Marise
Castiel proíbe os ensaios
A
escola fazia sucesso e seus dirigentes eram considerados pelos
moradores do Morro do Triângulo, porém, em um determinado ano, a
escola de samba quase deixa de existir. “Acontece que o pessoal do
morro fazia o carnaval no pátio da escola Franklin Delano Roosevelt
que até hoje tá lá no morro. Aí a dona Marise
Castiel que era Diretora de Educação expulsou a gente de lá, um
dos caras que interferiu muito também se chamava Coronel Cesário
que era o chefe de polícia. Foi então que o Doca Marinho construiu
a puxada ao lado da taberna dele e nós passamos a ensaiar a escola
de samba lá. Quando não, os ensaios aconteciam no quintal da nossa
casa, no quintal da casa do Miguel, quintal do Zé Marreca e no
quintal da casa do seu Zé que é pai do João que teve uma
lanchonete na Casa da Cultura era a mãe do João a dona Herotildes
que era minha madrinha de fogueira, quem fazia o Leite de Tigre dos
ensaios” conta Zé Cardoso.
Chore
conta que em determinado ano, a namorada do Paulo Machado que passou
a integrar a recém-fundada “Diplomatas do Samba” espalhou na
cidade, que a escola do Triângulo não iria desfilar e então Paulo
Machado compôs o samba “Lamento” cuja letra diz o seguinte:
“Lamento pelo que ouço dizer/Lamento se a minha escola não
sair/Eu vou chorar se a minha escola não desfilar/Falaram que o
Morro ia se acabar/Falaram que o Morro do Triângulo ia mudar/Foi
grande o lamento dos filhos seus/Não mudou, não mudou/O Triângulo
reviveu.
Os
instrumentos da escola eram confeccionados pelo meu pai e o Jia que
eram carpinteiros. A confecção era na Divisão de Obras do Governo
Territorial que ficava na rua D. Pedro II em frente à Casa do Dr.
Ary Pinheiro. Na realidade, eles faziam apenas as caixas onde depois
a gente pregava o couro de cobra. Depois passamos a utilizar couro de
carneiro. Nos ensinaram que para se tirar o pelo do couro do carneiro
tinha que colocar na cal por algum tempo e depois de curtido, a gente
dava uma lixada e tava pronto para pregar nas caixinhas, lembra Zé
Cardoso.
Fatos
pitorescos do Triângulo
A
escola de samba “O Triângulo Não Morreu” tinha características
próprias, como, ser uma das únicas no Brasil a se apresentar com
instrumentos de sopro. “É pura verdade, saia o Manga Rosa no
Trombone de Vara, João Miguel e Mourão no Sax, finado Moreira que
era do Colégio D. Bosco na Corneta, tinha o outro Mourãozinho que
tocava Clarineta, Carlos Sinfonte no Piston o finado Duca era o
tocador de tarol dessa turma”, informa Cardoso. O
interessante era que a maioria desses músicos não morava no
Triângulo. “Acontece que a gente fazia uns ensaios aos sábados e
domingos, porém, antes de começar o ensaio propriamente dito, a
turma degustava uma baita ‘Panelada’ feita pelo velho Cardoso,
pelo Doca Marinho, dona Júlia mulher do Doca e pela dona Carmem
mulher do Miguel e esses músicos iam pra lá curtir a Panelada e
beber as suas.
Outro
fato pitoresco da escola, era que o seu Cardoso, tinha três tubos de
ferro com um furo que ele chamava de ronqueira. O velho botava um na
cabeça do Morro, um em frente da casa dele e a terceira uns cem
metros adiante da casa, quando a escola ia sair as ronqueiras
estouravam, os estopins tinham tamanhos, de uma forma, que quando a
escola ia descendo, as ronqueiras estouravam anunciando que a escola
estava descendo o Morro. “A gente vinha sambando pelo meio
dos trilhos da ferrovia”.
Quem
trouxe a ideia de colocar a famosa “Corda de Isolamento” foi
Osmar que tinha passado um carnaval em Belém e por lá, viu que os
blocos usavam uma corda para isolar os brincantes do povo da rua e
quando chegou aqui implantou o sistema da corda de isolamento na
escola do Triângulo. Era um cabo com aproximadamente duas polegadas,
a emenda era feita com arame. “Naquele tempo, como não tinha
esse negócio de juizado de menores, entrava muito menino no meio da
escola de samba, então a corda servia para impedir a invasão da
garotada também, mesmo assim não tinha jeito. O desfile era na
Presidente Dutra e não tinha asfalto era no paralelepípedo. Um cara
que ajudou muito a escola foi o Jacinto Pimentel”.
A
escola de samba “O Triângulo Não Morreu”, desfilou pela última
vez no carnaval de 1960.
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