sábado, 10 de agosto de 2013

BAINHA - O MESTRE DOS SAMBISTAS DE RONDONIA

 BAINHA /Foto Ana Célia
Ele completa neste domingo (11), 75 anos de idade! Considerado omestre dos mestres entre os sambistas de Rondônia. Estou falando de Waldemir Pinheiro da Silva mais conhecido como Bainha.
Esse cara tem tanta história pra contar, que resolvemos dividir a entrevista em duas partes. A primeira vocês conhecerão hoje e a segunda amanhã. Bainha foi um dos fundadores da escola de Samba Os Diplomatas uma das agremiações carnavalescas mais antigas da Amazônia. Foi também um dos fundadores dos blocos “Só Vai Quem Bebe” “Bloco do Bode”, “Zé Atraca”, das escolas de samba, Mocidade Independente do KM-1, Unidos da Castanheira, Unidos da Nova Porto Velho entre outras agremiações. Dos melhores compositores de samba enredo e outros ritmos, Bainha se diz injustiçado por até hoje, não ter sido lembrado pelas autoridades culturais do nosso estado e capital. “Até aquela dançarina do Tchan a Carla Perez recebeu a Medalha do Mérito Rondon num ato de total desrespeito para com o patrimônio cultural do nosso estado”.

A vontade do Bainha era festejar seus 75 anos de idade, com um grande show, “Porém as autoridades da cultura disseram que apresentei o Projeto muito tarde e por isso não tinham como me ajudar, assim ficou difícil. Se Deus quiser, ainda este ano vou realizar esse sonho”.
Conforme dissemos no inicio, hoje estamos publicando a primeira parte da história do Bainha - O Mestre dos Mestre do Samba de Porto Velho.

