Por Claudio Sassaki
Em
essência, a atuação dos docentes sempre envolveu uma entrega descomunal.
Entretanto, essa constatação ficou escancarada para a sociedade brasileira,
sobretudo para os pais e responsáveis, durante a pandemia. O exercício
profissional, diante da necessidade de aulas remotas, tornou-se uma verdadeira
maratona de superação e amor pela educação. Para se ter uma ideia, um
levantamento que questionou o quanto os docentes estavam preparados para usar,
no ensino, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) mostrou que, no
Brasil, somente 64,2% se sentiam confortáveis com a temática. Ou seja, a cada
três professores, um teve que superar muitas barreiras para continuar
ministrando aulas. Aliás, antes da covid-19, muitos deles já defendiam que o
desenvolvimento profissional de alta qualidade era uma prioridade.
Com
convicção, digo que essa conduta dos professores não me surpreendeu, porque eu
sempre soube da dedicação que envolve a decisão de se tornar um educador no
Brasil. Quer uma evidência disso? A Pesquisa
Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) – conduzida
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – aponta
que, no país, entre as principais motivações para ingressar na profissão de
docente estão a possibilidade de contribuir com a sociedade (97,2%); a chance
de influenciar o desenvolvimento de jovens e crianças (95,4%); e pelo fato de a
atividade permitir ao profissional beneficiar as pessoas menos favorecidas
socialmente (93,7%). Na prática, aqui reside a resposta para essa dedicação tão
intensa e firme. Os professores – ao lado dos profissionais da saúde – são
alguns dos protagonistas do momento que vivemos. Uma inspiração que ultrapassa
as palavras que eu possa usar.
Diante
das histórias de superação que ouvimos sobre os professores – alguns decidiram
caminhar quilômetros para levar as atividades para os alunos sem internet;
outros, tiveram que conciliar a vida profissional e a dinâmica familiar em um
mesmo ambiente; e houve os que abriram diálogo com os pais e responsáveis para
juntos encontrarem a melhor alternativa educacional para o momento – confesso
que a solidariedade entre os docentes foi algo que me comoveu, especialmente. A
pesquisa da OCDE mostrou que 39% deles utilizaram sugestões de conteúdo ou
dinâmicas dadas por outros professores; 38% pesquisaram temas na internet. Ou
seja, a troca entre eles foi muito grande; um amparo e empatia entre pares. Em
uma perspectiva mais contemporânea e com olhar na ancestralidade, eles
mostraram que é preciso uma aldeia para educar uma criança; se apoiaram neste
trabalho colaborativo e nos conteúdos produzidos por eles e para eles na
internet para não deixar essa missão fracassar.
Mas,
claro, o período não envolve apenas superação; engloba outras preocupações,
sobretudo o equilíbrio emocional dos professores. Desde 2018, um levantamento
conduzido pela Nova Escola já mostrava a importância de ficarmos atentos à
saúde mental do educador, ou seja, em um contexto anterior à pandemia, o estudo
apontava um alto estresse envolvido na atividade: 63% relataram dores de cabeça
constante e 68% sofriam de ansiedade. Hoje, diante do novo e do inesperado, é
percebido que se intensificou a tensão. O risco de voltar às aulas presenciais
em um contexto sem vacina também é uma grande preocupação. Vejo que, como
sociedade, estamos todos aprendendo juntos. Entretanto, é fato que alguns de
nós estão se doando e sofrendo um impacto muito maior.
No
livro Antifrágil - Coisas
que se beneficiam com o caos – best-seller do The New York
Times, escrito por Nassim Nicholas Taleb – há um conceito que ilustra muito bem
esse momento que vivenciamos. O antifrágil está para além do que é resiliente e
robusto; o resiliente resiste a impactos e permanece o mesmo. O antifrágil fica
melhor, porque enfrenta choques e cresce com eles, ou seja, melhora diante de
uma situação inesperada. Enxergo os educadores brasileiros, sendo pautados por
essa conduta.
Por
isso, a eles, a minha admiração e o agradecimento!
Claudio
Sassaki é mestre em Educação pela Stanford University e cofundador da Geekie.
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