Siça
– A Filha da Banda do Vai Quem Quer
“Vai Siça, vai Siça você é a
rainha do nosso carnaval”.
Trecho da letra da marchinha composta pelo Bainha, Oscar e Zé Baixinho
em homenagem a presidente da Banda Sicilia Andrade – Siça. Sexta feira 15,
durante chuva torrencial que caiu sobre Porto Velho a tarde, sentamos na sede
da Banda do Vai Quem Quer com a presidente Siça e começamos a especular sobre
como foi assumir a direção da Banda, num momento de muito sofrimento e ainda
por cima com menos de uma semana para o bloco desfilar, naquele fatídico
fevereiro de 2011. “Não foi fácil, ainda na segunda feira pela manhã com meu pai na UTI
nos reunimos no Chaveiro com os fornecedores e fechamos o pacote para o
desfile. Logo que terminou a reunião o telefone tocou avisando que ela havia
acabado de falecer” Essa e
tantas outras histórias vividas pela Siça à frente da Banda você acompanha na
entrevista que segue:
ENTREVISTA
Zk – Essa história de filha
da Banda é verdade?
Siça – Diz a lenda que é
confirmada pela minha mãe, que eu fui feita no primeiro ano da Banda. Realmente
nasci em novembro e se você contar de fevereiro a novembro são nove meses.
Minha mãe conta que foi no dia da Banda que eles ficaram juntos e nove meses
depois eu nasci. Então literalmente sou filha da Banda do Vai Quem Quer. Minha
mãe chama-se Terezinha Valcê de Andrade conhecida como Valcê e meu Pai Manelão.
Zk – Como foi que você ficou
sabendo que era filha do Manelão?
Siça – Eu tinha
aproximadamente 7 anos de idade e um dia
minha madrinha me levou até o Chaveiro Gold que funcionava na Galeria do
Ferroviário e ela simplesmente disse esse aqui é o seu pai apontando pro
Manelão. No momento que ele me abraçou e eu sentei em seu colo percebi que
realmente ele era o meu pai.
Zk – Qual o motivo que levou
sua mãe a não querer que você tivesse contato com seu pai?
Siça – Ela sempre falou que
ele era contra o meu nascimento, quer dizer, ele não concordava com aquela
gestação, inclusive tentou convencê-la a abortar e ela não concordou e disse que
iria ter a criança sozinha. Desde a gestação até meus sete anos de idade ele
sempre me ignorou. Inclusive dizia que eu não era filha dele, até o dia que ele
me conheceu. Por isso ela não permitia que eu tivesse contato com ele.
Zk – E daí pra frente como
ficou o relacionamento de vocês?
Siça – Foi um relacionamento
de pai e filha com amor. Passamos a ficar juntos todos os finais de semana.
Todos os sábado eu ia pra loja (Chaveiro) e ele só ia me deixar em casa a
noite. Com 12 anos passei a ir diariamente pela manhã. O certo foi que passamos a ter uma amizade que nunca
tive com minha mãe a ponto de tudo que acontecia comigo eu contava pra ele, meu
primeiro namorado, meu primeiro beijo, meu primeiro tudo era com ele que eu
compartilhava era uma amizade muito bonita, até eu falar que ia me casar.
Zk – Por que até você falar
que ia se casar?
Siça – Aos 17 anos conheci o
meu marido o Tanaka (falecido) pai do meu filho e aos 18 me casei. Meu pai foi
totalmente contra, ao ponto da gente ficar sem se falar por uns dois anos. Ele
não ia com a cara do Tanaka de jeito nenhum. Ele ficou muito magoado porque na
época eu já morava sozinha, fui morar sozinha quando estava com16 anos e ele
tinha a idéia da gente morar junto, inclusive a casa onde moro até hoje, ele
comprou pra gente morar junto e quando me casei ele ficou com tanta raiva de
mim que ficou sem falar comigo.
Zk – E as pazes?
Siça – Quando engravidei do
meu filho João voltamos a nos falar. Fui ao Chaveiro informar que ele ia ser
avô e acho que aquilo tocou o coração dele e fez com que a gente voltasse a se
falar. O papai era uma pessoa bem ignorante, mentiroso, todo mundo sabia que ele
era grosso, porém ao mesmo tempo, era muito emotivo, chorava com muita
facilidade. Quando o João nasceu ele foi a Maternidade levou flores, levou um presente
pro João acho que era um sapatinho e quando ele viu o João na incubadora
começou a chorar.
Zk – Quantos anos você tinha
quando desfilou na Banda pela primeira vez?
Siça – Acontece que ele não
me deixava ir pro desfile, eu ficava no Chaveiro, trancada com alguém de
segurança. Só quando completei 15 anos foi que ele me deixou participar do
desfile. Ele resguardava muito a família. Dificilmente você via o Manelão com a
família. Ele era muito de amigos, aliás, a família dele eram os amigos.
