Mito
da Policia Militar de Rondônia
Quando falamos sobre a
Policia Militar de Rondônia e seus Comandantes o nome do Coronel Walnir Ferro
de Souza é sem sombra de dúvida, o primeiro que vem na lembrança. Pudera, ele
foi o primeiro e único filho de Rondônia até hoje, a assumir o Comanda da
Policia Militar. Respeitadíssimo entre os integrantes da PM inclusive por
oficiais, Ferro tem muita história pra contar e até pode se dizer, que é um
mito, quando se fala da PM. Certa vez assim que acabou de tomar posse como
Secretário de Segurança, a solenidade ainda não havia realmente acabado, quando
pediu licença ao governador e foi até ao complexo penitencia e acabou com uma
rebelião que estava acontecendo. “Os presos me respeitavam porque eu os
respeitava também”. Perguntado sobre o sistema penitenciário hoje, foi
enfático: “Esse pessoal da segurança precisa deixar de
comer sardinha e arrotar caviar. Os presos de Rondônia não sofrem essa
influencia que eles dizem,que é do Comando Vermelho e PCC, é preciso colocar os
pés no chão e acabar com essas invenções”.
Ferro quando entrou para a
corporação ainda era Guarda Territorial e sobre esse assunto, ele conta o
seguinte:
ENTREVISTA
Zk – No dia 11 de fevereiro
passado a Guarda Territorial de Rondônia embrião da nossa Policia Militar
completou 70 anos de criação. O senhor foi guarda territorial?
Cel. Ferro – Meu pai chegou
ao Território Federal do Guaporé hoje estado de Rondônia em 1943,vindo de
Fortaleza (CE), com vinte e poucos anos de idade e foi selecionado para ser
guarda territorial onde atuou até o fim de sua vida.
Zk – E o senhor?
Cel. Ferro – Eu entrei como
guarda territorial em fevereiro de 1969, depois fiz o concurso de seleção para
Sargento e a comissão que coordenou, elaborou e aplicou o teste contava com os
seguintes professores: Lourival Chagas, Abnael Machado de Lima e o professor
Augusto da Câmara Leme. Aprovado juntamente com mais dez companheiros, fomos
mandados para Goiânia onde ficamos um ano participando do curso e retornamos
para Porto Velho ainda Guarda Territorial.
Zk – Como Sargento da guarda
territorial o senhor especificamente passou a tirar serviço aonde?
Cel. Ferro – No palácio do
governo, atuávamos na rua e tirávamos serviço no quartel da guarda na rua Major
Amarante no bairro Arigolândia. A farda era caqui e o coturno era marrom.
Depois apareceu a seleção para a Academia e me inscrevi com mais uns
doze/quinze colegas de Porto Velho e Guajará Mirim aprovados, fomos fazer o
curso em Goiânia. Só que tive um problema com um oficial lá em Goiânia e fui
transferido para Florianópolis (SC) e sai Aspirante no dia 14 de dezembro de
1973,
Zk – Vamos voltar à guarda
territorial. Com certeza seu pai falava sobre as condições de trabalho dos
guardas no inicio do Território Federal inclusive segundo o Capitão Esron de
Menezes os guardas tiravam lenha e faziam outros trabalhos pesados. O Senhor
sabe sobre isso?
Cel. Ferro –Considero os
guardas que serviram naquele tempo como super-homens, eles trabalhavam na
estiva descarregando navio, carregavam cimento, faziam obras construindo
praças, ajudaram a construir o palácio Presidente Vargas, iam para a mata
cortar lenha que era utilizada na Usina de Energia Elétrica e ainda faziam o
policiamento da cidade. Eles descansavam carregando pedra com diz o ditado.
Zk – É verdade que o senhor
foi o primeiro oficial da Polícia Militar de Rondônia
Cel. Ferro – Na Polícia
Militar de Rondônia o primeiro oficial que se formou em Academia fui eu. Quando
nós voltamos da academia naquela época, o Ministério do Exército fez outra
seleção da qual participaram se não estou enganado, 35 oficiais que estavam
esperando para serem incluídos na nova Polícia Militar e desses 35 que
participaram da seleção só passaram nove (9). Era teste de psicotécnico
aplicado por uma equipe de psicólogos que veio de Minas Gerais, exame médico,
exame físico. O exame físico eliminou a maioria dos candidatos só ficaram nove
e entre estes estava eu que fui o único a se formar para atuar na Polícia
Militar de Rondônia os demais oito eram das Forças Armadas.
Zk – O senhor chegou a
assumir o Comando da PM?
Cel. Ferro – Sou o único
filho do estado de Rondônia, nasci em Guajará Mirim,que conseguiu ser
Comandante da Polícia Militar graças a Deus.
