Por Fabiane Pereira, do Rio
Foto
de Andreas Wolochow/Shutterstock
Em junho, ante a disparada no número de casos de
Covid-19 e a necessidade de isolar socialmente a população, já se especulava
que as duas maiores festas populares do Brasil, carnaval e réveillon, seriam
suspensas. Em outubro, o que era especulação tornou-se certeza. A pandemia
levou as prefeituras das maiores capitais do país a cancelarem suas
tradicionais festas populares de fim de ano e adiarem a folia. Novos cálculos
da Confederação Nacional do Comércio preveem um tombo de R$ 8 bilhões na
injeção de dinheiro na economia, montante gerado por essas datas em 2020. Só em
distribuição de valores de execução pública pelas canções usadas nas
festividades nos quatro estados campeões de arrecadação nesses segmentos (Rio
de Janeiro, São Paulo, Bahia e Pernambuco), o Ecad calcula prejuízo de pelo
menos R$ 20,9 milhões, que corresponde à cifra deste ano.
Já a queda geral, somados todos os segmentos de
arrecadação, segundo o escritório que gere os direitos autorais de execução
pública, foi de R$ 183 milhões só de março a setembro. Em volume de
arrecadação, comparando-se com o ano anterior, a maior queda na arrecadação é
no segmento de shows (música ao vivo): R$ 57,9 milhões. No entanto, em termos
percentuais, o cancelamento das festas juninas em todo país apresentou a maior
queda (93,1%) na arrecadação.
Uma das últimas entre as grandes capitais a tomar
uma decisão firme sobre as festas, a prefeitura do Rio de Janeiro finalmente
admitiu que, “com relação ao réveillon, esse modelo tradicional que conhecemos
e que praticamos na cidade há anos, assim como o carnaval, não é viável neste
cenário de pandemia, sem a existência de uma vacina”. Justificativas
semelhantes foram dadas pelas administrações municipais de outras metrópoles.
Como a probabilidade de uma imunização da população até dia 31 de dezembro é
quase nula, o evento presencial foi anulado de Norte a Sul do Brasil.
Mais ou menos otimistas, prefeitos de todo o país
estabelecem datas aleatórias para as celebrações, embora não haja qualquer
garantia de que o panorama será favorável. O alcaide de São Paulo, Bruno Covas,
por exemplo, adiou o carnaval na cidade para o final de maio ou o começo de
junho de 2021
Já no Rio de Janeiro, a Liga Independente das
Escolas de Samba (Liesa), que determinou a suspensão de qualquer atividade nos
barracões, não trabalha ainda com uma nova data. Para Jorge
Castanheira, presidente da Liesa, qualquer definição vai depender de uma
eventual campanha de vacinação. "Em função de toda essa insegurança, de
não saber se em fevereiro vamos ter ou não a vacina, chegamos à conclusão de
que esse processo tem que ser adiado. As escolas já não terão tempo nem
condições financeiras e de organização de viabilizar os desfiles até
fevereiro", disse, em coletiva de imprensa realizada no último dia 24 de
setembro.
O celebrado carnavalesco Leandro Vieira
(responsável pelos desfiles da Mangueira, no Grupo Especial carioca, e do
Império Serrano, no Grupo de Acesso) acredita que essa indefinição impede o
planejamento do trabalho. À UBC, ele se queixa do impacto financeiro sobre o
elemento mais frágil da cadeia produtiva: o trabalhador de barracão.
"Como folião, espero apenas que ele exista.
Dois mil e vinte é uma ano para ser esquecido."
Leandro
Vieira, carnavalesco da Mangueira e do Império Serrano
“Sem o planejamento, os trabalhadores que dependem da festa ficam mergulhados na incerteza do retorno da receita financeira que garante o sustento. Estamos em outubro, e nada foi definido. Até o momento, somamos cinco meses de desemprego em diferentes áreas da produção carnavalesca. Não vejo perspectiva que aponte para uma resolução por parte da Liesa antes da eleição municipal (de novembro). O ano de 2020 chegará ao fim com a suspensão do trabalho nos barracões, e o impacto será sentido sobretudo na mesa daquele que é mão de obra na cadeia produtiva do carnaval”, explica.
Sobre uma
possível superação de um trauma coletivo como o de um prolongado isolamento
social, Leandro é categórico. “Não vejo o carioca traumatizado com
absolutamente nada. O próximo carnaval será como aquele que passou. Talvez,
demore um pouco mais a chegar. Isso talvez aumente a saudade dos dias de folia.
Como folião, espero apenas que ele exista. Dois mil e vinte é uma ano para ser
esquecido”, sentencia.
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