O interessante na história
do jornalista Afonso Locks, correspondente do Diário da Amazônia no Cone Sul, é
a parte de como ele veio parar em Rondônia. Muitos dos que para cá vieram no
tempo do Eldorado, tinham como objetivo recomeçar a vida conseguindo junto ao INCRA
uma Data (terreno), para cultivo de lavoura ou então para conseguir emprego no
governo do estado recém criado. No caso do nosso entrevistado a coisa aconteceu
muito diferente: “Ao ver o nome Ariquemes
na rodoviária de Cascavel achei bonito e como tinha 17 dias para assumir o
cargo de escrivão no fórum de Curitiba, pensando que Ariquemes ficava perto,
comprei passagem na Eucatur e quando dei por mim, estava em Rondônia sem
dinheiro para voltar pro Paraná”. Afonso por 16 anos atuou como Frade
Capuchino no Paraná e ao deixar a vida religiosa, passou no concurso para escrivão
do fórum de Curitiba e então aconteceu o episódio narrado acima e veio parar em
Rondônia onde passou a exercer a função de jornalista, primeiro como assessor
de vários prefeitos, correspondente da revista Visão. Criou e é editor do
jornal “Correio de Noticias” e atualmente é o correspondente do Diário da
Amazônia no Cone sul de Rondônia. Acompanhe as histórias do Afonso Locks.
ENTREVISTA
Zk – Há quanto tempo você
milita na imprensa?
Afonso Locks – Praticamente
há vinte sete anos. Comecei na década de oitenta, inclusive duas vezes
funcionário do jornal Diário da Amazônia. A primeira durante sete anos quando
saí e fui para a Folha de Rondônia onde fiquei por 13 anos e agora de novo
estamos aqui no Diário como correspondente no Cone Sul de Rondônia.
Zk – Você veio pra cá de
onde?
Afonso Locks – Vim do estado
do Paraná em 1983 e logo em seguida trabalhei um período no governo estadual na
época do Teixeirão, depois acabei pedindo demissão coisa que não consegui, pois
o governo não aceitou me demitir e então me demiti por conta própria.
Zk – Por que o governo não
aceitou seu pedido de demissão?
Afonso Locks – Recordo que
na época era muito difícil sair do governo, era fácil de entrar. Morava em
Vilhena e então vim à Porto Velho pedir demissão e não aceitaram, aí achei um
carimbo da Ilza Caculakis e carimbei minha carteira de trabalho dando baixa e
eu mesmo assinei e retornei a Vilhena. Ainda depositaram na minha conta seis
salários. Peguei o dinheiro e fiz um depósito na justiça em nome do governo
estadual.
Zk – Em qual órgão do
governo você prestava serviço?
Afonso Locks – Era lotado na
prefeitura de Vilhena no gabinete do prefeito Élcio Carlos Rossi que
era o vice-prefeito do Vitório Abraão que havia sido cassado. Minha função como
assessor parlamentar, era elaborar os Projetos do executivo que eram
encaminhados à câmara de vereadores.
Zk – E a imprensa?
Afonso Locks – Na assessoria
parlamentar observei que tínhamos pouco acesso à imprensa do sul do país, uma
das poucas publicações que a gente tinha disponível era a revista Visão e então
comecei a mandar alguns artigos pra lá sobre Rondônia e eles gostaram e então
me chamaram para fazer algumas matérias especiais sobre a região Norte.
Zk – Sempre em Vilhena?
Afonso Locks – Trabalhei na
prefeitura de Ji Paraná por quatro anos assessorando o prefeito Geraldo Jotão.
Depois voltei para Vilhena como assessor do prefeito Ademar Alfredo Suckel e logo depois surgiu o Diário da Amazônia
e fui convidado a ingressar em seus quadros.
Zk – Nesse período você
chegou a sofrer retaliações de algumas autoridades e entidades?
Afonso Locks – O ex-prefeito
Melki Donadon me fez responder 47 processos simultâneos, eu não podia tossir
que ele me processava. Reconheço que algumas ações tinham fundamento, pois eu
era um tanto irresponsável na parte da imprensa.