Zk – Tem uma história que
diz que no dia que o senhor estava tomando posse como Secretário de Segurança,
no meio da solenidade, pediu licença para se ausentar e foi acabar uma rebelião
no Urso Branco. É verdade?
Cel. Ferro –No dia que
assumi a Secretaria de Segurança em 2002, estava acontecendo uma rebelião no
Sistema Penitenciário que era Colônia Penal e Ênio Pinheiro. Só que não saí
antes de encerrar a solenidade de posse. Quando acabou a solenidade fui direto
pra lá e graças a Deus consegui acabar com a rebelião.
Zk – O senhor é famoso por
obter sucesso com presos rebelados. Qual a técnica que o senhor utiliza nesses
casos?
Cel. Ferro – Tem uma coisa
importante nisso. Sempre falei que se me convidassem pra ser Secretário de
Segurança ou Comandante da Polícia Militar do Amazonas, São Paulo ou Rio de
Janeiro não aceitaria. Uma das principais virtudes que acho que tenho e sou
agradecido a Deus, é você se fazer respeitado dando exemplo. A população
carcerária me respeitava, porque eu os respeitava também, você não faz nada
sozinho, por eu conhecer o Estado, conhecer a polícia Civil e Militar e os
agentes Penitenciários tinha facilidade de escalar um time vitorioso. Atuei
várias vezes como Comandante, por exemplo: Interventor do sistema em 1986. Em
dezembro de 1988 quando aconteceu aquela grande fuga do pessoal que roubou o
Banco do Brasil e em 2012 quando assumi como Secretário de Segurança Pública
quando haviam matado aqueles 29 detentos. Em todas essas fases graças a Deus
obtive sucesso.
Zk – Como o senhor considera
nossa Polícia Militar?
Cel. Ferro – Hoje a Polícia
Militar em virtude das ingerências políticas, não só em Rondônia, mas, em todo
o Brasil caiu muito, a nossa não fica fora disso, Tenho um apreço muito forte
pela rapaziada que está aí, eu ajudei a formá-los, tem umas pessoas que têm boa
vontade, mas, só boa vontade não adianta. Tô tentando prevenir, avisar: Quem
assumir o governo do Estado tem que trabalhar em cima das polícias Civil e
Militar e do Sistema Penitenciário como Estadista, esquecer política, esquecer
apaniguados. Esse setor se não for recuperado, vamos passar por situações
piores que São Paulo e Rio de Janeiro. Não vamos esquecer que estamos na
fronteira do Brasil com a Bolívia.
Zk – Em sua opinião o
policial militar é bem remunerado?
Cel. Ferro – Não é. No País
não se tem, a não ser os salários embutidos nas altas castas. Por isso que digo
que o governador tem que ser estadista, um homem de visão, ele tem que dar um
salário pelo menos digno ao policial militar. O policial militar arrisca a vida
todos os dias pela segurança da população
Zk – O senhor falou que é de
Guajará Mirim. Desde quando?
Cel. Ferro –Nasci em Guajará
Mirim no dia 2 de maio de 1948 na rua Benjamin Constant inclusive a casa onde
nasci ta lá até hoje.
Zk – O jogador de futebol
quando nasceu e o apelido Paruá é por quê?
Cel. Ferro – Quando vim de
Guajará com minha mãe e meus irmãos estava com 13 anos de idade, meu pai já
tinha abandonado a família e fomos morar na rua Júlio de Castilho, ao lado da
sede do Moto Clube que era um barracão de palha e comecei a gostar do clube,
tinha festa e eu comecei a jogar no juvenil do Moto nos campos do Ypiranga,
campo do Nacional (hoje Brigada), já tinha o Aluízio Ferreira e eu com alguns
abnegados mais o nosso treinador é que levávamos as camisas. Tinha um time do
Ypiranga que ninguém batia: Licurgo, Rui Andorinha, Dudu ninguém conseguia
bater eles tô falando de time juvenil. Dali comecei a ter aquela paixão pelo
Moto Clube.
Zk – E o Paroá?
Cel. Ferro – O pessoal
naquela época dizia que eu era todo desengonçado, cambota, parecido com o
macaco Paroá. Daí o apelido que atendo sem problema até hoje.
Zk – Foi campeão?
Cel. Ferro – Pelo Moto Clube
fui campeão em 1967/68. Em 1969 fui embora fazer o curso para a Guarda
Territorial lá em Goiânia e então parei de jogar futebol em clube. Antes joguei
no Ferroviário, Flamengo. Do copão da Amazônia não tive a honra de ser campeão,
fui vice jogando pelo Ferroviário.
Zk - Em sua opinião o que
fez o futebol da capital Porto Velho cair tanto de produção?