E N T R E V I S T A


Zk – Mestre fala pra gente como é chegar nessa idade e continuar participando ativamente das rodas de samba e disputando com compositores jovens, nos concursos de samba enredo das nossas escolas de samba?
Bainha – A gente não sabia que ia chegar a essa idade, o negócio foi muito árduo, passamos por muitos momentos difíceis, assim como contabilizamos momentos de muito felicidade. Graças a Deus estou aqui hoje, completando 75 anos e por coincidência dia dos pais.
BAINHA / Foto Ana CéliaZk – Você nasceu no Forte Príncipe da Beira, certo! Veio para Porto Velho com quantos anos?
Bainha – Com um ano de idade. Nasci na enfermaria do Forte Príncipe da Beira, cheguei aqui em 1939, foi o tempo que meu pai deu baixa do exército e viemos morar de vez aqui em Porto Velho. No Forte nascemos dois, Eu e a Tetê que é esposa do Chafon.
Zk – Quer dizer que seu pai já tinha morado em Porto Velho?
Bainha – Exato, inclusive ele tinha tomado posse de um terreno que até hoje fica na 7 de Setembro, em frente à bifurcação com a Nações Unidas. Esse terreno ele conquistou em 1923, subindo pela mata no sentido Rio Madeira/Mercadinho do KM-1 e demarcou o terreno. Ele vinha do seringal já casado com minha mãe dona MariaRodrigues da Silva a Marieta e já tinha uma filha a Natércia. No terreno ele construiu um “Rabo de Jacu” e deixou um Arigó (nordestino retirante) tomando conta, toda vez que vinha à cidade trazia rancho para o então caseiro. Quando viemos de vez do Forte Príncipe fomos morar lá.
Zk – Você sabe dizer como ele conheceu dona Marieta?
Bainha – Meu pai era de Humaitá e veio parar em Terra Caída, Santa Júlia no baixo Madeira onde conheceu minha mãe. A mãe dele era escrava fugitiva e veio parar na Amazônia em 1896.
Zk – Desde quando você milita na noite como músico e boêmio?
Bainha – Isso começa em 1948, vendo meu irmão Alípio tocando violão, ele era Cabo do Exército na Segunda Cia Rodoviária que funcionava onde hoje é a Brigada. O Alípio era boêmio mesmo e naturalmente,me chamava para acompanhá-lo daí conheci alguns colegas como Zé Padeiro e o Antônio de Matos, a gente fazia aqueles blocos de sujo na Joaquim Nabuco, Paulo Leal, Sete de Setembro, tudo escondido dos nossos pais. A gente descia a avenida mascarado, tocando lata com pedra dentro. Foi assim que aconteceu o negócio da música dentro de mim e está até hoje. Lembro que um sanfoneiro (não lembro o nome dele), que segundo me informaram ainda está vivo trabalhando na Linha Triunfo, me convidava pra tocar pandeiro e surdo em suas apresentações no Pimpão Bar que ficava na 7 de Setembro nas proximidades da Marechal Deodoro onde funcionava uma casa de boemia, com uma estância (apartamentos) onde moravam muitas mulheres solteiras.
Zk – E a Vila Confusão?
Bainha – Eu subia pela Vila Confusão para passar pro outro lado.
Zk – Que outro lado?
Bainha – Na sub esquina da Campos Sales tinha uma subida, e ali tinha um pé de seringueira (isso até o final dos anos de 1950), subia pra ver a boemia na Vila Confusão e lá encontrava meu irmão Alípio.
Zk – Vamos localizar a Vila Confusão para os mais jovens?
Bainha – Descendo a Sete de Setembro quando se chegava a Campo Sales uns 20 30 metros, depois a gente subia. Acontece que aquele trecho da avenida 7 de Setembro era muito alto, quase da altura do Hospital São José (hoje Hospital da Astir). A Vila ficava justamente onde hoje está a Galeria Lacerda, em frente era o Areal da cidade e depois foi à casa do seu Flodoaldo e da mineração dele. Bom, pelo lado da Gonsalves Dias fizeram uma pracinha era o final da Vila Confusão.
Zk – Por que Vila Confusão?
Bainha – Porque tinha muito confusão. Era briga noite e dia, mas, briga na mão, nada de arma. As brigas eram provocadas principalmente por disputa de mulher. Acontece que na Vila não morava mulher era só homem solteiro e os boêmio pegavam as mulheres solteiras no Mocambo e levavam pra lá, após algumas rodadas de cachaça, a disputa começava e o pau quebrava, mas, era briga feia.
 BAINHA /Foto Ana Célia
Zk – Lembra alguns boêmios da Vila Confusão?
Bainha – O Antônio do Violão apesar de morar no Mocambo era frequentador assíduo da Vila, Capote um dos melhores violonistas que já passaram por aqui, além do Alípio meu irmão, pra completar, quando terminada a Vila Confusão era a casa do seu Piedade um músico saxofonista respeitadíssimo que era da Guarda Territorial que também se juntava aos boêmios da Vila.
