sábado, 16 de janeiro de 2016

ENTREVISTA - Sicilia Andrade

Siça – A Filha da Banda do Vai Quem Quer


Vai Siça, vai Siça você é a rainha do nosso carnaval”.  Trecho da letra da marchinha composta pelo Bainha, Oscar e Zé Baixinho em homenagem a presidente da Banda Sicilia Andrade – Siça. Sexta feira 15, durante chuva torrencial que caiu sobre Porto Velho a tarde, sentamos na sede da Banda do Vai Quem Quer com a presidente Siça e começamos a especular sobre como foi assumir a direção da Banda, num momento de muito sofrimento e ainda por cima com menos de uma semana para o bloco desfilar, naquele fatídico fevereiro de 2011. “Não foi fácil, ainda na segunda feira pela manhã com meu pai na UTI nos reunimos no Chaveiro com os fornecedores e fechamos o pacote para o desfile. Logo que terminou a reunião o telefone tocou avisando que ela havia acabado de falecer”  Essa e tantas outras histórias vividas pela Siça à frente da Banda você acompanha na entrevista que segue:

ENTREVISTA

Zk – Essa história de filha da Banda é verdade?
Siça – Diz a lenda que é confirmada pela minha mãe, que eu fui feita no primeiro ano da Banda. Realmente nasci em novembro e se você contar de fevereiro a novembro são nove meses. Minha mãe conta que foi no dia da Banda que eles ficaram juntos e nove meses depois eu nasci. Então literalmente sou filha da Banda do Vai Quem Quer. Minha mãe chama-se Terezinha Valcê de Andrade conhecida como Valcê e meu Pai Manelão.

Zk – Como foi que você ficou sabendo que era filha do Manelão?
Siça – Eu tinha aproximadamente 7  anos de idade e um dia minha madrinha me levou até o Chaveiro Gold que funcionava na Galeria do Ferroviário e ela simplesmente disse esse aqui é o seu pai apontando pro Manelão. No momento que ele me abraçou e eu sentei em seu colo percebi que realmente ele era o meu pai.

Zk – Qual o motivo que levou sua mãe a não querer que você tivesse contato com seu pai?
Siça – Ela sempre falou que ele era contra o meu nascimento, quer dizer, ele não concordava com aquela gestação, inclusive tentou convencê-la a abortar e ela não concordou e disse que iria ter a criança sozinha. Desde a gestação até meus sete anos de idade ele sempre me ignorou. Inclusive dizia que eu não era filha dele, até o dia que ele me conheceu. Por isso ela não permitia que eu tivesse contato com ele.

Zk – E daí pra frente como ficou o relacionamento de vocês?
Siça – Foi um relacionamento de pai e filha com amor. Passamos a ficar juntos todos os finais de semana. Todos os sábado eu ia pra loja (Chaveiro) e ele só ia me deixar em casa a noite. Com 12 anos passei a ir diariamente pela manhã. O certo  foi que passamos a ter uma amizade que nunca tive com minha mãe a ponto de tudo que acontecia comigo eu contava pra ele, meu primeiro namorado, meu primeiro beijo, meu primeiro tudo era com ele que eu compartilhava era uma amizade muito bonita, até eu falar que ia me casar.

Zk – Por que até você falar que ia se casar?
Siça – Aos 17 anos conheci o meu marido o Tanaka (falecido) pai do meu filho e aos 18 me casei. Meu pai foi totalmente contra, ao ponto da gente ficar sem se falar por uns dois anos. Ele não ia com a cara do Tanaka de jeito nenhum. Ele ficou muito magoado porque na época eu já morava sozinha, fui morar sozinha quando estava com16 anos e ele tinha a idéia da gente morar junto, inclusive a casa onde moro até hoje, ele comprou pra gente morar junto e quando me casei ele ficou com tanta raiva de mim que ficou sem falar comigo.
Zk – E as pazes?
Siça – Quando engravidei do meu filho João voltamos a nos falar. Fui ao Chaveiro informar que ele ia ser avô e acho que aquilo tocou o coração dele e fez com que a gente voltasse a se falar. O papai era uma pessoa bem ignorante, mentiroso, todo mundo sabia que ele era grosso, porém ao mesmo tempo, era muito emotivo, chorava com muita facilidade. Quando o João nasceu ele foi a Maternidade levou flores, levou um presente pro João acho que era um sapatinho e quando ele viu o João na incubadora começou a chorar.


Zk – Quantos anos você tinha quando desfilou na Banda pela primeira vez?
Siça – Acontece que ele não me deixava ir pro desfile, eu ficava no Chaveiro, trancada com alguém de segurança. Só quando completei 15 anos foi que ele me deixou participar do desfile. Ele resguardava muito a família. Dificilmente você via o Manelão com a família. Ele era muito de amigos, aliás, a família dele eram os amigos.

