquele tempo como super-homens, eles trabalhavam na estiva descarregando navio, carregavam cimento, faziam obras construindo praças, ajudaram a construir o palácio Presidente Vargas, iam para a mata cortar lenha que era utilizada na Usina de Energia Elétrica e ainda faziam o policiamento da cidade. Eles descansavam carregando pedra com diz o ditado.

Zk – É verdade que o senhor foi o primeiro oficial da Polícia Militar de Rondônia
Cel. Ferro – Na Polícia Militar de Rondônia o primeiro oficial que se formou em Academia fui eu. Quando nós voltamos da academia naquela época, o Ministério do Exército fez outra seleção da qual participaram se não estou enganado, 35 oficiais que estavam esperando para serem incluídos na nova Polícia Militar e desses 35 que participaram da seleção só passaram nove (9). Era teste de psicotécnico aplicado por uma equipe de psicólogos que veio de Minas Gerais, exame médico, exame físico. O exame físico eliminou a maioria dos candidatos só ficaram nove e entre estes estava eu que fui o único a se formar para atuar na Polícia Militar de Rondônia os demais oito eram das Forças Armadas.
Zk – O senhor chegou a assumir o Comando da PM?
Cel. Ferro – Sou o único filho do estado de Rondônia, nasci em Guajará Mirim,que conseguiu ser Comandante da Polícia Militar graças a Deus.
Zk – Tem uma história que diz que no dia que o senhor estava tomando posse como Secretário de Segurança, no meio da solenidade, pediu licença para se ausentar e foi acabar uma rebelião no Urso Branco. É verdade?
Cel. Ferro –No dia que assumi a Secretaria de Segurança em 2002, estava acontecendo uma rebelião no Sistema Penitenciário que era Colônia Penal e Ênio Pinheiro. Só que não saí antes de encerrar a solenidade de posse. Quando acabou a solenidade fui direto pra lá e graças a Deus consegui acabar com a rebelião.
Zk – O senhor é famoso por obter sucesso com presos rebelados. Qual a técnica que o senhor utiliza nesses casos?
Cel. Ferro – Tem uma coisa importante nisso. Sempre falei que se me convidassem pra ser Secretário de Segurança ou Comandante da Polícia Militar do Amazonas, São Paulo ou Rio de Janeiro não aceitaria. Uma das principais virtudes que acho que tenho e sou agradecido a Deus, é você se fazer respeitado dando exemplo. A população carcerária me respeitava, porque eu os respeitava também, você não faz nada sozinho, por eu conhecer o Estado, conhecer a polícia Civil e Militar e os agentes Penitenciários tinha facilidade de escalar um time vitorioso. Atuei várias vezes como Comandante, por exemplo: Interventor do sistema em 1986. Em dezembro de 1988 quando aconteceu aquela grande fuga do pessoal que roubou o Banco do Brasil e em 2012 quando assumi como Secretário de Segurança Pública quando haviam matado aqueles 29 detentos. Em todas essas fases graças a Deus obtive sucesso.
Zk – Como o senhor considera nossa Polícia Militar?
Cel. Ferro – Hoje a Polícia Militar em virtude das ingerências políticas, não só em Rondônia, mas, em todo o Brasil caiu muito, a nossa não fica fora disso, Tenho um apreço muito forte pela rapaziada que está aí, eu ajudei a formá-los, tem umas pessoas que têm boa vontade, mas, só boa vontade não adianta. Tô tentando prevenir, avisar: Quem assumir o governo do Estado tem que trabalhar em cima das polícias Civil e Militar e do Sistema Penitenciário como Estadista, esquecer política, esquecer apaniguados. Esse setor se não for recuperado, vamos passar por situações piores que São Paulo e Rio de Janeiro. Não vamos esquecer que estamos na fronteira do Brasil com a Bolívia.
Zk – Em sua opinião o policial militar é bem remunerado?
Cel. Ferro – Não é. No País não se tem, a não ser os salários embutidos nas altas castas. Por isso que digo que o governador tem que ser estadista, um homem de visão, ele tem que dar um salário pelo menos digno ao policial militar. O policial militar arrisca a vida todos os dias pela segurança da população
Zk – O senhor falou que é de Guajará Mirim. Desde quando?
Cel. Ferro –Nasci em Guajará Mirim no dia 2 de maio de 1948 na rua Benjamin Constant inclusive a casa onde nasci ta lá até hoje.
Zk – O jogador de futebol quando nasceu e o apelido Paruá é por quê?

