A escritora, pesquisadora e poeta Nilza Menezes apresentou no
último final de semana no Espaço Tapiri do grupo O Imaginário de Porto Velho/RO,
seu mais recente trabalho em literário “A Arma da Mulher é a Língua”. Com
direção e dramaturgia de Chicão Santos os poemas foram apresentados ao público
presente.
A jornalista especializada em cultura e Mestra em Letras Simone
Norberto escreveu a seguinte crônica sobre o espetáculo:
A arte é arma
por Simone Norberto (*)
Resenha
crítica sobre o espetáculo "A Arma da Mulher é Língua", do grupo
"O Imaginário", baseado na obra poética de mesmo nome da escritora
Nilza Menezes.
Na sala pouca iluminação. Somente o suficiente para destacar as
cinco atrizes que interpretam o espetáculo. Elas entram entoando murmúrios,
como se lamentando sua condição de mulheres oprimidas por uma cultura machista,
que as obriga a papéis nada igualitários.
Em seguida, posicionam-se em nichos próprios, e vão cavando na
terra, reminiscências femininas. A areia no chão da espaço, é concepção que
remonta ao tema. A terra é mulher, é mãe, elemento que representa a origem,
onde se cultiva e de onde se obtém a colheita.
Nesse ambiente quase uterino, as sementes fecundadas são os
poemas de Nilza Menezes, autora da obra "A Arma da Mulher é a
língua", cujo encenação poética é produzida com sensibilidade pelo grupo
"O Imaginário".
O espetáculo, como no livro, faz uma arqueologia da condição
feminina na sociedade. Por meio dos versos de Nilza, as atrizes dão voz às
várias mulheres, em diferentes situações. Enfrentam seus traumas, medos, suas
insatisfações e suas angústias. Encaram suas conquistas e impõem sua força.
Com poucos objetos, como espelhos, baús, taças de vinho,
bacias d´água e lenços, elas vão construindo um cotidiano que perpassam
toda uma vida. Da
infância à maturidade. Do nascimento à morte. Movimentos
corporais, entonações e gestos cênicos, ajudam a compor as diversas Nilzas,
Amanaras, Bárbaras, Flávias, Magnas ou Vitórias que surgem do debruçar sobre o
poema.
Do trabalho entre objeto e intérprete vê-se o resultado em suor,
lágrimas e sangue. Sangue, que metaforicamente sai dos poemas e se materializa
em groselha em cenas impactantes de identificação e entrega.
A dramaturgia sonora assinada pelo músico Bira Lourenço, traz
com sutileza os sons da casa. O tilintar das louças e o ranger da escova
remontam o ambiente que a estrutura social quer dar a mulher, mas o estralar do
chicote espelha a língua ferina que quer protestar contra essa posição
subalterna. A tensão se instala a partir do som.
O público sente esse incômodo.
Desde que chega ao espaço é incitado a se tornar parte desse cenário, pois não
há lugares para se sentar. A maioria, por comodidade ou receio de invadir o
espaço de encenação, acaba se encostando nas paredes laterais, mas a concepção cênica
de Chicão Santos dá margem à circulação entres as atrizes.
Talvez pelo impacto, ou mesmo uma necessidade de se trabalhar um
pouco mais a interação, isso acaba não acontecendo, nada que tire o brilho ou
força do resultado final.
Como bem definiu a própria poeta, é muito interessante perceber
as diferentes leituras de um mesmo poema. "Temos a sensação de que são
criações autônomas, que não dependem do autor para que aconteçam". No caso
do espetáculo, os poemas ganham voz, vigor, vida e nos dizem que é preciso usar
a arte como arma contra o preconceito, contra o desigualdade, contra todos os
tipos de violações e violência.
(*) A autora é jornalista
especializada em cobertura cultural. É mestre em letras pela Universidade
Federal de Rondônia
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