Escola
de samba O
Triângulo Não Morreu – Adulto
Silvério do Carmo o Chore conta a história da escola |
A
escola do Morro do Triângulo desfilou entre os anos de 1953 e 1960.
O
movimento carnavalesco quando nos referimos a desfile de escola de
samba, começa em Porto Velho no ano de 1946 com a escola “Deixa
Falar”, comandada pelo Bola Sete. Essa escola reinou sozinha como
escola de samba até o carnaval de 1953.
Segundo
o músico aposentado pela Banda de Música da Guarda do Território
Federal do Guaporé/Rondônia, Silvério do Carmo popularmente
conhecido como Chore, além das declarações do advogado José
Cardoso filho de um dos fundadores da escola. O Triângulo Não
Morreu foi fundada no ano de 1952 e desfilou pela primeira vez no
carnaval de 1953. “O verdadeiro fundador, o número UM, foi o
saudoso tipógrafo do Alto Madeira Paulo Machado, tinha também o
José Cardoso, Miguel, Moacir e o Jia que era da cuíca (ronca,
ronca), Beca e o Moraes que tocava o Clarin” lembra Chore.
Na
versão do advogado José Cardoso Neto os fundadores da escola são
além do Paulo Machado, “Miguel que era guarda da Estrada de Ferro
Madeira Mamoré, que foi quem convidou o velho José Cardoso, Antônio
da Mangueira que morava na cabeça do morro, o Zé Marreca pai do
artista plástico Nonato Cavalcante (falecido), o Osmar que era um
construtor que morava no morro e o Cabo Fumaça Amo do Boi Bumbá
Fortaleza.
Quem
também deu muita força foi o Doca Marinho, o policial Zeno, e mais
alguns que não me recordo no momento”. Cardoso lembra que o Jia
foi quem inventou a primeira cuíca lá no morro, era feita de couro
de cobra, “enfim, era dose pra leão fazer a cuíca, meu pai José
Cardoso também era cuiqueiro”.
Armando Holanda (Periquito) criou o bloco Triangulo |
A
escola de samba ‘O Triângulo Não Morreu’ tem como mérito, ser
a primeira escola de samba de Porto Velho a aceitar mulheres em seu
quadro de brincantes. Assim, a esposa do sertanista Francisco
Meirelles dona Abgail que morava no “pé do morro”, oferecia aos
brincantes, o famoso “Leite de Tigre” uma batida muito gostosa
preparada com a mistura de álcool e leite condensado. “Além da
Abgail outras mulheres participavam Dona Guiomar que era minha mãe,
dona Carmem mulher do Miguel, dona Nega cunhada do Miguel, dona
Nazaré que a gente chamava de Nazaré Macumbeira que era baiana”
recorda Zé Cardoso.
Foi
também a escola de samba do Morro do Triângulo a primeira a colocar
na avenida as figuras da Porta Estandarte e Porta Bandeira. “Minha
irmã Ivonete foi a primeira Porta Estandarte e a Rosinha filha da
dona Petronila foi a Porta Bandeira da escola”.
Chore
lembra: “Como morava em frente à sede da escola eu participava.
Meu pai era integrante da batucada, ele tocava o triângulo
(instrumento). Tinha o famoso SURDO TREME TERRA que era tocado
pelo Miguel e pelo meu irmão Humberto” conta.
Por
falar em surdo Treme Terra, podemos dizer, que esse tipo de
instrumento foi inventado pelo Miguel. O TREME TERRA do Miguel era
feito de BARRICA e também era coberto de couro de cobra. Aliás,
todos os instrumentos da batucada da escola, eram coberto com couro
de cobra. Surdo, tarol, tamborim e cuíca. “Naquele tempo o couro
era pregado na borda de um quadrado de madeira e por isso tinha que
ser esquentado de vez em quando, para não perder a afinação”
lembra Cardoso. Em consequência do ritual do esquenta tambor,
existia na escola, a figura do “CARREGADOR DE JORNAL”.
Essa pessoa em determinado momento do desfile, saia da Corda de
Isolamento, tocava fogo nos jornais e alguns batuqueiros esquentavam
seus tambores. “Não podia ser todos os batuqueiros para o desfile
não parar”.
O
primeiro samba
Os
ensaios da escola de samba começavam no mês de outubro, porém,
durante o ano todo, Miguel e seus companheiros, se reuniam aos finais
de semana, geralmente aos dias de sábado, para comer “Panelada”
(iguaria preparada com mocotó e as vísceras do boi ou da vaca) e
tocar samba. Durante essas paneladas os sambistas da escola
costumavam cantar sambas com letra de sua autoria, mas, utilizando
músicas de sambas do Rio de Janeiro.
“O
primeiro samba da escola nasceu assim: Sentou meu pai, eu muito
abelhudo do lado, (naquele tempo eu tinha 13 anos), Miguel, Doca,
Valdemar, Agostinho e o Black que era quem dava o tom no banjo. Aí
nasceu o plágio de uma música que parece que era da escola de samba
Mangueira do Rio de Janeiro.
Isso
por que disseram que a escola não ia sair mais, que tinha morrido e
coisa e tal, porque só tinha cachaceiro, aquele negócio todo. Então
eles cantaram assim: “Quem foi que disse que eu
não brinco mais/Hoje o Triângulo já virou cartaz/Fala escola de
samba lá do morro/... É
mais ou menos por aí, não me lembro da letra toda não. Sei que no
fim eles diziam que a escola não tinha saído no ano anterior,
porque os sambistas estavam de férias. O samba finalizava assim:
...”Que os sambistas dessa escola/Estavam de férias
também".
Silvério
lembra de um samba que foi feito pelo sambista Agostinho. Cuja letra
exaltava o palácio Presidente Vargas e outros prédios do centro da
cidade: “Salve o nosso grande palácio rosado/Que nunca se
quebrou/Ele é o prédio primeiro/Que fica na praça Getúlio
Vargas/Porto Velho Hotel/Que não quer ficar pra trás/Vai dando
sempre suas festas de cartaz/Tem o Tribunal de Justiça...”
Marise
Castiel proíbe os ensaios
A
escola fazia sucesso e seus dirigentes eram considerados pelos
moradores do Morro do Triângulo, porém, em um determinado ano, a
escola de samba quase deixa de existir. “Acontece que o pessoal do
morro fazia o carnaval no pátio da escola Franklin Delano Roosevelt
que até hoje tá lá no morro. Aí a dona Marise Castiel que era
Diretora de Educação expulsou a gente de lá”. (Continua na
próxima quinta feira)
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