Bainha
– O Mestre dos sambistas de Rondônia – (II-II)
Eis a segunda parte da
entrevista com o Waldemir Pinheiro da Silva – Bainha que está completando neste
domingo (11), 75 anos de vida. Nesta parte Bainha fala da sua participação na
criação de grupos musicais e entidades carnavalescas, além de fazer questão de
registrar seu repúdio por não ter sido convidado a participar das comemorações
do centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré no ano passado. “Trouxeram até artista de fora, mas, me
deixaram de fora, isso dói”.
A história do Bainha é muito
bonita e não dá para ser contada em apenas duas edições da nossa coluna. O que
vocês estão acompanhando é a compactação da compactação de uma história, que
merece ser contada em um livro de muitas páginas. “Eu sou da Sete de Setembro, lá
do quilometro um, terra de gente bamba, de muita mulher, futebol e samba...”.
Parabéns ao grande compositor Bainha.
ENTREVISTA
Bainha – O Bossa Nova foi o
seguinte: Existia o conjunto Guará integrado pelo Paulo Santos, Manga Rosa,
Joaquim Carola, Paraguaçu e Pedro Otino, era uma turma das melhores e eles começaram
a se destacar através do programa de rádio do Fracasso e seu irmão Cláudio
Cunha apresentado na Rádio Difusora do Guaporé, mas, o Paulo Santos resolveu
dissolver o grupo porque a turma não era muito chegada a frequentar ensaios.
Zk – Aí surge o Conjunto
Bossa Nova?
Bainha – O Paulo Santos
gostava de tocar “Bossa Nova” que era o grande lance do momento, cheguei com
ele e o convidei a formar um grupo e ele respondeu, “tem que ser coisa séria,
se for pra fazer bandalheira igual o Guará não vou” e perguntou: “Quem é que
vai?” respondi: O Nego Leônidas e ele, “O Leônidas não vale nada é bagunceiro”.
O certo foi que o grupo foi criado com: Bainha, Cabeleira, Manga Rosa e
Ricardo. Com o passar do tempo eu disse, Paulo tá faltando mais instrumento e
ele então autorizou a entrada o Leônidas tocando afoxé. Presta atenção o
conjunto tocava Bossa Nova, mas, os instrumentos de percussão eram cubanos.
Conga que hoje a turma chama de atabaque, Afoxé e Bongô.
Zk – O Bossa Nova tocava
aonde?
Bainha – Principalmente em
aniversários dos categas e de instituições como o Banco da Borracha e nos
grande bailes do Bancrévea. Só depois é que fomos para a Varanda Tropical do
Porto Velho Hotel, aí foi o auge. A gente também tocava no Programa de
auditório da Rádio Caiari que era apresentado pelo Bianor Santos, aliás, foi
nesse programa que nos conhecemos, você era o sonoplasta, lembra disso? O
Conjunto parou porque o Paulo Santos e o Manga Rosa foram embora daqui, então
criei o “Samba 7”.
Zk – Aí já era um grupo de
samba?
Bainha – Do qual você fazia
parte. Depois criamos o “Samba Dez” para tocar no “Caiari Cobra Show”. A gente
também se apresentava no Programa do Osmar Vilhena primeiro na rádio Caiari e
depois na TV Rondônia. Antes disso a gente sempre estava no programa da TVE cujo
estúdio era numa sala do palácio do governo e tinha o Dílson Machado como
diretor.
Zk – Já como Samba Dez o que
você destacaria?
Bainha – A estréia do Samba
Dez não poderia ser melhor, fomos contratado para acompanhar o cantor Ciro
Aguiar nos shows de Porto Velho e Guajará Mirim. Fazia parte do Grupo além de
você no surdo, Careca no pandeiro, Jorge Andrade no violão, Osires Lobo no
tamborim, aliás, o Ozires junto com seu irmão João Lobo também foi grande
baluartes da Diplomatas do Samba assim como o grande Mário Jorge Alfaiate. No
grupo tinha também o Camarão, Júnior Johnson, Babá, Serginho e o Pedro Silva.
Zk – De quantas agremiações
carnavalescas você participou da fundação?
Bainha – Devo lembrar que
naquele tempo as escolas de samba e os blocos carnavalescos, desfilavam Domingo
e Terça Feira de carnaval, era um compromisso com a prefeitura. Respondendo a
sua pergunta: Além da Diplomatas, participamos da fundação das seguintes
agremiações: Bloco “Só Vai Quem Bebe’”.
Zk – Como funcionava o bloco
só vai quem bebe?
Bainha – Era os homens
vestido de mulher e as mulheres de homem. O detalhe era que as mulheres eram
todas prostitutas, afinal de contas, elas bancavam toda a bebida e a panelada
do bloco. Na realidade, a maioria dos sambistas que faziam parte da linha de
frente nas escolas de samba, em particular na Diplomatas, eram todos gigolôs,
viviam por conta das putas. O Bar Plaza
da Dejoca acontecia uma parada estratégica. Só que tinha que levar os
instrumentos para a minha casa e na maioria das vezes era um problema, porque
noventa e nove por cento dos brincantes estavam totalmente embriagados e só
subia comigo uns três a quatro folião. Você era o único da Caiari que fazia
parte desse bloco que só desfilava na segunda feira de carnaval.
Zk – Outra agremiações?
Bainha – Bloco do Bode,
Mistura Fina, Zé Atraca (que originou a coluna do Zekatraca). Aí vieram as
escolas de samba do Km-1, Unidos da Nova Porto Velho e Castanheira.