Zk – Quando foi que ele chegou com você e disse: Você vai ser minha substitua na direção da Banda?
Siça – Foi em 2009, eu não sabia, ele me chamou para almoçar lá no Ferroviário. Pra falar a verdade eu já tinha almoçado, mas, fui. No almoço estavam praticamente todos os fundadores da Banda como você, Emilzinho, Narciso, Paulo Queiroz enfim, todos, inclusive esse encontro foi gravado, a gente tem esse vídeo. Naquele almoço sem me comunicar nada, sem me preparar, na frente de todo mundo ele falou, que naquele momento estava passando a Banda pro meu comando e colocou aquele chapéu característico dele na minha cabeça e chorando, pediu que eu jamais deixasse a Banda Morrer. Coincidentemente no ano seguinte foi o último desfile dele.
Zk – Você sabia que ele estava sofrendo com algum problema de saúde?
Siça – Só vim saber uma quarta feira antes de ele morrer, inclusive no dia que eu estava com ele no hospital, ele ligou pra você que estava no Rio de Janeiro, encomendando material de decoração para o lançamento das Camisas da Banda. Fiquei sabendo que ele estava tão ruim de saúde naquele dia.

Zk – Como foi assumir o comando da Banda assim tão de repente?
Siça – Desde 2006 passei a tomar conta da parte burocrática documental e financeira da Banda era eu que fazia. Nos bastidores quem cuidava dos contratos com os fornecedores de bebidas, segurança, trio elétrico e providenciava os requerimentos para a liberação do bloco perante os órgãos competentes era eu. Acho que meu pai sabia que ele ia morrer cedo, porque foi muita coincidência: um ano dele morrer passou a Banda pra mim, naquele ano.

Zk – O que aconteceu?
Siça – Quando a gente foi fazer a arte das camisas na residência do Gonzalez, insisti por inúmeras vezes que o tema fosse sobre a Maria Fumaça que estava (como está até hoje), abandonada, jogada ao relento e tinha vinda uma verba alta para sua recuperação e esse dinheiro sumiu e ele insistiu que não que ele queria falar sobre mulher porque era o primeiro ano da Dilma como presidente. Coincidentemente ele veio a falecer e uma mulher assumiu a Banda também. A marchinha tema que foi feita pelo Tatá falava sobre uma mulher comandando a Banda: “Banda passa de Mulher Salto Alto e Batom”.

Zk – Fala da luta que é colocar a Banda?
Siça - Em 2011 a gente já colocou a Banda sem a presença dele, então já estamos no quinto ano à frente do bloco. Embora já tivesse por trás comandando a parte burocrática da Banda o impacto maior a maior dificuldade que resolvia era ele. Quando assumi esse impacto passou para minha responsabilidade. No primeiro ano que levamos a Banda sem ele, não sei nem te dizer o que sentia. Na realidade o que eu sentia era uma dormência dos pés à cabeça, não tinha noção de tanta dor de tanto sofrimento com a morte dele. Eu sempre digo, pra mim, ele morreu no sábado embora a morte tenha sido anunciada na segunda feira dia 28 de fevereiro. O enterro foi na terça e no sábado seguinte colocamos a Banda na rua.

Zk – Como foi os últimos momentos de vocês?
Siça – Passamos a tarde de sábado 26, no restaurante do Ceará festejando o aniversário da Yalle, ele fez questão de patrocinar a festa de aniversário dela e então juntou muitos dos amigos e nós ficamos até momentos antes dele ir pra casa dele que ficava perto do restaurante na maior alegria. Parecia que ele sabia que aquele seria o último momento com a gente, ele estava muito animado, apesar de já não beber em virtude de problemas com a saúde. Foi um sábado maravilhoso para todos nós, isso durante o dia porque a noite começou o suplício. Ele enfartou foi pra UTI do João Paulo e daí todos sabem o que aconteceu.

Zk – Faltava exatamente uma semana para a Banda sair. Estava tudo pronto?
Siça – Não no domingo estava combinado que eu o pegaria em sua casa as oito horas da manhã e iríamos decidir qual o trio elétrico seria o “Carro Mãe” aquele que a Banda da Banda vai em cima. Quando foi na segunda feira de manhã com ele ainda na UTI e você também participou da reunião que realizamos com a presença dos donos dos trios, chefe de segurança, todas as pessoas que prestavam serviço pra gente, mais o Tatá que era o presidente da Funcultural e fechamos o pacote de contratos, você inclusive indicou qual o trio era o melhor pra ser o carro mãe, fechamos a segurança com o Jean, Nilson da Criativa e o Gutembergue dos trios. Quando ficou tudo definido que a Banda estava pronta para desfilar e a gente levantou da mesa de reunião eu recebi a ligação do Hospital João Paulo dizendo que ele havia falecido. Acho que ele estava esperando a certeza que a Banda ia sair para ele poder partir em paz.