Cel. Ferro – Quando vim de Guajará com minha mãe e meus irmãos estava com 13 anos de idade, meu pai já tinha abandonado a família e fomos morar na rua Júlio de Castilho, ao lado da sede do Moto Clube que era um barracão de palha e comecei a gostar do clube, tinha festa e eu comecei a jogar no juvenil do Moto nos campos do Ypiranga, campo do Nacional (hoje Brigada), já tinha o Aluízio Ferreira e eu com alguns abnegados mais o nosso treinador é que levávamos as camisas. Tinha um time do Ypiranga que ninguém batia: Licurgo, Rui Andorinha, Dudu ninguém conseguia bater eles tô falando de time juvenil. Dali comecei a ter aquela paixão pelo Moto Clube.
Zk – E o Paroá?
Cel. Ferro – O pessoal naquela época dizia que eu era todo desengonçado, cambota, parecido com o macaco Paroá. Daí o apelido que atendo sem problema até hoje.
Zk – Foi campeão?
Cel. Ferro – Pelo Moto Clube fui campeão em 1967/68. Em 1969 fui embora fazer o curso para a Guarda Territorial lá em Goiânia e então parei de jogar futebol em clube. Antes joguei no Ferroviário, Flamengo. Do copão da Amazônia não tive a honra de ser campeão, fui vice jogando pelo Ferroviário.
Zk - Em sua opinião o que fez o futebol da capital Porto Velho cair tanto de produção?
Cel. Ferro – Se você fizer um paralelo, o futebol brasileiro vem de uma crise sem precedentes, times como Flamengo, Corinthians, São Paulo etc. tudo devem muito, os salários dos jogadores são astronômicos. Na minha visão bastante humilde, o futebol em Rondônia em especial em Porto Velho não podia ser profissionalizado naquela época. Hoje não se tem condições de sustentar um time no Rio ou em São Paulo imagina em Porto Velho. Eu não sei qual é a cor da camisa do Genus, Shalon e outros que surgiram. Naquele tempo, as torcidas lotava o Aluízio Ferreira.
Zk – É verdade que os times se concentravam em hotéis da cidade antes das partidas?
Cel. Ferro – É verdade, sexta feira a gente entrava no hotel Vitória e saia direto pro estádio, com um detalhe, a gente não era profissional.
Zk – E o que o clube fazia para manter vocês no elenco?
Cel. Ferro –A gente se contentava com um emprego que os dirigentes arranjavam, ou no governo ou no comércio. Era o seguinte: o patrão ou o chefe geralmente era torcedor do time e liberava a gente pra treinar e viajar.Eu trabalhava no armazém do Mourão e muitas vezes, ficava no porto do Cai N’água carregando cimento como estivador, até as quatro e meia, cinco horas, mas, depois estava treinando pelo Moto no campo em frente à granja do finado Mourão.
Zk – O senhor jogava em qual posição?
Cel. Ferro – Na defesa jogava em todas as posições, mas, a lateral direita era preferida. Até hoje bato uma bolinha. Os caras me ligam convidando pra bater bola e eu respondo: Aqui é o melhor lateral direito do estado.
Zk – O senhor escreveu um livro também?
Cel. Ferro – Escrevi uma biografia para contar sobre as grandes operações policiais que aconteceram no estado das quais eu participei. Você comandar como comandei invasão de Extrema e Nova Califórnia, quando as retomamos do Acre para o estado de Rondônia foi um marco na minha vida profissional. Levei naquela época 611 homens lá pra Ponta do Abunã.
Zk – Que ano aconteceu isso?
Cel. Ferro – Foi em maio de 1988 durante o governo do Jerônimo Santana. Acontece que o governo do estado do Acre tomou posse daquelas Vilas, dizendo que as terras pertenciam ao estado do Acre. O Jerônimo Santana quando soube da investida acreana convocou a PM e eu comandei a operação, que foi coberta de sucesso. Ali foi onde comprovei a capacidade organizacional da nossa PM. Hoje se você tirar 611 homens da capital vai viver um caos.
Zk – Houve confronto?
Cel. Ferro – Não! Mas, eles tinham lá a polícia de inteligência e a gente sabia disso, só que nós também tínhamos a nossa. Eu me deslocava todo dia de Extrema até a divisa com o Acre onde tinha um pelotão nosso e o nosso serviço de inteligência detectou, que estavam programando um acidente para mim. Acontece que eu viajava apenas com o motorista, depois disso, comecei a me precaver e passei a viajar com mais alguns policiais armados inclusive com metralhadora, felizmente conseguimos vencer a disputa e Extrema e Califórnia até hoje pertence ao estado de Rondônia.
Zk – Fala mais um pouco sobre a Guarda Territorial?
Cel. Ferro – Tenho muita saudade da GT porque morei no bairro Arigolândia. O nome do bairro é uma homenagem aos nordestinos chamados de Arigós, que vieram para formar a Guarda Territorial. Agregado ao quartel da antiga Guarda Territorial tinha dentista, armazém reembolsável que era um mini mercado onde tinha açougue e eu com meus irmãos, todos adolescentes, brincávamos no pátio. No dia que assumi o comando do Batalhão da PM que funcionava naquela área, me emocionei muito lembrando dos tempos de adolescência.
Zk – Para encerrar. Como foi a sua trajetória como policial militar?
Cel. Ferro – Ingressei como soldado, fiz curso para sargento e depois academia. No dia 13 de dezembro do ano passado 2013 a minha turma se reuniu em Florianópolis para comemorar os 40 anos da nossa formatura.
Zk – E aos comandados de hoje?


Cel. Ferro – Sou muito sincero!As nossas polícias não evoluíram. Hoje estamos passando um momento muito difícil, tanto na Polícia Civil como na Militar. Tem coisas aí que são ilusões: Alguém fica falando que temos influencia do Comando Vermelho. Não existe isso! Fiquei 8 anos da minha vida dentro do sistema penitenciário. Esse povo que fica assustando a população dizendo que o Comando Vermelho está agindo aqui, deve voltar a comer feijão com arroz, e deixar de arrotar caviar. Vamos deixar de ser fantasioso e colocar os pés no chão.

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