Zk – Tem uma historinha
sobre o bloco do Bode?
Bainha – De todos esses
blocos um dos cabeça era o Manelão e a gente se reunia no bar do Cassimiro, de
onde todo domingo quando chegava o carnaval, a gente colocava um bloco de sujo
na avenida. Num desses domingos alguém roubou a calcinha de uma jovem da
vizinhança, melou de mercúrio para dizer que a jovem estava de “bode”
(menstruada) e colocaram como “Estandarte”. Um empregado do Bar Antônio Chulé
se prontificou a ser o Porta Estandarte, acontece que a mãe da jovem descobriu
que aquela calcinha era da filha dela e junto com a jovem baixou o “cacete” no
rapaz que estava com o estandarte, foi muita peia, mas o bloco saiu.
Zk – Como foi que surgiu a
escola de samba Mocidade Independente do KM-1?
Bainha – Você em meados de
1973 me levou para a escola de samba Pobres do Caiari onde fizemos em parceria
o samba “Odoiá Bahia”, enredo do carnaval de 1974 que é sucesso até hoje. Não
sei por que, a Dona Marize após o desfile daquele ano, anunciou que a Caiari
iria parar, me chamou e me deu todos os instrumentos da bateria. O carnaval de
1975 ia chegando e certo dia, no Bar do Cassimiro encontrei você e o convidei
para criar uma escola de samba, pois já tinha o principal que era os
instrumentos da bateria, você aceitou e convidamos o Deusdete Careca para fazer
parte da escola e então surgiu a “Mocidade Independente do KM-1".
Zk – Que foi representar
Rondônia em Brasília. Como foi essa história?
Bainha – Naquele tempo todo
mês, um estado ou território era convidado para participar da troca da bandeira
nacional na Praça dos Três Poderes em Brasília e em fevereiro de 1975, Rondônia
foi convidado. O governador Marques Henrique então chamou a dona Marize para
coordenar o show que seria das escolas de samba Pobres do Caiari e Diplomatas,
como a Caiari já não existia, Dona Marize convocou a nossa escola KM-1 que
estava ensaiando, só que teríamos que nos apresentar em Brasília com o nome de
Pobres do Caiari e assim foi feito. Foi um show elogiado por tudo quanto era
jornal e televisão de Brasília. O samba cantado em ritmo de samba enredo pelo
Jorge Andrade foi a composição do saudoso Walter Bártolo “Brasil Desconhecido”.
Como o retorno de Brasília aconteceu uma semana antes dos desfiles das escolas
de samba em Porto Velho, nossa escola em seu primeiro desfile, se apresentou de
azul e branco em consequência da apresentação com o nome da Pobres do Caiari em
Brasília.
Zk – Quanto tempo durou a
KM-1?
Bainha – Foram seis anos.
Todos os sambas enredos da Mocidade do KM- 1 são de autoria de Bainha e Silvio
Santos: O Último São João de Castro Alves (75), Mocidade no Reino dos Orixás
(76), Saudade Eterna – Praça Jonathas Pedrosa (77), Réquiem ao Compositor –
Homenagem ao Neguinho Menezes (78) a escola foi campeã. Depois vieram, Mundo
Encantado da Criança (79) e Nossa História (1980).
Zk – Vamos começar a
encerrar nosso bate papo. Você já foi enredo de escola de samba?
Bainha – Em 2004 a
Diplomatas me homenageou, o interessante foi que o pessoal do Asfaltão que é da
minha família, fiz a ala “Amigos da Portela” e deu mais de 50 integrantes de
azul na Diplomatas.
Zk – Hoje você faz parte da
ala de compositores do Asfaltão. Quantos sambas você e seus parceiros já
colocaram na avenida pela escola do Tigre?
Bainha – O primeiro foi o
samba que levou a escola de volta para o Grupo Especial, é nosso também o samba
sobre o bairro Santa Bárbara e o do enredo sobre as Mascaras com o qual a
escola foi campeã em 2012.
Zk – Agora para encerrar.
Onde vai ser a festa dos 75 anos de idade?
Bainha – Meus filhos optaram
por fazer no dia 17. Deixa eu desabafar: Temos um trabalho aqui, que poucas
cidades do Brasil e do mundo têm, trabalho cultural, carnavalesco eu digo isso
pra muita gente, graças a você o povo de hoje sabe que nós existimos. Em Porto
Velho e no estado não existe um órgão oficial, uma autoridade que se interesse
pela nossa cultura. Vem um cara que a gente não sabe de onde é se candidata e o
povo de Porto Velho vota nele. Como é que vamos ser lembrado se o cara não sabe
se existimos. Digo uma coisa, teve o centenário da Estrada de Ferro Madeira
Mamoré, o Bubu se não me engano, foi o coordenador da programação musical,
trouxeram gente de outros estados e juntaram com os artistas daqui e não
tiveram a coragem de me convidar para a festa, eu que tenho um bocado de
músicas que fala da Estrade de Ferro, isso dói e o Bubu é filho daqui.
Zk – E ficou por isso mesmo?
Bainha – Depois da festa do
centenário fui cantar na Fina Flor do Samba do Ernesto Melo e desabafei sobre a
minha não convocação para cantar na programação do centenário. Fiquei muito feliz
ao cantar a música que é da parceira Bainha e Silvio Santos ”Nossa História” e
todo mundo cantou junto o refrão que diz: “Olha a Maria fumaça, Maria fumaça pra lá e
pra cá. Olha a Maria fumaça de Porto Velho a Guajará”.
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