Zk – Você sofreu discriminação por ser mulher e estar no comando do maior bloco de rua da Amazônia?
Siça – Diretamente pra mim nunca ninguém falou, sei que várias pessoas comentavam por aí nas redes sociais, que eu não iria dar conta do recado e a Banda não sairia porque eu não tinha força pra isso. Na realidade o que me deu essa força para assumir e colocar a Banda na rua, primeiramente foi o amor, segundo pelo meu compromisso com meu pai e hoje é a força da equipe que apesar de pequena. A diferença é que descentralizei as tarefas, hoje tem uma pessoa que cuida só da parte de comunicação, tem a pessoa que cuida da Banda da Banda e do repertório, tem a pessoa que cuida parte da segurança, tem a pessoa que cuida da alimentação da equipe que é a Mara, tem a equipe que cuida da comercialização das camisas e os pepinos mais fortes são de minha responsabilidade. Se em algum momento sinto alguma fraqueza algum ou outro me segura e diz calma a gente vai resolver isso.

Zk – Fala sobre o tema para o carnaval deste ano?
Siça – Este ano a Banda vem com muito mais força que nos anos anteriores. Acho que a gente reconhecer a parte do esporte das olimpíadas é essencial ainda mais quando ela vai acontecer no Rio de Janeiro – Brasil. Não podemos falar em cultura sem falar em esporte. A Banda sempre falou muito de política! Não tirei totalmente esse viés, mas, 2015 foi um ano saturado de política, crises, corrupção e acho que as pessoas estão “porraqui” de política como diz o personagem da Escolinha. Por isso tentamos dar o equilíbrio entre a política e o esporte. Falando um pouco do lado ruim e um pouco do lado bom do nosso país, essa foi e é a idéia que está estampada nas camisetas da Banda 2016.

Zk – Como vai ser o concurso de fantasia da Banda?
Siça – Esse na o resolvemos resgatar algumas coisa lá do inicio da Banda como é o caso das camisas que voltamos a produzir camiseta com manga, tirando aquela característica de abada. A idéia do concurso de fantasias é fazer que o público venha fantasiado brincar o carnaval na Banda. É tão bonito você olhar a avenida toda glamorosa todo mundo brincando fantasiado isso é o carnaval e grande novidade é que agora a Banda tem Banda própria foi um desafio que já foi superado. Se a gente tem um diretor musical que entende música, é compositor, é cantor e tem até estúdio de gravação que é o Silvinho nada mais justo do que ele comandar a Banda da Banda. Fiquei admirada de como ele foi eficiente na formação do conjunto na festa da Virada, pois tivemos menos de dez dias para montar a Banda e na hora foi um sucesso, ali fiquei convencida do potencial da nossa equipe.

Zk – Quantos trios vão animar os foliões da Banda, onde comprar a camiseta e quanto custa?
Siça – Serão quatro trios elétricos. O primeiro vai com a Banda da Banda animando os foliões que estiveram com a camisa 2016. Os outros três seguem animando os foliões que não usam a camisa e são chamados de pipoca, mas, que eu prefiro chamá-los de foliões. As camisas são poucas unidades apenas Três Mil e podem ser adquiridas em todas as Lojas Capri (inclusive no Shopping), loja Real e na loja Maria Louca que estão parcelando em duas prestações no cartão de crédito. Por questão de segurança, na sede não estaremos vendendo camiseta este ano. O preço da camiseta é R$ 50. Nossos patrocinadores são Touch e a Bebida Cristal com o Guaraná Tupy e contamos com o apoio mínimo do governo através da Sejucel que se comprometeu a colocar 70 banheiros químicos da parte da prefeitura a Funcultural prometeu montar o palco com som e luz para realizarmos o concurso de fantasias na praça das Caixas D’água.Zk – No mais?
Siça – Vamos brincar carnaval no dia 6 de fevereiro na Banda do Vai Quem Quer!

2 comentários:

Unknown disse...

Conheci o meu amigo manelão, ele era muito amigo ( quase irmão) do finado António Cabeça Branca, na época eu trabalhava na ótica cabeça branca. Gente muito boa e brincalhona.
Amei ver a cessa contar a história do pai dela. Parabéns Sílvio.

Unknown disse...

Conheci o meu amigo manelão, ele era muito amigo ( quase irmão) do finado António Cabeça Branca, na época eu trabalhava na ótica cabeça branca. Gente muito boa e brincalhona.
Amei ver a cessa contar a história do pai dela. Parabéns Sílvio.