OLHO
‘O nome dela no registro de
nascimento é: CRÁUTIDA DE SOUZA. É melhor dizer apenas Dona Cotinha’
‘Deputados, senadores e
governadores além de prefeitos todos procuravam a mamãe por algum motivo que
dependesse de uma Reza’
Luis
Clodoaldo Cavalcante Filho
A
história da benzedeira Dona Cotinha
Luís Clodoaldo Cavalcante
Filho nasceu no dia 6 de janeiro de 1956 em Porto Velho. Filho da famosa
rezadeira, benzedeira e parteira conhecida como Dona Cotinha. “Nossa
família ao chegar a Porto Velho foi morar no que mais tarde se tornou no bairro
Areal. As terras onde hoje estão o Centro do Menor e a Igreja de Nossa Senhora
de Fátima pertenciam a minha mãe”. Segundo Clodoaldo não tinha hora
para Dona Cotinha atender as pessoas, às vezes na madrugada, batiam na porta,
era uma pessoa com dor de cabeça pedindo um remédio ou reza, ou então alguém
com uma espinha de peixe atravessada na garganta.
Dona Cotinha faleceu em 1998
porém, ainda hoje é lembrada com saudades por muitas pessoas de Porto Velho e
até de outros estados. Em vista disso, o bloco carnavalesco “Canto da Coruja”, vai desfilar no dia
13 de fevereiro homenageando a rezadeira do Areal com o tema “Saudades
da Dona Cotinha”, uma marchinha cuja letra é de autoria do Luís
Clodoaldo e a música do Silvio Santos. Vamos à história da Dona Cotinha narrada
pelo seu filho Professor Luís Clodoaldo.
ENTREVISTA
Zk – Vamos contar a história
da sua mãe a Rezadeira conhecida como Dona Cotinha! Quem era Dona Cotinha?
Clodoaldo - Dona Cotinha era
uma benzedeira que morava no bairro do Areal que rezava para várias “mazelas”
como quebranto, espinhela caída, dor de cabeça, dor de dente, enfim para tudo
quanto era dor, além de ser muito procurada por atletas de todas as modalidades
esportivas, para “pegar’ desmentiduras, luxação, carne trilhada etc.
Zk – É verdade que ela era
dona de uma grande área de terra no bairro do Areal?
Clodoaldo – Aquela parte da
igreja Nossa Senhora de Fátima inclusive o Centro do Menor, entrando pelas
terras do Sivuca, era toda da nossa família, isso quer dizer, rua D. João
Batista Costa, Raimundo Cantuária e Esron Menezes. Além disso, ela tinha
terreno em outros locais como ali perto da São Lucas e na Prudente de Moraes
quase todo o bairro do Areal era nosso.
Zk – E como foi que a
família de vocês conseguiu tanta terra assim?
Clodoaldo – Acontece que
nossa família foi das primeiras a habitar o que depois se tornou o Bairro do
Areal, foi pioneira na ocupação daquela área da cidade, era como se fosse uma
colônia onde se cultivava várias espécies de lavoura e se criava galinha,
porco, carneiro essas coisas. Pra você ter idéia de como nossa família foi
pioneira, minha avó materna dona Ana que também foi casada com seringalista, foi
proprietária de uma grande área de terra que começava na Sete de Setembro e ia
até onde hoje é o Colégio Interação. Uma tia também foi dona de uma área que
começava na Sete em frente ao Hotel Nunes e terminava na rua Paulo Leal no
bairro da Favela.
Zk – Você sabe contar como
foi que a Dona Cotinha descobriu que tinha o dom de curar as pessoas através de
reza, benzedura?
Clodoaldo – Segundo ela nos
contava, que quando veio de Novo Aripuanã era evangélica e com o passar do
tempo começou a receber uma entidade (espírito) e aderiu a religião católica,
pois como Crente não poderia admitir sua mediunidade. Nesse tempo ela morava
onde hoje é o Centro do Menor.
Zk – Ela rezava pra que?
Clodoaldo – Rezava e benzia tudo. Não há doença que não
se cure para as benzedeiras. Espinhela caída, quebranto, cobreiro, carne trilhada,
mal olhado, espinha na garganta, doenças nervosas, encosto. Para a mamãe todos
esses males tinham soluções. E ainda
pegava menino como parteira. Você há de admitir que a cura através de rezas,
banhos, chás e efusões ainda são bastante cultivadas pela sociedade atual.
Zk – Com certeza a casa de
vocês vivia cheia de gente?
