Bar
do Calixto - Reduto de sambistas carnavalesco
De uns tempos para cá, os
sambistas passaram a se reunir praticamente todos os finais de semana no “Bar
do Calixto” que fica a rua Jacy Paraná com a rua Brasília no bairro N.S. Das
Graças. “Tudo começou quando o Antonio Carlos e outros amigos vieram comigo e
pediram autorização para colocar o meu nome num bloco que estava nascendo o
Calixto & Cia”. Calixto que este ano vai completar 82 anos de vida,
gosta mesmo é de lembrar o tempo que chegou por aqui e foi trabalhar na
construção da galeria da avenida Sete de Setembro. “É uma obra com três metros de
fundura por dois de largura que deságua no igarapé Guapindaia”.
Faz questão de exibir num
sorriso largo, seus dentes de ouro. “Naquele tempo as casas que compravam ouro
não abriam e os garimpeiros vinham aqui e eu comprava baratinho”. Casado
com dona Maria Rosália desde 29 de dezembro de 1962 Calixto diz que só sai do local
onde mora, para o “Tonhão”. Do tempo que trabalhou no seringal lembra a
história da mulher que o patrão obrigou a deixar o marido que não produzia bem
e a fez se juntar com um seringueiro bom de corte. Os frequentadores do Bar do
Calixto gostam de ouvir as histórias que ele conta. Espero que os leitores
também gostem.
ENTREVISTA
Zk – Qual seu nome completo
e quando nasceu?
Calixto - Francisco Joaquim Calixto
sou do dia 5 de agosto de 1934. Nasci no estado do Pará, porém, fui criado no
Rio Grande do Norte. Cheguei a Rondônia no dia 1º de maio de 1954.
Zk – Veio como soldado da
borracha?
Calixto – Não! Desembarquei
em Porto Velho e aqui fiz um bocado de coisa, inclusive fui ajudante de
cozinha, trabalhei na abertura da avenida Sete de Setembro no trecho entre a
praça Jonathas Pedrosa e a Gonçalves Dias. Aquilo ali foi feito em 1954 e nunca
afundou. Ali onde fica o Bradesco da Sete era um igarapé e construímos uma
galeria com Três Metros de Fundura por Dois Metros de Largura cortando a Sete para
despejar no Igarapé Guapindaia que atravessava a Prudente de Moraes feita com
pedra ciclópica.
Zk – Quem morava naquela
área?
Calixto – Ali encostado onde
é o Bradesco morava um velho Barbeiro que era conhecido como Chico do Buraco
onde tinha uma cacimba que chamavam de olho d’água. Só que a água não era muito
boa não. Água boa era a da bica que existia num casarão de madeira na esquina
da Sete com a General Osório (hoje é o Iara Hotel). O chefe da obra era o seu
Miranda. Um dia a gente trabalhando na construção da galeria, quem chega pra
visitar a obra, o governador Major Enio dos Santos Pinheiro. Ele chegou olhou
assim e disse: “Miranda essa parede está torta” – Como torta governador
contestou Miranda. “Trás a trena”. Resultado, a parede não estava torta. Conto
isso porque o responsável por aquela parede era eu e nunca fiz uma parede
torta.
Zk – Na realidade qual o
motivo que fez o senhor vir para Porto Velho?
Calixto – Estava no Rio
Grande do Norte e deu uma seca muito grande e resolvi vir pra Amazônia, eu
estava com 19 anos de idade, naquele tempo, só existia fazendo viagem pra cá o
navio Sapucaia a Chata Cuiabá e um navio particular chamado Lobão que era do
Zeno Ferreira irmão de Aluizio Ferreira, aliás, o Zeno foi o dono do edifício
Sônia Maria aquele que fica no canto da praça Rondon com a Sete. De Belém pra
cá vim no Sapucaia e passei 28 dias embarcado. Comprei passagem de terceira,
era dormindo na rede mesmo, lembro até hoje que paguei pela passagem de Belém
pra cá Trezentos Cruzeiros e uma fração.
Zk – Quando desembarcou em
Porto Velho qual o primeiro emprego?
Calixto – Fui trabalhar de
ajudante de pedreiro na construção da Usina de Energia Elétrica que ficava na
Sete de Setembro em frente desse prédio do Relógio o chefe da obra era o
Austerclínio um Mestre de Obra feito nas coxas.
Zk – Já veio casado?
Calixto – Não! Casei aqui em
1961. Antes andei trabalhando pelos seringais. Cortei seringa durante 4 anos no
seringais do rio Jamari em especial o Cajazeira que ficava acima de Ariquemes
23 quilômetros. Quando sai trouxe um saldo de 27 Mil Cruzeiros. Com esse dinheiro
comprei um ponto na Feira Livre que ficava onde hoje é o Mercado Central. Vou
lembrar algumas coisas do tempo que aqui desembarquei. O Banco do Brasil era
numa casa de madeira de dois andares que ficava na rua Farquar, pro outro lado,
já na José do Patrocínio ficava a casa do governador e a casa do diretor da
Estrada de Ferro Madeira Mamoré e descendo pela Major Guapindaia hoje Rogério
Weber tinha o Hotel Brasil. Quase ninguém tinha carro em Porto Velho naquele
tempo, era todo mundo a pé ou naquelas bicicletas inglesas Halley e Hercules
que vinham da Bolívia.