Zk – Quando foi que ele
chegou com você e disse: Você vai ser minha substitua na direção da Banda?
Siça – Foi em 2009, eu não
sabia, ele me chamou para almoçar lá no Ferroviário. Pra falar a verdade eu já
tinha almoçado, mas, fui. No almoço estavam praticamente todos os fundadores da
Banda como você, Emilzinho, Narciso, Paulo Queiroz enfim, todos, inclusive esse
encontro foi gravado, a gente tem esse vídeo. Naquele almoço sem me comunicar
nada, sem me preparar, na frente de todo mundo ele falou, que naquele momento
estava passando a Banda pro meu comando e colocou aquele chapéu característico
dele na minha cabeça e chorando, pediu que eu jamais deixasse a Banda Morrer.
Coincidentemente no ano seguinte foi o último desfile dele.
Zk – Você sabia que ele
estava sofrendo com algum problema de saúde?
Siça – Só vim saber uma
quarta feira antes de ele morrer, inclusive no dia que eu estava com ele no
hospital, ele ligou pra você que estava no Rio de Janeiro, encomendando
material de decoração para o lançamento das Camisas da Banda. Fiquei sabendo
que ele estava tão ruim de saúde naquele dia.
Zk – Como foi assumir o
comando da Banda assim tão de repente?
Siça – Desde 2006 passei a
tomar conta da parte burocrática documental e financeira da Banda era eu que
fazia. Nos bastidores quem cuidava dos contratos com os fornecedores de
bebidas, segurança, trio elétrico e providenciava os requerimentos para a
liberação do bloco perante os órgãos competentes era eu. Acho que meu pai sabia
que ele ia morrer cedo, porque foi muita coincidência: um ano dele morrer
passou a Banda pra mim, naquele ano.
Zk – O que aconteceu?
Siça – Quando a gente foi
fazer a arte das camisas na residência do Gonzalez, insisti por inúmeras vezes
que o tema fosse sobre a Maria Fumaça que estava (como está até hoje),
abandonada, jogada ao relento e tinha vinda uma verba alta para sua recuperação
e esse dinheiro sumiu e ele insistiu que não que ele queria falar sobre mulher
porque era o primeiro ano da Dilma como presidente. Coincidentemente ele veio a
falecer e uma mulher assumiu a Banda também. A marchinha tema que foi feita
pelo Tatá falava sobre uma mulher comandando a Banda: “Banda passa de Mulher
Salto Alto e Batom”.
Zk – Fala da luta que é
colocar a Banda?
Siça - Em 2011 a gente já
colocou a Banda sem a presença dele, então já estamos no quinto ano à frente do
bloco. Embora já tivesse por trás comandando a parte burocrática da Banda o
impacto maior a maior dificuldade que resolvia era ele. Quando assumi esse
impacto passou para minha responsabilidade. No primeiro ano que levamos a Banda
sem ele, não sei nem te dizer o que sentia. Na realidade o que eu sentia era
uma dormência dos pés à cabeça, não tinha noção de tanta dor de tanto
sofrimento com a morte dele. Eu sempre digo, pra mim, ele morreu no sábado
embora a morte tenha sido anunciada na segunda feira dia 28 de fevereiro. O
enterro foi na terça e no sábado seguinte colocamos a Banda na rua.
Zk – Como foi os últimos
momentos de vocês?
Siça – Passamos a tarde de
sábado 26, no restaurante do Ceará festejando o aniversário da Yalle, ele fez
questão de patrocinar a festa de aniversário dela e então juntou muitos dos
amigos e nós ficamos até momentos antes dele ir pra casa dele que ficava perto
do restaurante na maior alegria. Parecia que ele sabia que aquele seria o
último momento com a gente, ele estava muito animado, apesar de já não beber em
virtude de problemas com a saúde. Foi um sábado maravilhoso para todos nós,
isso durante o dia porque a noite começou o suplício. Ele enfartou foi pra UTI
do João Paulo e daí todos sabem o que aconteceu.
Zk – Faltava exatamente uma
semana para a Banda sair. Estava tudo pronto?
Siça – Não no domingo estava
combinado que eu o pegaria em sua casa as oito horas da manhã e iríamos decidir
qual o trio elétrico seria o “Carro Mãe” aquele que a Banda da Banda vai em
cima. Quando foi na segunda feira de manhã com ele ainda na UTI e você também
participou da reunião que realizamos com a presença dos donos dos trios, chefe
de segurança, todas as pessoas que prestavam serviço pra gente, mais o Tatá que
era o presidente da Funcultural e fechamos o pacote de contratos, você inclusive
indicou qual o trio era o melhor pra ser o carro mãe, fechamos a segurança com
o Jean, Nilson da Criativa e o Gutembergue dos trios. Quando ficou tudo
definido que a Banda estava pronta para desfilar e a gente levantou da mesa de
reunião eu recebi a ligação do Hospital João Paulo dizendo que ele havia
falecido. Acho que ele estava esperando a certeza que a Banda ia sair para ele
poder partir em paz.