Clodoaldo – Desde a
madrugada começa a chegar gente, era para rezar num menino com quebranto e
muitas outras rezas. Pra você fazer idéia quando o 5º BEC chegou aqui ela
atendeu o Comandante lá em casa, deputados, senadores e governadores além de
prefeitos todos procuravam a Mamãe por algum motivo que dependesse de uma Reza.
Dom João Batista Costa era compadre dela o Dr. Renato Medeiros líder dos ‘Pele
Curta’ também vivia lá em casa.
Zk – Dom João Batista não
era contra esse negócio de Rezadeira?
Clodoaldo – Era não, nem ele
nem o Diretor do Colégio Dom Bosco padre Oscar.
Zk – Quantos filhos ela teve e quantos se transformaram
em rezadores?
Clodoaldo – Dezessete
filhos, vivos somos oito e mais um filho de criação. Só a Georgete herdou o dom
de rezar nas pessoas, ela atende na Joaquim Nabuco com a rua Amazonas no bairro
Santa Bárbara.
Zk – Você sabe de algum caso
que a medicina científica não solucionou e a dona Cotinha curou.
Clodoaldo – Tem o caso da
dona Mariana da Livraria Pedagógica que passou quase um mês com uma dor de
cabeça infernal, foi com tudo que era médico e nenhum acertou o remédio que a
curasse, então ela foi com a Dona Cotinha e com poucas seções de reza, ficou
curada.
Zk – Como ela conseguia as ervas
medicinal?
Clodoaldo – Como ela tinha
muita terra, ela mesma cultiva as plantas medicinais, quando não, mandava
buscar no Candeias, e os beradeiros traziam pra ela. Tinha um galpão no quintal
de casa que era depósito dessas ervas.
Zk – E a história do
professor Clodoaldo?
Clodoaldo – Estudei no
colégio Dom Bosco e depois que conclui o ginásio abri na Sete de Setembro a
Oficina Honda com o meu irmão que era mecânico no 5º BEC. Eu apenas
administrava quem comandava a oficina era meu irmão.
Zk – O professor surge
quando?
Clodoaldo – Fui fazer
cursinho em Brasília no colégio
Objetivo. No primeiro vestibular que fiz passei para Educação Física. Até o ano
passado fui professor na escola Franklin Roosevelt. Antes trabalhei no colégio
do 5º BEC que mudou de nome três vezes começou como Marechal Malet, Vilagran
Cabrita e hoje é Carlos Aloísio Weber. O Franklin Roosevelt é o colégio mais
antigo de Porto Velho e fica no Morro do Triângulo. Também trabalhei no Getulio
Vargas, Castelo Branco, Padre Chiquinho.
Zk – E como carnavalesco?:
Clodoaldo – Fui presidente
do Bloco Unidos do Areal que depois virou escola de samba. Quando a escola
parou, criamos em parceria com o Cezinha, Bosco e outros foliões do Areal o
Bloco “Canto da Coruja” do qual sou o atual presidente. Também militei e gosto
da brincadeira de Boi Bumbá, sou do Corre Campo.
Zk – Voltando para a Dona
Cotinha, tem algum logradouro público com o nome dela. Aliás, como é o nome
dela de batismo?
Clodoaldo – Ainda não tem
nenhuma rua, prédio, escola com o nome dela, mas, segundo os bastidores da
política alguns vereadores estão entrando com Projeto para homenageá-la com seu
nome em algum logradouro municipal. O nome dela no registro de nascimento é:
CRÁUTIDA DE SOUZA. É melhor dizer apenas Dona Cotinha.
Zk – E no carnaval do bloco
Canto da Coruja o que vai acontecer?
Clodoaldo – Vai acontecer
que vamos homenagear a Dona Cotinha. Ela é o tema do nosso bloco em 2015. Vamos
desfilar no dia 13 de fevereiro, cantando a marchinha que tem a letra de Luis
Clodoaldo e a melodia de Silvio Santos que fala da Dona Cotinha. Hai, hai, é chá é chá/De ervas e plantas
medicinais/Lá da matinha/Mas que saudade da Dona Cotinha/Ela fazia o bem sem
olhar a quem/E o bloco da Coruja/Tem vários estilos musicias/Porém seu carro
chefe é a marchinha/Isso tudo em homenagem a mão de Fada/Da Dona Cotinha/Lá do
além. Ela ainda faz o bem/Sem olhar a quem/Pois, vem que tem marchinha...
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