Zk – Um dos frequentadores assíduo da Vila foi o Bola Sete o criador da primeira escola de samba de Porto Velho?
Bainha – É verdade na parte de frequentar a Vila Confusão, mas a primeira escola de samba quem criou foi o Tário de Almeida Café a “Prova de Fogo”, depois foi que o Bola cria a Deixa Falar.
Zk – Prova de Fogo não foi o primeiro nome da Diplomatas?
Bainha – Vamos explicar: A Prova de Fogo foi criada em meados dos anos de 1940 pelo Tário de Almeida Café e um Tenente da 3ª Cia de Fronteira. Foi assim, o Café conheceu um Tenente que era Comandante da 3ª Cia e os dois eram cearense e lá no Ceará eles tinha o Bloco Prova de Fogo, ao se encontrarem em Porto Velho, para lembrar os velhos tempos de Ceará, criaram a escola de samba “Prova de Fogo”, se não me engano esse bloco só desfilou num carnaval. Quando dei por conta o Bola Sete já botava a escola de samba “Deixa Falar” que saia da Almirante Barroso em frente ao Cemitério dos Inocentes. Fui puxador de corda na escola de samba do Bola. Depois veio a escola de samba “O Triângulo Não Morreu” a verdadeira, que saia do Morro do Triangulo. O carnavalesco Periquito depois fundou um bloco infantil e em homenagem a escola colocou o nome de Triangulo Não Morreu.
Zk – É verdade que no inicio só brincava homem nas escolas de samba de Porto Velho?
Bainha – Só homem, não tinha uma mulher pra fazer remédio. Tanto no Bloco Prova de Fogo, como as escolas de samba Deixa Falar e Triangulo Não Morreu só brincava homem e ainda tinha a corda de isolamento.
Zk – E a escola de samba Os Diplomatas?
Bainha – Foi assim: Eu e o Cabeleira juntamente com o Valério e o Ricardo resolvemos colocar uma escola de samba na avenida no carnaval de 1959 e então no mês de novembro de 1958 criamos a escola de samba. Tivemos a idéia de convidar o Tário de Almeida Café por ele ser funcionário de destaque da prefeitura, para presidir a nova agremiação carnavalesca e ele impôs; “Só aceito dirigir e bancar a escola de samba de vocês, se o nome for “Prova de Fogo”, como ele era o dono do dinheiro nós aceitamos. Com esse nome a escola desfilou apenas no carnaval de 1959.
Zk – Em 1960 o nome foi trocado?
Bainha – Resolvemos então colocar o nome de Escola de Samba Diplomatas do Samba, no ano seguinte, o Bizigudo chegou de Belém e sugeriu o nome de Universidade e assim ficou, Escola de Samba Universidade Diplomatas do Samba. Em 1964 sugeri e foi aceito a mudança do nome para Escola de Samba Os Diplomatas que permanece até hoje.
Zk – Você lembra como foi o primeiro desfile da Escola Diplomatas ainda com o nome de Prova de Fogo
Bainha – Lembro que o Café conseguiu com o seu Abel proprietário do Bar Santo Antônio umas camisetas do vermute Martini e nós desfilamos de calça branca e camiseta da Martini. Foram apenas 18 brincantes entre batuqueiros, passistas, sambista e porta estandarte. Era só homem dentro da corda de isolamento e o Porta Estandarte foi o Chico Bolão na frente do palanque oficial, o Ricardo tomou o Estandarte do Chicão e fez a apresentação, isso porque o Ricardo era exímio dançador de samba.
Zk – Quem você considera como baluarte na escola de samba Os Diplomatas da sua época?
Bainha – Bola Sete, Severino (porteiro), seu Motinha, a diretoria do Danúbio Azul Bailante Clube, Neire Azevedo (grande carnavalesca), dona Juraci, Nego Leônidas que jamais vestiu vermelho, esse foi o verdadeiro baluarte, pra ele só tinha duas coisas, ou você era Diplomatas ou então não existia. Também o Roosevelt Maturim, Cardoso pai e filho, Cabeleira grande Mestre Sala, Bizigudo, Ivonete, Nair minha irmã e é claro, dona Marieta minha mãe que costurava de graça para a escola.
Zk – É verdade que o Leônidas não vestia vermelho?
Bainha – De jeito nenhum! As vezes a gente se reunia para dizer a ele que ele desfilaria de paletó vermelho e ele vinha pra cima da gente como se fosse fera: “Não visto vermelho e se vocês insistirem não vou desfilar”, perguntávamos qual o motivo e ele respondia: “De vermelho vou ficar parecido com o cão com o satanás”. Ele desfilava de prateado ou branco de vermelho nunca.
Zk – Agora vamos falar sobre o Conjunto Bossa Nova.
Essa resposta os amigos leitores vão esperar até a edição de amanhã domingo (11), quando continuaremos essa entrevista com o Bainha...

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