Cel. Ferro – Se você fizer
um paralelo, o futebol brasileiro vem de uma crise sem precedentes, times como
Flamengo, Corinthians, São Paulo etc. tudo devem muito, os salários dos
jogadores são astronômicos. Na minha visão bastante humilde, o futebol em
Rondônia em especial em Porto Velho não podia ser profissionalizado naquela
época. Hoje não se tem condições de sustentar um time no Rio ou em São Paulo
imagina em Porto Velho. Eu não sei qual é a cor da camisa do Genus, Shalon e
outros que surgiram. Naquele tempo, as torcidas lotava o Aluízio Ferreira.
Zk – É verdade que os times
se concentravam em hotéis da cidade antes das partidas?
Cel. Ferro – É verdade,
sexta feira a gente entrava no hotel Vitória e saia direto pro estádio, com um
detalhe, a gente não era profissional.
Zk – E o que o clube fazia
para manter vocês no elenco?
Cel. Ferro –A gente se
contentava com um emprego que os dirigentes arranjavam, ou no governo ou no
comércio. Era o seguinte: o patrão ou o chefe geralmente era torcedor do time e
liberava a gente pra treinar e viajar.Eu trabalhava no armazém do Mourão e
muitas vezes, ficava no porto do Cai N’água carregando cimento como estivador,
até as quatro e meia, cinco horas, mas, depois estava treinando pelo Moto no
campo em frente à granja do finado Mourão.
Zk – O senhor jogava em qual
posição?
Cel. Ferro – Na defesa
jogava em todas as posições, mas, a lateral direita era preferida. Até hoje
bato uma bolinha. Os caras me ligam convidando pra bater bola e eu respondo:
Aqui é o melhor lateral direito do estado.
Zk – O senhor escreveu um
livro também?
Cel. Ferro – Escrevi uma
biografia para contar sobre as grandes operações policiais que aconteceram no
estado das quais eu participei. Você comandar como comandei invasão de Extrema
e Nova Califórnia, quando as retomamos do Acre para o estado de Rondônia foi um
marco na minha vida profissional. Levei naquela época 611 homens lá pra Ponta
do Abunã.
Zk – Que ano aconteceu isso?
Cel. Ferro – Foi em maio de
1988 durante o governo do Jerônimo Santana. Acontece que o governo do estado do
Acre tomou posse daquelas Vilas, dizendo que as terras pertenciam ao estado do
Acre. O Jerônimo Santana quando soube da investida acreana convocou a PM e eu
comandei a operação, que foi coberta de sucesso. Ali foi onde comprovei a
capacidade organizacional da nossa PM. Hoje se você tirar 611 homens da capital
vai viver um caos.
Zk – Houve confronto?
Cel. Ferro – Não! Mas, eles
tinham lá a polícia de inteligência e a gente sabia disso, só que nós também
tínhamos a nossa. Eu me deslocava todo dia de Extrema até a divisa com o Acre
onde tinha um pelotão nosso e o nosso serviço de inteligência detectou, que
estavam programando um acidente para mim. Acontece que eu viajava apenas com o
motorista, depois disso, comecei a me precaver e passei a viajar com mais
alguns policiais armados inclusive com metralhadora, felizmente conseguimos
vencer a disputa e Extrema e Califórnia até hoje pertence ao estado de
Rondônia.
Zk – Fala mais um pouco
sobre a Guarda Territorial?
Cel. Ferro – Tenho muita
saudade da GT porque morei no bairro Arigolândia. O nome do bairro é uma
homenagem aos nordestinos chamados de Arigós, que vieram para formar a Guarda
Territorial. Agregado ao quartel da antiga Guarda Territorial tinha dentista,
armazém reembolsável que era um mini mercado onde tinha açougue e eu com meus
irmãos, todos adolescentes, brincávamos no pátio. No dia que assumi o comando
do Batalhão da PM que funcionava naquela área, me emocionei muito lembrando dos
tempos de adolescência.
Zk – Para encerrar. Como foi
a sua trajetória como policial militar?
Cel. Ferro – Ingressei como
soldado, fiz curso para sargento e depois academia. No dia 13 de dezembro do
ano passado 2013 a minha turma se reuniu em Florianópolis para comemorar os 40
anos da nossa formatura.
Zk – E aos comandados de
hoje?
Cel. Ferro – Sou muito
sincero!As nossas polícias não evoluíram. Hoje estamos passando um momento
muito difícil, tanto na Polícia Civil como na Militar. Tem coisas aí que são
ilusões: Alguém fica falando que temos influencia do Comando Vermelho. Não
existe isso! Fiquei 8 anos da minha vida dentro do sistema penitenciário. Esse
povo que fica assustando a população dizendo que o Comando Vermelho está agindo
aqui, deve voltar a comer feijão com arroz, e deixar de arrotar caviar. Vamos
deixar de ser fantasioso e colocar os pés no chão.
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