Zk – Um história pitoresca
do tempo de seringueiro! Tem?
Calixto – Conheci uma mulher
na colocação onde eu cortava seringa e ela me contou que veio do Ceará pra cá
fugida com um primo ela com 14 anos, chegou aqui e foram trabalhar num
seringal. No fim do primeiro mês o Noteiro do Barracão foi conferir a produção
e só tinha Um Quilo de Borracha, passaram o tempo só fazendo amor. Então o
Noteiro falou pro marido dela: tenho pena, mas, o senhor vai ficar sem a mulher
e deu a mulher prum seringueiro que era mais feio virado no diabo. Apesar do
cabra ser bom marido ela não gostava dele de jeito nenhum e com a artimanha de
mulher, no final da safra disse que gostaria de visitar uns parentes em Manaus
e ele bancou a passagem. No meio da viagem conheceu outro seringueiro e foi com
a cara dele e então pegaram outro barco e foi parar no seringal onde eu
trabalhava. O pobre do bom seringueiro ficou sem o dinheiro e sem a mulher. Por
isso que digo, não adianta interferência numa relação, quem manda é o coração é
o amor..
Zk – Onde morava?
Calixto – No Areal na rua
Esron de Menezes perto da igreja do Padre Mário (N.S. de Fátima). Para esse
local onde moro hoje na rua Jacy Paraná com a Brasília vim em 1972 e daqui só
saio pro Tonhão (cemitério de Santo Antônio). Sou casado com a Rosália Amaral
Calixto estou com 81 e ela com 69 anos de idade. Casei com 27 anos e ela ia
completar 15.
Zk – Esse ponto aqui da Jacy
sempre foi bar?
Calixto – Comecei aqui
vendendo galinha. A casa era de madeira e ficava mais pra trás, tinha um
galinheiro com 12 metros de comprimento e quatro repartição de botar galinha,
cansei de comprar de uma vez mais de MIL galinhas. Fui juntando dinheiro e fiz
esse comércio de alvenaria. Nunca fui funcionário do governo e nem tenho inveja
de quem é.
Zk – E como foi que de
repente seu nome virou bloco de carnaval?
Calixto – O Antônio Carlos
Tavernard e outros amigos vieram comigo falar pra criar um bloco com o meu nome
e eu aceitei. O bloco fez sucesso e de repente eles pararam, acontece que cada
um puxava a brasa pro seu lado e o negócio teve que parar. Graças ao bloco o
Bar do Calixto se transformou no reduto dos sambistas, principalmente da turma
do Asfaltão. Durante praticamente todo ano, aos finais de semana, isso aqui
fica repleto de sambistas e eles colocam aparelhagem de som e o samba come no
centro.
Zk – Vamos voltar no tempo
de novo?
Calixto – Quando aqui
cheguei à cachoeira de Samuel era uma vila pequena. Fui seringueiro e passava
alguns dias em Samuel esperando a lancha pra subir para Ariquemes, eram quatro
dias de lancha, chegava em Ariquemes a gente ia em tropa a pé para o seringal,
pra cá de Ariquemes tem uma cachoeira por nome Monte Cristo e mais pra cá dessa
cachoeira a gente entrava pra boca do Rio Branco. Pro outro lado tinha a
cachoeira Fortaleza. De Porto Velho a gente ia de carro até a Cachoeira de
Samuel era pela BR 29 - estrada de chão.
Zk – Você é do tempo da
Usina de Beneficiamento de Borracha que a gente chamava de fábrica de borracha?
Calixto – Cheguei a
trabalhar lá, naquele tempo era muita borracha que chegava pra ser lavada,
vinha borracha inclusive da Bolívia olha que estou falando dos anos 50 e 60. Muita
gente trabalhava lá, o bom era que o pagamento era todo sábado. Só do seringal
Guarani do velho Benevides lavava 110 toneladas de borracha, o seringal
Cajazeiras era dos Cantanhede, Nova Vida do Marçal que vendeu pro Emanuel
Pontes Pinto. Bom mesmo foi no tempo do garimpo de Cassiterita manual, quando o
Flodoaldo Pontes Pinto dominava a produção. Flodoaldo era muito gente boa eu
vendia farinha pra ele. Naquele tempo,
Porto Velho não tinha bandido ladrão o Flodoaldo ia buscar dinheiro no
escritório da Stanífera do Brasil com a dona Jaqueline que era francesa e o
dinheiro era colocado num saco de 60 quilos e ele ia apenas com o motorista e
nunca foi assaltado. O problema era conseguir um quilo de carne de boi, pois o
gado vinha de trem da Bolívia e eram poucos, os mandões eram o Adalberto Barros
e o Mário Monteiro.
Zk – Quantos filhos?
Calixto – Tivemos quatro
filhos: Roberto, Roberval, Anatécia e Ronaldo (falecido)
Zk – Deixe sua mensagem aos
foliões!
Calixto – O que tenho a
dizer é que todos brinquem numa boa, com harmonia, sem bagunça, seja social,
não agrave e nem desagrave.