Zk – Você sofreu
discriminação por ser mulher e estar no comando do maior bloco de rua da
Amazônia?
Siça – Diretamente pra mim
nunca ninguém falou, sei que várias pessoas comentavam por aí nas redes
sociais, que eu não iria dar conta do recado e a Banda não sairia porque eu não
tinha força pra isso. Na realidade o que me deu essa força para assumir e
colocar a Banda na rua, primeiramente foi o amor, segundo pelo meu compromisso
com meu pai e hoje é a força da equipe que apesar de pequena. A diferença é que
descentralizei as tarefas, hoje tem uma pessoa que cuida só da parte de
comunicação, tem a pessoa que cuida da Banda da Banda e do repertório, tem a
pessoa que cuida parte da segurança, tem a pessoa que cuida da alimentação da
equipe que é a Mara, tem a equipe que cuida da comercialização das camisas e os
pepinos mais fortes são de minha responsabilidade. Se em algum momento sinto
alguma fraqueza algum ou outro me segura e diz calma a gente vai resolver isso.
Zk – Fala sobre o tema para
o carnaval deste ano?
Siça – Este ano a Banda vem
com muito mais força que nos anos anteriores. Acho que a gente reconhecer a
parte do esporte das olimpíadas é essencial ainda mais quando ela vai acontecer
no Rio de Janeiro – Brasil. Não podemos falar em cultura sem falar em esporte.
A Banda sempre falou muito de política! Não tirei totalmente esse viés, mas,
2015 foi um ano saturado de política, crises, corrupção e acho que as pessoas
estão “porraqui” de política como diz o personagem da Escolinha. Por isso tentamos
dar o equilíbrio entre a política e o esporte. Falando um pouco do lado ruim e
um pouco do lado bom do nosso país, essa foi e é a idéia que está estampada nas
camisetas da Banda 2016.
Zk – Como vai ser o concurso
de fantasia da Banda?
Siça – Esse na o resolvemos
resgatar algumas coisa lá do inicio da Banda como é o caso das camisas que
voltamos a produzir camiseta com manga, tirando aquela característica de abada.
A idéia do concurso de fantasias é fazer que o público venha fantasiado brincar
o carnaval na Banda. É tão bonito você olhar a avenida toda glamorosa todo
mundo brincando fantasiado isso é o carnaval e grande novidade é que agora a
Banda tem Banda própria foi um desafio que já foi superado. Se a gente tem um
diretor musical que entende música, é compositor, é cantor e tem até estúdio de
gravação que é o Silvinho nada mais justo do que ele comandar a Banda da Banda.
Fiquei admirada de como ele foi eficiente na formação do conjunto na festa da
Virada, pois tivemos menos de dez dias para montar a Banda e na hora foi um
sucesso, ali fiquei convencida do potencial da nossa equipe.
Zk – Quantos trios vão
animar os foliões da Banda, onde comprar a camiseta e quanto custa?
Siça – Serão quatro trios
elétricos. O primeiro vai com a Banda da Banda animando os foliões que
estiveram com a camisa 2016. Os outros três seguem animando os foliões que não
usam a camisa e são chamados de pipoca, mas, que eu prefiro chamá-los de
foliões. As camisas são poucas unidades apenas Três Mil e podem ser adquiridas
em todas as Lojas Capri (inclusive no Shopping), loja Real e na loja Maria
Louca que estão parcelando em duas prestações no cartão de crédito. Por questão
de segurança, na sede não estaremos vendendo camiseta este ano. O preço da
camiseta é R$ 50. Nossos patrocinadores são Touch e a Bebida Cristal com o
Guaraná Tupy e contamos com o apoio mínimo do governo através da Sejucel que se
comprometeu a colocar 70 banheiros químicos da parte da prefeitura a
Funcultural prometeu montar o palco com som e luz para realizarmos o concurso
de fantasias na praça das Caixas D’água.Zk – No mais?
Siça – Vamos brincar
carnaval no dia 6 de fevereiro na Banda do Vai Quem Quer!
2 comentários:
Conheci o meu amigo manelão, ele era muito amigo ( quase irmão) do finado António Cabeça Branca, na época eu trabalhava na ótica cabeça branca. Gente muito boa e brincalhona.
Amei ver a cessa contar a história do pai dela. Parabéns Sílvio.
Conheci o meu amigo manelão, ele era muito amigo ( quase irmão) do finado António Cabeça Branca, na época eu trabalhava na ótica cabeça branca. Gente muito boa e brincalhona.
Amei ver a cessa contar a história do pai dela. Parabéns Sílvio.
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