Zk – Por falar nisso, a
imprensa em Vilhena é bem ativa, inclusive com circulação de vários jornais
impressos. Como você analisa essa atuação jornalística no Cone Sul?
Afonso Locks – Acho que
depois da capital Vilhena é a cidade que mais abriga veículos de comunicação.
Sempre considero Vilhena uma cidade diferente em Rondônia. Não é bairrismo, mas,
em minha opinião Vilhena é a Suíça da Amazônia, por exemplo: Quando a
prefeitura vai asfaltar uma rua o proprietário do terreno se apressa em fazer a
calçada, embelezar a frente de sua casa.
Zk – Vamos voltar à história
do Vitório Abrão. Contam que algumas ações praticadas por ele são consideradas
pitorescas. Você pode narrar algumas?
Afonso Locks – Pra inicio de
conversa, Vitório é um grande coração, sou suspeito de falar porque sou
padrinho de casamento dele. Bom! Na época, as coisas fluíam mais a vontade e o
Vitório naquela empolgação de fazer as coisas, atropelou a legislação,
atropelou tudo e deu no que deu e acabou cassado.
Zk – E a história de que ele
pintou as casas de cupim de branco para conseguir financiamento junto ao banco.
É verdade?
Afonso Locks – É claro que
existe muito folclore encima disso e ele até leva na esportiva também. A
história foi o seguinte: Ele tinha uma fazenda que hoje pertence ao grupo Independência.
Dizem que ele pretendia um financiamento do Banco do Brasil e o Banco precisava
de uma garantia. Então ele pintou os cupins de branco e colocou o
superintendente do Banco do Brasil em um avião, sobrevoou a fazenda mostrando
ao funcionário do Banco seu rebanho (casa de cupim) de gado que do alto
realmente impressionou o superintendente do BB.
Zk – Tem outras histórias do
Vitório Abraão não tem?
Afonso Locks – Tem uma que
ele deu como garantia uma safra de arroz. Ele fez um lastro de palha de arroz,
um armazém cheio de palha de arroz, na frente ele colocou de fato o arroz verdadeiro
e o fiscal ao ver tamanha quantidade de arroz estocado, liberou o
financiamento. Tudo isso é folclore.
Zk – Como é fazer e manter
um jornal no interior?
Afonso Locks – É muito
difícil fazer um jornal no interior, tenho o Correio de Noticias um jornal
semanal com editoria própria e é muito complicado você sobreviver disso. O
jornal Correio de Noticias nasceu exatamente através de uma parceria com a
Associação Comercial, a intensão era manter uma editoria sem depender do poder
público, infelizmente, hoje isso é impossível, pelo menos trinta por cento você
tem que ter do poder público se não fecha as portas. Mesmo assim é possível
fazer um jornal sem se corromper.
Procuramos fazer um jornal colocando as coisas positivas do município de
Vilhena.
Zk – Exemplo?
Afonso Locks – Vilhena nos
últimos dez anos, saltoude 20 Milhões de Dólares por mês de exportações, para
300 Milhões, levando em conta a Carne e o Grão isso é fantástico. Também temos
que destacar a produção do município de Cerejeiras que está se transformando
num Eldorado, você chega em Cerejeiras hoje, tem 100 Km de soja a direita e 100
Km de soja a esquerda. As lavouras ultrapassam os municípios de Cerejeiras,
Corumbiara e já chegam a Chupinguaia.
Zk – Você faz a cobertura do
Cone Sul todo para o Diário da Amazônia?
Afonso Locks – Semanalmente
percorro os sete municípios do Cone Sul: Cerejeiras, Colorado, Cabixi,
Corumbiara, Pimenteiras e Chupinguaia além de Vilhena é claro. Hoje com exceção
de Pimenteiras todos os municípios são interligados por estradas asfaltadas.
Zk – Culturalmente falando,
Vilhena produz muito?
Afonso Locks – É uma dos
munícios de Rondônia que mais promove eventos culturais através da Secretaria
de Cultura e Esporte e a Academia Vilhenense de Letras.
Zk – Vilhena inclusive, já teve
político como governador de Rondônia?
