Era setembro de 1973 se não me engano um sábado, quando cheguei
ao bar do Casimiro e encontrei meu amigo Bainha muito triste com uma folha de
papel na mão.
********
- O que houve Bainha? Ele me entregou aquele papel que continha
uma carta, que comunicava a direção da Escola de Samba Os Diplomatas sua
renuncia do cargo de Presidente da Escola que ele ajudou a fundar.
*******
O motivo era que o Leônidas não estava acatando as determinações
da Presidência e ainda conseguiu induzir a maioria dos diretores a ser contra a
gestão do Bainha. É como dizem: “Briguinha de ego”.
*******
Diante das explicações do sambista, fiz a seguinte proposta: Se
você aceitar, te apresento para Dona Marise dizendo que você tem interesse em
assumir como Mestre Bateria da escola e que vai ser meu parceiro na composição
do samba de enredo para o carnaval de 1974. Aceita?
********
Bainha pensou um pouco e aceitou a minha proposta, de imediato pegamos
um Taxi e fomos até a residência da Professora Marise no bairro Caiari e lá
apresentei o Bainha e falei sobre meu convite, e que estávamos ali para saber
se “A senhora aceita o Bainha em nossa escola e como Mestre Bateria e parceiro
na composição do samba enredo”. Ela concordou e daí pra frente a história foi
outra.
*******
Eu já estava com as histórias do folclore baiano toda armazenada
faltava apenas chegar a dita inspiração melódica.
********
Certo dia do mês de outubro, estávamos eu, Bainha, Neguinho
Menezes e o Haroldão um batuqueiro da Diplomatas, tomando umas no “Bar do
Gaucho” que ficava na Sete de Setembro esquina com a Joaquim Nabuco (hoje é um
escritório de compra de ouro) e eu já com quase toda letra e melodia do samba
pronta e no bolso.
De repente falei pro Bainha: Vamos terminar de fazer o samba da
Caiari, a letra e parte da melodia eu já tenho, falta concluir. Menezes pega o
cavaquinho pra ver qual é a nota.
*******
O Neguinho tomou mais uma talagada de “3 Fazendas”, pegou o
cavaquinho e falou: “Canta Aí” e eu comecei a cantar: Odoiá Bahia, nossa
primeira capital que a Caiari apresenta neste carnaval...
*******
Sol Maior, disse Menezes e então começamos eu e o Bainha a
montar o resto do samba; Bainha foi até sua casa que ficava ali pertinho,
colada ao Muro do Colégio Murilo Braga e trouxe duas letras dizendo; “Estavam
na geladeira esperando uma oportunidade”. Na geladeira é um termo que a gente
usava quando criava uma letra e melodia para esperar o momento certo para ser
usada.
*******
O primeiro refrão dizia: Tem Mamelê, Tem Malê Luá, Tem samba de
roda pra você dançar...
*******
O segundo: Tem dendê no caruru, no vatapá. Tem moqueca de xaréu
e o gostoso abará. Escolhi o segundo e então o samba foi concluído.
********
O pitoresco era que a cada estrofe terminada e harmonizada, a
gente pegava um taxi e ia até a Escola Normal Carmela Dutra cantar para Dona
Marise que era a diretora do colégio.
********
A cada estrofe cantada, ela nos dava o dinheiro do Táxi e mais
algum pra pagar a cachaça. Foram quatro idas e vindas à Escola Normal e o samba
estava totalmente pronto e ficou assim:
********
Odoiá Bahia! Nossa primeira capital, que a Caiari apresenta,
neste carnaval. Pra festa da Conceição todos vão de pé, na lavagem do Bonfim,
entre danças e canções, mostram sua fé. Tem dendê, no caruru, no vatapá. Tem
moqueca de xaréu e o gostoso abará.
********
Dia 2 de fevereiro, os Saveiros vão pro mar, Vão prestar sua
homenagem a Rainha Yemanjá. Tem macule lê, tem capoeira, tem candomblé,
camarado! Lá na Ribeira.
********
Tem muita história sobre esse samba. Aguardem o restante até
amanhã!
Nenhum comentário:
Postar um comentário