quarta-feira, 17 de outubro de 2018

LIVRO - História do Carnaval em Porto Velho Escola O Triângulo Não Morreu


Marise Castiel proíbe os ensaios

A escola fazia sucesso e seus dirigentes eram considerados pelos moradores do Morro do Triângulo, porém, em um determinado ano, a escola de samba quase deixa de existir. “Acontece que o pessoal do morro fazia o carnaval no pátio da escola Franklin Delano Roosevelt que até hoje tá lá no morro. Aí a dona Marise Castiel que era Diretora de Educação expulsou a gente de lá, um dos caras que interferiu muito também se chamava Coronel Cesário que era o chefe de polícia. Foi então que o Doca Marinho construiu a puxada ao lado da taberna dele e nós passamos a ensaiar a escola de samba lá. Quando não, os ensaios aconteciam no quintal da nossa casa, no quintal da casa do Miguel, quintal do Zé Marreca e no quintal da casa do seu Zé que é pai do João que teve uma lanchonete na Casa da Cultura era a mãe do João a dona Herotildes que era minha madrinha de fogueira, quem fazia o Leite de Tigre dos ensaios” conta Zé Cardoso.
Chore conta que em determinado ano, a namorada do Paulo Machado que passou a integrar a recém-fundada “Diplomatas do Samba” espalhou na cidade, que a escola do Triângulo não iria desfilar e então Paulo Machado compôs o samba “Lamento” cuja letra diz o seguinte: “Lamento pelo que ouço dizer/Lamento se a minha escola não sair/Eu vou chorar se a minha escola não desfilar/Falaram que o Morro ia se acabar/Falaram que o Morro do Triângulo ia mudar/Foi grande o lamento dos filhos seus/Não mudou, não mudou/O Triângulo reviveu.
Os instrumentos da escola eram confeccionados pelo meu pai e o Jia que eram carpinteiros. A confecção era na Divisão de Obras do Governo Territorial que ficava na rua D. Pedro II em frente à Casa do Dr. Ary Pinheiro. Na realidade, eles faziam apenas as caixas onde depois a gente pregava o couro de cobra. Depois passamos a utilizar couro de carneiro. Nos ensinaram que para se tirar o pelo do couro do carneiro tinha que colocar na cal por algum tempo e depois de curtido, a gente dava uma lixada e tava pronto para pregar nas caixinhas, lembra Zé Cardoso.

Fatos pitorescos do Triângulo


A escola de samba “O Triângulo Não Morreu” tinha características próprias, como, ser uma das únicas no Brasil a se apresentar com instrumentos de sopro. “É pura verdade, saia o Manga Rosa no Trombone de Vara, João Miguel e Mourão no Sax, finado Moreira que era do Colégio D. Bosco na Corneta, tinha o outro Mourãozinho que tocava Clarineta, Carlos Sinfonte no Piston o finado Duca era o tocador de tarol dessa turma”, informa Cardoso. O interessante era que a maioria desses músicos não morava no Triângulo. “Acontece que a gente fazia uns ensaios aos sábados e domingos, porém, antes de começar o ensaio propriamente dito, a turma degustava uma baita ‘Panelada’ feita pelo velho Cardoso, pelo Doca Marinho, dona Júlia mulher do Doca e pela dona Carmem mulher do Miguel e esses músicos iam pra lá curtir a Panelada e beber as suas.
Outro fato pitoresco da escola, era que o seu Cardoso, tinha três tubos de ferro com um furo que ele chamava de ronqueira. O velho botava um na cabeça do Morro, um em frente da casa dele e a terceira uns cem metros adiante da casa, quando a escola ia sair as ronqueiras estouravam, os estopins tinham tamanhos, de uma forma, que quando a escola ia descendo, as ronqueiras estouravam anunciando que a escola estava descendo o Morro. “A gente vinha sambando pelo meio dos trilhos da ferrovia”.
Quem trouxe a ideia de colocar a famosa “Corda de Isolamento” foi Osmar que tinha passado um carnaval em Belém e por lá, viu que os blocos usavam uma corda para isolar os brincantes do povo da rua e quando chegou aqui implantou o sistema da corda de isolamento na escola do Triângulo. Era um cabo com aproximadamente duas polegadas, a emenda era feita com arame. “Naquele tempo, como não tinha esse negócio de juizado de menores, entrava muito menino no meio da escola de samba, então a corda servia para impedir a invasão da garotada também, mesmo assim não tinha jeito. O desfile era na Presidente Dutra e não tinha asfalto era no paralelepípedo. Um cara que ajudou muito a escola foi o Jacinto Pimentel”.
A escola de samba “O Triângulo Não Morreu”, desfilou pela última vez no carnaval de 1960.

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