Afonso Locks – Foi o Ângelo
Angelim inclusive tem um fato interessante. Esses dias quase apanhei dentro de
um supermercado em Vilhena.
Zk – Qual o motivo?
Afonso Locks – Joguei um ovo
podre nele. O Angelim era governador em 1985 e eu era administrador do ginásio
Gerivaldão de Ji Paraná, naquele ano aconteceu o 5º JIR Jogos Intermunicipais
de Rondônia. Na época,o salário dos funcionários estavaatrasado e quando o
Angelim entrou no ginásio para participar da abertura do JIR a primeira coisa
que fiz, foi jogar um ovo podre nele. Esses dias encontrei com ele no Supermercado
Pato Branco em Vilhena e falei sobre o episódio. Ele é uma pessoa fantástica,
continua contribuindo com o progresso de Vilhena.
Zk – E no Paraná você já
trabalhava na área de comunicação?
Afonso Locks – Não, no
Paraná é outra história. Fiquei 16 anos em colégio de padre, eu era Frade Capuchinho
em Curitiba e quando sai vim pra Rondônia.
Zk – Na condição de cronista
e editorialista como você ver a atual situação dos nossos poderes, legislativo,
executivo e judiciário?
Afonso Locks – A imagem que
passa para o resto do país é ruim demais. Acho que cada um deve criar sua
independência e atuar na sua área. Infelizmente no estado de Rondônia está se
trocando poderes. Uma disputa ferrenha entre quem manda mais. Isso é ruim pra
todo mundo, inclusive a gente ouve comentários no interior de empresários que
gostariam de investir em Rondônia e que em virtude das notícias vinculadas nos
meios de comunicação desistem.
Zk – Vamos começar a
encerrar esse bate papo. Familia?
Afonso Locks – Sou casado,
meus filhos todos formados, dois advogados, um técnico na Ematere minha esposa
Neli é funcionária da Receita Federal.
Zk – Agora para encerrar. Você
veio fazer o que em Rondônia?
Afonso Locks – Cheguei aqui
no final de 1982 inicio de 83. É uma história fantástica.
Zk – Por que?
Afonso Locks – Depois que
deixei a vida religiosa, fiz concurso e passei para Escrivão no Fórum de
Curitiba e quando faltavam 17 dias para assumir a função... Acontece que
morávamos numa cidade medianeira e seria necessário conseguir um lugar pra
morar em Curitiba, ao passar na rodoviária de Cascavel achei bonito o nome
Ariquemes e então fui ao guichê da Eucatur perguntei ao funcionário, quanto era
a passagem e ele me disse que era 27 Mil não lembro qual era o dinheiro da
época, então disse, como ainda faltam 17 dias para me apresentar, vou lá. Me dá
uma passagem. Anoitecia, amanhecia e nada de Ariquemes chegar, para encurtar a
conversa,saí de Cascavel numa segunda feira 10 horas da manhã e cheguei a
Ariquemes sábado três horas da tarde e não tinha dinheiro pra voltar.
Zk – E aí?
Afonso Locks – Fiquei em
Rondônia, me peguei com Deus e a sorte foi que a noite fui a missa e tinha um
Arraial no pátio da igreja e o governador Jorge Teixeira estava lá. Na missa
encontrei um amigo meu que era frade franciscano na cidade Pato Branco e que
havia sido meu professor. Aqui era vice reitor da UNIR e estava como secretário
de educação de Ariquemese ele me encaminhou, trabalhei um período com o
prefeito Gentil Valério, peguei um bocado de malária, aí o Jotão que era
presidente da recém criada Associação dos Prefeitos e numa dessas reuniões de
prefeitos, fiz uma apresentação, o Jotão gostou e me levou para a prefeitura de
Ji Paraná, onde nasceu minha filha Fabiana que é advogada aqui em Porto Velho e
ela teve um problema provocado pelo calor e o médico sugeriu que a gente
mudasse pra Vilhena.
Zk – Você além do jornalismo
tem outra renda?
Afonso Locks – Não! Vivo 24
horas por conta do jornalismo. Se você acessar o face quatro e meia da manhã,
vai me encontrar e só saio do ar após as dez horas da noite. Sou jornalista por
convicção e paixão.
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